"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Washington passa uma das "batatas quentes" para Moscovo

darussia.blogspot.com - 17/02/09



A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton começou a sua actividade diplomática pela Ásia, o que significa que ficou para trás o tempo em que Moscovo estava no primeiro lugar das preocupações de Washington.

Todavia, as relações entre os Estados Unidos e a Rússia continuarão a ser muito importantes, pois delas dependerá, significativamente, o estado das coisas na Europa.

A julgar pelas primeiras declarações dos membros da Administração de Barack Obama, Washington muda de táctica no campo internacional: a teimosia e a arrogância da política externa de George W.Bush cedem lugar ao diálogo e a uma certa abertura. Porém, no que diz respeito às relações com a Rússia, o diálogo não deverá ser muito fácil.

No fim da semana passada, num artigo que escrevi para a Agência Lusa sobre o primeiro encontro de Medvedev e Obama, que deverá ter lugar no início de Abril, cito uma fonte diplomática em Moscovo, que afirmou: “Por exemplo, Obama manifestou a vontade de reduzir os arsenais nucleares da Rússia e dos Estados Unidos, mas o Kremlin só estará disposto a analisar essa questão se no processo de redução de armamentos nucleares forem incluídas outras potências atómicas como a China, Grã-Bretanha, França, Paquistão e Índia”.

A política dos Estados Unidos em relação à Rússia também mudou ao transferirem para as mãos de Moscovo uma das "batatas mais quentes": a solução do "problema nuclear iraniano".

Um diálogo mais profundo entre a Rússia e os Estados Unidos só poderá ter início quando houver uma grande confiança no carácter pacífico do programa nuclear iraniano, declarou, na segunda-feira, Serguei Riabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
“Logo que se torne evidente um avanço no sentido do restabelecimento da confiança total no carácter pacífico do programa nuclear iraniano, abrir-se-ão possibilidades para o maior aprofundamento da conversa sobre as perspectivas da cooperação na esfera da defesa antimíssil”, declarou o diplomata.
“Nós estudamos os sinais da administração dos Estados Unidos e propusemos, da nossa parte, as formas como cooperar na esfera da defesa antimíssil, o que consideramos ser possível fazer no quadro dessa cooperação”, acrescentou.
“Confirmamos que, em relação ao programa nuclear iraniano, não temos elementos que possam ser interpretados ou mostrem o seu endurecimento”, concluiu o diplomata.
A Administração de George W.Bush tinha decido instalar um sistema de defesa antimíssil na Polónia e na República Checa para defender a Europa de países párias, como, por exemplo, o Irão.
Porém, Moscovo viu nessa intenção uma ameaça à sua segurança e prometeu responder com a instação de mísseis na Região de Kanininegrado.
Barack Obama prometeu reanalisar a posição norte-americana e Washington aceitou envolver a Rússia na solução deste problema.
Na segunda-feira, o diário russo Vremia Novostei tinha noticiado que “Washington prometera renunciar à instalação do sistema antimíssil se a Rússia convencesse o Irão a renunciar ao seu programa nuclear”.

Hoje, terça-feira, o diário Kommersant noticia que Moscovo está a atrasar o fornecimento ao Irão dos sistemas de defesa antimíssil S-300 para não estragar o início do diálogo entre Medvedev e Obama.

Serra não foi professor de Princeton. E entrou para a Unicamp de forma irregular

Conversa Afiada - 17/fevereiro/2009 12:37

A Universidade de Princeton não mereceu a honra de ter Zé Pedágio como um de seus professores

A Universidade de Princeton não mereceu a honra de ter Zé Pedágio como um de seus professores

O Conversa Afiada levantou a ponta do véu: um dos embustes de Zé Pedágio é dizer que é economista.

O PiG (*) de São Paulo costuma dizer que ele é “economista competente”.

Não é uma coisa nem outra.

Agora, o amigo navegante Pedro Germano Leal revela que ele mentiu outra vez quando disse que foi PROFESSOR na Universidade de Princeton.

Ele NÃO foi.

Veja o que prova Pedro Germano:

Pedro Germano Leal
escritaplena@gmail.com | 189.89.50.64
É agora que a porca torce o rabo:
TEXTO NO SITE OFICIAL DO GOVERNO DE SÃO PAULO:
“Obrigado a exilar-se novamente, Serra foi para os Estados Unidos, onde obteve outro mestrado e o doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade de Cornell. E foi, por dois anos, professor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.”
O que eu descobri ?
Que no Institute for Advanced Study (IAS) de Princeton, existem “Professors” (equivalente a algo como professores titulares no Brasil, muito diferente de Lecturer ou Teacher) e “Members”. E…
—- “Each year the School invites as Members some fifteen to twenty visiting scholars with various perspectives to examine historical and contemporary problems, providing a space for intellectual debate and cross-fertilization to flourish. A completed doctorate or equivalent is required by the application deadline of November 15, and Memberships are awarded at both the junior and senior levels. Visiting Members are expected to pursue only their own research, while the School organizes a weekly seminar at which Members as well as invited guests present their on-going work. Visiting scholars are drawn from a wide range of fields including political science, economics, law, psychology, sociology, anthropology, history, philosophy, and literary criticism.” ——
http://www.sss.ias.edu/about/
Ou seja, os “membros” não são professores, não são contratados, nem oferecem cursos oficiais: mas apresentam seus trabalhos em progresso eventualmente num dos seminários que são organizados toda semana.
E quem foi um “membro”? O dito cujo:
José Serra
1976-77;1977-78
ECO
Latin American Economies
2002-03 [Dir V]
Ou seja, ele não foi professor nem na China, nem em Princeton - foi aqui, e ilegalmente.
É ridículo e mentiroso que ele afirme ter dado aulas lá.
Além do mais, já está claro como ele entrou na Unicamp.
Nada como um bajulador “aloprado” para esclarecer:
—– “Os economistas da Unicamp, liderados por João Manuel Cardoso de Mello, ansiavam pela contratação do colega, mas o processo estava parado na gaveta do coordenador dos Institutos, o físico Sérgio Porto, que tinha birra com os intelectuais de esquerda.
“Aposto que ele é igualzinho a vocês”, pilheriou o físico. “Sim, igualzinho”, ironizou João Manuel. Porto resolveu colocar o peso do cargo para encerrar a queda de braço: “Não vou recomendar”. E advertiu o grupo para admitir professores de outra linha ideológica. “Por que só gente de esquerda?”, provocou. Contrariado, João Manuel ameaçou armar um escândalo em torno do que considerou a interdição moral de um docente, e o físico mais que depressa desengavetou o processo. Serra foi contratado, segundo João Manuel, “sem solavancos”.

Aos 36 anos, José Serra assumiu aulas na graduação e na pós-graduação, ensinando Economia Política, Política e Programação, Análise Macroeconômica, Economia Brasileira e Teoria Econômica.” —–
Fonte: http://jovemserra.wordpress.com/2008/12/30/colegas-e-ex-alunos-de-jose-serra-no-instituto-de-economia-relembram-seu-perfil-academico/
***
Ele não pode passar impune por essa.
Pedro Germano Leal

Em tempo: será que algum navegante amigo saberia dizer em que crime da legislação eleitoral incorre aquele que apresente currículo falso? Aquele que se faz passar por alguém que não é? Isso não é “falsidade ideológica”? Por que o PT não impugna a eleição de Serra? Ou o PT também tem medo…

Leia sobre o embuste de Serra: ele não tem o direito de se dizer economista

(*) PìG: a colonista Eliane Catanhêde, da Folha (**) costuma dizer que Serra é o candidato “mais consistente” da oposição. Serra foi e voltará a ser em 2010 editorialista (oficial) da Folha. O PiG é o Partido da Imprensa Golpista, ou seja, Folha (**), Estadão e Globo (a Veja, não é mencionável, num portal de família…)

Zé Pedágio faz o que criticou em Marta. O que ele diz não se escreve

Conversa Afiada - 17/fevereiro/2009 10:04

O choque de “jestão” de Zé Pedágio e Gilberto Taxab é assim

O choque de “jestão” de Zé Pedágio e Gilberto Taxab é assim


Crédito foto: André Vicente/Folha Imagem


Saiu na Folha (*), pág. C1
:

“Estado põe aluno em ‘puxadinho’ de madeira. 504 alunos serão alojados em seis salas. Aulas de Educação Física terão que ser ministradas em um pátio interno da escola. A escola fica no Jardim Ângela, Zona Sul do São Paulo.” A mudança foi uma surpresa para os alunos.

Saiu no Agora, pág. A3:

“Com teto desabando, escola manda aluno para casa. De manhã, só o aluno da quinta série teve aula. À tarde, estudantes da 1ª. 3ª. e 4ª. séries foram mandados de volta para as suas casas. A escola estadual fica no Bairro Jardim Lajeado, Zona Lesta de São Paulo.”



Assim que substituiu Zé Pedágio – que tinha prometido cumprir o mandato de prefeito até o fim – Gilberto Taxab prometeu acabar com o “turno da fome” – ou seja, sem salas de aulas suficientes, foi preciso criar um terceiro turno, no horário do almoço.Durante a campanha para prefeito, Gilberto Taxab prometeu entregar mais escolas, mais CEUs (Centros de Educação Unificada, Brizolão de São Paulo), mais uniforme.

Agora, passada a eleição, os alunos estão sem uniforme, sem carteira, sem material – e agora sem sala de aula, sem quadra de esportes.

É o melhor retrato da “jestão” demo-tucana que governa São Paulo há 14 anos (mais do que Chávez está no poder na Venezuela).

Não é à toa que 1.500 professores de Zé Pedágio tiraram nota ZERO num exame interno…

A incógnita das contas externas

Blog do Luis Nassif - 17/02/09

A balança comercial continua uma incógnita este ano. Manter um bom superávit é essencial para equilibrar as contas externas, já que o Brasil é deficitário nas demais contas que compõem o balanço de pagamentos.
No momento, há dois problemas maiores emperrando o aumento do saldo. O primeiro, a queda nos preços das principais commodities e o refluxo do comércio mundial. O segundo, as dificuldades para se obter financiamento.

Esse quadro fez com que janeiro registrasse o primeiro déficit comercial em muitos anos. Em fevereiro a situação melhorou um pouco. A explicação do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), para uma aposta na volta dos superávits não é de todo convincente.

Constata ele que nos dez primeiros dias úteis de fevereiro o saldo comercial foi positivo em US$ 690,6 milhões ou US$ 69,6 milhões por dia útil. Em janeiro o déficit total foi de US$ 518 milhões.

A leitura do IEDI é que a crise afeta mais rapidamente as exportações brasileiras (muito baseadas em commodities, cujas cotações tendem a cair mais rapidamente) e menos as importações, compostas, em sua maioria, de produtos manufaturados. Segundo o IEDI, os preços desses produtos demoram mais a cair, porque baseados em contratos de prazo mais longo. Assim, só no vencimento do contrato, os preços poderão cair.

É possível que haja contratos de fornecimento para bens e equipamentos, assim como para fornecimento de peças. Mas não consta que bens de consumo durável sejam objeto de contratos de fornecimento. Mais provável é que a crise mundial tenha provocado uma desova de estoques nos grandes exportadores, que passaram a inundar as demais economias com preços abaixo do custo.

***

Mesmo que haja alguma recuperação do saldo comercial, muitas consultorias sólidas estão apostando em um saldo inferior a US$ 10 bilhões - contra US$ 14 bilhões de saldo da pesquisa Focus, do Banco Central.

A projeção da consultoria LCA é de um saldo de US$ 8,3 bilhões para este ano. “É uma estimativa mais pessimista que a do mercado, por conta de demanda menor e preços em queda, não só do petróleo, mas de outros produtos industriais”, disse o economista Francisco de Faria a André Inohara.

O saldo da balança comercial deve cair para US$ 9,5 bilhões em 2009, estima, por sua vez, a economista da Rosemberg Consultores, Fernanda Feil. “A soja sofreu com a queda do preço e agora tem se recuperado, mas mesmo assim deve ficar em patamar mais baixo que o do ano passado”, exemplifica. É importante notar que, desde dezembro, praticamente todas as commodities brasileiras vêm registrando melhora nas cotações.

***

O segundo ponto a emperrar as exportações é a escassez de linhas de financiamento, como os ACC (adiantamento de contratos de câmbio). As linhas externas, oferecidas por bancos internacionais, praticamente secaram, em função da falta de liquidez dessas instituições. “Apesar da atuação do BC para prover crédito aos exportadores, é obvio que ele não consegue fazer o papel do mercado privado”, disse Fernanda Feil, da Rosemberg, sobre as medidas adotadas pelo governo para injetar liquidez no sistema.

ALI ABUNIMAH: A impossível paz de Israel

Site do Azenha - Atualizado em 17 de fevereiro de 2009 às 18:57 | Publicado em 17 de fevereiro de 2009 às 18:36

por Ali Abunimah, no The Guardian
Tradução: Caia Fittipaldi

Sempre que há eleições em Israel, a mídia põe-se a repetir o refrão de sempre, de que as esperanças de paz dependeriam do "campo da paz" – antes reunido no partido Labor, mas hoje reunido no Kadima de Tzipi Livni – que se oporia à direita inimiga de qualquer paz, liderada pelo partido Likud.

Isso jamais foi verdade, e menos sentido faz hoje, quando todos os partidos israelenses iniciam conversações para formar novo governo, depois das eleições do dia 10/2. O "campo da paz" ajudou a iniciar o "processo de paz", mas muito mais trabalhou, isso sim, para minar todas as possibilidades de haver algum acordo justo.

Em 1993, Yitzhak Rabin, do Labor, primeiro-ministro, assinou os acordos de Oslo. Ambiguidades no texto do acordo – que não fez qualquer menção a "autodeterminação" ou "independência" para os palestinos, e tampouco considerou a "ocupação – facilitaram que se chegasse a um acordo de curto prazo. Mas logo sobreveio a inevitável confrontação entre expectativas irreconciliáveis.

Enquanto os palestinos esperavam que a Autoridade Palestina, criada pelo acordo, seria o núcleo de um Estado independente, Israel entendia a mesma Autoridade Palestina como pouco mais que uma força policial palestina encarregada de suprimir qualquer resistência, para que prosseguisse a ocupação e a colonização da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

O critério para avaliar qualquer líder palestino sempre foi o quanto colaborasse com Israel: se colaborasse muito, era considerado "parceiro da paz". Rabin, segundo Shlomo Ben-Ami, ex-ministro de Negócios Extrangeiros de Israel, "jamais entendeu que [Oslo] levaria à formação de um pleno Estado palestino". Nisso, acertou.

Durante o "processo de paz", os governos israelenses, fosse qual fosse o primeiro-ministro, sempre ampliaram as colônias étnicas só para judeus, no coração da Cisjordânia – território que, em tese, seria o núcleo territorial do Estado palestino. Nos anos 90s, o governo do Labor liderado por Ehud Barak, aprovou expansão ainda maior da colonização do que a que, antes, fora aprovada pelo governo do Likud liderado por Benjamin Netanyahu.

Barak, antes considerado "pombo" [de linha pressuposta menos dura que os "falcões" da extrema direita], promoveu, na campanha eleitoral, imagem de líder sanguinário, emulado pelo massacre de civis em Gaza, que planejou e ordenou, como ministro da Defesa. "Ele algum dia matou alguém?" – Barak perguntava em campanha, para desmerecer Avigdor Lieberman, lider do partido Yisrael Beitenu proto-fascista, tentando caracterizar Lieberman como 'mole'.

Hoje, o partido de Lieberman, que derrotou o Labor, pelo 3º lugar, desempenhará papel decisivo em qualquer governo que venha a ser construído em Israel. Imigrante que chegou a Israel vindo da Moldávia, ex-república soviética, Lieberman já foi membro do partido Kach, hoje posto na ilegalidade por ter plataforma racista e pregar a expulsão de todos os palestinos.

A plataforma eleitoral do partido de Liberman exige que 1,5 milhão de cidadãos árabes-palestinos que vivem em Israel (a população remanescente ou os descendentes da maioria autóctone vitimada pela limpeza étnica de 1948) preste juramento de lealdade a Israel. Quem não jure lealdade ao "Estado judeu" perderia a cidadania e o direito de propriedade sobre a terra em que é sua de pleno direito, passando à condição em que já vivem milhões de palestinos expulsos, em diáspora, ou reunidos nos guetos controlados por Israel. Em movimento instigado por Lieberman mas apoiado pelo Kadima dito "de centro", de Livni, o Parlamento israelense aprovou moção que proibiu os partidos árabes de concorrer a eleições. A moção foi derrubada pela Suprema Corte Israelense ainda antes das eleições, mas é sinal bem claro das políticas que estão por vir.

Lieberman, que já foi primeiro-ministro parlamentar, tem longa história de incitamento à violência e ao racismo. Antes do ataque a Gaza, por exemplo, recomendava que os israelenses usassem contra os palestinos a mesma violência brutal e indiscriminada que a Rússia usou na Chechênia. Também sugeriu que membros árabes do Parlamento israelense que mantivessem contatos com o Hamás fossem executados.

Mas é fácil demais fazer de Lieberman o bicho-papão da hora. O espectro político de Israel estreitou-se muito. Está limitado hoje entre um ex-"campo da paz" que jamais nem tentou impedir a violenta expropriação da terra dos palestinos pelos colonos judeus e orgulha-se dos crimes de guerra praticados em Gaza, e, no outro extremo, uma extrema-direita cujas "soluções" vão do apartheid à mais obscena limpeza étnica.

E a escandalosa hipocrisia ocidental tampouco ajuda a melhorar o quadro. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA já disse que o governo Obama negociará com qualquer governo que nasça da "pujante democracia" israelense e prometeu que os EUA não interferirão na "política interna" de Israel. Apesar da conversa adocicada do presidente Barack Obama, sobre novo relacionamento com o mundo árabe, todos viram que o padrão 'duas caras' não mudou. Em 2006, o Hamás venceu eleições democráticas nos territórios ocupados; respeitou várias decisões unilaterais de Israel e acordos que foram sempre violados por Israel; ofereceu a Israel uma trégua longa, de uma geração, para preparar a Região para a paz; e, mesmo assim, continua a ser boicotado pelos EUA e pela União Européia.

Pior que isso: os EUA patrocinaram um golpe fracassado contra o Hamás e continuam a armar e treinar as milícias anti-Hamás de Máhmude Abbas, cujo mandato como presidente da Autoridade Palestina expirou dia 9/2. No primeiro dia como presidente, Obama imediatamente declarou que boicotaria a democracia palestina.

A mais clara mensagem das eleições em Israel é que o partido Sionista crê que pode resolver a charada básica de Israel e nunca mais se discutirá a possibilidade de uma Solução de Dois Estados. Israel só pode constituir-se como "Estado judeu" se remover à força a maioria não-judia da Palestina. Como os palestinos outra vez são maioria num país que resiste obcecadamente a qualquer partilha, o único modo de manter controle judeu sobre a Palestina é empregar violência cada vez mais brutal e reprimir completamente qualquer resistência (vide Gaza).

Seja qual for o governo que venha a ser constituído, comandará a ampliação das colônias, a discriminação racial e a escalada da violência.
Há alternativas que já ajudaram a pôr fim a conflitos igualmente sangrentos e que também pareciam inabordáveis: uma democracia, ao estilo da África do Sul, de um-habitante-um-voto; ou democracia com partilha do poder, como se fez na Irlanda do Norte. Só sob sistema democrático que assegure direitos a todos os habitantes de um território, as eleições têm poder para transformar o futuro dos povos.

Mas Israel hoje mergulha em declarado fascismo. Seria excesso de ingenuidade, tolice, continuar a pretender – como tantos ainda fazem – que os líderes israelenses fracassados e criminosos, teriam a chave do mapa para sair do pântano.

Em vez de esperar que formem alguma coalizão, temos de ampliar a campanha internacional, na sociedade civil planetária, de boicote, de desinvestimento e de sanções, para obrigar Israel a escolher caminho mais são.

Ali Abunimah é jornalista, co-fundador de The Electronic Intifada. O original deste artigo, em inglês, está publicado em inglês aqui no The Guardian e aqui no The Eletronic Intifada

Agora o Estado serve, Soros?

Site do Azenha - Atualizado em 18 de fevereiro de 2009 às 01:35 | Publicado em 17 de fevereiro de 2009 às 18:31

George Soros é a própria louvação ao deus mercado; a presença do Estado na economia, uma heresia. Até que o muro do capitalismo caiu.

No Fórum Mundial de Davos, no final de janeiro, o megaespeculador húngaro, naturalizado americano, defendeu:

-- A recapitalização dos bancos é necessária e a maior parte do dinheiro, se não todo, virá do governo, porque o setor privado não vai disponibilizá-lo.

-- É preciso uma espécie de acordo sobre o capital perdido, de modo que a carga seja compartilhada entre todos e que cada país seja parte disso.

Agora para cobrir as lambanças do sistema financeiro o Estado serve, Soros?


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Submarinos atômicos francês e britânico colidem carregados de ogivas

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

Dois submarinos nucleares carregados com ogivas atômicas, o britânico HMS Vanguard e o francês Le Triomphant, chocaram-se no início deste mês no meio do Oceano Atlântico, informaram ontem autoridades da França e do Reino Unido. Elas ressaltaram que apesar do susto, o acidente não causou vítimas nem danos graves nas embarcações. Segundo especialistas, o acidente poderia ter tido consequências catastróficas se tivesse provocado incêndio ou danos a alguma arma nuclear ou no casco de uma das embarcações. Cerca de 250 marinheiros estavam nos dois submarinos no momento da colisão.

— Foi um choque leve, que ocorreu por causa de uma ressaca no oceano. Felizmente não ocorreram prejuízos graves — disse o almirante Jonathan Band, chefe Marinha Real Britânica.

A notícia é do jornal O Globo, 17-02-2009.

Deputados pedem investigação independente

Os ministérios da Defesa dos dois países não divulgaram a data do acidente mas, segundo a rede britânica BBC, a colisão ocorreu entre 3 e 4 de fevereiro. As duas embarcações, além de movidas a propulsão nuclear, têm capacidade para lançar mísseis atômicos. Ambos faziam exercícios militares no momento do choque. O HMS é um dos 11 submarinos de propulsão nuclear da Grã-Bretanha e carregava, segundo fontes militares, pelo menos 48 ogivas atômicas.

Deputados britânicos pediram ontem uma investigação independente para identificar as causas do acidente.

A ressurreição do keynesianismo

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

"Os governos reconhecem que esta crise não pode mais ser contida apenas pela redução de juros e apelam para o arsenal keynesiano", escreve Paul Singer, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 17-02-2009. Segundo ele, "o instrumental keynesiano funciona desde que os governos o empreguem com rapidez e intensidade para reverter as expectativas dos agentes econômicos. O pânico, que se apossou das finanças, contaminou a mídia e a opinião pública e até o momento não cedeu diante das ações de fomento anunciadas pelos governos".

Paul Singer é economista, é professor titular da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Ele foi secretário municipal do Planejamento de São Paulo (gestão Luiza Erundina).

Eis o artigo.

Desde a inesquecível crise de 1929, a presente é a primeira a ser combatida com políticas retiradas do arsenal teórico keynesiano. Em 1929, quando o estouro da Bolsa de Wall Street deu início à mais longa e arrasadora crise da história do capitalismo, era consenso que os governos deveriam manter austeras suas políticas monetária e fiscal, por temor de uma possível inflação, induzida pela recuperação do consumo e da inversão. O que houve, porém, foi uma deflação infindável que perpetuou a retração da demanda efetiva, o desemprego em massa e o empobrecimento da maioria da população.

Diante do desastre, alguns governos (entre os quais o brasileiro e o sueco foram dos primeiros) jogaram o consenso conservador fora e passaram a usar o crédito e o orçamento público para fomentar diretamente o consumo, a inversão e a substituição de importações, tendo em vista incrementar a qualquer custo a atividade econômica nacional. Essas políticas, movidas pela coragem do desespero, lograram fazer com que o mundo emergisse de uma crise que parecia não ter fim.

Economistas de peso aprovaram então a nova heterodoxia, entre os quais John Maynard Keynes, que depois elaborou uma teoria geral para demonstrar que as políticas heterodoxas eram racionais tanto para remediar crises financeiras já estouradas como para preveni-las. Nas quatro décadas seguintes, o arsenal keynesiano de políticas anticíclicas foi amplamente aplicado para impedir que novas crises financeiras mundiais pudessem ocorrer.

Contribuíram para tanto as instituições criadas na conferência de Bretton Woods em 1944, não por acaso presidida por Keynes. O estatuto do Fundo Monetário Internacional o proibia de socorrer países cujos governos deixavam de controlar a movimentação internacional de capitais e instaurava a estabilidade cambial, impedindo que o valor das moedas nacionais flutuasse ao sabor da especulação.

Portanto, durante os 40 anos seguintes, as políticas anticíclicas keynesianas não tiveram emprego. No fim dos anos 1970, no entanto, a onda neoliberal começou a desmontar os controles multilaterais e nacionais da especulação, liberando-a no plano mundial. Como seria de esperar, as crises financeiras voltaram com o retorno do consenso de que, se os governos se dedicassem ao equilíbrio fiscal, elas seriam passageiras.

Mas isso não se aplicava aos Estados Unidos, cujo banco central tem como missão tanto combater a inflação como manter a economia nacional em pleno emprego. O Federal Reserve manipulava a taxa oficial de juros, elevando-a para forçar o estouro de bolhas "excessivas" e reduzindo-a em seguida para apressar a recuperação da economia e minimizar as consequências da crise.

Dessa forma, um certo keynesianismo inconfessado era praticado pela superpotência capitalista. Agora, com o estouro de bolhas imobiliárias, surge uma crise tão forte que abala as mais importantes companhias financeiras do Primeiro Mundo e destrói trilhões de dólares de capitais fictícios acumulados nas Bolsas de Valores. Os principais governos logo reconhecem que esta crise não pode mais ser contida apenas pela redução das taxas oficiais de juros (hoje quase zeradas) e apelam para o arsenal keynesiano de políticas de fomento do consumo, do investimento e do emprego.

Até agora, os pacotes de estímulo dos governos não têm conseguido impedir que a crise encolha o crédito e comprima a demanda efetiva, o que resulta em queda quase universal da atividade econômica e aumento do desemprego. Isso confirma o pessimismo dos bancos, que racionam o crédito e o encarecem; das empresas, que adiam as inversões, reduzem a produção e demitem os trabalhadores; e dos consumidores, que restringem os seus gastos, assustados com a ameaça do desemprego.

A julgar pela única experiência histórica disponível, a da crise de 1929, o instrumental keynesiano funciona desde que os governos o empreguem com rapidez e intensidade para reverter as expectativas dos agentes econômicos. O pânico, que se apossou das finanças, contaminou a mídia e a opinião pública e até o momento não cedeu diante das ações de fomento anunciadas pelos governos.

Estas só podem alcançar seus objetivos se forem imitadas pelos detentores de meios próprios para consumir mais do que o essencial e para investir o dinheiro não gasto na ampliação da capacidade de produção. Há políticas disponíveis para abreviar a presente e prevenir as futuras crises. Quais são elas, no entanto, é tema para um outro artigo.

Japão quer estimular volta de trabalhadores brasileiros

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

Com a maior queda do PIB em 34 anos e o fechamento de 65 mil vagas de trabalho, o Japão, segunda maior economia do mundo, decidiu apresentar um plano de emergência para, em última instância, criar condições para a repatriação dos decasséguis (brasileiros descendentes de japoneses) ao Brasil. Estima-se que haja 320 mil deles vivendo hoje no país, além dos 180 mil que já foram e voltaram ao longo dos anos.

A reportagem é de Eliane Cantanhêde e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-02-2009.

Em carta ao governo brasileiro, com data da sexta-feira, o embaixador do Japão em Brasília, Ken Shimanouchi, admite a "situação de extrema dificuldade em vários aspectos, como desemprego e educação dos filhos, pela qual passam os nipo-brasileiros residentes no Japão" e enumera cinco itens de apoio a eles.

O item quatro prevê que o governo recorrerá a três instâncias para facilitar a vida dos que desistam de ficar no Japão e prefiram voltar: ao país de origem, ao setor industrial e às companhias aéreas, de forma a criar o que ele chama de "retorno harmonioso". Não especificou, porém, qual será a contribuição do próprio governo japonês para a volta, nem a expectativa de quantos poderão seguir esse caminho.

Desde o agravamento da crise, houve protestos de decasséguis em cidades japonesas.

Outros itens preveem facilidades para o ingresso em escolas públicas de crianças que tenham dificuldades para entrar em escolas para estrangeiros; apoio na busca de empregos, inclusive com aumento de intérpretes e de centros de atendimento específico; concessão de auxílio-moradia para os que perderem o emprego; e criação de um site para informações multilíngues, com campanhas de divulgação no exterior.

O movimento de imigração de decasséguis para o Japão começou e recrudesceu a partir da década de 1980, quando o Brasil vivia grave crise. Agora, o movimento é inverso.

O embaixador destacou na correspondência para o governo brasileiro que o premiê, Taro Aso, que já morou no Brasil, está empenhado em tratar diretamente da questão e criou a Equipe para a Promoção de Políticas para Estrangeiros, instalada no seu próprio gabinete. Foi esse grupo que preparou as medidas.

Ao incluir a possibilidade de retorno como item quatro, em meio a medidas no sentido exatamente contrário, a avaliação é que o governo japonês gostaria de enviar os brasileiros de volta, mas sem admitir que, na situação de hoje, são um problema a mais num mar de problemas gerados pela crise.

A queda do PIB japonês, de 3,3% nos três últimos meses de 2008, foi a maior do país desde a crise do petróleo de 1974. Os resultados são ainda piores do que os já dramáticos apresentados em parte da Europa, como Alemanha, Reino Unido e Espanha.

A explicação para a queda está, segundo os analistas, na redução de exportações, principalmente no setor de carros e eletrônicos, fortemente atingidos pela retração internacional e na demanda interna.

Com isso, o desemprego também cresce exponencialmente. Como estrangeiros, os decasséguis tendem a ser os principais prejudicados, inclusive os que trabalham sem regulamentação em setores como construção civil e empacotamento de marmitas.

No Paraná, Renault chama metade dos operários demitidos de volta

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

Cerca de 500 trabalhadores da fábrica da Renault, em São José dos Pinhais (PR), que estavam com os contratos de trabalho suspensos até maio, devem ser chamados de volta até meados de março. Outros 500 trabalhadores continuarão aguardando a retomada total da produção, recebendo a Bolsa Qualificação. A produção de veículos de passeio da marca, hoje em torno de 380 por dia, deve subir para cerca de 540.

A reportagem é de Evandro Fadel e Cleide Silva e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-02-2009.

"O mercado deu sinais positivos de recuperação e a empresa vai precisar de mais de um turno, porém menos de dois turnos, para dar conta da produção atual", disse o representante do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Robson Jamaica. "Nosso objetivo é que a volta se dê de maneira gradual e sólida; estamos esperançosos e acreditamos que os serviços serão normalizados em breve." A expectativa é que os outros metalúrgicos também sejam chamados antes do prazo previsto. Os mil trabalhadores com contratos suspensos equivalem a 30% da mão de obra da fábrica.

Na primeira quinzena de fevereiro foram vendidos 99,3 mil automóveis e comerciais leves de todas as marcas, um aumento de 17% ante o mesmo período de janeiro e de 8% na comparação com igual mês de 2008.

Segundo Jamaica, uma das questões que ainda permanecem em discussão com a Renault é a continuidade do curso de qualificação dos trabalhadores que vão retornar. O sindicato espera que a empresa continue pagando para aqueles que queiram terminar o programa.

O secretário Nelson Garcia, da Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social do Paraná, informou que os funcionários receberão o número de parcelas do seguro-desemprego referente ao tempo de afastamento.

Com a retomada dos contratos, todos voltam a recolher os benefícios previdenciários e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Garcia ressaltou que tem orientado os empresários do Estado a adotarem o Bolsa Qualificação como forma de evitar demissões.

Por meio dessa modalidade de seguro-desemprego, o trabalhador tem direito a receber até cinco parcelas do benefício pago pelo governo federal enquanto participa de cursos de qualificação profissional pagos pelo empregador.

Metade da bancada do PMDB foi parar no STF

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

Levantamento na base de dados do Supremo Tribunal Federal (STF) mostra que 10 dos 19 correligionários de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) no Senado respondem a processo ou são investigados. No total, a bancada do PMDB contabiliza 13 inquéritos, 4 ações penais e 5 investigações. Em entrevista à Veja, Jarbas disse que no PMDB "boa parte quer mesmo é corrupção".

A reportagem é de Felipe Recondo e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-02-2009.

Um dos casos mais adiantados no STF envolve Valdir Raupp (PMDB-RO), ex-líder do partido no Senado. Ele foi denunciado pelo Ministério Público acusado de usar dinheiro obtido de empréstimo do Banco Mundial, quando era governador de Rondônia, para finalidades distintas das previstas em contrato.

Até o momento, seis ministros votaram a favor de ação penal no STF. Apenas um votou por arquivar o caso.

Se aceita a denúncia, será a terceira ação penal a que Raupp terá de responder no STF. O senador afirma estar tranquilo em relação ao julgamento, disse ser inocente e garante que aplicou corretamente os recursos.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), livrou-se recentemente do inquérito mais problemático que corria contra ele no STF graças à morosidade da Justiça. Era acusado de utilizar fazendas inexistentes para obter empréstimo do Banco do Amazonas.

O inquérito foi arquivado porque os crimes prescreveram. No STF, Jucá responde a mais dois inquéritos. De acordo com o líder, os processos são de "cunho político-eleitoral" e fazem parte do jogo político e das disputas com adversários.

RENAN

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), é alvo de inquérito em que o Ministério Público apura se ele teve despesas pessoais pagas por uma empreiteira e se apresentou notas fiscais falsas para comprovar a venda de bois. A denúncia o levou a renunciar à presidência do Senado, em 2007.

Pela assessoria de imprensa, Renan afirmou ter ele mesmo pedido ao procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, a abertura da investigação.

Outro que responde a processos no STF é Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos mais engajados na eleição de José Sarney (PMDB-AP) para presidente do Senado. Em dois inquéritos e duas petições, é investigado porque teria sonegado impostos na Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura.

Salgado não foi encontrado para comentar os casos, mas já disse em outras ocasiões que a dívida foi gerada por atraso em duas cotas do Parcelamento Especial (Paes), de refinanciamento de dívidas tributárias. Ainda têm pendências no STF Garibaldi Alves Filho (RN), Leomar Quintanilha (TO), Edison Lobão Filho (MA), Mão Santa (PI), Neuto de Conto (SC) e Gilvan Borges (AP).

Um desafio para o futuro da Venezuela

Instituto Humanitas Unisinos - 17/02/09

O resultado do referendo abre uma pergunta e um desafio para o futuro da Venezuela, num contexto de crise internacional aguda e de baixa substantiva do preço de sua principal receita, o petróleo. Esta conjuntura pode alimentar a dependência do Partido Socialista Unido da Venezuela, de Chávez, ou pode, ao contrário, fortalecer o laço com as bases sociais que sustentam o governo, acentuando-se assim o processo de democratização e de redistribuição social, e tornando as mudanças que o país vive hoje menos reversíveis.

A análise é de Gabriel Puricelli e Lucia Alvarez, membros do Programa de Política Internacional e do Laboratório de Políticas Públicas, e publicada pelo jornal argentino Página/12, 16-02-2009. A tradução é da Agência Carta Maior.

EIs o artigo.

Desde que soube da convocatória para este novo referendo, a imprensa internacional insistiu em dizer que estávamos frente a uma eleição entre democracia e autoritarismo. A fórmula é conhecida e falaciosa. Há reeleições indefinidas em sistemas com altíssima concentração de poder no primeiro ministro e férrea disciplina de partido como Canadá, Reino Unido ou Austrália. Também funciona em regimes verdadeiramente autoritários e repressivos, alguns dos quais aliados estratégicos dos EUA, como o Egito, e esses se mantêm no poder por anos, sem que isso leve a um questionamento de sua classe dirigente.

Uma recontagem dos dez anos do governo bolivariano dá, ao contrário, um indício de sua vocação democrática. Chávez lidou com os embates e resistências da direita mantendo-se sempre dentro dos marcos institucionais e sua única derrota eleitoral foi reconhecida imediatamente, apesar da ínfima diferença que existiu entre o Sim e o Não à proposta de reforma constitucional, que significou um enorme reforço a sua legitimidade em nível nacional e internacional. Em troca, a oposição optou, até a reeleição presidencial de dezembro de 2006 apenas pelo caminho da violência e do enfrentamento. O golpe de estado de 2002, o "paro" petroleiro que deixou o país desabastecido por três meses e a abstenção na eleição parlamentar em 2005 são apenas alguns exemplos.

É certo, contudo, que hoje as condições já não são essas. A situação na Venezuela é muito diferente da da Bolívia e do Equador, países onde também estão sendo impulsionadas refundações políticas mediante reformas constitucionais. Chávez já não lida com a falta de base parlamentar própria, como Rafael Correa, ou com o desafio de uma direita golpista e secessionista, como Evo Morales. Nada o condiciona suficientemente senão para destinar energias em outro sentido que não seja o processo de mudança. A ênfase em manter Chávez para continuar a epopéia transformadora se trata talvez de uma subestimação do próprio processo.

O problema parece ser, então, que este novo intento de impulsionar a reeleição indefinida não faz mais do que reforçar um modelo de planificação estatal contrário ao que a revolução bolivariana determina em suas premissas. Em vez de buscar e armar possíveis candidatos que permitam alternativa, aposta-se numa crescente centralização. Em vez de outorgar ferramentas para o bom funcionamento dos conselhos comunais, as mesas técnicas de água e todas aquelas “instituições” da democratização que hoje têm problemas por conta das travas da burocracia ineficiente – e muitas vezes corrupta -, robustece os mecanismos de um Estado que não se alterou tanto e que permanece contudo um pouco imune ao processo de mudança.

O resultado desta eleição abre por isso uma pergunta e um desafio para o futuro da Venezuela, num contexto de crise internacional aguda e de baixa substantiva do preço de sua principal receita, o petróleo. Esta conjuntura hoje pode alimentar a dependência do Partido Socialista Unido da Venezuela de Chávez, com o risco de desgaste frente a um eleitorado que já mostrou em 2007 não ser incondicional. Ou pode, ao contrário, fortalecer o laço com as bases sociais que a sustentam, acentuando-se assim o processo de democratização e de redistribuição social, e tornando as mudanças que o país vive hoje menos reversíveis.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O primeiro índio no Kremlin

darussia.blogspot.com - 16/02/09



O Presidente russo, Dmitri Medvedev, manifestou ao seu homólogo boliviano, Evo Morales, que se encontra na capital russa em visita oficial, vontade em cooperar com a Bolívia na luta contra o narcotráfico.
“A Rússia considera importante a coordenação das relações com a Bolívia no campo internacional. Claro que, nalguns casos, das nossas posições conjuntas depende a solução de grandes tarefas globais, estamos prontos para desenvolver esses contactos”, declarou o Presidente Medvedev, ao receber, hoje, Evo Morales no Kremlin.
“Nomeadamente, a Rússia está pronta a cooperar com a Bolívia em questões como a luta contra o narcotráfico e da elaboração de abordagens comuns face à luta contra as alterações climatéricas”, precisou.
Evo Morales não esconde o seu descontentamento face às actividades dos Estados Unidos no campo do combate ao tráfico de drogas na América Latina e defende a sua substuição pela Rússia nesse campo.

Medvedev defende que a Rússia e a Bolívia devem incrementar a troca de mercadorias através do aumento de contactos bilateriais no campo da energia, das indústrias mineira e técnico-militar,
“Infelizmente, por enquanto, o nível do comércio bilateral continua a não ser significativo, mas, não obstante, considero que seremos capazes de dar um impulso complementar, durante a sua visita, em diferentes áreas”, começou Medvedev.
“Podemos avançar nas questões energéticas, na cooperação na esfera mineira e no campo da agricultura. Podemos voltar a uma série de projectos do passado”, precisou.
“Ambos os presidentes reconhecem os êxitos conseguidos no campo da cooperação energética e encarregaram os respectivos ministros de, em breve, assinarem um acordo-quadro sobre a integração na cooperação na esfera energética com vista a utilizar os recursos energéticos nos interesses dos Estados”, lê-se na declaração conjunta de Medvedev e Morales.

Em 2008, as trocas comerciais entre a Rússia e a Bolívia atingiram os 5,5 milhões de dólares.
O dirigente russo anunciou também que a a cooperação técnico-militar entre a Rússia e a Bolívia irá ser “uma direcção importantíssima”, sublinhando que o seu país irá fornecer “um grande número de helicópteros” à Bolívia.
“Esperamos que, nos tempos mais próximos, comece a realização do primeiro grande contracto de fornecimento de helicópteros à Bolívia”, declarou Medvedev, na conferência de imprensa realizada após as conversações.
“E estamos prontos a realizar conversações nesta área no futuro”, acrescentou.
Viatcheslav, Davidenko, porta-voz do consórcio Rosoboronexport, reconheceu que a Bolívia está interessada em adquirir armamentos russos, nomeadamente helicópteros Mi-17B-5.
Evo Morales, antes da visita a Moscovo, manifestou interesse nesses helicópteros, que poderão ser usados para destruir plantações ilegais de coca na Bolívia.
Mikhail Dmitriev, director do Serviço Federal da Rússia para Cooperação Técnico-Militar, não excluiu, em declarações à imprensa, a possibilidade de Moscovo vir a conceder à Bolívia umm empréstimo para adquirir armamentos russos.
“É uma questão que está em análise”, declarou.
O Presidente da Rússia sublinhou também a importância do incremento de contactos no campo da ajuda humanitária e ensino, acrescentando que “na URSS foramaram-se numerosos especialistas bolivianos”.
Evo Morales foi o primeiro chefe de Estado de origem índia a visitar a Rússia e mostrou-se supreendido com a recepção.
“Eu pensava que um índio não fosse alvo de semelhante recepção na Rússia, estou-lhe muito grato por isso”, reconheceu o dirigente boliviano na conferência de imprensa.
Dirigindo-se a Medvedev, Morales acrescentou: “Nunca imaginei que uma grande potência como a Rússia recebesse a mim, que, frequentemente, é chamado de traficante e terrorista”.
“A Rússia é uma potência mundial e tem importância na consecução do mundo multipolar. Apoiamos a disposição pacifista da Rússia”, sublinhou.
“O regresso da Rússia à América Latina é de extrema importância”, rematou Morales.

Crise? Que crise? A Petrobrás e o salário mínimo vão salvar o Brasil

Conversa Afiada - 16/fevereiro/2009 14:00

A Miriam deve estar uma fera: para ela, a Petrobrás é um horror. Boa é a Vale!

A Miriam deve estar uma fera: para ela, a Petrobrás é um horror. Boa é a Vale!

Saiu na Folha:

Aumento real do mínimo injeta R$ 21 bi e reduz crise - 16/02/2009

Aumento real do mínimo injeta R$ 21 bi e reduz crise
Aliada à inflação menor, alta real de 6,4% do salário fortalece mercado interno

Setores como alimentos, roupas e fármacos e regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste devem ser mais beneficiados
PEDRO SOARES
Reajustado neste mês em 6,4% em termos reais, o novo salário mínimo de R$ 465 injetará diretamente na economia R$ 21 bilhões pelos cálculos do Ministério do Trabalho e será um importante instrumento de política anticíclica nestes tempos de crise, segundo especialistas. Permitirá, dizem, manter algum dinamismo em setores que dependem da expansão da renda, como o de alimentos.




A revista Economist dessa semana tem um artigo sobre os ambiciosos objetivos da Petrobrás.A Petrobrás pretende investir US$ 174 bilhões nos próximos cinco anos.

O que é maior do que o PIB do Chile.

Em 2020, a Petrobrás e seus parceiros vão produzir 5,7 milhões de barris dia, o que é a metade da produção da Arábia Saudita.

Neste mês de fevereiro, quando “a crise Miriam Leitão” era mais profunda, a Petrobrás lançou um título de dívida no mercado internacional com taxa de juros de 8 1/8%, “a vote of confidence from wobbly financial markets”, ou seja, um voto de confiança apesar de os mercados financeiros ainda estarem inseguros.

Convido o amigo navegante a votar na enquete – o que eles vão fazer se a crise não fora A crise, Ou seja, se não se materializar, no Brasil, “a crise Miriam Leitão”

Obama e o modelo sueco

Blog do Luis Nassif - 16/02/09

Por Joel

Nassif,

Dá uma olhada nesta notícia do jornal sueco “Dagens Nyheter”, de hoje, 16 de fevereiro.

Segundo o principal jornal sueco, “Dagens Nyheter”, o governo Obama não está considerando resgatar o seu sistema bancário segundo o modelo “escandinavo”, que foi implementado na Suécia em 1992, quando o país passou por uma aguda crise financeira.

Na época, o Estado Sueco comprou o equivalente a 8 bilhões de dólares em ações do sistema bancário, tornando-se na prática o seu principal acionista. Após o saneamento e a retomada da confiança no sistema, os bancos foram vendidos ao setor privado gerando dividendos para o Estado.

O próprio presidente Obama declarou à Rede ABC que “À primeira vista, o modelo sueco parece bom. Mas o problema é que a Suécia tinha 5 bancos, nós temos milhares. E a Suécia tem uma outra cultura quanto a relação do Estado e o Mercado. Nós (nos EUA) queremos manter a noção de que os investimentos fundamentais do país devem vir do setor privado”.

Mesmo assim, dois economistas de peso, Matthew Richardson e o agora famoso Nouriel Roubini, publicaram um artigo na edição deste domingo do Washington Post com o título “Nacionalizem os Bancos - Agora Todos Somos Suecos” .

Nele, os economistas dizem “Como economistas a favor do livre mercado (… ) sentimo-nos heréticos ao propor uma estatização ampla do sistema bancário, mas o sistema financeiro americano chegou a um tal ponto de perigo que poucas alternativas nos restam”.

O ex-ministro das finanças sueco, Bo Lundgren, que liderou o processo em 1992, afirma que a experiência sueca poderia, sim, ser aplicada nos EUA. “Os princípios de nosso resgate do sistema financeiro não criaram um poder burocrático estatal sem controle. Na época nós garantimos a liquidez dos bancos e restabelecemos a confiança no sistema”.

Segundo o ex-ministro sueco, ele não achou que o discurso do novo Secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, na semana passada, tenha infundido a confiança necessária para o sistema financeiro norte-americano.

o Lundgren diz também não entender o porquê de tamanho medo, nos EUA, em relação a uma garantia estatal para o sistema financeiro via a participação acionária nos bancos. “O Estado não dever ser o dono dos bancos a longo prazo, mas estamos passando por uma crise e nessas horas há que se tomar medidas corajosas. Nos EUA dá-se uma imagem totalmente errada quando se fala em nacionalização dos bancos”.

A deputada democrata Maxine Waters declarou, também à ABC, que “o Citibank na verdade já deveria ser considerado nacionalizado, com tanto dinheiro que colocamos nele. Mas eu não acho que nós estamos prontos para um programa formal de nacionalização dos bancos”.

O tamanho da crise brasileira

Blog do Luis Nassif - 16/02/09

Aqui você verá uma série de matérias que saíram hoje, sobre os efeitos positivos das políticas anticíclicas empreendidas no Brasil nos últimos meses.

Um dos impactos positivos advirá da redução do superávit fiscal (a “gastança”, na expressão primária de alguns analistas).

Diz o Valor de hoje:

“Boa parte dos economistas estima um superávit primário (receitas menos despesas, excluindo gastos com juros) de 3% a 3,5% do PIB neste ano, bem abaixo dos 4,07% do PIB obtidos no ano passado pelo setor público (União, Estados, municípios e estatais). O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, lembra, contudo, que o superávit “oficial” ficou nesse nível por causa do aporte de R$ 14,2 bilhões para o Fundo Soberano, um mecanismo contábil usado pelo governo para transferir recursos fiscais de um ano para o outro.

(…) Montero projeta um superávit primário de 3,3% do PIB neste ano, considerando possível um número de 3% ou até menos. De um lado, a expansão das receitas vai perder fôlego, por causa do menor crescimento. De outro, a União já se comprometeu com despesas correntes mais altas, devido aos aumentos já contratados para o funcionalismo e ao reajuste do salário mínimo, que corrige dois terços dos benefícios da Previdência. Além disso, a promessa do governo é intensificar o ritmo de execução dos investimentos.

“Uma queda do superávit primário dessa magnitude será um estímulo importante para a atividade econômica”, ressalta ele, destacado que “a redução do esforço fiscal pode ficar próxima a 2 pontos percentuais do PIB, o que é mais do que muitos analistas projetam de crescimento para a economia neste ano”. Montero aposta numa expansão de 2,2% para o PIB em 2009, em parte por acreditar que a política fiscal terá um efeito expansionista sobre a atividade”.

Outro ponto importante são os efeitos dos investimentos públicos, especialmente da Petrobrás e das obras previstas no PAC (conforma nota colocada ontem aqui).

Um terceiro é o efeito da Bolsa Família e do aumento do salário mínimo, ajudando a fortalecer o consumo das classes C-, D e E.

Começa a tomar corpo a idéia de que a crise, no Brasil, será bem menor do que se estimava inicialmente. Mesmo assim, cautela e caldo de galinha.

A economia mundial não parou de cair. Há um artigo didático do Luiz Carlos Mendonça de Barros sobre as mudanças estruturais na economia global, com o novo padrão de consumo norte-americano (em níveis extraordinariamente baixos, graças à virtuosa “democratização do crédito”, enaltecida pelo meu colega Sardenberg).

Lições até agora da crise, que antecipamos em alguns artigos de dezembro:

1.A proatividade das políticas públicas foi essencial para segurar a peteca.

2.Passado o período de terrorismo, haveria um refluxo da ênfase às notícias ruins. Esse processo foi antecipado pelo calo doendo das empresas de mídia, com a queda da publicidade.

3.Passado o período de desova de estoques, a economia começaria, de fato, a mostrar qual o novo patamar de crescimento.

Em relação ao último item, ainda não há clareza no horizonte. Creio que só para maio se terá uma idéia melhor sobre qual o novo ritmo do crescimento.

De qualquer forma, o que importa é que jã há uma noção um pouco melhor sobre o fundo do poço. E não está sendo tão drástico quanto se supunha.

Stephen Kanitz: Catastrofismo alarmista, não!

Site do Azenha - Atualizado em 17 de fevereiro de 2009 às 18:34 | Publicado em 16 de fevereiro de 2009 às 19:04

"A avalanche de notícias e análises econômicas marcadas por um tom alarmista e, por que não?, irresponsável”, levou este professor, consultor de empresas e conferencista a criar um blog para tratar do assunto.

por Stephen Kanitz, no blog O Brasil que dá certo

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Há mais de cinco anos, leitores e estudantes vêm insistindo para que eu criasse um blog. Resisti até agora porque um artigo mensal na Veja já me dava muito trabalho. Imagine um blog diário!

Mas a crise econômica de 2008 me mostrou as responsabilidades de um formador de opinião: deve fazer-se presente no debate público de modo freqüente e atuante.

Desde setembro, quando as percepções de que a economia norte-americana entraria em colapso começaram a ganha corpo, assistimos a uma avalanche de notícias e análises econômicas marcadas por um tom alarmista e, por que não?, irresponsável. No Google Trends, em que se descreve o uso da palavra "crise" no Brasil. Veja salto dado em setembro de 2008, época em que o país crescia a 6,8%.

clique para visualizar o gráfico

O pânico que tomou conta da imprensa não lhe permite dar o devido destaque a uma série de fatos positivos da economia brasileira.
Por exemplo, quem se lembra da notícia, de 03 de janeiro, de que o Brasil bateu recorde histórico das exportações, mesmo a um câmbio pouco competitivo de R$ 1,70? Ou ainda: de que, em 27 de janeiro, o FMI previu que a economia brasileira irá (mesmo que de maneira modesta) CRESCER em 2009?

Esse mesmo alarmismo faz com que, algumas vezes, notícias positivas sejam lidas ou interpretadas como negativas. Exemplos: em entrevista ao Estadão (03.12.2008), Affonso Celso Pastore prevê que, a despeito da desaceleração das atividades econômicas, o crescimento do PIB brasileiro deve ficar entre 2,0 e 2,5%. Mas qual foi a chamada de capa? “Pastore já vê sinais de recessão”.

Na tentativa de fazermos um contraponto a essa maré de pessimismo, divulgaremos aqui as boas notícias e as boas iniciativas do Brasil Que Dá Certo. Assim, este blog será uma continuação do livro que publiquei em 1994, que teve 35 reimpressões e me rendeu um Premio Jabuti. Não iremos promover o catastrofismo alarmista, mas tampouco embarcaremos num otimismo irresponsável. Buscaremos, sim, fazer uma análise realista. Iremos nos concentrar nas boas noticias simplesmente porque as más notícias não precisam ser reproduzidas - elas já têm amplo espaço.

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Dalkia, grupo francês, quer investir em centrais de biomassa no Brasil

Instituto Humanitas Unisinos - 16/02/09

A Dalkia, divisão de energia do grupo francês Veolia Environnement, está em busca de projetos de biomassa no Brasil. A empresa quer atingir uma capacidade instalada em centrais de biomassa brasileiras de 60 MW até 2011.

A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 16-02-2009.

Segundo Philippe Roques, diretor industrial da Dalkia Brasil, a empresa já tem projetos em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. O valor do investimento não foi divulgado.

A preocupação global com a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa e a crescente utilização de fontes renováveis de energia fazem do segmento de biomassa um dos prioritários do grupo.

Para a Dalkia, o Brasil é um mercado interessante por seu clima favorável, biodiversidade e existência de projetos já em andamento no país.

Segundo Roques, a empresa não pensa em adiar os investimentos por conta da crise. "Acreditamos que, com a crise econômica, os projetos de eficiência energética se tornam ainda mais importantes."

Neste ano, a Dalkia Brasil quer manter o crescimento no patamar de 15%. O resultado de 2008 ainda não está fechado, mas dados preliminares apontam para um faturamento de cerca de R$ 200 milhões -crescimento de 17% ante 2007.

Clima pesado

Instituto Humanitas Unisinos - 16/02/09

Pelos menos duas grandes crises assustam as previsões para o decorrer deste ano - e, possivelmente, dos próximos também. Uma delas, já bastante difundida e prontamente socorrida pelos governos, diz respeito ao estado de incertezas que recobre a economia global. A outra, a crise climática e ambiental, ainda parece, no entanto, coisa de um futuro distante - embora já esteja ocorrendo agora, como alerta o urbanista Mike Davis.

A reportagem e a entrevista e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 15-02-2009.

Professor na Universidade da Califórnia, Davis lembra que "o clima está mudando mais rápido do que a capacidade de adaptação de plantas e animais". Cita como exemplos as nevascas que vêm atingindo a Inglaterra nas últimas semanas ou as alterações climáticas no sudoeste dos EUA, no norte do México e no leste da região banhada pelo mar Mediterrâneo, locais que têm se tornado mais secos e quentes.

Crítico das implicações ambientais do capitalismo, Davis é autor de obras como "Planeta Favela" (Boitempo) e "Cidades Mortas" (Record). Para ele, "a mudança climática ainda não assumiu um papel central na geração de um colapso econômico, embora tal conjuntura seja obviamente previsível". Ele aponta, por exemplo, que o aumento no preço dos grãos, em 2008, foi resultado, em parte, dos desastres climáticos dos últimos dez anos. Na entrevista abaixo, Davis defende que "as mudanças para salvar o planeta devem envolver a redistribução do poder econômico e a redefinição dos padrões de consumo em níveis sociais e globais".

Eis a entrevista.

Qual é a relação entre as mudanças climáticas das últimas décadas e a atual crise econômica?

Os desastres climáticos da última década quase destruíram a indústria global de seguradoras e contribuíram para a perigosa e recente inflação nos preços de grãos. Mas a mudança climática ainda não assumiu um papel central na geração de um colapso econômico, embora tal conjuntura seja previsível. Por outro lado, graças à crise e à campanha de Barack Obama, o "keynesianismo verde" emergiu como uma ideia poderosa que poderia reagrupar o movimento ambiental e os sindicatos em torno do investimento público no emprego, gerando investimentos públicos em infra-estrutura verde. Corporações lobistas, naturalmente, aceitam o slogan de que uma infra-estrutura verde está tão distante quanto a possibilidade de transformar uma política para indústrias de alta tecnologia e riscos capitalistas. Entretanto a simples introdução da ideia no discurso público é um progresso e oferece uma nova ligação entre verdes e trabalho.
O sr. acredita que o governo Obama irá tratar com mais responsabilidade que o governo George W. Bush os impactos da crise ambiental e climática?

Sim, e Obama não somente cooperará com a União Europeia e outros países que assinaram o Protocolo de Kyoto [tratado internacional que prevê a redução na emissão de gases poluentes na atmosfera], mas provavelmente abrirá um novo canal para negociações climáticas com os chineses. Contudo, é uma outra questão prever se as negociações produzirão resultados sérios. Os países europeus que tomaram a direção das negociações sobre o clima estão agora divididos internamente e indecisos, logo há expectativas fantasiosas - como sobre a economia e a capacidade de Obama de se tornar líder mundial. Mesmo nos EUA prometeu mais do que poderia, pois sua agenda de trabalho será moldada pelo Congresso. Além disso, ele comprometeu seu próprio programa ambiental ao demonstrar entusiasmo pelo "carvão limpo". Pois os carros elétricos terão pouco impacto na redução do aquecimento global se a eletricidade continuar a ser produzida com carvão.

Diante da crise ambiental, que novo clima está a caminho?

Estamos vivendo em uma nova Terra. No próximo século, o sistema climático global será governado por níveis de acumulação de gases sem precedentes nos últimos 3 milhões de anos. A maior retenção da energia solar conduzirá a mais eventos climáticos extremos; contudo, e mais importante, reorganizará padrões de chuvas regionais e temperaturas, com grandes implicações para a agricultura irrigada e a qualidade da água consumida nas cidades. O papel de massas polares marítimas, produtividade agrícola, poluição urbana etc. complicará enormemente a constituição de climas futuros. Mas duas tendências estão claras: o aquecimento acelerado das altas latitudes do hemisfério Norte, com o consequente derretimento do gelo marinho, e a dramática expansão de regiões semiáridas nas latitudes médias. De acordo com os estudos de ponta de Richard Seager e sua equipe no Lamont-Doherty (laboratório da Terra da Universidade Columbia, nos EUA), as condições climáticas no sudoeste americano, no norte do México e, possivelmente, no leste do Mediterrâneo já estão mudando, com estações mais quentes e mais secas. Em muitos casos, o clima está mudando mais rápido do que a capacidade de adaptação de plantas e animais, provocando, desse modo, a extinção de espécies e simplificações ecológicas. É mais fácil, claro, visualizar os rápidos processos e as singularidades catastróficas - gigantescos furacões, secas épicas etc.- do que ver os aspectos mais lentos, porém ainda mais poderosos, da mudança do clima -diminuição gradual da produção agrícola, desertificação crescente etc.

A nevasca que caiu no Reino Unido no início deste mês foi a pior dos últimos 18 anos no país, paralisando aeroportos, o sistema de transportes e acarretando enormes prejuízos econômicos. As metrópoles serão os espaços que mais sofrerão com as mudanças climáticas?

Bem, clima atípico é clima. Os indícios científicos ligados ao aquecimento global não são visíveis apenas em algum caso particular. Por essa razão, um observador prudente hesitaria em atribuir a nevasca em Londres e mesmo o furacão Katrina [que destruiu a cidade de Nova Orleans, no sul dos EUA, em 2005] a uma mudança climática antropogênica. Por outro lado, a incidência de colapso dos sistemas urbanos por eventos climáticos extremos tem aumentado. Serão necessários trilhões de dólares para adaptar as cidades, mesmo as ricas, ao clima novo e "normal" que está chegando.

Na sua opinião, os programas de combate ao aquecimento global têm sido eficientes?

Não, falharam até em relação a expectativas modestas. Kyoto teve impacto insignificante, e as emissões de gases de 2000 a 2007 aumentaram mais rapidamente do que era previsto nos piores cenários. E há um otimismo público pequeno, em meio à crise econômica mundial, de que a conferência do clima de Copenhague [na Dinamarca, onde se discutirá, em dezembro, um acordo substituto para o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012], produzirá uma continuação séria de Kyoto. Alguns países europeus, incluindo Alemanha e Itália, estão indo agressivamente atrás de carvão -o combustível fóssil mais sujo e mais barato. Precisamos de uma estratégia mundial para a adaptação ao aquecimento global, assim como a redução nas emissões de gases de efeito estufa. Mas, graças ao fracasso dos países ricos em reduzir as emissões, a maioria dos impactos ruins cairá sobre países mais pobres, com menos meios para adaptar seus sistemas agrícolas, recursos hídricos e ambientes construídos. Por isso é que devemos lutar para ganhar o reconhecimento da "dívida ecológica" que o Norte tem com o Sul: somente grandes transferências de renda podem permitir que os países mais pobres invistam em adaptações significativas (colheitas novas e irrigação de gotejamento, conservação da água urbana, energia solar etc.)

A defesa do ambiente exige a atuação conjunta de mudanças individuais de atitude e políticas públicas que alterem hábitos coletivos de consumo. Como implementar de maneira eficaz tais processos?

Promover uma ética verde em nível individual é importante, e nós deveríamos ser responsáveis pelos nossos impactos ecológicos. Não tenho nenhuma simpatia por ecologistas que querem salvar a Terra reduzindo a população humana a níveis pré-industriais, mas entendo a confusão sobre como traçar o círculo da sustentabilidade com a urgência do fim da pobreza.

Como todos sabemos, diversas Terras adicionais seriam exigidas para permitir que toda a humanidade viva em uma casa suburbana com um estilo de vida norte-americano, com dois carros e um gramado.

Minha própria solução abstrata para esse enigma, que será o assunto de meu próximo livro, é substituir, tanto quanto possível, o consumo público pelo privado. Acredito que a pedra angular da cidade do baixo-carvão, mais do que qualquer desenho verde ou tecnologia em particular, é a prioridade dada à afluência pública sobre a riqueza privada.

A maioria das cidades contemporâneas, em países ricos ou pobres, contém capacidades ambientais potenciais inerentes aos densos assentamentos humanos. O gênio ecológico da cidade permanece um poder vasto, quase sempre escondido.

Mas não há nenhuma deficiência planetária da sua "capacidade de carga" se nós estamos dispostos a fazer do espaço público democrático o motor da igualdade sustentável.

A afluência pública - representada por grandes parques urbanos, por museus livres, por bibliotecas e possibilidades infinitas para a interação humana - representa uma rota alternativa para um rico padrão de vida personificado em uma carnavalesca sociabilidade.

O Brasil, apesar de suas gigantescas desigualdades, tem sido um laboratório avançado para as experiências que unem democracia popular, economia verde e espaço público.

‘O Brasil é o país do mundo mais parecido com os Estados Unidos’, diz Mangabeira

Instituto Humanitas Unisinos - 16/02/09

Roberto Mangabeira Unger (Rio de Janeiro, 1947) é um Ministro atípico. É professor da Faculdade de Leis de Harvard, escreveu numerosos livros sobre política e construção social e é considerado um dos teóricos mais brilhantes, e polêmicos, no âmbito do pensamento social contemporâneo. É autor de um polêmico ensaio, España y su futuro, que descreve a Espanha como um país sem projeto, incapaz de aproveitar seu potencial. Mangabeira, que se considera de esquerda, foi um duríssimo crítico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no entanto, o chamou um dia, no seu segundo mandato, para lhe oferecer uma pasta: Assuntos Estratégicos.

De Brasília, Mangabeira analisa as grandes linhas da vida política, social e econômica do Brasil e as grandes correntes internacionais, mas isso não lhe parece suficiente: “O que procuro é definir iniciativas concretas que encarnem ou antecipem essa mudança na trajetória institucional do país. Escolher iniciativas em políticas públicas setoriais que tenham efeito prático imediato, mas que também prefigurem a mudança de rumo de que o país necessita”. Um dos últimos livros de Mangabeira tem por título O que a esquerda deve propor [Civilização Brasileira, 2005].

Roberto Mangabeira concedeu uma entrevista a S. Gallego-Díaz e Juan Arias e publicada pelo jornal espanhol El País, 9-02-2009. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

O que a esquerda no mundo deveria propor hoje?

Basicamente, há três esquerdas no mundo. Há uma vendida, que aceita o mercado e a globalização em suas formas atuais e que quer simplesmente humanizá-los por meio de políticas sociais. Para essa esquerda, trata-se apenas de humanizar o inevitável. Seu programa é o de seus adversários, com um abatimento social e uma renda moral e narcisista. Há outra esquerda, recalcitrante, que quer desacelerar o progresso dos mercados e a globalização, em defesa de sua base histórica tradicional (os trabalhadores sindicalizados das grandes indústrias). E há uma terceira esquerda, a que me interessa, que quer reconstruir o mercado e reorientar a globalização com um conjunto de inovações institucionais. Para essa esquerda, trata-se em primeiro lugar de democratizar a economia de mercado, em segundo, de capacitar o povo e, em terceiro, de aprofundar a democracia. Eu entendo esse projeto como uma proposta da esquerda para a esquerda. Diria, com uma linguagem provocativa e algo teológica, que a ambição dessa esquerda não é humanizar a sociedade, mas divinizar a humanidade. O objetivo é elevar a vida comum das pessoas comuns ao plano mais alto.

Como analisa a crise econômica internacional?

Eu diria que faz muito tempo que o mundo está submetido ao jugo de uma ditadura de falta de alternativas e que, em geral, na história moderna, as mudanças foram forçadas pelas guerras e pelos colapsos econômicos. O trauma foi o requisito da transformação. Hoje há uma grande pobreza de ideias sobre as alternativas no mundo. As ideias que orientaram a esquerda historicamente, como o marxismo, estão falidas, e a resposta à crise financeira internacional revela de uma forma muito dramática as consequências dessa pobreza de ideias. Não há nada que não seja uma versão mumificada do keynesianismo vulgar, é a única luz nesta obscuridade. Até aqui, o debate esteve quase inteiramente dominado por dois temas superficiais: o imperativo de regular os mercados financeiros e a necessidade de adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas. São ideias muito abaixo da dimensão do problema.

O que se deveria debater então?

Tudo o que se pode fazer em matéria de regulação dos mercados financeiros e de expansionismo fiscal e monetário depende, para a sua eficácia, do enfrentamento de três temas mais importantes. Primeiro, a necessidade de superar os desequilíbrios estruturais da economia mundial entre os países com superávit em comércio e poupança, começando pela China, e os países deficitários em comércio e poupança, começando pelos Estados Unidos. O motor do crescimento mundial, nos últimos anos foi o acordo implícito entre esses dois elementos. Esse motor quebrou e vamos ter que conseguir outro. Isso exigirá grandes mudanças nos Estados Unidos, na China e na organização da economia mundial.

Não se trata, então, de regular, mas de reorganizar?

Efetivamente. Vamos ao segundo ponto: a necessidade de que a regulação dos mercados financeiros faça parte de uma tarefa maior, que é reorganizar a relação entre o sistema financeiro e a produção. Da forma como se organizam hoje as economias de mercado, o sistema produtivo está basicamente autofinanciado. Qual é, então, o propósito de todo o dinheiro que está nos bancos e nas Bolsas de Valores? Teoricamente, serve para financiar a produção, mas na realidade só vai obliquamente a esse dever. Esse é o resultado das instituições existentes. Neste sistema, as finanças são relativamente indiferentes à produção em tempos de bonança e são uma ameaça destrutiva quando surge uma crise como esta. Quer dizer, são indiferentes para o bem e eficazes para o mal.

E o debate sobre a distribuição da riqueza?

Esse é o terceiro ponto. O vínculo entre recuperação e redistribuição. Todos admiram a construção, na segunda metade do século XX, nos Estados Unidos de um mercado de consumo em massa. Em princípio, a construção desse tipo de mercado exige a democratização do poder aquisitivo e, portanto, redistribuição da renda e da riqueza, mas nos Estados Unidos aconteceu o contrário: houve uma violenta concentração da renda e da riqueza. Como conseguiram a construção de um mercado de consumo em massa? Parte da resposta está no que aconteceu com a supervalorização imobiliária fictícia. Houve uma falsa democratização do crédito, que fez as vezes da democratização de redistribuição da renda, o que não aconteceu. E agora que esse sistema está destruído, é necessário criar uma nova base para o mercado. O que digo aos meus concidadãos é que quero uma dinâmica de rebeldia, que necessita como aliada a imaginação institucional.

Como estão as relações entre Brasil e Estados Unidos?

Eu sempre digo que o Brasil é o país do mundo mais parecido com os Estados Unidos. São dois países com tamanhos semelhantes, fundados com população europeia e escravidão africana, multiétnicos. Muito desiguais, mas onde as pessoas comuns continuam pensando que tudo é possível. Os Estados Unidos estão buscando, neste momento de inflexão histórica, um sucedâneo ao projeto de Roosevelt. No Brasil, estamos numa busca paralela de um modelo de desenvolvimento. Minha proposta é que construamos experimentos comuns nas instituições que definem a economia de mercado e a democracia (FMI, Banco Mundial, OMC, ONU).

O professor de Obama

Barack Obama é um homem muito inteligente e aberto, mas ao mesmo tempo muito cauteloso”. Roberto Mangabeira teve como aluno o presidente dos Estados Unidos num curso que deu na Harvard dedicado à análise de possíveis alternativas progressistas para democratizar a economia de mercado e aprofundar a democracia. Obama compartilha de suas ideias? O professor de Harvard se expressa com cuidado: “Tenho relações cordiais com ele e um grande apreço. Quando se formou na Escola, recusou convites para trabalhar em grandes empresas e foi ensinar Direito Constitucional em Chicago. Isso mostra a sua capacidade de sacrifício. Mas não se deve centrar tudo na personalidade do novo presidente, mas no próprio país, que vive uma grande abertura”.

Obama é muito representativo da cultura pública dos Estados Unidos, centrado no pragmático”. Poderá responder às expectativas? Mangabeira acredita que a maioria de seus colaboradores é inteligente e experimentada, mas com ideias muito convencionais.