"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, setembro 10, 2008

7 de Setembro

Contrariando novamente minha política de publicação vi no blog do Nassif a imagem abaixo vinculada sob o título: Os Hinos Fundamentais enviada por Cássia. Lembrei-me de que quando era criança na escola estadual em que estudava, cantávamos sempre o Hino Nacional, o Hino da Bandeira, o Hino da Independência e outros.
Impressiona-me o quase total desconhecimento desses hinos por grande parte da juventude de hoje, além de que, pela ausência de treino as crianças e jovens de outrora que cantaram como eu nas escolas tais hinos não devem em sua maioria lembrar de suas letras.
Necessitamos com urgência de uma onda bem organizada e estruturada de civismo. Voltar a mostrar para as nossas crianças a beleza de nossos hinos, das cores de nossa bandeira e seus significados, dos nossos heróis, do amor à pátria. Se não fizermos isso, esses jovens e crianças crescerão ouvindo apenas falar de corrupção, grampos e desvios de verba. Não é essa a imagem que eu quero que meus filhos tenham de nosso país.


MENDES VAI PRENDER JUÍZES, PROCURADORES E POLICIAIS FEDERAIS

Conversa Afiada - 07/09/08

O jornal O Globo, na página 15, revela que o Supremo Presidente Gilmar Mendes acusou juízes, procuradores e policiais federais de formarem milícias.

. Três integrantes da CPI dos Grampos ouviram o Supremo Presidente dizer isso.

. Ele se refere ao trabalho nas varas especializadas em lavagem de dinheiro.

. Como lugar de miliciano é na cadeia, o Supremo Presidente vai prendê-los.

. O Presidente Supremo, o nosso Mussolini, já manda no Executivo e no Legislativo.

. Mas, no fundo, o sonho dele é reunir na sua Única, Onisciente e Onipresente pessoa todas as esferas do poder Judiciário.

. Ao dar, em 48 horas, dois HCs ao quadrilheiro Daniel Dantas, ele subverteu toda a hierarquia processual do Judiciário.

. Agora, vai prender as milícias.

. Breve, ele fecha o Supremo, cassa dez mandatos e decide tudo sozinho.

. Com o apoio irrestrito do PiG.

O Disque-Denúncia

Blog do Luis Nassif - 07/09/08

Por jbranco

Nassif,

Leia o texto do delegado da polícia civil do Rio, Alexandre Neto, sobre os grampos. Muito bom e esclarecedor. Merece ser divulgado. Abaixo o link. Clique aqui.

"GRAMPOS E APERITIVOS FEDERAIS

Um escândalo envolvendo a ABIN e a PF já era esperado, afinal os investigados pela Operação Satiagraha (ou Soltaeagarra, para os bem-humorados) – tidos como “figuras acima de qualquer suspeita” – não iriam deixar barato a exposição pública e a “espetacularização” das prisões levadas a efeito em prol da moralidade e do legítimo interesse público, que visam a combater a espoliação do erário nacional.

Qualquer órgão de inteligência que se preze não quer ver a sua reputação destruída, por mais sujo que seja o “serviço” que lhe tenha sido incumbido. A bomba do Riocentro, num 1º de Maio de 1981, é a prova disso. O protagonista sobrevivente passa bem e foi até promovido. Os demais, ninguém sabe e nem procurou saber. O caso está encerrado e prescrito. Mas ainda que houvesse divergências internas em tal órgão de inteligência da Presidência da República, custa crer que seus integrantes se mostrassem tão autofágicos, a ponto colocar em jogo a credibilidade e a existência do próprio ganha-pão.

A quem interessaria esse descrédito? A quem interessaria essa pretensa desmoralização institucional? A quem interessaria esse conflito entre poderes, que devem funcionar independentes e harmônicos entre si ?

A nossa “arapongagem” estatal pode até ser incipiente e subdesenvolvida, mas não é burra. Pode-se até dizer também que a “arapongagem” privada, representada por empresas estrangeiras que funcionam livremente em nosso País como verdadeiras longamanus de órgãos de inteligência de países desenvolvidos, representam muito maior perigo à nossa ordem legal e institucional existentes. Fatos recentes, envolvendo as chamadas “figuras acima de qualquer suspeita” e o dinheiro das privatizações das teles, já deixaram transparecer o pesado jogo sujo que envolve a disputa pelo dinheiro público. Um insignificante – e até então ilustre desconhecido - transformou-se em milionário da noite para o dia, tudo sob as bênçãos dos poderes constituídos. Ninguém futucou para saber de onde brotou significativa e repentina riqueza.

A quem interessa as informações privilegiadas que norteiam essas disputas? Quem delas se beneficia? Quem pode pagar para obtê-las, custe o quê custar?

As escutas autorizadas pela justiça, procedidas pela PF no bojo da Operação Satiagraha, nos ofereceu um dado interessante e, ao mesmo tempo, alarmante: numa das conversas interceptadas, uma das “figuras acima de qualquer suspeita” se mostra não estar preocupada com a ação da justiça no âmbito do Supremo Tribunal Federal, mas apenas receosa com relação aos juízes de primeiro grau. Para tal “figura”, a Corte Maior não representava perigo, pois já estaria anestesiada e não implicaria em maiores preocupações.

Assim, a Operação Satiagraha teve o seu desfecho. O suborno a uma autoridade policial federal restou materializada, ao vivo e em cores. Deslindava-se uma trama odiosa envolvendo “figurinhas carimbadas” dos mais recentes escândalos financeiros da nação. Mas, apesar do alto poder de influenciar e coagir testemunhas, apesar da inegável capacidade financeira de interferir na obtenção de novas provas e até mesmo corromper autoridades, com grave comprometimento da garantia da ordem pública e latente vulneração à aplicação da lei penal, tais “figurinhas carimbadas” foram postas em liberdade, com a garantia sumular, da mais alta Corte, de que jamais seriam algemados.

O cenário já estava preparado. Faltava apenas o grand finale: a “reportagem” de capa da revista VEJA, de 03 de setembro de 2008, sob o título “PODER PARALELO” - que mais parece um Disque-Denúncia, ou “DD” no jargão policialesco – dá conta de duas iniciais que, coincidentemente, já apontam os indícios de sua provável autoria. Uma das “figurinhas carimbadas”, certo da impunidade, se adiantou em servir um “aperitivo” para comemorar a liberdade e lembrar que o estoque de drinks ainda pode ser bem maior e mais variado. Vai depender do freguês, ou da refinada clientela. Uma coisa é certa: pra bom degustador, meia dose basta!

Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008.

Alexandre Neto"


Manobras navais russo-venezuelanas poderão azedar mais relações entre Moscovo e Washington

darussia.blogspot.com - 07/09/08


As manobras navais conjuntas russo-venezuelanas, marcadas para 10-14 de Novembro, poderão agudizar ainda mais as relações entre a Rússia e EUA, consideram analistas militares russos.
O contra-almirante Salvatore Cammarata Bastidas, comandante da Armada da Venezuela, anunciou que, nas manobras que se realizarão nas costas venezuelanas, participarão quatro navios de guerra da Armada russa do Pacífico e cerca de mil homens, enquanto que Caracas estará representada por “navios, submarinos e aviões de combate”.
Segundo o militar venezuelano, o objectivo da visita de navios russos à Venezuela é “a realização de treinos no mar, bem como reforçar os laços de amizade entre países”.
“Trata-se de um acontecimento extremamente importante para nós, porque se realiza pela primeira vez”, frisou o contra-almirante.
O Presidente da Venezuela, Hugo Chavez, declarou, a 31 de Agosto, que o seu país está disposto a receber navios e aviões de guerra russos no seu território.
“Se a Armada russa vier ao Mar das Caraíbas ou ao Oceano Atlântico, ela poderá visitar a Venezuela. Seja bemvinda!Não temos qualquer problema com isso. Se a aviação de longo alcance da Rússia tiver necessidade de aterrar no território a Venezuela, também não haverá problemas. Também a iremos saudar!”, considerou.
No sábado, ao discursar na abertura do Conselho de Estado da Rússia, o Presidente Medvedev mostrou-se irritado com a presença de tropas da NATO no Mar Negro.
“Como é que (os EUA) se sentiriam se a Rússia enviasse ajuda humanitária em navios de guerra para a bacía das Caraíbas, lugar atingido recentemente por um furacão?”, perguntou o dirigente russo.
“A realização de manobras conjuntas das Armadas da Rússia e da Venezuela significa o posterior arrefecimento das relações russo-americanas”, considera o politólogo russo Ruslan Pukhov.
Em declarações à rádio Eco de Moscovo, o director do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, sublinhou que “se trata de um acontecimento único tanto para as armadas, como para a cooperação dos dois países”.
“A Armada russa nunca realizou manobras conjuntas com a venezuelana. Como é sabido, a Armada do Pacífico viu-se, durante muito tempo, numa situação muito difícil, praticamente não realizava viagens de longo curso, à excepção de visitas de cortesia ao Japão e Coreia do Sul”, assinalou.
Segundo Pukhov, “sem dúvida que essas manobras estavam acordadas há muito tempo, mas o arrefecimento das relações russo-americanas dá-lhes uma pitada de pimenta”.

Por que os media "de referência" não difundiram esta notícia?

Resistir Info - 07/09/08

Fotos mostram Bush bêbado nas Olímpiadas de Pequim

por Réseau Voltaire

No momento em que o governo da Geórgia lançava seu ataque Ossétia do Sul, criando um novo foco de conflito mundial, seu protector George W. Bush apresentava-se em público em estado de ebriedade nas Olimpíadas de Pequim. As fotografias publicadas em Gawker.com e difundidas em numerosos sítios web, são reveladoras em si mesmo e dispensam comentários.

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O chefe do império e´ ajudado a caminhar. Foto de 10 de Agosto na partida de bola-ao-cesto EUA-China.

George W. Bush efectuou a sua própria competição com o álcool entre os dias 9 e 11 de Agosto. Compareceu ostensivamente bêbado ao Centro Aquático Nacional da China, mais conhecido como "Cubo de Água", e a outros centros olímpicos, perante fotógrafos e jornalistas de todo o mundo. O comportamento do "líder máximo mundial" foi revelado em diferentes sítios web, mas a grande imprensa mundial omitiu esta notícia.

O sítio web estado-unidense Gawker.com disse que o presidente tomou tragos à socapa, enquanto "a sua presidência retrocede apocalipticamente na história". O sítio web Aporrea pergunta-se o que se teria passado se Hugo Chávez, Evo Morales ou Rafael Correa houvessem sido os protagonistas destas bebedeiras públicas.

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A agência Associated Press apresentou esta foto com a afirmação: "O presidente George W. Bush dos EUA tropeça enquanto ele e sua esposa Laura assistiam às competições de natação".

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A cambalear.

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Borracheira no Cubo de Água. A filha está desolada...

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"Papá, tu me envergonhas..."

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Gawker.com: "Isto é tudo o que o sr. tem a mostrar pelos seus últimos quatro anos de vida?" O nariz o denuncia.

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Contusão no braço.

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O senhor presidente no voleibol de praia.

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A filha incomodada...

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Com a bandeira ao contrário.
Fonte das fotografias: http://gawker.com/5035885/bush-looking-drunk-at-the-olympics

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article157946.html

SAAKASHVILI MENTIU A 100 POR CENTO

Resistir Info


O importante semanário alemão Der Spiegel põe em dúvida a idoneidade do presidente georgiano:
"... Vários ministros em Berlim começaram a duvidar da credibilidade do mais problemático amigo do ocidente. Saakashvili, ao contrário da sua própria versão dos acontecimentos, aparentemente ordenou o ataque à Ossétia do Sul antes de os tanques russos entrarem na província vindos do Norte, através do Túnel Roki".

"Isto — prossegue a Der Spiegel — foi relatado por observadores militares que trabalham com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que estavam na Geórgia naquele momento. Informação de conversações telefónicas escutadas clandestinamente envolvendo líderes políticos georgianos também contribuíram para os relatórios, os quais escaparam da sede da OSCE em Viena. Uma fonte que é pessoalmente familiar com os relatórios resumiu os achados como segue: 'Saakashvili mentiu a 100 por cento para todos nós, os europeus e os americanos' ".
A notícia está em Der Spiegel .

A farsa continua

Blog do Luis Nassif - 06/09/08

Clique aqui para ler a matéria de Veja sobre o suposto grampo que ela noticiou.

A matéria tem afirmações e informações. A matéria anterior – em que acusou a ABIN de grampear Gilmar Mendes – só tinha afirmações. Nenhuma informação que comprovasse a acusação.

Vamos agora à matéria desta semana, onde Veja, depois de matar a cobra, vai mostrar o pau.

As afirmações

  • A decisão do governo de conter a ousadia dos espiões oficiais na Abin e na PF encheu os ouvidos do presidente Lula de desculpas esfarrapadas

  • Lula afastou Paulo Lacerda da direção da Abin depois da revelação de que agentes do órgão grampearam o presidente do Supremo Tribunal Federal

  • A revelação de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou autoridades do governo, senadores da República e ministros do Supremo Tribunal Federal provocou uma vigorosa reação institucional contra o aparato estatal que vem violando de maneira acintosa a privacidade dos cidadãos.
  • Na semana passada, uma reportagem de VEJA mostrou que o descontrole chegou ao extremo de agentes a serviço da Abin terem interceptado ilegalmente uma conversa telefônica entre o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, a mais alta corte de Justiça do país, e o senador Demóstenes Torres, um dos líderes oposicionistas no Congresso. O episódio só não se transformou numa grave crise graças à ação rápida e convincente das autoridades.
  • (...) Por último, sob o comando de Lacerda, um delegado de polícia, servidores da agência foram pilhados ouvindo telefones de ministros de estado, ministros do Supremo, senadores, do presidente do Congresso e até de auxiliares próximos do presidente Lula.

Cadê as provas? Como pode uma central de arapongagem, da dimensão anunciada pela revista, não ter deixado um rastro, uma prova?

  • Dono de uma teoria muito pessoal sobre o caso, ele propaga que as gravações ilegais foram feitas por pessoas ligadas ao ex-banqueiro Daniel Dantas.
  • "Teoria muito pessoal" é bom. Só o Lacerda e a torcida do Flamengo e do Corinthians estão encampando essa teoria.

As informações

(...) Lula conversou longamente com Jobim. Ex-presidente do STF e ex-deputado, o ministro advertiu o presidente do risco de uma crise institucional. Se Lula não tomasse uma atitude rapidamente, alertou Jobim, compraria uma briga com o Judiciário e com o Legislativo que teria resultados imprevisíveis. (...) A decisão de afastar todo o comando da Abin, porém, só foi anunciada depois que Jobim mostrou ao presidente documentos que provariam que a agência possuía aparelhos capazes de fazer escutas telefônicas e ambientais – informação que havia sido negada pelo general Jorge Felix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

E só, além de requentar o cozidão da desembargadora de São Paulo - que depois voltou atrás em sua informação de que De Danctist teria admitido o grampo. Como Veja requentou o cozidão? Simplesmente dizendo que a desembargadora voltou a falar a mesma coisa na semana passada.

Por Paulo Kautscher

O SR. DEPUTADO NELSON PELLEGRINO - Dr. Lacerda, no curso da Operação Satiagraha e posterior a ela, alguns órgãos de imprensa do nosso País teriam divulgado uma suspeita de que agentes da Agência Brasileira de Inteligência teriam feito ilações de que agentes da ABIN teriam realizado escutas ambientais no gabinete ao lado do gabinete de assessores do Ministro Gilmar Mendes. O que V.Exa. tem a dizer sobre isso?

O SR. PAULO FERNANDO DA COSTA LACERDA - Bom V.Exa. não estava aqui mas, na minha fala, usando do espaço democrático desta CPI, eu desafiei, como eu desfio esses repórteres que fizeram essa matéria que apresentem à CPI. Já que eles não apresentam à ABIN, eles não acreditam que a ABIN tem uma Corregedoria que tenha pessoas sérias lá, ou então o próprio Gabinete de Segurança Institucional, eles não acreditam. Então, tragam a esta CPI algum elemento. Venham aqui, sentem aqui. Tragam esses elementos aqui que apontem: “Olha, aconteceu isso, por causa disso. A testemunha é fulano”. Ou se quiserem preservar as fontes. Mas sejam dignos, venham aqui e apresentem elementos concretos

Não fiquem em ilações. Então, eu repudio inteiramente estas afirmativas, em primeiro lugar, de que tenha havido.

Eu acredito que não, porque se houvesse é natural que o próprio Supremo Tribunal Federal já teria adotado medidas rigorosas de investigação, requisitar investigações à Polícia Federal. A Polícia Federal tem gente séria e que iria lá, iria esclarecer prontamente essas questões. Agora, fica apenas reiterando. Nessa semana, reitera de novo. Então, venha aqui e traga:“Olha, aconteceu assim.” Dados concretos. Sejamos sérios, não sejamos levianos.Tem algumas matérias que, lamentavelmente, beiram o ridículo. São ilações. Então,objetivamente, não aconteceram monitoramentos telefônicos da ABIN de maneira nenhuma, notadamente em tribunais, no Palácio.

Não existe a menor possibilidade de isso ter acontecido.

‘Não se pode fazer um paralelismo entre a União Européia e o Mercosul’

Instituto Humanitas Unisinos - 06/09/08

“Uma liderança muito rara (...) Não querem aparecer como líderes. Temem aparecer isolados e prepotentes. Querem ser solidários e cooperativos, mas é um país que apresenta uma grande assimetria com os outros países”, disse Alain Rouquié, analisando a liderança do Brasil na América Latina.

A reportagem e a entrevista é de Natasha Niebieskikwiat e publicada no Clarín, 04-09-2008. A tradução é do Cepat.

O respeitado cientista político francês Alain Rouquié voltou outra vez à Argentina. Desta vez para dissertar no ciclo Globalização, Estado e Cidadania, organizado pelas embaixadas da França e Canadá e pela Universidade de Buenos Aires.

Eis a entrevista.

Você sempre recorda que a União Européia nasceu de um acordo confidencial sobre o aço e o carvão. E muitos buscam aqui paralelismos com o Mercosul. É possível?

Não, por uma razão muito simples. A União Européia começou criando instituições e o Mercosul nunca fez isso. É administrado a nível intergovernamental, o que não permite superar as dificuldades. É muito difícil avançar quando não se tem um mínimo de transferência de soberania, e no Mercosul não há nenhuma. O conflito das papeleiras (Uruguai-Argentina) demonstrou que não há nenhum espírito comunitário. O assunto foi tratado como um tema de política estrangeira. Nós não temos problemas de política estrangeira com os outros países membros. São problemas comunitários tratados através das instituições.

Você sustenta que o Brasil se opõe às instituições do Mercosul porque busca um benefício máximo com um compromisso mínimo. Que liderança o Brasil exerce então?

Uma liderança muito rara. Natural porque tem mais de 50% do PIB, mas ao mesmo tempo sempre muito moderado. É o contrário da Venezuela, um país muito pequeno com nem sequer a quinta parte do PIB do Brasil, mas sempre muito presente e exteriorizado. Como disse o ex-chanceler do Brasil, a diplomacia da ‘moderação consultiva’. Não querem aparecer como líderes. Temem aparecer isolados e prepotentes. Querem ser solidários e cooperativos, mas é um país que apresenta uma grande assimetria com os outros países.

Você é um dos pensadores que não utilizaria a palavra “populismo” para descrever “fenômenos” na América Latina.

Nunca a utilizei porque não significa nada. O termo aceita qualquer acepção e é empregado para cobrir fenômenos totalmente díspares. Também não utilizo a palavra “neoliberalismo” porque se há liberalismo não sei porque é “neo”.

Há uma sensação de uma América Latina aliada a Washington e outra antinorte-americana.

Analisemos a tendência política da América Latina. Há uma tentativa de liderança antinorte-americana muito clara por parte da Venezuela. E políticas nacionalistas, mas com menos antiamericanismo nos outros países. Mas não creio que haja tantos problemas. Acaba sendo uma facilidade retórica. E aqui não vejo isso tanto assim. Outro dia esteve em Buenos Aires Thomas Shannon com ar de sorridente. A Argentina é um país que exporta para o mundo inteiro e neste momento não tem muitos problemas com os Estados Unidos. Pode haver piadas que dêem esta impressão, mas não creio que tenhamos retornado à época de Perón-Braden. O socialismo do século XXI é muito diferente do século XX, se podemos dizê-lo assim. Este é um país com livre mercado, capitalista, e há empresas estrangeiras que funcionam muito bem e outras que têm problemas.