luisnassif, dom, 17/03/2013 - 10:43
Por Diogo Costa
CRÍTICA AO RELATÓRIO DO IDH/2012
Diogo Costa
A falta de análise crítica da velha mídia é uma chaga nacional. As notícias veiculadas sobre o IDH referente ao ano de 2012 beiram a má-fé... Vejamos o caso de nossos vizinhos do Cone Sul. Chile, Argentina e Uruguai SEMPRE tiveram indicadores sociais melhores do que o Brasil. Onde está a novidade? A novidade é que o Brasil (que segundo a própria ONU tinha em 1980 um IDH similar ao do Paraguai) vai subindo e alcançando paulatinamente esses três países que SEMPRE tiveram indicadores superiores aos de Pindorama.
Segundo o relatório, os três países latino-americanos que mais avançaram percentualmente no índice de IDH entre o período 2000/2012 foram, respectivamente, Nicarágua, Venezuela e Cuba. Também segundo o relatório, os três países do mundo que mais avançaram percentualmente no índice de IDH entre o período 2000/2012 foram, respectivamente, Afeganistão, Serra Leoa e Etiópia. Constatações essas que não vimos serem veiculadas em nenhum 'grande' meio de comunicação.
O que causa espécie não é o relatório em si. Mas a base de dados que os organizadores utilizam para classificar, por exemplo, o Brasil. Como é possível que o relatório utilize dados de que apenas 26.000 crianças estão na pré-escola se o Brasil tem hoje mais de 4.600.000 crianças estudando na pré-escola? Como é possível que o relatório aponte explícitamente a utilização do FUNDEF em Pindorama, sendo que o FUNDEF sequer existe mais?! O FUNDEF foi extinto em 2007 e substituído pelo FUNDEB!
O FUNDEF era um fundo restrito ao ensino fundamental, onde o governo federal fazia repasses da ordem de 300 milhões de reais aos estados e municípios. O FUNDEF foi extinto em 2007 e substituído pelo FUNDEB, que é um fundo que atende a pré-escola, o ensino fundamental, médio e a educação de jovens e adultos (EJA). Os valores repassados pelo governo federal através do FUNDEB saltaram de 300 milhões (FUNDEF) de reais para 4,6 BILHÕES de reais! Os recursos aumentaram em mais de 15 vezes para a educação! O relatório simplesmente desconsidera a existência do FUNDEB e ainda está no longínquo tempo do já extinto FUNDEF. Isso é uma fraude estatística, não há outro nome para esse embuste do relatório do IDH.
Como é possível que o relatório utilize dados estatísticos do distante ano de 2005, sendo que estamos óbviamente em 2013? Enfim, o governo brasileiro tem que tomar providências sérias com relação ao pessoal que elabora esse relatório. Não é possível que as pessoas, em especial os cidadãos brasileiros, continuem sendo enganados por um pseudo relatório que utiliza antigas bases de dados, sem nenhuma serventia, como por exemplo, o FUNDEF. Se os organizadores utilizarem uma base de dados atual, veremos que o Brasil estará colado na Argentina e no Chile, aliás, permitam-me corrigir, penso eu que o Brasil já ultrapassou a Argentina e o Chile nesse quesito do IDH, mas isso carece de melhor verificação...
É preciso analisar críticamente esse relatório não porque ele agrade uns e desagrade outros em função de posicionamentos ideológicos. É preciso criticá-lo porque entra ano e sai ano e a base de dados continua a mesma! É praxe dos relatórios de IDH a utilização de dados existentes dois anos antes do ano a que se refere o relatório. Por exemplo, agora em 2013 foi divulgado o relatório do IDH 2012, os dados (deveria ser assim) que normalmente se utilizam são os do ano de 2010, para todos os países. O relatório do IDH 2011 utiliza dados de 2009. O IDH 2010 utiliza os dados de 2008, e assim sucessivamente. Ocorre, no caso brasileiro, que desde 2007 os "gênios" que elaboram esse relatório utilizam dados do ano de 2005, que nunca mais foram atualizados! Como conviver com tamanho acinte, que torna o relatório para o Brasil uma estatística sem utilidade alguma?
Não é preciso ser nenhum expert em ciências estatísticas para saber que os recursos do FUNDEB são 15 vezes maiores do que os recursos do antigo FUNDEF. Tampouco é preciso ser um notável em matemática para saber que os índices de emprego, PIB, PIB per capita, inflação, mortalidade infantil, mortalidade materna, longevidade, entre outros tantos, da primeira década do século XXI, são IMENSAMENTE superiores aos mesmos índices obtidos nesses quesitos na década de 90. Os números estão aí, para quem quiser ver e conferir. Aí vem um relatório totalmente defasado e diz que o IDH brasileiro cresceu mais na década de 90 do que na primeira década do século XXI! Como é possível tamanha farsa estatística? Justamente porque o IDH 2012 utiliza dados de 2005 e não de 2010! É um absurdo sem nome o que estão a fazer com o Brasil.
Por fim, quero dizer que me sinto envergonhado, não pelos números obtidos pelo Brasil, mas me sinto envegonhado por ser obrigado a conviver com uma estatística falaciosa e constatar a impotência do governo brasileiro em sentar com os responsáveis pelo relatório e mostrar-lhes, educadamente, que o Brasil tem quase 200 vezes mais crianças matriculadas na fase da pré-escola, que o Brasil aplica 15 vezes mais recursos em educação básica do que o relatório aponta, que no Brasil não existe mais o FUNDEF (que o relatório cita inúmeras vezes) e que ele foi substituído pelo FUNDEB desde o ano de 2007, etc.
Enfim, mostrar para os organizadores que os dados que eles utilizam estão defasados há CINCO anos! Não dá para aguentar a paralisia do governo federal, mais precisamente do Ministério da Educação, em tomar providências contra uma situação que vem se repetindo desde 2007. O Brasil foi um dos três países do mundo que mais cresceram no índice PISA (de avaliação da educação) nos últimos dez anos! Como é que pode uma situação dessas não aparecer no relatório do IDH 2012?
Ministro Aloísio Mercadante, faça um bem ao povo brasileiro, mostre os dados corretos do país. O que estão fazendo com o Brasil com esse tal de IDH é indigno e ultrajante. E o pior é que esse ultraje vem desde 2008. Isso tem que ser corrigido!
Conheçam o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013. Leiam, comparem, tirem suas próprias conclusões!
http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh-2013.pdf
Diogo Costa comete também uma falha na análise. Cabe ressaltar que a nossa aproximação do Uruguai e Argentina ocorre principalmente pela queda na qualidade de vida nesses dois países, principalmente após os anos 80. Então essa aproximação não pode ser encarada com vitória nossa, é fácil se aproximar e ultrapassar quem está desacelerando no quesito. Mas, os dados precisam ser revistos. É para isso que se utiliza de mecanismos com o Censo do IBGE 2010.