"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, setembro 24, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 19/09/07

EUA 'premiam' o risco moral dos investidores

O ex-ministro Antonio Delfim Netto disse que a decisão do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros terá efeito benéfico, aumentando a liquidez e tranqüilizando os mercados, mas, por outro lado, consagra o chamado "moral hazard" (risco moral, em inglês), termo usado para designar comportamento arriscado por parte de investidores e países devedores com base num excesso de confiança nos bancos centrais. A reportagem é de Denise Brito e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 19-09-2007.

"[A medida] certamente melhora a situação. Agora, consagra, na verdade, tudo aquilo que eles combatiam, que é o "moral hazard". Vai ficar claro que eles têm uma grande preocupação com os especuladores", disse.

Segundo o economista, o corte nos juros americanos não deve provocar impacto no mercado brasileiro, mas certamente aumentará o fluxo de capitais em conseqüência de a diferença entre as taxas de juros dos dois países ficar agora ainda maior: 11,25% ao ano no Brasil e 4,75% nos Estados Unidos.

"O Brasil é o último peru disponível, fora o do dia de Ação de Graças" disse.

Sobre como os mercados poderiam interpretar o corte maior do juro, que superou as expectativas, o ex-ministro comentou, em referência à dimensão da crise financeira:
"Isso sinaliza para o mercado o seguinte: que eles sabem muito mais do que nós sabemos".

Delfim Netto ministrou palestra no 4º Fórum de Economia, promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas), em São Paulo, e defendeu a tese de que a chave para o crescimento da economia brasileira está no desenvolvimento da indústria de manufaturados sem que haja desequilíbrio nas contas correntes. Delfim destacou a retração da participação brasileira na exportação mundial de manufaturados, atualmente em torno de 2%.

Segundo ele, olhando para crises anteriores na economia, como a de 2002, a impressão que se tem hoje é que o país está "nadando em recursos". "E estamos", disse. "Mas não há nenhuma garantia de que esse modelo, que abandona o desenvolvimento industrial, vá continuar propiciando condições para continuarmos a crescer."

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