"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, abril 25, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/08

O grande negócio do etanol. A Esso vai para um usineiro

A Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do país, controlada pelo usineiro Rubens Ometto, anunciou ontem a compra da Esso Brasileira de Petróleo, subsidiária da americana ExxonMobil no Brasil, que atua em distribuição de combustíveis e lubrificantes. A reportagem é de Ronaldo D’Ercole e Ramona Ordoñez e publicada pelo jornal O Globo, 25-04-2008.

Pela estrutura de abastecimento e distribuição de combustíveis à rede de 1.500 postos com bandeira Esso no país, além da fábrica de lubrificantes e do prédio sede no Rio, na Barra da Tijuca, a Cosan pagará US$ 954 milhões. A compra foi considerada positiva pelo setor de petróleo, principalmente pelas distribuidoras de combustíveis.

Ao entrar um novo grupo, evitou-se a concentração de mercado, que era temida caso a Petrobras vencesse a disputa. Especialistas e executivos do setor dizem que os consumidores serão os grandes beneficiários, pois a competição poderá gerar reduções de preços, principalmente do álcool.

A Cosan terá o direito de usar a marca Esso nos postos espalhados por 20 estados por um prazo longo, mas que não foi revelado. A sede da Esso, que já transferira várias atividades para Curitiba, será mantida no Rio. A Exxon continuará, no Brasil, com as operações de produtos químicos e de exploração e produção de petróleo.

O negócio marca um avanço na estratégia do grupo de se consolidar como um dos maiores produtores globais de açúcar e etanol, implementada com a associação ao grupo inglês Tate Lyle, no fim dos anos 90, e reforçada pelas parcerias com os traders franceses Tereos e Sucden.

— Somos o primeiro grande produtor mundial de etanol integrado verticalmente — disse o vice-presidente financeiro da Cosan, Paulo Diniz.

Preço independente da Petrobras

Dos US$ 954 milhões, a Cosan desembolsará US$ 826 milhões e terá créditos a receber de US$ 35 milhões, mas assumirá uma dívida de US$ 163 milhões. Segundo Diniz, do US$ 1 bilhão que a Cosan tem em caixa, serão usados apenas US$ 310 milhões.

Outras alternativas estão em avaliação para pagar o restante, entre elas a possibilidade de ter como sócio um grande fundo de private equity (de investimento direto em empresas) — que já teria manifestado interesse — e um financiamento bancário, que estaria pré-negociado. Estimase que o negócio seja liquidado em até oito meses.

A Cosan bateu concorrentes de peso como a Petrobras, o grupo Ultra e o fundo GP Investmentos.

— A Cosan fez a melhor proposta comercial para o grupo (ExxonMobil) — disse o presidente da Esso no Brasil, Carlos Pietrowski, para quem o negócio beneficiará o consumidor.

— O consumo do álcool para uso automotivo já superou o da gasolina, e agora entra no mercado de combustíveis uma empresa que será integrada da usina ao posto. A Cosan vai poder fazer sua política de preços sem depender da Petrobras — disse o consultor Jean-Paul Prates, da Expetro.

Segundo o analista Jayme Alves, da Spinelli Corretora, a Cosan vai eliminar uma fase no segmento de álcool, seu produto principal:

— Hoje, ela entrega o álcool às distribuidoras por uma faixa de R$ 0,80 por litro. Em São Paulo, o produto é vendido por R$ 1,20 nos postos. Com a aquisição, ela poderá se apropriar dessa margem.

As duas empresas vão manter operações independentes. A Cosan continuará fornecendo etanol a seus clientes.

A Esso continuará comprando de seus fornecedores e distribuindo à sua rede e clientes no atacado.

— O volume de etanol vendido pela Esso é similar ao volume produzido pela Cosan, e o mercado brasileiro de etanol cresce uma Esso por ano. Nossa idéia é manter a independência de cada negócio para que eles sejam eficientes — disse Diniz, acrescentando que a intenção da Cosan é preservar ao máximo os quadros de pessoal da Esso.

Diniz fez questão de desfazer o mal-estar que rumores sobre a intenção de fechar o capital, originados por algumas condutas da empresa, causaram no mercado ano passado. Sem mencioná-los, disse que o grupo conta com o mercado de capitais para novas parcerias.

O vice-presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, acredita que o crescimento do mercado ilegal, a sonegação de impostos e a adulteração de combustíveis pesaram na decisão da Exxon.

A Exxon está vendendo operações em vários países. Desfez-se de ativos de distribuição em Portugal e na Espanha este mês, e pôs à venda suas operações de distribuição na América latina. O objetivo é focar exploração e produção. Segundo fontes, a Petrobras não deverá mais apresentar proposta pelos ativos da Exxon no Chile e no Uruguai. O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que a estatal vai rever a atuação na distribuição.

Há um ano, o grupo Ipiranga vendeu o segmento à Petrobras e ao Ultra. Comenta-se no mercado que a Chevron assinou termo de exclusividade com o Ultra para discutir a venda de sua rede de postos Texaco no Brasil, negócio de US$ 1 bilhão.

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