Resistir Info - 17/07/09
entrevistado por Alan Miller
Como operador de vídeo do governo dos Estados Unidos, Kurt Sonnenfeld foi despachado para o Ground Zero no dia 11 de Setembro de 2001, onde registou 29 filmes ao longo de um mês: "O que vi em certos momento e em certos lugares... é muito perturbador!". Ele nunca os transmitiu às autoridades e desde então foi perseguido. Kurt Sonnenfeld exilou-se na Argentina, onde acaba de publicar El Perseguido. A obra relata o seu interminável pesadelo e dá um novo golpe no Relatório da Comissão presidencial sobre os acontecimentos do 11/Set. Uma entrevista exclusiva realizada pelo Réseau Voltaire.
9 Julho 2009
Kurt Sonnenfeld, diplomado pela Universidade do Colorado (EUA), estudou relações internacionais e economia, bem como literatura e filosofia. Trabalhou para o governo dos Estados Unidos como operador de vídeo oficial e como director das operações de divulgação da equipe de intervenção de emergência para a Agência Federal das Situações de Emergência (Federal Emergency Management Agency, FEMA). Sonnenfeld trabalhou igualmente sob contrato para diversas agências governamentais e programas para operações confidenciais e "sensíveis" nas instalações científicas e militares sitas no território dos EUA.
No dia 11 de Setembro de 2001 a zona denominada "Ground Zero" foi encerrada ao público. Entretanto, Sonnenfeld tinha acesso livre à mesma, o que lhe permitiu documentar o inquérito (que nunca houve) e fornecer cenas "expurgadas" a praticamente todas as cadeias de informação do mundo. Os registos revelando certas anomalias que ele descobriu no Ground Zero continuam na sua posse.
Acusado – conforme o cenário manifesto de um golpe montado, sobretudo à luz dos acontecimentos que se seguiram – de um crime que não houve, Kurt Sonnenfeld foi perseguido em dois continentes. Após dois anos de medo, de injustiça e de isolamento, decidiu tomar posição publicamente contra a versão oficial do governo. Ele está pronto a submeter os documentos na sua posse ao exame minucioso de peritos fiáveis.
Entrevista
Réseau Voltaire: Vosso livro autobiográfico intitulado El Perseguido foi publicado recentemente na Argentina, onde vive exilado desde 2003. Diga-nos: quem vos perseguiu?
Kurt Sonnenfeld: Apesar de ser uma autobiografia, não se trata da história da minha vida. Tendo-me tornado uma testemunha embaraçosa após o meu serviço no Ground Zero, é antes a narrativa dos acontecimentos extraordinários que nos afectaram, à minha família e a mim próprio, durante mais de sete anos e nos dois continentes, devido às autoridades dos EUA.
Réseau Voltaire: Explicou que o vosso pedido do estatuto de refugiado político, conforme a Convenção de Genebra de 1951, ainda está em estudo no Senado argentino, ainda que em 2005 vos tenha garantido o asilo político em bases provisórias. Isto o torna provavelmente o primeiro cidadão estado-unidense nesta situação! Sem dúvida o primeiro responsável do governo exposto directamente aos acontecimentos em torno do 11 de Setembro de 2001 que se tornou um "denunciante" ("whistle-blower"), uma fonte pública. Foi isso que vos levou ao exílio?
Kurt Sonnenfeld: Um refugiado é uma pessoa que foi forçada a deixar o seu país (ou não pode regressar a ele) devido a perseguição. É inegável que numerosas pessoas foram injustamente perseguidas por causa das leis quase-fascistas e das políticas saídas do choque do 11 de Setembro de 2001 e elas têm direito ao estatuto de refugiado. Mas o facto é que pedir o estatuto de refugiado é acto arriscado e perigoso. Os Estados Unidos são a única "super potência" que resta no mundo e a dissidência ali é reprimida de facto. Qualquer um que peça o estatuto de refugiado com bases políticas comete assim um acto de dissidência extrema. Se o vosso pedido for rejeitado, o que é que se faz? Uma vez apresentado o pedido, é impossível voltar atrás.
Pessoalmente, eu não era obrigado a deixar os Estados Unidos, certamente não fugi. Na época, muito simplesmente não estava consciente do que se tramava contra mim. Eu ainda não havia estabelecido as ligações. Assim, quando parti em 2003, tinha a intenção de retornar. Vim à Argentina para um curto descanso, para tentar recuperar-me depois tudo aquilo que me aconteceu. Vim aqui livremente com o meu próprio passaporte, utilizando os meus próprios cartões de crédito. Mas por uma sequência incrível de acontecimentos, desde então foi forçado ao exílio e não retornei.
Réseau Voltaire: A que espécie de acontecimentos se refere?
Kurt Sonnenfeld: Fui objecto de denúncias mentirosas a propósito de "crimes" que, como as evidências indicam, não se verificaram, de um aprisionamento abusivo e de torturas na sequência destas acusações, além de calúnias escandalosas para a minha reputação, ameaças de morte, tentativas de sequestro e várias outras violações dos direitos civis e humanos tais como as denunciadas por numerosos acordos internacionais. O meu retorno aos Estados Unidos não seria apenas um prolongamento destas violações, resultaria numa separação – talvez permanente – da minha mulher e dos nosso gémeos de três anos, a única razão de ser que me resta. E depois, com a impossibilidade de obter um processo justo para uma crise que nunca se verificou, arriscar-me-ia mesmo à pena de morte.
Réseau Voltaire: Em 2005, o governo estado-unidense requereu a vossa extradição, o que foi recusado por um juiz federal. Depois, em 2007, o Tribunal Supremo argentino – numa demonstração de integridade e independência – recusou o apelo estado-unidense, mas o vosso governo persistiu. Pode-nos esclarecer sobre a situação?
Kurt Sonnenfeld: Em 2008, absolutamente sem qualquer base legal, o governo estado-unidense fez novo apelo junto ao Tribunal Supremo argentino, que certamente manterá as duas decisões inatacáveis já tomadas pelo juiz federal.
Uma destas decisões relativa que havia demasiadas sombras, ou zonas de sombras, no meu caso. Havia numerosas mentiras no pedido de extradição enviado para aqui pelas autoridades dos EUA e felizmente nós pudemos prová-lo. O facto de que tenha havido tantas mentiras serviu para sustentar o meu requerimento de pedido de asilo. Pudemos mostrar que fomos vítimas de uma longa campanha de perseguição e intimidação por parte dos serviços de informação estado-unidenses. Em consequência, minha família está desde então sob protecção policial permanente. Como observou um senador a propósito do meu caso: "o seu comportamento trai as suas motivações reais".
Réseau Voltaire: Eles querem vos prender por um crime imaginário. Como é que justifica um tal encarniçamento? No tempo em que era funcionário do FEMA, o governo deveria ter acreditado em vós. Em que momento a situação foi revertida?
Kurt Sonnenfeld: Retrospectivamente, percebo que a situação reverteu-se pouco antes de eu tomar consciência disso. Inicialmente, a falsa acusação levantada contra mim era totalmente irracional, ela demoliu-me completamente. É incrivelmente difícil sofrer com a perda de alguém que se ama e que se suicida. Mas ser acusado, é insuportável. O assunto saldou-se por um cancelamento de julgamento pois uma montanha de provas absolvia-me totalmente (Nancy, minha mulher, deixou uma carta e escritos suicidários no seu diário; houve casos de suicídio na sua família; etc). A acusação estava certa a 100% da minha inocência antes de pedir o cancelamento.
Mas a detenção foi prolongada, mesmo DEPOIS de ter sido dito que eu devia ser libertado, o que me provou alguma coisa era tramada nos bastidores. Fui encarcerado QUATRO MESES depois de os meus advogados terem sido informados de que um cancelamento fora requerido; fui finalmente libertado em Junho de 2002. Enquanto estava detido, tive uma conversação telefónica com funcionários do FEMA a fim de resolver o problema, mas percebi que era considerado como "comprometido", representando um perigo. Foi-me dito que fora acordado que "a Agência devia ser protegida", sobretudo à luz perturbação que se ameaçava com a entrada em vigor do Patriot Act e da intrusão esperada que viria com o novo Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security). Após todos os riscos em que havia incorrido, todas as provas e dificuldades que havia suportado durante quase 10 anos, senti-me traído. A decepção foi terrível.
Como me abandonavam, disse-lhes que não tinha os registos, que os havia dado a um burocrata de Nova York e que deveriam esperar que fosse libertado para recuperar qualquer outro documento na minha posse. Pouco depois desta conversação, a minha casa foi "revistada", as fechaduras foram mudadas e vizinhos viram homens entrarem na minha casa, apesar de não haver no Tribunal menções às suas entradas, como deveria. Quando por fim fui libertado, descobri que o meu escritório fora saqueado, o meu computador não estava mais lá e vários vídeos haviam desaparecido da minha videoteca no sub-solo. Havia homens constantemente parados na rua próximo à minha casa, o meu sistema de vigilância foi pirateado mais de uma vez, as lampas de segurança externas foram desenroscas, etc, a ponto de me ter instalado em casa de amigos, na sua propriedade na montanha, que em seguida TAMBÉM foi arrombada.
Qualquer um que procure a verdade reconhece que houve séries de irregularidades extraordinárias neste caso e que uma escandalosa injustiça foi cometida contra mim e aqueles que amo. Esta campanha intensa para me fazer retornar ao solo americano é um falso pretexto com as motivações mais obscuras.
Réseau Voltaire: Sugeriu ter observado coisas no Ground Zero que não concordam com o relatório oficial. Disse ou fez alguma coisa para despertar a dúvida a este respeito?
Kurt Sonnenfeld: Naquele mesmo telefonema eu disse que revelaria ao público não só as minhas suspeitas sobre os acontecimentos em torno do 11 de Setembro como também sobre diversos contratos para os quais trabalhei no passado.
Réseau Voltaire: Em que se baseiam as vossas suspeitas?
Kurt Sonnenfeld: Retrospectivamente, havia muitas coisas perturbadoras no Ground Zero. Pareceu-me bizarro ser enviado a Nova York antes mesmo de o segundo avião se ter chocado com a torre Sul, quando os media ainda relatavam apenas que um "pequeno avião" colidira com a torre Norte – uma catástrofe demasiado pequena para fazer intervir a FEMA. A FEMA foi mobilizada em alguns minutos, quando foram precisos dez dias para se deslocar à Nova Orleães em resposta ao furacão Katrina, apesar de numerosas advertências prévias! Achei bizarro que as câmaras fossem tão ferozmente proibida no perímetro de segurança do Ground Zero, que toda a zona fosse declarada cena do crime, enquanto as peças de convicção eram levadas dali e destruídas tão rapidamente. Depois achei muito estranho saber que a FEMA e várias outras agências federais já estavam posicionadas no seu centro de comando, no Pier (cais) 92, a 10 de Setembro, um dia antes dos atentados.
Pedem-nos para acreditar que as quatro caixas negras "indestrutíveis" dos dois aviões que se chocaram com as torres nunca foram reencontradas pois foram completamente pulverizadas. Entretanto, tenho um filme mostrando rodas do trem de aterragem pouco danificadas e também poltronas, pedaço de fuselagem, uma turbina de avião, que não estavam absolutamente desintegrados. Dito isto, considero bastante estranho que tais objectos quase intactos tenham podido resistir a este tipo de destruição que transformou a maior parte das Torres Gémeas em pó. E tenho seguramente algumas dúvidas quanto à autenticidade da turbina "do avião".
O que aconteceu ao Edifício 7 é extremamente suspeito. Tenho um vídeo que mostra a que ponto a pilha de fragmentos era curiosamente pequena e como os edifícios de cada lado não foram afectados pelo Edifício 7 quando este ruiu. Ele não foi atingido por um avião; não sofreu senão danos menores quando as Torres Gémeas afundaram, não havia senão incêndios menores em alguns andares. É impossível que este edifício tenha podido implodir como aconteceu sem uma demolição controlada. Contudo, o colapso do Edifício 7 foi apenas evocado pelo media dominantes e ignorado de maneira suspeita pela Comissão sobre o 11/Set.
Réseau Voltaire: Segundo algumas informações, os subsolos do WTC7 continham arquivos sensíveis e sem dúvida comprometedores. Encontrou alguma coisa assim?
Kurt Sonnenfeld: O Serviço Secreto, o Departamento da Defesa, o FBI, o fisco (IRS), a Comissão de Regulamentação e Controle dos Mercados Financeiros (SEC) assim como a Célula de crise [da cidade de Nova York, NR] para as situações de emergência (OEM) ocupavam muito espaço em vários andares do edifício. Outras agências federais também tinham escritórios ali. Após o 11 de Setembro descobriu-se que, escondido no edifício 7, se encontrava o maior centro clandestino da CIA no país, exceptuado o de Washington DC; uma base operacional a partir de onde espionavam os diplomatas das Nações Unidas e onde eram conduzidas as operações de contra-terrorismo e contra-espionagem (assim como a inteligência económica, NR).
Não havia parqueamento subterrâneo no edifício 7 do World Trade Center. Não havia caves. Em substituição, as agências federais do Edifício 7 arrumavam seus veículos, documentos e peças de convicção no edifício dos seus parceiros do outro lado da rua. Sob o nível da praça do Gabinete das Alfândegas (Edifício 6) havia um grande parqueamento subterrâneo separado do resto da zona subterrânea do complexo e altamente vigiado. Era lá que os diversos serviços do governo guardavam os seus carros resistentes a bombas, as suas limusines blindadas, os falsos táxis e os camiões da companhia telefónica utilizados para vigilâncias secretas e operações secretas, furgonetas especializadas e outros veículos. Nesta zona de parqueamento com segurança reforçada havia também um acesso à câmara forte inferior do Edifício 6.
Quando a torre Norte caiu, o Gabinete das Alfândegas dos EUA (Edifício 6) foi esmagado e completamente devastado pelo fogo. A maior parte dos seus andares subterrâneos foi igualmente destruída. Mas havia cavidades. E foi por uma destas cavidades, descoberta recentemente, que eu desci para investigar com a Força de intervenção especial. Foi lá que se descobriu a ante-câmara de segurança da cave severamente danificada. No extremo do gabinete de segurança encontrava-se a grande porta de aço da caixa forte tendo, ao lado, o teclado com código na muralha em betão. Mas a muralha estava fissurada e parcialmente ruída e a porta estava aberta parcialmente. Com a ajuda dos nossos holofotes, olhou-se o que havia lá dentro. Se não fossem as várias fileiras de prateleiras vazias, a caixa forte não continha senão resíduos e poeira. Ela fora esvaziada. Por que? E quando pôde ser esvaziada?
Réseau Voltaire: E isto fez soar um sinal de alarme para si?
Kurt Sonnenfeld: Sim, mas não imediatamente. Num tal caos era difícil reflectir. Só depois de ter digerido tudo é que se desencadeou o alarme.
O Edifício 6 foi evacuado 12 minutos depois de o primeiro avião ter chocado com a torre Norte. As ruas ficaram imediatamente congestionadas pelos veículos de bombeiros, viaturas de polícia e engarrafamentos. A caixa forte era bastante grande, 15 metros por 15 penso eu, para necessitar pelo menos um grande camião para evacuar o seu conteúdo. Depois de as torres terem caído e de terem destruído o nível do parqueamento, uma missão para recuperar o conteúdo da ante-câmara teria sido impossível. A caixa forte foi portanto esvaziada antes do ataque.
Descrevi tudo isso amplamente no meu livro. Aparentemente as coisas importantes foram postas em lugar seguro antes dos atentados. Por exemplo: a CIA não pareceu demasiado inquieta com as suas perdas. Depois de a existência do seu gabinete secreto no Edifício 7 ter sido descoberta, um porta-voz da agência disse aos jornais que uma equipe especial fora despachada para procurar entre os resíduos em busca de documentos secreto e de relatórios dos serviços de informação, apesar de haver milhões, se não milhares de milhões de folhas a flutuarem nas ruas. Contudo, o porta-voz estava confiante. "Não é provável que haja demasiados papéis dispersos", declarou.
E as alfândegas primeiro afirmaram que fora destruído tudo. Que o calor fora tão intenso que todas as peças de convicção da caixa forte haviam sido reduzidas a cinzas. Mas alguns meses mais tarde eles anunciaram ter acabado com as actividades de uma importante rede colombiana de tráfico de narcóticos e de branqueamento de dinheiro depois de terem recuperado provas cruciais da caixa forte, incluindo fotos de vigilâncias e registos de escutas telefónicas muito sensíveis. E quando fizeram a mudança para o seu novo edifício na Penn Plaza 1, em Manhattan, orgulhosamente afixaram sobre a parede do hall a sua placa honorífica e a grande tabuleta redonda dos Gabinetes da Alfândega dos EUA, também ela miraculosamente reencontrada, imaculada, nos seus antigos escritórios do World Trade Center, esmagados e incendiados.
Réseau Voltaire: Não estava só na missão ao Ground Zero. Será que os outros notaram as mesmas anomalias? Sabe se eles foram igualmente perseguidos?
Kurt Sonnenfeld: De facto, ouvi falar de algumas pessoas em duas ocasiões diferentes. Alguns dentre nós discutiram mesmo posteriormente. Eles sabem do que se trata e espero que venham a manifestar-se, mas estou certo de que têm fortes apreensões sobre o que lhes acontecerá se o fizerem. Deixo-os decidirem, mas a união faz a força.
Réseau Voltaire: Com o lançamento do vosso livro, tornou-se um "lançador de alerta" – mas a um ponto de não retorno! Deve haver muitas pessoas que sabem o que realmente se passou ou não neste dia fatídico. Contudo, ninguém se apresentou, sobretudo não aqueles que estavam directamente implicados de maneira oficial. É isso que torna o vosso caso tão convincente. A julgar pelas vossas provas, não é difícil imaginar o que tais pessoas retêm.
Kurt Sonnenfeld: De facto, também há pessoas muito correctas e críveis que lançaram alertas. Elas são desacreditadas, ignoradas. Alguns são perseguidos e acossados como eu.
As pessoas são contidas pelo medo. Todo o mundo sabe que se questionar as autoridades dos EUA terá problemas de um modo ou de outro. No mínimo, seremos desacreditados, desumanizados. O mais verosímil é ser acusado de alguma coisa sem relação alguma, como uma fraude fiscal – ou mesmo alguma coisa pior, como no meu caso. Veja o que aconteceu a Abraham Bolden por exemplo [1] , ou ao mestre de xadrez Bobby Fischer depois de ele ter mostrado o seu desprezo pelos Estados Unidos. Há uma grande quantidade de exemplos. No passado, pedi aos meus amigos e associados para falarem por mim, para recontar todas as mentiras difundidas nos media, mas todos eles tiveram medo das consequências contra si próprios e as suas famílias.
Réseau Voltaire: Em que grau as vossas descobertas no Ground Zero implicariam o governo nestes acontecimentos? Está ao par dos inquéritos efectuados por vários cientistas e profissionais qualificados que não só corroboram as vossas descobertas como em certos casos ultrapassam-nas de longe? Considera estas pessoas como "adeptas da teoria da conspiração" ("conspiracy nuts").
Kurt Sonnenfeld: Ao mais alto nível em Washington DC alguém sabia o que ia acontecer. Eles queriam de tal forma uma guerra que, no mínimo, deixaram acontecer e mais provavelmente ajudaram mesmo estes acontecimentos a verificarem-se.
Por vezes, parece-me que os "loucos" [os "adeptos da teoria da conspiração, NR] são aqueles que se aferram com um fervor quase religioso àquilo que lhes é dito, apesar de todas as provas em contrário – aqueles que não querem considerar o facto de que houve uma conspiração interna. Há tantas anomalias no inquérito "oficial" que não se pode atribuí-las a erros ou à incompetência. Eu conhecia os cientistas e profissionais qualificados a que fez referência, as suas descobertas são convincentes, críveis e apresentadas conforme o protocolo científico, em total oposição à descobertas do inquérito "oficial". Além disso, numerosos agentes dos serviços secretos e funcionários do governo avançam as suas opiniões muito informadas (dizendo) que a Comissão sobre o 11/Set era na melhor das hipóteses uma farsa e na pior uma cobertura [2] . A minha experiência no Ground Zero não é senão uma peça a mais a acrescentar ao puzzle.
Réseau Voltaire: Estes acontecimentos remontam a quase oito anos. Pensa que descobrir a verdade em torno do 11/Set continua a ser um objectivo importante? Por que?
Kurt Sonnenfeld: É da mais alta importância. Será assim também daqui a 10 ou mesmo 50 anos se a verdade não explodir até lá. É um objectivo importante pois, neste ponto da história, muitas pessoas são demasiado crédulas em relação ao que as autoridades lhes contam e muito inclinadas a segui-las. Em situação de choque, as pessoas procuram ser guiadas. As pessoas que têm medo são manipuláveis. Saber manipular as massas resulta em benefícios inimagináveis para numerosas pessoas muito ricas e muito poderosas. A guerra é incrivelmente cara, mas o dinheiro acaba em algum lugar. A guerra é sempre muito lucrativa para um pequeno número. De uma maneira ou de outra, os seus filhos acabam sempre em Washington, DC, eles tomam as decisões, preparam os orçamentos, ao passo que os filhos dos pobres e daqueles que não são bafejados acabam sempre na frente, recebendo as ordens e travando as guerras dos primeiros. As enormes caixas negras do Departamento da Defesa dos EUA representam uma máquina de financiamento ilimitado para o complexo militar-industrial, avaliado em vários milhares de milhões de dólares, e assim será enquanto as massas não acordarem, enquanto não se tornarem cépticas e enquanto não exigirem contas. As guerras (e os falsos pretextos que as empurram) não cessarão enquanto as pessoas não tomarem consciência dos motivos reais da guerra e não cessarem de acreditar nas explicações "oficiais".
Réseau Voltaire: O Movimento para a verdade sobre o 11 de Setembro (9/11 Truth Movement) pediu um novo inquérito independente acerca destes acontecimentos. Acredita que haja uma esperança com a administração Obama?
Kurt Sonnenfeld: Desejo isso realmente, mas permaneço céptico. Por que razões a liderança de um qualquer governo estabelecido agiria voluntariamente no que redundaria num sério comprometimento da sua autoridade? Eles preferem manter o statu quo e deixar as coisas como estão. O condutor do comboio mudou, mas o comboio mudou de direcção? Duvido. O impulso deve vir do público, não só ao nível nacional como também internacional, como faz a vossa rede.
Réseau Voltaire: Numerosas associações de defesa dos direitos humanos, grupos de activistas e personalidades vos apoiam na adversidade, e não das menores, como o Prémio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquível por exemplo. Como os argentinos em geral respondem à vossa situação?
Kurt Sonnenfeld: Por uma incrível reunião de apoios. Aqui a ditadura militar ainda está fresca na memória colectiva da maior parte das pessoas. Elas sabem que a ditadura (assim como as outras ditadura na América do Sul) foi apoiada pela CIA, na época dirigida por George Bush pai. Eles lembram-se muito bem dos centros de tortura, das prisões secretas, dos milhares de pessoas "desaparecidas" por causa das suas opiniões, do medo quotidiano. Sabem que os Estados Unidos recomeçarão hoje se o julgarem oportuno, que invadirão um país para atingir os seus interesses políticos e económicos, depois para manipular os media com a ajuda de "casus belli" inteiramente fabricados a fim de justificar as suas conquistas.
Minha família e eu estamos muito honrados por contar dentre os nosso mais queridos amigos com Adolfo Pérez Esquivel [3] e os seus conselheiros do Servicio de Paz y Justicia (SERPAJ). Trabalhámos juntos em numerosas causas, como os direitos dos refugiados, os direitos das mulheres, das crianças sem família e das crianças portadoras de HIV/SIDA. Somos igualmente honrados por ter o apoio de: Abuelas de Plaza de Mayo; Madres de Plaza de Mayo, Línea Fundadora [4] ; Centro de Estudios Legales y Sociales (CELS); Asamblea Permanente de Derechos Humanos (APDH) [5] ; Familiares de Detenidos y Desaparecidos por Razones Políticas; Asociación de Mujeres, Migrantes y Refugiados Argentina (AMUMRA); Comisión de Derechos Humanos de la Honorable Cámara de Diputados de la Provincia de Buenos Aires; Secretaría de Derechos Humanos de la Nación; e do Programa Nacional Anti-Impunidad. Ao nível internacional, um "amicus curiae" foi apresentado em nosso favor pela ONG Reprieve, da Grã-Bretanha, e beneficiámos da colaboração de NIZKOR da Espanha e da Bélgica. Além disso, minha mulher, Paula, e eu fomos recebidos no Congresso pela La Comisión de Derechos Humanos y Garantías de la Honorable Cámara de Diputados de La Nación.
Réseau Voltaire: Como dizíamos, decidir escrever este livro e torná-lo público foi um passo gigantesco. O que é que vos levou a fazê-lo?
Kurt Sonnenfeld: Salvar a minha família. E fazer saber ao mundo que as coisas não são o que parecem ser.
Réseau Voltaire: Última pergunta, mas não a menor importante: o que é que vai fazer dos vossos registos?
Kurt Sonnenfeld: Estou certo de que os meus registos revelam mais coisas do que sou capaz de analisar dadas as minhas limitadas competências. Por isso cooperarei tanto quanto possa com peritos fiáveis e sérios num esforço comum para fazer surgir a verdade.
Notas
[1] Nomeado pelo presidente Kennedy, Abraham Bolden foi o primeiro agente negro do Serviço Secreto encarregado da protecção das altas personalidades, inclusive o presidente. Após o assassinato de JFK, ele assegura que o Serviço Secreto fora prevenido previamente do atentado, mas falhara na sua missão. Ele foi afastado bruscamente da cena pública, acusado de corrupção e encarcerado. Em 2008 ele publicou o seu testemunho em The Echo from Dealey Plaza: The True Story of the First African American on the White House Secret Service Detail and His Quest for Justice After the Assasination of JFK. NR.
[2] "41 anciens responsables �tats-uniens de l�anti-terrorisme et du renseignement mettent en cause la version officielle du 11-Septembre" , por Alan Miller, Réseau Voltaire, 09/Junho/2009.
[3] Ver artigos em castelhano de Adolfo Perez Esquivel no sítio web da Red Voltaire.
[4] "Marcha da resistência das mães da praça de Maio", por Ines Vázquez, Réseau Voltaire, 24/Janeiro/2006.
[5] Ver as intervenções de Alexis Ponce na conferência Axis for Peace. Por exemplo: "Le Mossad a formé la police équatorienne aux techniques de torture" , Réseau Voltaire, 18/Novembro/2005. E o seus artigos em castelhano no sítio da Red Voltaire .
O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article160943.html