"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, abril 20, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 20/04/07

Nietzsche e a crítica da modernidade, o desafio de um sim redentor

Para o filósofo francês Paulo Valadier, sacerdote jesuíta, “não há dúvida nenhuma de que o pensamento de Nietzsche constitui uma referência sumamente importante em nossos dias”. Isso porque “após a perda de credibilidade do marxismo, ele oferece um recurso espantosamente atual para uma crítica impiedosa da modernidade: sobre o individualismo igualitarista nivelador; sobre a multiplicação das insatisfações (ressentimento do homem moderno); sobre uma liberdade sem limites, que, na realidade, é uma concepção servil, e não nobre, por ter perdido o sentido da distância; sobre os Estados, monstros frios e impotentes; sobre a permanência das “vontades de crença” por meio das seitas e dos ersatz de religiões, para não falar dos fundamentalismos que dão a impressão de que se “sabe a que se ater”.

Nietzsche via no esmagamento das diferenças um dos maiores perigos da modernidade. Conforme Valadier, a impossibilidade de reconhecer que se tem inimigos parecia a Nietzsche um sintoma típico da mentalidade de escravo, “incapaz de suportar a alteridade, sempre tentando trazê-la para si”. Sobre a crítica nietzschiana à moral, o pesquisador afirma que ela “vai muito mais no sentido da dureza para consigo mesmo, da disciplina das pulsões, da dominação de si, do que no sentido do abandono às pulsões e à fantasia do arbitrário”. E complementa: “O ‘super-homem’ nietzschiano não é o atleta da perfeita soberania de si, mas aquele que chega a um domínio suficiente para ser criador; assim é o artista na posse de seus meios, ou a criança, referência essencial em Assim falou Zaratustra”.

A respeito da crítica contundente que o filósofo alemão endereçou ao cristianismo, Valadier avalia que, “longe de anunciar a morte da religião, Nietzsche anuncia a possibilidade de dizer um sim redentor, uma vez que a sombra do Deus moral obsessivo se tenha encoberto”. Essas idéias foram desenvolvidas na entrevista concedida por Valadier à edição 127 da IHU On-Line, de 13-12-2004, intitulada Nietzsche, filósofo do martelo e do crepúsculo. O material foi republicado no recém-lançado Cadernos IHU em Formação edição 15, O pensamento de Friedrich Nietzsche, coletânea que reúne entrevistas com diversos estudiosos desse pensador.

Valadier, docente no Centre Sèvres, em Paris, fará duas conferências dentro da programação do Simpósio Internacional O Futuro da Autonomia. Uma sociedade de indivíduos? A primeira conferência intitula-se A moral após o individualismo e está marcada para 23-05-2007. A segunda trata sobre O futuro da autonomia do indivíduo, política e niilismo, em 24-05-2007. Professor de filosofia moral e política nas Faculdades Jesuítas de Paris (Centre Sèvres), Valadier é doutor em Teologia e em Filosofia e antigo redator da revista Études. É autor de, entre outros, Nietzsche et la critique du christianisme. Paris: Cerf. 1974; Essais sur la modernité, Nietzsche et Marx. Paris: Cerf. 1974; Nietzsche, l’athée de rigueur. Paris: DDB, 1989 e Nietzsche l'intempestif, Beauchesne, coll. "Le grenier à sel", Paris, 2000. Entre seus outros livros citamos La condition chrétienne, être du monde sans en être. Paris: Le Seuil, 2003, L’anarchie des valeurs. Paris: Albin Michel, 1997.

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