"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, novembro 08, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 03/11/07

Empresas brasileiras se transformam em corporações globais


O que as brasileiras Gerdau, Votorantim, Sabó, Vale do Rio Doce, Sadia, Marcopolo e Odebrecht têm em comum? Estão entre o crescente grupo das multinacionais brasileiras - empresas nacionais que ampliam a sua expansão para fora do território brasileiro. A reportagem é de Cristiane Mano para a revista Exame, nas bancas. A seguir um trecho da reportagem.

Fronteira é um conceito que não existe mais para um pequeno grupo de empresas brasileiras. A siderúrgica Gerdau gera mais da metade de suas receitas em operações nos Estados Unidos. A fabricante de alimentos Sadia prepara-se para lançar um inédito programa de trainees internacional e recrutar jovens recém-formados na Rússia, na Europa e no Oriente Médio. O grupo Votorantim acaba de criar uma espécie de manual de gestão, editado em três línguas - português, inglês e espanhol -, para padronizar seus processos em todos os cinco países em que atua.

A fabricante de autopeças paulista Sabó decidiu realizar a reunião de seu conselho de administração, marcada para novembro, nos Estados Unidos. A transformação dessas empresas brasileiras em corporações globais está mudando o mapa de investimentos do mundo. No final de outubro, um relatório publicado pela Unctad, braço da Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento econômico, mostrou que o volume de investimentos diretos do Brasil no exterior alcançou 28 bilhões de dólares em 2006. O país atingiu a 12a posição entre os maiores investidores no mundo, à frente de emergentes como Rússia e China.

Esse desempenho inverteu a lógica que imperou ao longo de toda a história do capitalismo brasileiro. Pela primeira vez, o volume de dinheiro daqui para fora ultrapassou o fluxo na via contrária, que ficou em 19 bilhões de dólares. Neste ano, as multinacionais brasileiras devem novamente superar de longe a média registrada na década de 90, quando os investimentos lá fora mal chegavam a 2 bilhões de dólares por ano.

A demonstração mais evidente de que a corrida está cada vez mais acelerada é a impetuosidade da gaúcha Gerdau. Em setembro, a siderúrgica investiu 4,2 bilhões de dólares - a maior aquisição de sua história - na compra da Chaparral Steel, segunda maior produtora americana de estruturas de aço. Um mês depois, a empresa anunciou a compra de 49% de participação na mexicana Aceros Corsa, por 100 milhões de dólares. "Não vamos parar para mastigar as aquisições, e sim seguir em frente com outros negócios", diz André Gerdau, presidente do grupo Gerdau.

Juntas, as cinco brasileiras mais internacionalizadas - um pelotão de elite composto de Vale do Rio Doce, Gerdau, Sabó, Marcopolo e Odebrecht, segundo a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte - já faturam cerca de 20 bilhões de dólares por ano em suas operações internacionais. Apenas em 2007, essas cinco empresas deverão ter investido cerca de 9 bilhões de dólares no exterior.

A expansão internacional das companhias brasileiras acontece com quase um século de atraso em relação a empresas americanas e européias, que iniciaram o avanço estrangeiro logo após a Primeira Guerra Mundial, e cerca de duas décadas depois de indianos e chineses. O movimento de crescimento global no Brasil cresceu sobretudo nos últimos três anos, impulsionado em grande parte pela valorização do real.

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