"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, agosto 16, 2008

George Soros tem R$ 1,3 bi na Petrobrás

Instituto Humanitas Unisinos - 16/08/08

O bilionário George Soros comprou US$ 811 milhões (R$ 1,3 bilhão) em papéis da PetrobrasO Globo, 16-08-2008. no segundo trimestre. A notícia é do jornal

Com isso, a estatal brasileira tornou-se o maior investimento do Soros Fund Management. Em 30 de junho, a participação deste na Petrobras respondia por 22% da carteira de ações e American Depositary Receipts (ADRs) do fundo de investimento, de US$ 3,68 bilhões, segundo declaração entregue pela instituição à Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador do mercado financeiro americano). Desde aquela data, os papéis da Petrobras recuaram 28%, puxados principalmente pela queda da cotação do petróleo no mercado internacional.

A queda desde então das ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras negociadas nos EUA teria reduzido o valor da participação de Soros em US$ 235 milhões.

No segundo trimestre, os papéis da Petrobras foram negociados à média de US$ 64,83.

Segundo a declaração entregue à SEC, o fundo de Soros tem 11.456.800 ADRs da Petrobras, o equivalente a 22.913.600 ações. O documento não discrimina se elas são preferenciais ou ordinárias, mas a correlação é a mesma: cada ADR corresponde a duas ações da empresa negociadas na Bolsa de São Paulo. Isso significa que, com relação ao capital social total da Petrobras, a participação de Soros seria de apenas 0,26%. Já do total de ações em ADRs (2.604.867.062), ele tem 0,88%. Os ADRs são certificados negociáveis nos EUA e representam ações de uma companhia estrangeira.

Um banco americano emite os recibos e as ações são mantidas em custódia no país de origem destas.
Soros vem aumentando seu portfólio em ações de mineradoras e commodities. No primeiro trimestre, o fundo comprou papéis de empresas como a brasileira Vale e a canadense Talisman Energy, de petróleo e gás. Em novembro a Petrobras anunciou a descoberta do campo de Tupi, com reservas estimadas de até 8 bilhões de barris de petróleo, a maior nas Américas desde 1976.

— A Petrobras tem muito petróleo e a perspectiva de encontrar mais ainda — disse Ricardo Kobayashi, administrador de fundo de ações do UBS Pactual, no Rio.

Peter Wells, analista petrolífero da britânica Neftex Petroleum Consultants, estima que o campo de Tupi, na camada do pré-sal, deve guardar até 50 bilhões de barris de petróleo.

E é justamente a forte participação de estrangeiros na estatal que está motivando discussões em torno da criação de uma nova estatal para explorar a riqueza do pré-sal.

O fundo de Soros não informou ter em carteira ações da Petrobras no fim do primeiro trimestre. Mas notificou participações menores na estatal brasileira em 2007, entre as quais 150 mil ADRs, com valor de mercado de US$ 17,3 milhões em 31 de dezembro.

Lagoa dos Patos. Alerta para o nível de oxigênio

Instituto Humanitas Unisinos - 16/08/08

Um estudo internacional apontou o nível de oxigênio da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, como um dos seis mais preocupantes do Brasil. No país, estão incluídas na mesma classificação a Baía de Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro; a Bacia do Pino, em Recife; a Lagoa da Conceição, em Florianópolis; e a Lagoa de Imboassica, em Macaé (RJ). A reportagem é do jornal Zero Hora, 16-08-2008.

O trabalho, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Virgínia de Ciência Marinha (EUA) e da Universidade de Gothenburg (Suécia), foi publicado ontem na revista norte-americana Science, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo.

Em parte da lagoa, segundo o estudo, a quantidade de oxigênio é inferior a 0,2 ml por litro de água, situação conhecida como hipóxia ou zona morta. De acordo com o biólogo Albano Schwarzbold, doutor em ecologia aquática e professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o baixo nível de oxigênio na Lagoa dos Patos se concentra no Saco da Mangueira, localizado entre a área urbana de Rio Grande e o pólo industrial.

Especialista culpa esgoto por poluição

A situação, segundo o especialista, decorre da grande concentração de esgoto doméstico e industrial lançado sem tratamento no local, o que faz aumentar a necessidade de oxigênio para decompor a matéria orgânica. Com a redução do índice de oxigênio na água, o ecossistema aquático fica mais suscetível a mortandades de peixes.

De forma geral, a maioria dos processos de hipóxia em regiões costeiras são provocados pelo homem. A poluição das águas gera a proliferação de bactérias, que consomem o oxigênio. Em lugares de grande extensão geográfica, como a Baía de Guanabara, por exemplo, a hipóxia costuma permanecer restrita ao fundo da baía, distante da abertura para o oceano.

Nas últimas décadas, a quantidade de zonas mortas duplicou no mundo, chegando a 400 ecossistemas costeiros marinhos afetados. As regiões atingidas de forma mais crítica se encontram no norte da Europa e nos Estados Unidos, segundo o estudo da revista Science. A expectativa é de que o volume de zonas mortas aumente a partir das próximas pesquisas, quando serão incorporados dados de países com grande extensão territorial, como China e Índia.

O coordenador do curso de Oceanografia da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Luiz Carlos Krug, explicou que as zonas mortas são regiões que, pelas precárias condições ambientais, não oferecem condições para o desenvolvimento de organismos vivos.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Dois idiotas: Bush e Saakashvili

Resisitir Info - 15/08/08

"Presidente Bush: Por que não te calas?"


por Paul Craig Roberts [*]

Foto montada por Rui Pedro Fonseca. Os neocons do regime Bush e dos media americanos ocupados por Israel estão a encaminhar o mundo inocente rumo a uma guerra nuclear.

Nos anos Reagan o National Endowment for Democracy foi criado como uma ferramenta da guerra fria. Hoje o NED é um agente controlado pelos neocons para a hegemonia mundial dos EUA. Sua principal função é despejar dinheiro americano e apoio eleitoral às antigas partes constituintes da União Soviética a fim de cercar a Rússia com estados fantoches dos EUA.

O regime neoconservador de Bush utilizou o NED para intervir nos assuntos internos da Ucrânia e da Geórgia de acordo com o plano conservador a fim de estabelecer regimes políticos amigos dos EUA e hostis à Rússia nessas duas antigas partes constituintes da Rússia e da União Soviética.

O NED também foi utilizado para desmembrar a antiga Jugoslávia, com as suas intervenções na Eslováquia, na Sérvia e no Montenegro.

Em 1991, Allen Weinstein, o qual ajudou a redigir a legislação que estabelecia o NED, contou ao Washington Post que grande parte do que o NED faz "hoje era feito camufladamente 25 anos atrás pela CIA".

O regime Bush, tendo estabelecido um fantoche, Mikhail Saakashvili, como presidente da Geórgia, tentou trazer aquele país para a NATO.

Para os leitores demasiado jovens para saber, o Tratado da Organização do Atlântico Norte (NATO) foi uma aliança militar entre os EUA e países da Europa ocidental para resistir a qualquer movimento soviético em direcção à Europa ocidental [e para assegurar que os países europeus se alinhassem por trás dos EUA, e comprassem seus sistemas de armas]. Já não há qualquer razão para a NATO desde o colapso político interno da União Soviética há quase duas décadas. O neocons transformaram a NATO em outra ferramenta, tal como o NED, para a hegemonia mundial dos EUA. As administrações seguintes dos EUA violaram os entendimentos que o presidente Reagan havia alcançado como Mikhail Gorbarchev, o último líder soviético, e incorporaram partes da antiga União Soviética na NATO. O objectivo neocon de cercar a Rússia com uma aliança militar hostil já foi proclamado muitas vezes.

O membros da NATO da Europa ocidental recusaram a admissão de Geórgia, pois entenderam-na como uma afronta provocatória à Rússia, de quem a Europa Ocidental está dependente quanto a gás natural. Os europeus ocidentais também estão perturbados com as intenções do regime Bush de instalar defesas de mísseis balísticos na Polónia e na República Checa pois a consequência será os mísseis nucleares de cruzeiro russos alvejarem capitais europeias. Os europeus não vêem vantagem em ajudar os americanos a bloquearem uma retaliação nuclear russa contra os EUA a expensas da sua própria existência. Defesas de mísseis balísticos não são utilizáveis contra mísseis de cruzeiro.

Todo país está cansado de guerra, excepto os EUA. A guerra, incluindo a guerra nuclear, é a estratégia neoconservadora para a hegemonia mundial.

O mundo inteiro, excepto os americanos, sabe que o estalar do conflito armado entre forças russas e georgianas na Ossétia do Sul foi inteiramente devido aos EUA e seu fantoche da Geórgia, Saakashvili. Os americanos, só eles no mundo, estão inconscientes de que as hostilidades foram iniciadas por Saakashvili, porque Bush, Cheney e os media americano ocupados por Israel mentiram-lhes.

Toda a gente no mundo sabe que o instável e corrupto Saakashvili, o qual proclama a democracia e dirige uma polícia de estado, não teria enfrentado a Rússia com o ataque à Ossétia do Sul a menos que Washington lhe desse sinal verde.

A finalidade do ataque georgiano à população russa da Ossétia do Sul é dupla:

Para convencer os europeus de que a sua acção em retardar a entrada da Geórgia na NATO é a causa da "agressão russa" e de que para salvar a Geórgia deve-lhe ser dada a condição de membro da NATO.

Para limpar etnicamente a Ossétia do Sul da sua população russa. Dois milhares de civis russos foram alvejados e mortos pelo Exército georgiano equipado e treinado pelos EUA, e dezenas de milhares fugiram para a Rússia. Tendo atingido este objectivo, Saakashvili e seus mestres em Washington apelaram rapidamente a um cessar fogo e a um alto à "invasão russa". A esperança é de que a população russa ficará receosa de retornar ou possa ser impedida de retornar, removendo assim a ameaça secessionista.

Não há dúvida de que o regime Bush pode enganar a população americana, tal como fez com armas de destruição maciça iraquianas, ogivas nucleares iranianas e o próprio 11 de Setembro, mas o resto do mundo não está a embarcar nisto, nem mesmo os aliados europeus comprados e pagos pela América.

Escrevendo no Asia Times, o embaixador M. K. Bhadrakumar, um antigo diplomata de carreira do Indian Foreign Service, nota a desinformação que está a ser propalada pelo regime Bush e pelos media dos EUA e informa que "quando estalou a violência, a Rússia tentou fazer com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitisse uma declaração apelando à Geórgia e à Ossétia do Sul para deporem armas de imediato. Contudo, Washington esteve desinteressada".

O embaixador Bhadrakumar nota que o recurso dos americanos e georgianos à violência e propaganda pôs fim à crença do governo russo de que a diplomacia e a boa vontade podem levar a um ajustamento da questão da Ossétia do Sul. Se a Rússia quisesse, ela poderia terminar à vontade com a existência da Geórgia como um país separado, e não haveria nada que os EUA pudessem fazer quanto a isso.

É certo que a invasão georgiana da Ossétia do Sul foi um evento orquestrado pelo Regime Bush. Os media americanos e os think tanks neocon estavam prontos para os seus ataques de propaganda. Os neocons tinham pronto um artigo em favor de Saakashvili na página editorial do Wall Street Journal que declara "a guerra na Geórgia é uma guerra pelo Ocidente".

Confrontado com o colapso do seu exército quando a Rússia enviou tropas para proteger os ossetianos do Sul das tropas georgianas, Saakachvili declarou: "Isto já não é acerca da Geórgia. É acerca da América, dos seus valores".

A neocon Heritage Foundation em Washington, D.C., rapidamente convocou uma conferência que tinha o instigador de guerra Ariel Cohen como mestre de cerimónias, "Urgente! Evento: Guerra russo-georgiana: Um desafio para os EUA e o mundo".

O Washington Post abriu espaço para os tambores da guerra de Robert Kagen, "Putin Makes His Move".

Só um louco como Kagen poderia pensar que se Putin pretendesse invadir a Geórgia faria isso a partir de Pequim, ou que depois de enviar o exército georgiano com treino americano para as urtigas ele não continuaria e conquistaria toda a Geórgia a fim de por um ponto final nas maquinações americanas na fronteira mais sensível da Rússia, maquinações que provavelmente podem acabar em guerra nuclear.

O New York Times deu espaço às arengas de Billy Kristol, “Will Russia Get Away With It?” ("Será que a Rússia escapará impune?"). Kristol troveja contra "regimes ditatoriais, agressivos e fanáticos" que "parecem felizes de trabalhar em conjunto para enfraquecer a influência dos Estados Unidos e dos seus aliados democráticos". Kristol apresenta um novo eixo do mal – Rússia, China, Coreia do Norte e Irão – e adverte contra "retardamentos e falta de resolução" que "simplesmente convidam a ameaças futuras e perigos mais graves".

Por outras palavras: "ataquem a Rússia agora".

Dick Cheney, o insano vice-presidente americano, telefonou a Saakashvili para exprimir a solidariedade dos EUA no conflito com a Geórgia e declarou: "A agressão russa não deve ficar sem resposta". Só um idiota diria a Saakashvili qualquer coisa diferente de "pare imediatamente".

Qual será o efeito sobre os serviços de inteligência e os militares dos EUA da declaração propagandística e irresponsável de Cheney em apoio aos crimes de guerra da Geórgia? Será que alguém realmente acredita que a CIA ou qualquer serviço de inteligência americano disse ao vice-presidente que a Rússia iniciou o conflito com uma invasão? As tropas russas chegaram à Ossétia do Sul depois de milhares de ossetianos terem sido mortos pelo ataque georgiano e depois de dezenas de milhares de ossetianos terem fugido para a Rússia a fim de escapar ao ataque georgiano. Segundo os noticiários, forças russas capturaram americanos que estavam com as tropas georgianas a dirigirem seus ataques aos civis.

Os militares estado-unidenses certamentte não têm recursos para uma guerra contra a Rússia em acréscimo às guerras perdidas no Iraque e no Afeganistão e à guerra planeada com o Irão.

Com a sua aventura georgiana, o Regime Bush é culpado de uma nova série de crimes de guerra. Qual será a consequência?

Muitos responderão que tendo escapado do 11 de Setembro, Afeganistão, Iraque e com os seus preparativos para atacar o Irão, o Regime Bush escapará também da sua aventura georgiana.

Contudo, desta vez o Regime Bush possivelmente ter-se-á excedido.

Certamente a Rússia agora reconhece que os EUA estão determinados a exercer hegemonia sobre a Rússia e que a Rússia é o seu pior inimigo.

A China percebe a ameaça americana ao seu próprio abastecimento energético e, portanto, à sua economia.

Mesmo os aliados europeus da América, irritados no seu papel de fornecedores de tropas para o Império Americano, devem agora perceber que ser uma aliado americano é perigoso e não traz benefícios. Se a Geórgia se tornar um membro da NATO e renovar seu ataque à Ossétia do Sul, isto deve arrastar a Europa a uma guerra com a Rússia, um importante fornecedor de energia à Europa.

Além disso, se forem enviadas tropas russas que atravessem fronteiras europeias, não há nada que possa travá-las.

O que tem a América para oferecer à Europa, além dos milhões de dólares que paga para subornar líderes políticos europeus a fim de assegurar que eles traiam os seus próprios povos? Nada que se veja.

A única ameaça militar que a Europa enfrenta é ser arrastada para as guerras da América pela hegemonia americana.

Os EUA estão financeiramente em bancarrota, com défices orçamentais e comerciais que excedem os défices combinados de todo o resto do mundo em conjunto. O dólar murchou. O mercado consumidor americano está a morrer devido à deslocalização de empregos americanos e, portanto, rendimentos, e ao efeito riqueza dos colapsos do imobiliário e dos derivativos. Os EUA nada têm a oferecer à Europa. Na verdade, o declínio económico americano está a matar as exportações europeias fazendo subir o valor do euro.

A América perdeu no terreno moral há muito. A hipocrisia tornou-se a característica mais conhecida da América. Bush, o invasor do Afeganistão e do Iraque na base da mentira e do engano, troveja para a Rússia por vir em defesa das suas forças de manutenção da paz e dos cidadãos russos na Ossétia do Sul. Bush, que arrancou o Kosovo do coração da Sérvia e entregou-a aos muçulmanos, tomou uma posição firme contra outros movimentos separatistas, especialmente o ossetianos do Sul que pretendem ser parte da Federação Russa.

O neopilotado Regime Bush está furioso porque o urso russo não ficou intimidado com a agressão apoiada pelos EUA do seu estado fantoche, a Geórgia. Ao invés de aceitar a lei da hegemonia americana que o roteiro neocon exigia, a Rússia pôs o americanizado exército georgiano a fugir de medo.

Tendo fracassado com as armas, agora o Regime Bush desencadeia a retórica. A Casa Branca está a advertir a Rússia que se não se submeter à hegemonia americana isso poderia ter um "impacto significativo a longo prazo nas relações entre Washington e Moscovo".

Será que os idiotas que compõem o Regime Bush realmente não entendem que excepto um ataque nuclear de surpresa à Rússia não há nada que os EUA possam fazer a Moscovo?

O Regime Bush não possui qualquer divisa russa que possa afundar. Os russos possuem dólares.

O Regime Bush não possui títulos russos que possam afundar. Os russos possuem títulos dos EUA.

Os EUA não podem cortar quaisquer abastecimentos energéticos à Rússia. A Rússia pode cortar a energia dos aliados europeus da América.

O presidente Reagan negociou o fim da guerra fria com o presidente soviético, Gorbachev. Os neoconservadores, que Reagan despediu e afastou da sua administração, estavam furiosos. Os neocons esperavam vencer a guerra fria, portanto estabelecer a hegemonia americana.

O Establishment republicano reestabeleceu sua hegemonia sob Bush I, que fora perdida com Ronald Reagan. Com esta façanha, a inteligência foi afastada do Partido Republicano.

Os neocons projectaram o seu retorno com a Primeira Guerra do Golfo e sua propaganda, puras mentiras, de que tropas iraquianas cravaram baionetas em bebés em hospitais do Kuwait.

Os neocons fizeram um novo avanço com o presidente Clinton, a quem convenceram a bombardear a Sérvia a fim de permitir que movimentos separatistas se tornassem estados dependentes da América.

Com Bush II, os neocons tomaram o comando. A sua agenda, a hegemonia americana mundial, inclui a hegemonia israelense no Médio Oriente.

Até agora os esquemas destes ideólogos ignorantes e perigosos deram com os burros na água. O Iraque, antigamente nas mãos de sunitas seculares que eram uma barreira ao Irão, está, após a invasão e ocupação americana, nas mãos de religiosos xiitas aliados ao Irão.

No Afeganistão, o Taliban está a renascer, e há um grande exército NATO/EUA incapaz de controlar a situação.

Uma consequência da guerra afegã dos neocons foi a perda de poder do fantoche americano que preside o Paquistão, um país muçulmano armado com ogivas nucleares. O presidente fantoche agora enfrenta o impeachment, e os militares paquistaneses disseram aos americanos para parar de efectuar operações militares em território paquistanês.

Os fantoches americanos no Egipto e na Jordânia podem ser a próxima queda.

No Iraque, os xiitas, tendo completado a sua limpeza étnica dos sunitas das vizinhanças, declararam um cessar fogo a fim de contradizer a propaganda dos EUA de que a retirada americana levaria a um banho de sangue. Negociações sobre datas de retirada estão agora a caminho entre os americanos e o governo iraquiano, o qual já não se comporta como um fantoche.

No ano passado Hugo Chávez ridicularizou Bush perante as Nações Unidas. Putin da Rússia ridicularizou Bush como Camarada Lobo.

Em 12 de Agosto de 2008, o Pravda ridicularizou Bush, "Bush: Por que não te calas?".

Os americanos podem pensar que são uma super-potência diante da qual o mundo treme. Mas não os russos.

Aqueles americanos bastante estúpidos para pensar que o "super poder" da América defende os seus cidadãos do perigo precisam ler o desprezo total exibido pelo Pravda para com o presidente Bush:

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Na tua declaração de segunda-feira respeitante às acções legítimas da Federação Russa na Geórgia deixaste de mencionar os crimes de guerra perpetrados pelas forças militares georgianas, apoiadas por conselheiros americanos, contra civis russos e ossetianos.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Teu fiel aliado, Mikhail Saakashvili, estava a anunciar um acordo de cessar fogo enquanto suas tropas, com os teus conselheiros, estavam a concentrar-se na fronteira com a Ossétia, a qual eles cruzaram sob o manto da noite e destruíram Tskhinvali, alvejando estruturas civis tal como as tuas forças fizeram no Iraque.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Teus aviões de transporte americanos deram uma boleia para casa a milhares de soldados georgianos do Iraque, directamente para a zona de combate.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Como podes tu explicar o facto de que entre os soldados georgianos que ontem fugiam do combate se podia ouvir claramente oficiais com pronúncia do inglês americano a darem ordens de "Voltem para cá" ("Get back inside") e como explicas o facto de que há informações de soldados americanos entre as baixas georgianas?

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Será que realmente pensas que alguém dá alguma importância ao que quer que seja das tuas palavras após oito anos do teu regime e das tuas políticas criminosas e assassinas? Será que realmente acreditas que tens qualquer base moral e imaginas que haja realmente um único ser humano em qualquer lugar neste planeta que não levante o dedo médio cada vez que apareces num écran de TV?

Acreditas realmente que tens o direito de dar qualquer opinião ou conselho após Abu Ghraib? Após Guantanamo? Após o massacre de milhares de cidadãos iraquianos? Após a tortura por operacionais da CIA?

Acreditas realmente que tens qualquer direito de fazer declarações sobre qualquer assunto do direito internacional depois das tuas trombeteadas invenções contra o Iraque e a subsequente invasão criminosa?

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Suponha que a Rússia por exemplo declare que a Geórgia tem armas de destruição em massa (ADM)? E que a Rússia saiba onde estão estas ADM, nomeadamente em Tíflis e Poti e no Norte, Sul, Leste e Oeste dali? E que isto deve ser verdadeiro porque há 'magnífica inteligência estrangeira tais como fotos por satélite de fábricas de leite em pó e de cereais para bebés que produzem armas químicas, as quais estão actualmente a serem 'transportadas em veículos pelo país'? Suponha que a Rússia declare por exemplo que 'Saakashvili empesteia o mundo' e 'já é tempo de mudar o regime'?

Impecável e simples, não é, Presidente Bush?

"Então, por que não te calas? Oh, e a propósito, envia mais alguns dos teus conselheiros militares para a Geórgia, eles estão a fazer um excelente trabalho. E todos eles parecem engraçados vistos à noite, todos verdes". [1]

Os EUA não são uma super potência. São uma farsa em bancarrota dirigida por imbecis que foram instalados [no governo] através de eleições roubadas amanhadas por Karl Rove [2] e pela Diebold [3] . São uma fonte de gargalhadas, que ignorantemente afronta e tenta intimidar um enorme país equipado com dezenas de milhares de armas nucleares.

_______
[1] Alusão aos binóculos de visão nocturna, em que as imagens aparecem verdes.
[2] Karl Rove: Ex chefe de equipe do presidente Bush, envolvido em escândalos. Demitiu-se em 2007.
[3] Diebold: fabricante de máquinas de votar electrónicas.


[*] Ex secretário assistente do Tesouro na administração Reagan. Foi editor associado da página editorial do Wall Street Journal e editor colaborador da National Review. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions . Email: PaulCraigRoberts@yahoo.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts08132008.html

Mais perto do hidrogênio com combustível

Instituto Humanitas Unisinos - 15/08/08

O uso do hidrogênio como combustível é o sonho dos ecologistas. Ao ser queimado – numa caldeira ou num motor de carro – produzirá apenas vapor de água, um gás que não apenas não tem efeito sobre o aquecimento global, mas que limpa e protege. Mas o problema é que na Terra não há praticamente hidrogênio livre (H2); o que existe é, precisamente, água (H2O). E, claro, se for necessário gastar energia para romper a molécula de água para extrair o hidrogênio, já não compensam os benefícios do uso do hidrogênio com combustível. As informações estão publicadas no jornal espanhol El País, 12-08-2008. A tradução é do Cepat.

O círculo pode ser rompido com um sistema idealizado por cientistas do prestigioso Massachusetts Institute of Tecnology (MIT). Trata-se de conseguir que a quebra da molécula de água necessite menos energia que a que o hidrogênio proporcionará depois. Daniel Nocera e Mattew Kanan publicaram um artigo no Science no qual descrevem como idealizaram um sistema que facilita esse processo. Trata-se de acrescentar catalisadores (basicamente fosfatos, uma substância abundante na Terra, e cobalto) na água antes de lhe aplicar eletrodos para rompê-la (processo conhecido como eletrólise).

Dessa maneira, a reação química resulta energeticamente favorável: gasta-se menos energia para obter o hidrogênio do que ao queimá-lo depois. Além disso, para que tudo seja mais limpo, usaram energia solar para as eletrólises. Desta maneira, todo o ciclo se converte num processo mais limpo e menos poluidor.

A descoberta foi muito bem recebida pelos cientistas. A produção do hidrogênio é “gargalo da garrafa” deste tipo de energia, assinalou José Ramón Isasi, do Departamento de Química e Edafologia da Universidade de Navarra, num comentário publicado no portal de comunicações científicas do centro educativo onde seus especialistas destacam as notícias mais inovadoras.

Não bastasse isso, o método tem ainda outra vantagem. Em muitas reações químicas que necessitam de catalisadores (uma espécie de intermediários que provocam ou aceleram os processos), estes acabam se deteriorando ou contaminando. Neste caso, isso não acontece, assinala Isasi: “Quando se desconecta o eletrodo, os íons de cobalto de regeneram”, razão pela qual estes não se gastam.

DANTAS, O QUADRILHEIRO, VOLTA À CONDIÇÃO DE HERÓI

Conversa Afiada - 14/08/08


Leitura dos portais do PiG da Chuíça (*) – clique aqui para ir ao UOL; e clique aqui para ir ao Estadão – indica que Daniel Dantas recuperou a ofensiva e a condição de herói do “Estado de Direita”.

. A Folha (da Tarde *2) deu em manchete em toda a extensão horizontal da primeira página, de forma irresponsável e cúmplice, uma afirmação difamatória e caluniosa do quadrilheiro Dantas contra um servidor público exemplar, de que os brasileiros sérios se orgulham, o Dr. Paulo Lacerda, diretor da Polícia Federal quando era Republicana e de lá removido, porque pretendia cumprir o dever profissional de prender o quadrilheiro Daniel Dantas.

. A manchete da Folha (da Tarde *2) agasalha e acoberta a difamação de Dantas e lhe dá o verniz de credibilidade que Dantas jamais mereceu.

. A Folha (da Tarde *2) se presta ao papel de materializar a estratégia contida no Golpe do “Estado de Direita”.

. Qual seja: desmoralizar os investigadores, tratá-los como loucos – como fez um colonista da Folha, clique aqui para ler – e dar o púlpito de que um quadrilheiro precisava para retomar a iniciativa política.

. A CPI dos Grampos não terá nenhuma função para definir uma política para o uso do grampo.

. Quem vai fazer isso é o Supremo Presidente, do Supremo Tribunal Federal, que governa, de fato, o “Estado de Direita”.

. A função da CPI dos Grampos é proteger os ricos e brancos e dinamitar o trabalho da Polícia.

. Dantas foi depor na CPI dos Grampos, que ele controla.

. Clique aqui para ler.

. Foi com um HC no bolso: podia não responder, mentir e não ser preso.

. Portanto, ele deu a sua versão – sem contestação.

. E o PiG reproduziu as versões de Dantas de forma acrítica, tais como ele as formulou.

. Dantas é o herói do PiG.

. Ele não tem nada a perder.

. Ele pode dizer qualquer coisa.

. O Supremo dá as “facilidades” de que ele necessita.

. Não é à toa que o Supremo Presidente Gilmar Mendes lhe conferiu dois HCs em 48 horas, um record mundial, que enaltece a qualidade do Judiciário brasileiro.

. Dantas mente.

. E o PiG o leva a sério.

. Quando o ínclito Delegado Protógenes Queiroz e o corajoso juiz Fausto De Sanctis depuseram lá, a repercussão no PiG foi moderada.

. Agora, não, o quadrilheiro retoma o controle da opinião pública – quer dizer, do PiG.

. Ele faz a agenda.

. Ele sai de acusado, de quadrilheiro, de criminoso, a acusador.

. E o PiG o absolve.

. Dantas acusa Paulo Lacerda, Protógenes Queiroz, o Governo do Presidente que tem medo – ele vai foi ao ataque.

. E o PiG oferece a ele o stand de tiro para atirar.

. Foi para isso que o deputado serrista Marcelo Itagiba – clique aqui para ler os serviços que Itagiba prestou a Serra e a Dantas, já que ele funciona como um rodízio de churrasco, tem sempre uma peça nova a oferecer ao freguês – montou essa CPI.

. Para desmoralizar a Polícia Federal e servir aos brancos e ricos.

. Não há nada mais branco e rico do que Daniel Dantas.

. Um branco de olhos azuis ...

Em tempo: vamos imaginar que Elliot Ness, da Polícia Federal, tenha prendido Al Capone. Finalmente, depois de todo mundo saber – a Polícia estadual, o Judiciário, o Legislativo – que Al Capone contrabandeava uísque falsificado do Canadá para vender nos speakeasy de Chicago. Mas, Elliot Ness era corajoso e honesto. Resistiu a todas as pressões. E conseguiu pôr algemas em Capone. Aí, o Congresso americano montou uma CPI para tratar da Lei Seca. Chama Al Capone para depor, como suspeito de ser o maior contrabandista de uísque dos Estados Unidos. O deputado Joseph Kennedy, que distribuía uísque de Al Capone no mercado de Boston, presidente da CPI, fez uma pergunta de bandeja para Al Capone. Al Capone acusa Elliot Ness. Diz que ele era um policial desonesto, movido por interesses subalternos quando decidiu, por fim, colocar as algemas nele. Caro leitor, você acha que o Chicago Tribune, o principal jornal de Chicago, seria capaz de dar credibilidade a Al Capone e colocar na manchete essa “suposta” acusação a Elliot Ness ? ? Nem pensar, não é isso, caro leitor ? Pois foi o que a Folha fez: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cp14082008.htm.

(*) Chuiça é o que os paulistanos querem impingir ao resto do Brasil. Que São Paulo – onde há uma greve de policias, que recebem o mais baixo salário do país – tem o dinamismo econômico da China e o IDH da Suíça ...

DANTAS DIZ UMA COISA EM NY E OUTRA À CPI. ONDE ELE MENTIU ?

Conversa Afiada - 14/08/08

O Conversa Afiada reproduz reportagem da Teletime News, que mostra que Dantas disse uma coisa na CPI dos Grampos, ontem, quarta-feira, dia 13, e outra à Justiça de Nova York: "Em 2007, Dantas dizia que fundos e Citi conspiravam com governo para fazer uma fusão ilegal. Agora, se contradiz e defende a fusão".

Leia o texto da Teletime:

À CPI, Dantas diz o contrário do que disse para a Justiça de NY
quinta-feira, 14 de agosto de 2008, 01h02

Daniel Dantas, que depôs nesta quarta, 13, à CPI das Interceptações Clandestinas, fez afirmações aos deputados que são diametralmente opostas àquelas feitas pelo próprio banqueiro à Justiça de Nova York quando se defendia do processo movido pelo Citibank.
À CPI, Dantas disse que as investigações da Operação Satiagraha teriam como objetivo oculto o interesse de "setores do governo" que estariam descontentes com o fato de haver uma negociação para a fusão entre Brasil Telecom e Oi, o que tiraria a BrT do controle destes "setores". A Satiagraha faria parte então, na interpretação do banqueiro, de uma orquestração para criar constrangimentos à fusão.
Mas esse argumento é o contrário daquele usado pelo grupo Opportunity em julho de 2007 na Justiça de Nova York. Na ocasião, ao acusar os fundos de pensão e o Citibank de conspirarem contra ele, Dantas descreveu: "(...) os fundos de pensão abriram discussões com a Telemar, onde os fundos têm participação de controle. Como já dissemos, a venda da Brasil Telecom para a Telemar (Oi) é proibida. Os fundos estão, contudo, buscando a venda da Brasil Telecom para indivíduos politicamente favorecidos e entidades, tais como os controladores da Telemar".

Lulinha

As acusações feitas pelo Opportunity contra a fusão entre Telemar e Brasil Telecom, com insinuações de favorecimentos políticos e corrupção, seguem em vários trechos do documento apresentados à Justiça de Nova York: "a Telemar armou a mudança das leis que proíbem a venda da Brasil Telecom para a Telemar tentando influenciar o governo Brasileiro por meio de um investimento com sobrepreço muito favorável (e corrupto) na empresa na qual o filho do presidente do Brasil tinha participação. O esquema, no fim, desabou quando o investimento da Telemar na empresa do filho do presidente e os esforços para mudar a lei permitindo à Telemar comprar a Brasil Telecom vieram a público". Dantas disse ainda, em 2007, que "o Citibank e os esforços dos fundos para avançar com o objetivo político da venda da Brasil Telecom para a Telemar continuam até hoje. Por exemplo, novos esforços para mudar a lei que proíbe a transação da Telemar estão em andamento e esperam que o esquema político seja reavivado". À CPI, contudo, Dantas defendeu a fusão entre Oi e Brasil Telecom e disse que sempre defendeu a operação. De fato, Dantas, em entrevista ao Jornal Valor, em 2001, defendeu a fusão, e também tentou entrar no controle da Telemar adquirindo a participação da Inepar, ato considerado irregular pela Anatel, que determinou a perda dos poderes de controle destas ações adquiridas pelo Opportunity em 1999. As declarações de Dantas à Justiça de Nova York estão disponíveis no site www.teletime.com.br/arquivos/oppf_answer.zip.
O processo foi encerrado este ano depois de acordo entre o Opportunity, Citibank e os fundos de pensão.

Durou pouco

Dantas é um dos maiores beneficiados com a operação de venda do controle da Brasil Telecom para a Telemar, operação esta defendida pelos fundos e pelo governo. Ele receberá prêmio de controle por todas as suas ações (mesmo aquelas que não faziam parte dos acordos de acionista entre controladores) e embolsará perto de US$ 1 bilhão. Os fundos de pensão, o Citibank, a Brasil Telecom e os controladores da Oi (incluindo a Andrade Gutierrez) ainda acertaram com Dantas um acordo judicial pelo qual a BrT, os fundos e o Citi desistem de todas as demandas na Justiça contra Dantas e a Oi paga ao banqueiro R$ 145 milhões (valor já desembolsado).
Os fundos de pensão e o Citi vêem agora, menos de quatro meses após o armistício, Dantas voltar a acusá-los.
Os fundos poderiam prever que isso aconteceria, já que a Telecom Italia, no começo de 2005, também pagou ao banqueiro 50 milhões de euros pelo fim das agressões judiciais e hoje é constantemente acusada por Dantas de espionagem, conspiração e corrupção.

Sem consistência

Não é a primeira vez que Daniel Dantas diz uma coisa a uma CPI (protegido por habeas corpus, que o libera de dizer a verdade) e cai em contradição com alguma declaração dada oficialmente. Outro caso aconteceu em 2005, durante a CPMI dos Correios (que investigou o mensalão).
Naquela ocasião, Daniel Dantas depôs na qualidade de informante e foi afirmativo ao falar que apenas teve conhecimento do conteúdo das investigações do caso Kroll em uma apresentação feita em Nova York, na sede do Citibank, e que foi orientado por seus advogados, quando a Brasil Telecom contratou a Kroll para fazer investigações, a não ter acesso aos conteúdos dos trabalhos. Acontece que em depoimento à Polícia Federal referente à Operação Chacal (que apurou justamente as investigações da Kroll), em abril de 2005, Dantas afirmou ter recebido relatório elaborado pela empresa de investigação possivelmente em 2000. Ele também admitiu pelo menos duas reuniões no Brasil com pessoas da Kroll. A ex-presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, que também falou à PF, disse ainda ter havido uma reunião com a presença dela (Cico) e Dantas para tratar de questões contratuais com a Kroll. Durante seu depoimento desta quarta, 13, Dantas disse que foi a Brasil Telecom quem contratou a empresa.

Mariana Mazza e Samuel Possebon

Ação russa expõe fiasco do Ocidente

Instituto Humanitas Unisinos - 14/08/08

A decisão do Kremlin, na terça-feira, de decretar um cessar-fogo após cinco dias de ataques contra a Geórgia deixou a Rússia dona da situação no litoral do Mar Negro e na bacia do Cáspio, ricos em petróleo. A reportagem é de Ian Traynor e Ian Black, publicada pelo The Guardian e reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 14-08-2008.

A vitória rápida e fácil expõe a atual incapacidade do Ocidente de pressionar diante da Rússia que renasce, apesar de vários anos de fortes investimentos políticos dos EUA na Geórgia. Na briga pela supremacia em uma região estratégica, o equilíbrio pende perigosamente para um lado. Pela primeira vez desde o colapso do comunismo, a Rússia mostrou com sucesso, e em plena impunidade, seu poder de fogo em outro país. “Esta não é a Rússia de 1993 ou 1994, quando estava terrivelmente enfraquecida”, disse um representante da União Européia. “Os russos agora estão negociando de uma posição de força.”

As conseqüências da impensada jogada do presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, de invadir a Ossétia do Sul, na semana passada, e a derrota total dos georgianos pelas mãos de Vladimir Putin serão sentidas em várias direções. Em menos de uma semana, o premiê russo redesenhou o mapa político da região disputada entre Rússia, Turquia e Irã.

“Não estamos numa boa situação”, disse um ex-funcionário do Pentágono que durante muito tempo se dedicou à Geórgia. “Trabalhamos na questão georgiana por quatro anos, e fracassamos. Todo mundo é culpado. Mas Putin está jogando suas cartas de modo brilhante. Ele sabe exatamente o que está fazendo e as conseqüências são todas negativas.”


Enquanto a Rússia se gaba, Saakashvili, de 40 anos, lutará para continuar sendo um dos mais jovens presidentes do mundo. Por outro lado, os europeus já estão divididos e vulneráveis às acusações de terem mostrado indecisão e impotência. O racha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a respeito da Geórgia e da Ucrânia deverá aumentar. A política americana na região sofreu um grave revés e a política energética do Ocidente é estranha.

LINHA VERMELHA

“Esta foi uma guerra por procuração, não pela Ossétia do Sul, mas porque Moscou resolver traçar uma linha vermelha para o Ocidente”, disse Alexander Rahr, especialista em Rússia do Conselho para Relações Exteriores da Alemanha e biógrafo de Putin. “Os russos marcharam Geórgia adentro para desafiar o Ocidente. E o Ocidente ficou impotente. Estamos tratando com uma nova Rússia.”

Após o pedido de cessar-fogo do presidente russo, Dmitri Medvedev, a prioridade é uma trégua propriamente dita, que terá de ser acertada, depois aplicada e monitorada, ou seja, tudo é muito complicado e dá ampla margem para novas confusões, interrupções e derramamento de sangue.

Moscou está ditando as condições. Segundo representantes europeus, ouvidos sobre as conversações de terça-feira em Moscou com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, os russos insistem no fim do acordo pelo qual, há 15 anos, as tropas georgianas fazem parte das forças de paz na separatista Ossétia do Sul e exigem que Saakashvili assine um compromisso rejeitando o uso de forças armadas contra as províncias da Abkházia e Ossétia do Sul, pró-Rússia.

Nos últimos meses, Saakashvili recusou-se repetidas vezes a assumir o compromisso. “A Rússia aparentemente tem todas as cartas”, disse outro representante do bloco europeu. “Os soldados russos estão na Ossétia do Sul e na Abkházia há 15 anos. O resultado das negociações provavelmente será o fortalecimento da presença russa em ambos os enclaves.”

O resultado fere profundamente o presidente georgiano, talvez fatalmente. Moscou já lançou uma propaganda política que pinta Saakashvili como um criminoso de guerra e usa analogias da Guerra dos Bálcãs para acusá-lo de “genocídio”. Moscou quer livrar-se dele. O assassinato moral desse personagem e as farsas dos serviços secretos aumentarão as dúvidas a respeito de Saakashvili no país e no exterior, na esperança russa de que o eleitorado do presidente georgiano se volte contra ele, mesmo que ainda não haja um sucessor óbvio.

Saakashvili tem desfrutado de um forte apoio dos americanos. “Ele precisa ser protegido a todo custo”, disse o ex-funcionário do Pentágono. Mas muitos governos europeus mostram-se pouco preocupados, por considerá-lo “o pior inimigo de si mesmo”, e esperam que Barack Obama se afaste do presidente georgiano.

O PREÇO DA VITÓRIA

Se por um lado o Kremlin está comemorando uma aparente situação de vitória total, grande parte do mundo está apavorada pelo fato de a Rússia ter invadido um vizinho pequeno e indefeso. Como reagirá o Ocidente? Houve conversações sobre a possibilidade de retirar a Rússia do G-8. E alguns países pediram à União Européia que congele as negociações com Moscou sobre um novo pacto de parceria de longo prazo.

Mas, com um excesso de petrodólares e controlando as válvulas da energia que aquece a Europa, o Kremlin parece menosprezar uma possível vingança européia. As relações entre a Rússia e o Ocidente já estão comprometidas e se agravarão mais, mas é improvável que haja penalidades concretas. Os russos vêem o teste do Cáucaso como um jogo de soma zero, e eles ganharam. Isso significa prejuízo exclusivo para o Ocidente.

O objetivo fundamental para Putin era desestabilizar a Geórgia para prejudicar sua intenção de ingressar na Otan. Talvez tenha sido bem-sucedido. O presidente dos EUA, George W. Bush, já havia tentado incluir a Geórgia na aliança militar em abril, durante uma reunião de cúpula da Otan. Bush, porém, foi derrotado por Angela Merkel, da Alemanha, e Nicolas Sarkozy, da França. Agora, dificilmente conseguirá convencê-los

quinta-feira, agosto 14, 2008

Das manchetes pegadinhas

Blog do Luis Nassif - 13/08/08

No seu depoimento de ontem, na CPI do Grampo, o juiz Fausto Martin de Sanctis deu as seguintes informações relevantes:

• A legislação contra o crime organizado é muito mais rígida nos Estados Unidos. Grande parte das medidas legais lá seriam consideradas ilegais aqui. Logo a legislação brasileira é muito branda.

• A escuta por períodos prolongados é fundamental para desbaratar o crime organizado e é intrínseca ao processo de colaboração com agências internacionais e polícias de outros países.

• Deu uma aula clara sobre o sistema de pesos e contrapesos de um inquérito policial: a PF pede, o Juiz submete ao Ministério Público, tem instâncias de apelação etc.

• Deu um conjunto de declarações incisivas, desmontando os principais ataques à operação Satiagraha. Para quem gosta de conflitos e escândalos, deu sua versão para o episódio da desembargadora – que teria dito ao Ministro Gilmar Mendes que Sactis admitira a escuta no STF -, deixando-a em má situação.

Nada disso foi considerado pela “Folha”. A manchete é apenas uma pegadinha: “Lei de país civilizado não serve ao Brasil, diz juiz” (clique aqui).

CARTA CAPITAL: OS GRAMPOS DO BNDES

Site do Azenha - 13/08/08 - Atualizado e Publicado em 13 de agosto de 2008 às 19:55

CARTA CAPITAL, edição 87, de 25 de novembro de 1998

POR BOB FERNANDES

- O negócio tá na nossa mão, sabe por que Beto? Se controla o dinheiro, o consórcio. Se faz aqui esses consórcios borocoxôs, são todos feitos aqui. O Pio (Borges, vice-presidente do BNDES) levanta e depois dá a rasteira. (Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, em conversa com o irmão José Roberto, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior.)

- Temos que fazer os italianos na marra, que estão com o Opportunity. Combina uma reunião para fechar o esquema. Eu vou praí às 6h30 e às 7 horas a gente faz a reunião. Fala pro Pio que vamos fechar (os consórcios) daquele jeito que só nós sabemos fazer. (Luiz Carlos Mendonça de Barros para André Lara Resende, presidente do BNDES, sobre a intenção de operar em favor do consórcio integrado pelo banco de investimentos Opportunity e a Telecom-Itália.)

- Vai lá e negocia, joga o preço para baixo. Depois, na hora, se precisar, a gente sobe e ultrapassa o limite. (André Lara Resende para Pérsio Arida, sócio do Opportunity.)

A revista CartaCapital ouviu fitas gravadas na presidência do BNDES. A revista Veja conta ter tido acesso às duas fitas que o governo enviou para a Polícia Federal. São muitas as fitas. Fala-se em 27, mas certeza só tem quem participou dos grampos. As fitas ouvidas por CartaCapital têm trechos – os explosivos fragmentos acima – que, pelo relato de Veja, não constam das fitas repassadas pelo governo à Polícia Federal.

É certo que são fitas editadas, como tem repetido o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, mas é certo também que os diálogos ouvidos por CartaCapital existem e, claramente, não são uma montagem. Têm uma seqüência – sem espaços – e uma lógica que indicam extrema dificuldade para uma edição de diálogos.

Filhos corretores. Das fitas que se conhece, as gravações mais importantes foram feitas entre 21 de julho e 12 de agosto últimos, mas os grampos na sala da presidência do BNDES (os diálogos em celulares são capturados) foram instalados no início deste ano.

O alvo principal era o ministro Mendonça de Barros, então presidente do BNDES. Seus adversários buscavam, com os grampos, conversas entre Mendonça e seus filhos, Marcello e Daniel. Nas fitas por ora na praça não há registros de tais conversas.

Os filhos do então presidente do BNDES tornaram-se sócios-proprietários de uma corretora na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A Link Corretora de Mercadorias Limitada, registrada na Junta Comercial em 2 de fevereiro, quatro meses depois, em junho, já era a terceira operadora no ranking de volumes de operações no mercado de Índice Bovespa futuro.

Cerca de 40% desse índice, então, era composto pelas ações da Telebrás. Empresa sob comando do ministro. E que seria privatizada em operação de R$ 22 bilhões pilotada por Mendonça de Barros, o pai.

Pérsio e os italianos. O leilão de privatização do Sistema Telebrás deu-se no dia 29 de julho. O central e incisivo numa seqüência de mais de 30 conversas grampeadas é a tentativa de favorecer um consórcio que uniria o banco de investimentos Opportunity e a Telecom-Itália.

"Os italianos", como diz o ministro Mendonça de Barros inúmeras vezes ao longo dos diálogos. Favorecer "os italianos" em detrimento do consórcio Telemar, formado pelo Grupo La Fonte (do empresário Carlos Jereissati), a Andrade Gutierrez, a Brasil Veículos, Macal e Aliança do Brasil. O Fundo de Previdência do Banco do Brasil, a Previ, é peça decisiva nas negociações e nos telefonemas.

Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, André Lara Resende, Pio Borges, vice-presidente do BNDES, e Pérsio Arida, sócio do Opportunity, combinam como pressionar a Previ para que feche com "os italianos" e o Opportunity.

Enfim, a explosão. Nos telefonemas, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, chamado de "a bomba atômica", é instado a pedir à Previ que feche com o Opportunity. O mesmo se dá com o diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira.

As conversas e a montagem de pressões chegam ao auge quando Mendonça de Barros sugere:
—— Temos que falar com o presidente.

E André Lara Resende responde:

—— Isso seria usar a bomba atômica.

André Lara Resende usa a bomba atômica. Em telefonema, pede ao presidente Fernando Henrique Cardoso:

—— Precisamos convencer a Previ.

Na conversa com o presidente (que também não consta na reprodução das duas fitas em posse do governo), Lara Resende não cita o interesse dos "italianos" que freqüentam seus diálogos com Mendonça de Barros. Ao presidente da República, repassa outra informação:

—— Os portugueses (Telecom Portugal) estão interessados...

No mesmo telefonema para Fernando Henrique, o presidente do BNDES tece considerações sobre a "necessidade de um operador estrangeiro" etrata como "aventureiros" os integrantes do Telemar, que não disporiam de "capacitação técnica".

Ao final do telefonema, o presidente diz que vai falar com a Previ. Não se sabe se falou ou não. A Previ ajudou alguns dos seus sócios no consórcio Telemar a bancar o pagamento da compra da Tele Norte Leste. Já o Opportunity ficou com os italianos na Tele Centro Sul.

Questões semânticas. Outro trecho que parece ausente nas fitas do governo – ao menos de acordo com o relato de Veja –, é a referência ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, e ao secretário executivo Pedro Parente. Conversam Mendonça de Barros e Lara Resende. O ministro das Comunicações refere-se aos companheiros de governo Malan e Parente como "babacas".

O ministro Mendonça de Barros, em suas versões orais editadas para a imprensa, tem relatado apenas o carinhoso diminutivo "babaquinha", e dedicando-o apenas a Parente. O ministro Malan e Parente seriam "babacas" por terem aceitado argumentos do consórcio Telemar e, quiçá (aqui trata-se de uma ilação não obtida em fitas), por divergirem do conjunto da obra. A propósito de divergências, há outras entre o que ouviu CartaCapital e o que se divulgou das fitas do governo.

Mendonça de Barros, nas fitas, chama integrantes do consórcio Telemar de "ratada", e não "rataiada", conforme relatos oficiais do próprio reproduzidos pela imprensa. As já anunciadas investigações do procurador-geral da República, dr. Geraldo Brindeiro, por certo esclarecerão essa pinimba semântica quanto a roedores.

Algumas contradições. Mendonça de Barros, que iria ao Senado prestar esclarecimentos na quinta-feira, 19, nesta segunda quinzena de novembro tem repetido, em conversas, os argumentos da incapacidade técnica da "Telegangue", da "ratada " – ou, "rataiada". Informa, ainda, que gestões suas, suprimidas nas fitas gravadas, foram feitas também em favor da formação do consórcio Telemar. Restam, então, duas questões.

Por que o ministro, ou quem de direito, não se valeu das regras do processo de privatização para desqualificar uma empresa que não tinha "capacidade técnica"? Por que, uma vez que se tratava de uma "Telegangue", a empresa, mais uma vez, não foi afastada do processo?

A intervenção deu-se apenas no instante em que o Telemar comprou a Tele Norte Leste, com suas 16 operadoras de telefonia fixa na faixa entre Rio de Janeiro e Amazonas.

Na hora da liquidação da compra, o BNDES interveio e arrebanhou para si 25% das ações do Telemar, alegando tratar-se de um consórcio "chapa-branca", devido às seguradoras terem capital estatal. Mais uma vez, pergunta-se: por que o consórcio não foi desqualificado a tempo?

A peça-chave. Vale lembrar. O Tribunal de Contas da União determinou inspeção no BNDES para apurar a legalidade e a regularidade dos atos dos dirigentes da entidade nessa operação. Se o consórcio é "chapa-branca", a ação do BNDES o tornaria ainda mais chapa-branca. Não fosse, é claro, a intenção do ministro em fazer a Telecom-Itália entrar no jogo.

Peça-chave em todas as negociações, e nos diálogos grampeados, é a Previ. Recordemos, então, outra porção do processo de privatização, a da Vale do Rio Doce. À época, a Previ, que parecia compor-se com o grupo capitaneado por Antônio Ermírio de Moraes, à última hora bandeou-se para a nau pilotada por Benjamin Steinbruch.

O mesmo Opportunity integrou também o consórcio vencedor na privatização da Vale. Mais: o mesmo banco Oppportunity, do mesmo Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central no atual governo, tem assento no conselho de administração da Vale. Segundo palavras do próprio ministro Mendonça de Barros, quando do leilão da Vale, o mesmo grupo de senhores "estimulou a competitividade".

O bem da Pátria. Revela o ministro que, então, procurou a Previ – que negociava com Ermírio – e pediu que o fundo entrasse no consórcio da CSN. Tudo em nome da competitividade e, é claro, pelo bem da Pátria.

Naqueles dias, em entrevista à Veja, Antônio Ermírio bateu duro na operação e cutucou o presidente Fernando Henrique. No domingo, 21 de setembro de 1997, a caminho de Fortaleza, vindo de Sobral, o ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes, disse a CartaCapital:

—— O Antônio Ermírio é inteligente. Viu que querem engoli-lo, e berrou a tempo. Agora, pode dizer ao presidente que não é bem aquilo o que ele disse, mas não vão mais atropelá-lo.

Ermírio não mais foi atropelado. Nos leilões de privatização do setor elétrico no Rio Grande do Sul e São Paulo, a Previ estava ao lado do Grupo Votorantim.

No caso do Telemar, em que pesem as pressões de integrantes do governo para que a Previ jogasse preferencialmente com "os italianos" e o Oppportunity, é preciso recordar que o Fundo do Banco do Brasil – que terminaria integrando o Telemar – tem antigas e extensas relações de negócios com o Grupo La Fonte, de Carlos Jereissati.

E o que diz a lei? Nas fitas, o sócio do Opportunity, Pérsio Arida, não apenas surge em conversas com André Lara Resende, como é anunciada sua presença durante um diálogo. Mendonça de Barros, enquanto negocia com Jair Bilachi, presidente da Previ, para que o fundo se una ao Opportunity informa:

—— Estamos aqui eu, André, Pérsio e Pio...

Ainda nas fitas, ao comentar os mandados de segurança contra o leilão, Mendonça de Barros, em conversa com Lara Resende, cita o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, a quem se refere como "aquele pavão". A propósito de juristas, talvez seja útil recordar alguns artigos da Constituição, da Lei de Improbidade Administrativa e da Lei de Licitações.

Diz o artigo 37 da Constituição que a administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, Estados, do DF e dos municípios, obedecerá:

...aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade... Desses, dois são fundamentais. A impessoalidade e a moralidade.

A Lei de Improbidade Administrativa, a de nº 8.429, de 2 de junho de 1992, trata de atos de improbidade que causem lesão ao Erário nos termos do artigo 100, inciso 80: Constitui improbidade administrativa frustrar a licitude do processo licitatório. Penas: perda da função pública, suspensão de direitos políticos de 5 a 8 anos...

Já a profética Lei de Licitações, a nº 8.666, de 1993, no artigo 90, diz: Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto de licitação. Penas: detenção de 2 a 4 anos. E multa.

O artigo 94 da mesma lei, proíbe: Devassar o sigilo da proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiros o ensejo de devassá-lo. Penas: detenção de 2 a 3 anos. E multa.

É importante observar: em nota distribuída na segunda-feira, 16, o Ministério das Comunicações admitiu conhecer o valor da proposta do consórcio liderado pelo Opportunity no leilão da Tele Norte Leste. Está dito na nota que a oferta do Opportunity era superior à do Telemar em R$ 1 bilhão. O lance do Telemar foi de R$ 3,43 bilhões.

Improbidade administrativa. A informação, percebida em seu teor, mas não em seu valor nas conversas grampeadas, e reafirmada na nota oficial, surpreende. O lance do Opportunity, ainda lacrado, foi destruído no pregão da bolsa de valores.

Recordemos, por fim, o artigo 11, inciso 30 da Lei de Improbidade Administrativa: Revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo. Penas: suspensão de direitos políticos de 3 a 5 anos e multa de até 100 vezes o valor da própria remuneração.

Por fim, a Constituição, no artigo 50, inciso 73, reza: Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo à moralidade administrativa.

A divulgação da fitalhada, segue duas lógicas. Numa matriz, a de quem grampeou os telefones, ou recebeu o produto dos grampos. A lógica destes é pressionar – chantagear, sustentam o governo e os seus – o governo, ou setores do governo. A lógica na outra matriz é a do governo, no roteiro da divulgação.

Conteúdo minado. No primeiro final de semana de novembro, a fitalhada, junto com o papelório que teria vindo das Ilhas Cayman, surge nas páginas embrulhada como mera chantagem. Pari passu com a armação caymanesca. Em um salto extraordinário, uma semana depois, a fitalhada ganha contornos, e conteúdo, de escândalo para, em seguida, ir tendo seu conteúdo minado.

No intervalo, na quinta-feira, 12, em ação incomum até para quem conhece Brasília a fundo, o ministro das Comunicações faz sua edição primeira, oral e antecipada, das fitas. Dá detalhes, minúcias e explicações sobre o quê? Sobre algo que nem sequer se conhecia e que, depois, por ele mesmo seria renegado como um conjunto de montagens.

Tudo não teria passado de um enredo de conversas patrióticas, de homens públicos interessados em estimular a competitividade e elevar a Pátria. Apesar da oposição, aqui e ali, dos babacas – ou babaquinhas –, da ratada – ou rataiada – e de um conjunto de comunistas que, à frente, tinha um ou outro pavão.

Nem o ministro nem os envolvidos imaginam ter atropelado em qualquer momento algum item de um conjunto que resulta em algo conhecido como Estado de Direito. Grampos telefônicos, ninguém desconhece, ferem também o tal Estado.

Versões estranhas. Se, ao se ouvir as fitas, ou mesmo o que vem dizendo o ministro, alguém manifestar dúvidas sobre onde começa o BNDES e onde termina o Opportunity, assim como o vice-versa, a resposta estará pronta:

—— Trata-se de uma chantagem, propiciada por grampos, e tudo não passa de uma montagem.

Quanto à chantagem, imagina-se que os chantageados sabem o que estão dizendo. Grampos, escuta ilegal, segundo o tal Estado de Direito, dá cadeia. Uma vez que o presidente da República recebeu a fitalhada em mãos, estranha-se que só após o vazamento, quase um mês depois, tenham sido acionadas a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República.

Da mesma forma, estranhas são as versões do governo. Primeiro, a captura das fitas teria sido obra dos espiões da agência de inteligência, a Abin. Depois, elas teriam chegado às mãos do general Cardoso após terem sido encontradas debaixo de um viaduto. Há aí um ruído.

Como, admitiu o próprio Lara Resende em conversa com o ex-deputado Aloísio Mercadante, o presidente havia recebido as denúncias, fica sem se saber quem foi até o viaduto: o general Cardoso, um dos seus agentes, ou o próprio presidente?

André admite. Por fim, a montagem. Nesse quesito, dá-se outro bololô. Ora o conteúdo das fitas é admitido. Lara Resende, por exemplo, ao receber o relato de Mercadante, confirmou a veracidade dos diálogos expostos. O ministro Mendonça de Barros, na suas edições-orais-oficiais republicadas pela imprensa, em um momento dedica-se a explicar o teor de fitas que não têm valor e, noutro instante, empenha-se em desqualificar as fitas.

As fitas existem. Os diálogos existem. As fitas ainda são muitas e, com o passar do tempo, mais ainda deverão surgir. Sempre que surgirem, anote, primeiro se discutirá a forma, o grampo (criminoso, ilegal, dá cadeia, como todos já sabem), não apenas por ser isso inescapável, mas de forma que a discussão da forma empane, se possível, o conteúdo.
Da junção da fitalhada com o obscuro papelório das Ilhas Cayman, é possível observar algo. O papelório, sem origem oficialmente conhecida e, ao menos até agora, sem confirmação de absolutamente nada decisivo, informa haver uma conta bancária no Exterior em nome do presidente da República, do governador Mário Covas, do ministro José Serra e do finado ministro Serjão Motta.

Digitais comprometedoras. O que parece pouco crível (uma vez que, posta de lado a discussão, importante, sobre o caráter dos envolvidos, uma operação do gênero exigiria enorme ingenuidade), torna-se ainda mais estranho quando se sabe o nome de alguns dos personagens da história.

Nela, percebem-se as digitais de Fernando Collor, Paulo Maluf, Lafaiete Coutinho, Gilberto Miranda, Cleto Falcão, etc., etc., etc... Ao que parece, seriam 40 ao todo. Não se sabe se a reunião decisiva deu-se no Brasil ou na Flórida. Nem se foi realizada em uma caverna.

Porque, ainda que diante da precariedade do até agora conhecido no papelório, dúvidas surjam quando Fernando Collor, com seu rútilo olhar, murmura: "Quero ver se ele (o presidente Fernando Henrique) vai manter toda essa indignação daqui a três meses". Por que o frisson quando um dos 40 alerta que o papelório sustentaria "seis homeopáticos meses de campanha"?

O que não existe como comprovado – ao contrário da física evidência das fitas –, sobrevive. Talvez, para buscar uma explicação, seja útil ressuscitar o conceito das duas éticas sempre exposto pelo professor Fernando Henrique Cardoso.

Relendo Weber. O conceito, segundo os que são do ramo, seria uma cardosiana releitura de escritos do sociólogo alemão Max Weber. Uma das éticas, expôs o professor, valeria para a política e seus interesses. A outra, valeria para o resto da sociedade. Na verdade, sabem todos, é o que acaba se dando.

Haveria, no entanto, uma regra nesse dueto de éticas. O que vale para a política deve permanecer subjacente, silencioso. Quando exposto, há o choque, traumático, com a ética da sociedade. Remember o ocorrido quando do vazamento das leis de Ricupero, e da necessidade do seu imediato afastamento.

Quando, como no caso da fitalhada, o que deve permanecer subjacente emerge e não são tomadas providências, o embaralhamento das duas éticas leva a um encurtamento de distâncias. Se o que está na fitalhada não é nada, é coisa sem importância, apenas um conjunto de atos patrióticos, torna-se possível que, quem sabe, não soe tão pouco crível algo com as digitais de Collor, Lafa, Maluf e Cia.

O presidente da República diz que "deveria estar na cadeia" quem está por trás do papelório, numa clara referência a Fernando Collor. Pois bem: Collor foi condenado a pagar uma multa superior a US$ 1 milhão pelo Conselho de Contribuintes. Valesse uma lei dos dias do próprio Collor, ele poderia ter sido preso.

As duas éticas. A lei, que tratava do Imposto de Renda, permitiu a captura de PC Farias. Porém, enquanto se comiam castanhas e perus, no dia 26 de dezembro de 1995, o presidente Fernando Henrique sancionou a Lei 9.249, na qual o artigo 34 extinguiu a pena de prisão para sonegadores, desde que paguem a dívida antes da denúncia. Lei votada na Câmara com 101 emendas e relatada por quem seria seu ministro mais adiante e havia sido ministro de Collor: o deputado Antônio Kandir.

Ainda quanto às duas éticas do professor Cardoso. Quando ambas se confundem, desaparecem os parâmetros. Cayman parecem ser tão reais quanto, por exemplo, os telefonemas no BNDES. Ainda que nem seja. O caso da fitalhada é ainda mais difícil de ser abordado por uma outra característica destes tempos e deste governo.

Empresas de comunicação, muitas, são sócias do processo de privatização. Disputaram e venceram nacos da telefonia – celular e convencional –, das TVs a cabo, dos pagers, etc., etc. Negócios de bilhões e bilhões de dólares.

Pressões crescentes. Legalmente, não há problema algum em tais associações, mas, num instante em que surgem severas suspeitas em relação à privatização da Telebrás – onde também estão empresas de comunicação –, como esperar que poderosos setores da mídia investiguem, com o devido apuro e a propalada isenção, um processo ao qual tantos estão, direta ou indiretamente, associados?

Não por acaso são crescentes as pressões do ministro das Comunicações sobre determinadas empresas. Não por acaso, em algumas redações, o reportariado – sempre disposto e ávido, é bom lembrar – está a festejar o rompimento do lacre.

Como nos idos do governo Collor, pode estar-se aproximando a hora do Grande Salto. Aqui e ali, quem atacava os pessimistas e chorões em artigos, colunas e matérias, começa a criticar os juros – mas não ainda os responsáveis –, as dívidas – mas sem nominar seus autores – e a dependência externa – ainda que sem responsabilizar o responsável.

Crise econômica, expectativa de recessão, fitalhada, rumores das Cayman, evidências de disputa – fissura? – no sistema de poder? É hora de se posicionar para o Grande Salto.

Governos, por poderosos que sejam, passam. Jornais, revistas, emissoras de televisão, rádio, pretendem ficar. Jornalistas, ainda que confiem pouco na memorabilia amarela, querem permanecer. Dias de ajustes, chi lo sa, para a possibilidade do Grande Salto.

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“A imprensa está muito favorável, com editoriais”
Trechos das fitas enviadas pelogoverno à Polícia Federal

O ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Resende e Pérsio Arida estão reunidos. Eles conversam com Jair Bilachi, presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. O trio quer que a Previ se junte ao Opportunity, visando formar um consórcio para arrematar a Tele Norte Leste:

“Estamos aqui eu, André, Pérsio e Pio (Borges, vice-presidente do BNDES)”, diz Mendonça de Barros a Bilachi. “Mas estamos muito preocupados com a montagem que o Ricardo Sérgio está fazendo do outro lado (junto ao consórcio de Carlos Jereissati). Porque está faltando dinheiro, doutor. E a gente está sabendo que uma das alternativas (do consórcio concorrente) é fundir as empresas com a holding. Aí, o negócio não fica limpo e a minha primeira preocupação, e o presidente já me ligou, é que a gente ponha em pé este negócio. Senão, o que aparentemente for um puta sucesso pode ficar um negócio amargo.”

“Ministro, nós estamos concentrando forças e a nossa proposta é bem diferente”, responde Bilachi. “Mas é justo na linha dos negócios. Nós estamos cacifando aqui. Mas, essa questão do outro negócio (apoio de Ricardo Sérgio de Oliveira, do Banco do Brasil, ao grupo de Jereissati), acho que vocês deviam conversar com o Ricardo Sérgio.”

“Tudo bem”, diz Mendonça de Barros. “Mas o importante para nós é que vocês montem com o Pérsio, evidentemente chegando a um acordo, e tudo o que precisar nós ajudamos. Temos um probleminha agora que é a carta de fiança. E é chato chegar agora, no meio da tarde, e o Banco do Brasil dizer que não vai dar.”

“Vou falar com ele (Ricardo Sérgio)”, diz Bilachi.

“Sei que ele (Ricardo Sérgio) está falando com a Telefónica de España, um negócio meio esquisito.”

O ministro das Comunicações telefona para o diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira. E revela: o Opportunity quer participar do leilão da Tele Norte Leste, mas depende da concessão de uma fiança do Banco do Brasil:

“Está tudo acertado”, diz Mendonça de Barros para Ricardo Sérgio. “Mas o Opportunity está com um problema de fiança. Não dá para o Banco do Brasil dar?”

“Acabei de dar”, responde Ricardo Sérgio. “Dei para a Embratel e 874 milhões para o Telemar (Tele Norte Leste). Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. São três dias de fiança para ele”, continua o diretor do Banco do Brasil, quase rindo.

“É isso aí, estamos juntos”, diz Mendonça de Barros.

“Na hora que der merda (Ricardo Sérgio se refere ao astronômico valor da fiança), estamos juntos desde o início.”

O presidente Fernando Henrique liga para o ministro Mendonça de Barros na sede do BNDES. FHC queria saber como estava o andamento do leilão das teles:

“Estamos aqui praticamente com o quadro fechado”, diz Mendonça de Barros ao presidente.
“Você acha que, no conjunto, vai dar o quê?”, pergunta FHC.

“Vai dar uns 16 bi, que é o que eu tinha dito”, responde o ministro. “O nosso preço mínimo é de 13 bi e 400, e nós chegaremos a uns 16 bi, que é muito dinheiro.”

“Ajuda, né?, as reservas”, comenta FHC.

“A imprensa está muito favorável, com editoriais”, diz Mendonça de Barros.

“Está demais, né?”, diz FHC em tom de brincadeira. “Estão exagerando, até.”

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Estado de direito ferido
O governo interferiu no processo

CartaCapital: O senhor esteve com o presidente do BNDES, André Lara Resende?
Aloísio Mercadante: Estive. Disse a ele que tinha tido acesso ao conteúdo das fitas, mas, como elas eram editadas, queria confirmar sua veracidade. Ele, a princípio, negou.

CC: E depois?
AM: Quando relatei diálogos, ele admitiu que eram verdadeiros, que aquelas conversas, entre aquelas pessoas, haviam acontecido. E me disse que o presidente da República já havia recebido as fitas e que providências seriam tomadas. O André tentou ainda defender a posição deles. Argumentou que consórcios não tinham capacitação técnica e que eles estavam tentando estimular a competitividade.

CC: Qual foi, então, sua posição?
AM: Disse a ele que esperava que as providências fossem realmente tomadas e discordei dos argumentos. Disse-lhe que, para mim, a ação deles caracteriza uma claríssima intervenção no processo de privatização, fere o Estado de Direito e coloca sob suspeita todo o processo de privatização.

CC: E ele, respondeu o quê?
AM: Lamentou-se. Disse que a intenção dele era apenas ajudar...

CC: Lê-se, nesses dias, que ele teria dito que iria cair fora...
AM: A mim ele disse a mesma coisa.

CC: Por que o senhor não denunciou?
AM: Porque era um relato sem provas, mas à medida em que o conteúdo das fitas se torna público, o Congresso terá de instalar uma CPI da privatização da Telebrás.

Volks paga por ofensa racista

Site do Azenha - 13/08/08 -Atualizado em 13 de agosto de 2008 às 13:04 | Publicado em 13 de agosto de 2008 às 13:04

Volks é condenada a pagar R$ 268 mil por ofensas racistas a ex-funcionário

Marina Diana, do Última Instância


O juiz Carlos Alberto Oliveira Senna, da 12ª Vara do Trabalho de Brasília, condenou a Volkswagen do Brasil a indenizar um ex-empregado em R$ 268 mil. O ex-funcionário alega ter sido ofendido por um supervisor hierárquico que lhe enviou um e-mail com palavras humilhantes de teor racista. Cabe recurso.

Em um dos e-mails enviados pelo então supervisor ao autor da ação, o juiz retirou trechos e anexou à sentença, como: "ok, pelo tipo de pele entendo a sua colocação. Este é um fato típico da senzala. Nós que somos de cútis mais clara não compreendemos certas considerações até porque não possuímos correntes atadas aos pés ou sofremos qualquer tipo de chibatadas quando ocorremos em fatos errados, o que não é normal, para nós humanos".

No entendimento do juiz, ficou caracterizado o ato preconceituoso, racista, ofensivo, vexatório e humilhante. "O que se extrai de tamanha aberração verbalizada é o total e pleno desrespeito deste supervisor pelo autor na esfera profissional e pessoal, pois promove ofensa em razão da cor da pele como também da própria condição humana".

Em sua defesa, a empresa afirmou que não teria responsabilidade sobre os atos praticados pelo supervisor. Mas, na sentença, o juiz afirma que o comando diretivo, organizacional e disciplinar do empregador implica na obrigação de fiscalizar o ambiente de trabalho e o respeito funcional entre os trabalhadores que estão sob o seu comando.

"A classificação da ofensa moral é da maior gravidade ante tamanho descalabro de cunho racista, humilhante e vexatório, cuja dimensão mundial da empregadora somente agrava tal prática discriminatória", citou o magistrado na decisão, que considerou responsabilidade da empresa os atos praticados por seus agentes em relação a todos os demais funcionários — subordinados diretos ou não.

A reportagem de Última Instância entrou em contato com a assessoria de imprensa da Volkswagen, mas ainda não obteve retorno.

Sexta-feira, 8 de agosto de 2008
fonte: http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/54533.shtml

DANIEL DANTAS DEIXA NO AR AMEAÇAS AOS ADVERSÁRIOS

Site do Azenha - 13/08/08 -Atualizado em 13 de agosto de 2008 às 22:32 | Publicado em 13 de agosto de 2008 às 18:50

O banqueiro Daniel Dantas está usando o seu depoimento à CPI das Escutas Telefônicas para se apresentar como vítima e para deixar implícito que existem muitas informações que teriam potencial embaraçoso para seus adversários políticos.

Quando falou sobre a privatização da telefonia, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, Dantas lembrou que nem todos os grampos telefônicos feitos na época foram divulgados. Ele sugeriu que apenas os grampos referentes aos negócios dele são de conhecimento público. Dantas fez menção a grampos que teriam sido feitos no prédio do BNDES. Só duas de 51 fitas são de conhecimento público, disse Dantas.

A origem das gravações nunca foi esclarecida. Ninguém sabe onde é que estão as fitas nunca divulgadas. Meu ponto: lembrar a existência delas serve aos propósitos de Dantas, já que comunica aos tucanos que detalhes potencialmente embaraçosos sobre as privatizações da telefonia ainda estão por aí.

Os grampos derrubaram o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros; o irmão dele, José Roberto Mendonça de Barros, que era da Câmara de Comércio Exterior; e o presidente do BNDES, André Lara Resende.

No depoimento Dantas também disse que é vítima de uma facção do governo Lula, que teria sido liderada pelo ex-ministro Luiz Gushiken. O interesse dessa facção seria o de assumir o controle da Brasil Telecom.

O banqueiro voltou a mencionar a existência de uma acusação, feita na Itália, segundo a qual a Telecom Itália teria pago propina a integrantes do governo brasileiro. Dantas também mencionou que, durante depoimento à Polícia Federal, o delegado Protógenes Queiroz teria dito a ele que pretendia investigar "até o fim" os filhos do presidente Lula.

Essas duas últimas afirmações são uma ameaça velada aos integrantes do atual governo.

Para explicar a Operação Satiagraha, Daniel Dantas mais uma vez se colocou como vítima. O algoz, neste caso, seria o ex-diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Como se sabe, a revista Veja publicou uma reportagem dando conta da existência de contas bancárias no Exterior do presidente Lula e de outras autoridades do governo, inclusive Lacerda. Dantas nega que tenha sido a fonte para a reportagem. A Veja diz que foi ele.

Dantas lembrou uma frase atribuída ao delegado: "Ele iria me botar um par de algemas".

O banqueiro disse que, antes mesmo da posse do governo Lula, em 2002, tinha informações de que "Lula ia entrar em guerra contra mim". Daniel Dantas disse que, na época, mandou publicar em um jornal de Minas Gerais mensagens criptografadas que descreveriam a armação contra ele.

Daniel Dantas não apresentou qualquer prova para suas acusações. Fez ilações e suposições. Mas seu objetivo foi claro: se colocar como vítima.

"Eu já fui expelido do setor de comunicações", disse Dantas aos integrantes da CPI.

AL CAPONE ACUSA ELLIOT NESS NA CPI DA LEI SECA

Conversa Afiada - 13/08/08


O quadrilheiro Daniel Dantas subiu ao palco que lhe proporcionou a CPI dos Grampos, aquela CPI que Dantas controla.

. Clique aqui para ler como Dantas controla a CPI.

. A CPI desempenhou seu papel: dar espaço a que os defensores do “Estado de Direita” possam livremente expor suas idéias.

. Dantas chegou à CPI munido de um HC.

. Ou seja: poderia mentir e não ser preso.

. Para que, então, serve a CPI ?

. Para criar um ambiente político que desmoralize os grampos – e dificulte o trabalho da Polícia quando prender branco e rico.

. Esse é um dos ingredientes da ideologia do “Estado de Direita”.

. Ainda bem que a Polícia Federal fez ontem uma operação para desmoralizar o Supremo e algemou todo mundo.

. Clique aqui para ler no jornal O Globo.

. É o que deveriam fazer os policiais do Brasil (Menos os de São Paulo, que estão em greve. Clique aqui para ler.

. Deveriam algemar todo mundo e chamar o Ministro (?) Marco Aurélio de Mello para ver se ele concorda ...

. A CPI dos Grampos ouviu Dantas dizer que não grampeou ninguém.

. Ele não conhece ninguém.

. Grampo ?

. Que grampo ?

. Imagine, caro leitor, se o Tribunal de Nuremberg – que foi sério, em nada parecido com essa CPI dos Grampo – perguntasse a Adolfo Hitler se ele tinha mandado alguém para Auschwitz e ele dissesse que não mandou ninguém.

. Hitler seria absolvido ?

. Só a colonista Monica Bergamo (clique aqui para ler o verbete colonista) foi capaz de dizer – sem que ninguém lhe jogasse pedras – que se o Chicaroni dissesse que não subornou o delegado de Policia Federal todo o processo contra Dantas ia por água abaixo.

. É a teoria do PiG: quando um representante do “Estado de Direita” diz que não cometeu um crime, não houve crime ...

. Os deputados da CPI dos Grampos se dividem entre os que não sabem nada sobre Dantas e os que sabem tudo sobre Dantas.

. O Presidente da CPI, por exemplo, o deputado serrista Marcelo Itagiba.

. Esse, tem uma folha corrida de serviços prestados a Serra e, portanto, a Dantas.

. Clique aqui para ler sobre os serviços que Itagiba prestou aos dois.

. A CPI dos Grampos cumpriu o seu papel.

. Foi desmoralizada pelos depoimentos do ínclito Delegado Protógenes Queiroz, do corajoso juiz Fausto de Sanctis, e, hoje, pela farsa do depoimento de Dantas.

. A CPI não serviu para nada.

. Apenas para ocupar espaço no PiG e difundir a campanha “Nada de grampo contra ricos e brancos !”.

. Nem algema !

Em tempo: vamos imaginar que Elliot Ness, da Polícia Federal, tenha prendido Al Capone. Finalmente, depois de todo mundo saber – a Polícia estadual, o Judiciário, o Legislativo – que Al Capone contrabandeava uísque falsificado do Canadá para vender nos speakeasy de Chicago. Mas, Elliot Ness era corajoso e honesto. Resistiu a todas as pressões. E conseguiu pôr algemas em Capone. Aí, o Congresso americano montou uma CPI para tratar da Lei Seca. Chama Al Capone para depor, como suspeito de ser o maior contrabandista de uísque dos Estados Unidos. O deputado Joseph Kennedy, que distribuía uísque de Al Capone no mercado de Boston, presidente da CPI, fez uma pergunta de bandeja para Al Capone. Al Capone acusa Elliot Ness. Diz que ele era um policial desonesto, movido por interesses subalternos quando decidiu, por fim, colocar as algemas nele. Caro leitor, você acha que o Chicago Tribune, o principal jornal de Chicago, seria capaz de dar credibilidade a Al Capone e colocar na manchete essa “suposta” acusação a Elliot Ness ? ? Nem pensar, não é isso, caro leitor ? Pois foi o que o UOL acaba de fazer: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u433079.shtml.

Em tempo 2: Daniel Dantas apoiou-se em Diogo Mainardi para argumentar na CPI do Grampo. É como se Dantas contratasse Diogo Mainardi para escrever sua biografia autorizada. Um é a contra-face do outro. Clique aqui para ler a íntegra da decisão da Justiça que condenou Mainardi. E clique aqui para ver o papel glorioso que Mainardi desempenha no Sistema Dantas de Comunicação.

Em tempo 3: um deputado perguntou por que Dantas se cala diante da Polícia e da Justiça e é tão falante na CPI. Dantas deu a resposta óbvia: porque na CPI lhe tratam muito bem...

Em tempo 4: um deputado tucano fez uma série fez várias perguntas que poderiam esclarecer a patranha da “BrOi”. A última pergunta foi de cunho genérico. Dantas começou a responder pela última e gastou muito tempo. Depois, usou o truque de pedir para o deputado repetir as primeiras perguntas. O deputado serrista Marcelo Itagiba antecipou-se e jogou o pára-quedas para Dantas. E considerou que a resposta à última pergunta era suficiente.

Em tempo 5: era um espetáculo dantesco em que um quadrilheiro, que deveria estar preso, mentia desbragadamente e deputados profissionalmente despreparados ou cúmplices o ouviam como se estivessem em Delfos. Até que a deputada Iriny Lopes, do PT do Espírito Santo, recusou-se a fazer qualquer pergunta e a fazer parte daquela farsa. Nem tudo está perdido. É uma CPI para tirar Dantas da forca e ajudar a instalação do “Estado de Direita”.

(*) Em tempo 6: o deputado Nelson Pellegrino, relator da CPI dos Grampos, fez a Daniel Dantas a pergunta que Paulo Henrique Amorim sugeriu:

“Por que o senhor mandou o espião israelense Avner Shemesh espionar o jornalista Paulo Henrique Amorim, sua mulher e sua filha ?”

Daniel Dantas respondeu: “Não, nunca contratei o Avner Shemesh, não conheço ele, não o contratei, não pedi a ninguém que tivesse o contratado. E estou repetindo aqui que não época eu perguntei à Kroll se a Kroll tivesse alguma vez utilizado os serviços, a Kroll me disse que nunca tinha utilizado os serviços deste senhor”.

O deputado serrista Marcelo Itagiba tentou ajudar Dantas, de novo, e deixar claro que não havia relação entre o meu trabalho e o do Nassif no iG e o período que Dantas controlou o iG. Itagiba não falha: está sempre ao lado de Serra, ou melhor, de Dantas.

Em tempo 7: entre as muitas mentiras, o quadrilheiro Dantas disse que não houve grampo na operação da Kroll. O que a Polícia Federal achou no escritório do espião israelense Avner Shemesh ? O que foi aquilo que a Polícia Federal achou sobre mim, minha mulher e minha filha ? Os Manuscritos do Mar Morto ? A que crime Dantas responde na Justiça Federal por causa da Kroll ? Crime de imprensa ? Por que o deputado serrista Marcelo Itagiba não perguntou a que crimes Dantas responde ? Ou a Justiça Federal de São Paulo não serve para nada ?