"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 23, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/07

Da 'desgauchização' à 'desparanização' das economias locais. Artigo de Cesar Sanson
Comentando as notícias diárias sobre a venda de empreas gaúchas e paranaenses, Cesar Sanson, pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT e doutorando em Ciências Sociais na UFPR, escreveu e enviou o seguinte artigo.
"Não são apenas os gaúchos que vêem as suas tradicionais empresas de capital local serem engolidas pelas grandes players da economia global como foi noticiado pelas Notícias do Dia do IHU. No Paraná ocorre processo semelhante. E mais um capítulo dessa história concretizou-se com a compra da centenária Matte Leão pela Coca-Cola.
A Matte Leão soma-se ao que aconteceu com outras empresas paranaenses. No setor eletroeletrônico, a Refripar que fabricava os refrigeradores Prosdócimo foi tragada pela gigante transnacional Eletrolux; na área do comércio atacadista, as redes locais de supermercados Demeterco e Coletão, de tradicionais famílias paranaenses, sucumbiram ao grupo português Sonae - bandeira Big - que por sua vez já foi arrematada pelo grupo americano Wal Mart. No setor financeiro, o Bamerindus foi comprado pelo grupo inglês HSBC e por aí segue.
A fundação da Matte Leão data de 1901 e foi uma das forças da economia local no início do século passado no contexto do 'ciclo da erva-mate'. A pujança da erva-mate no Estado foi tão significativa que possibilitou a organização de uma burguesia local - os 'barões do mate' que rivalizaram em riqueza e ostentação com os 'barões do café' de São Paulo. Até hoje a bandeira do Paraná ostenta um ramalhete de folhas de erva mate. A sua vitalidade econômica empurrou o Estado na sua luta de emancipação da Província paulista.
A empresa nos anos 30 exportava erva para Montevidéu e Buenos Aires e nos anos 80 tornou-se líder da indústria de erva mate e chás no Brasil. Segundo o economista Nelson Luiz Paula de Oliveira, do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (Ibef-PR), "a Matte Leão é uma das últimas jóias da coroa paranaense em boa situação. Sobraram poucas empresas genuinamente paranaenses com uma marca de destaque".
O desaparecimento de marcas locais tradicionais no Paraná, no Rio Grande do Sul e em outros estados do país não é novidade. Para quem não consegue ser player no mercado mundial resta a opção da fusão ou da venda. Uma terceira alternativa acaba sendo o simples sumiço. As empresas locais não conseguem rivalizar com as grandes corporações transnacionais - portadoras de mais tecnologia e competitividade. Entretanto, uma outra razão para a fragilização das economias locais deve-se a opção de inserção subordinada que o Brasil realizou junto à nova ordem econômica internacional a partir dos anos 90.
As conseqüências desse processo são descritas por Milton Santos em seu livro O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI escrito em co-autoria com a argentina María Laura Silveira. Milton Santos, estudioso da configuração das novas territorialidades desenhadas pelo "novo" capitalismo mundial, adverte: "A presença numa localidade de uma grande empresa global incide sobre a equação do emprego, a estrutura do consumo consumptivo e do consumo produtivo, o uso das infra-estruturas materiais e sociais, a composição dos orçamentos públicos, a estrutura do gasto público e o comportamento das outras empresas, sem falar na própria imagem do lugar e no impacto sobre os comportamentos individuais e coletivos, isto é, sobre a ética".

Um comentário:

Silvia Brites disse...

eae sor!!!!
tudo bem??
bju!