"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, outubro 31, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 29/10/07

Brasil será desafio para nova equipe econômica

Cristina Kirchner ainda não revelou como vai compor a sua equipe econômica e deu poucas pistas sobre o que será seu plano de governo nesta área. A imprensa argentina especula que o atual ministro da Economia, Miguel Peirano, é candidato a permanecer no cargo, já que teria sido escolhido por Cristina, em julho, para substituir a ex-ministra Felisa Miceli, demitida por seu envolvimento com o caso de uma misteriosa bolsa cheia de dinheiro encontrada escondida no banheiro de seu gabinete no Ministério. A reportagem é do jornal Valor, 29-10-2007.

No início do ano, Peirano deu uma entrevista ao jornal "Clarín" em que dizia que, se há dois países com os quais a Argentina tem que se preocupar, estes são China e Brasil. Não foi solicitado pelo jornal que explicasse por que e ele não atendeu a pedidos da reportagem do Valor para esclarecer a dúvida.

No caso da China, há um consenso de que é hoje um problema em "escala planetária", como definiu o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.com.

Com relação ao Brasil, embora ambos os governos insistam no discurso do excelente relacionamento bilateral, há pelo menos dois temas que incomodam os argentinos: um é o déficit comercial e o outro é a aquisição pelos brasileiros de importantes empresas locais. A Argentina acumula déficit na balança comercial com o Brasil desde 2004, quando o saldo saiu de US$ 1,8 bilhão negativos para US$ 3,6 bilhões em 2006. Neste ano, o déficit ficou em US$ 2,5 bilhões entre janeiro e agosto.

Uma amostra da atenção que o governo Kirchner dá ao incômodo dos empresários e da opinião pública com o que consideram desvantagens da economia argentina em relação ao Brasil foram duas medidas que atingiram em cheio os brasileiros, tomadas nas últimas três semanas. A primeira obrigou os fundos de pensão privados a trazer de volta US$ 2 bilhões em recursos que estão aplicados em ações na Bovespa. A outra foi o envio ao Congresso de um projeto de lei que altera a distribuição da chamada cota Hilton, dando prioridade à distribuição das cotas aos frigoríficos de capital nacional. Negociada no início dos anos 80, durante a Rodada Uruguai do Gatt, a cota Hilton é uma compensação da UE a alguns países que tinham histórico de venda à região (entre eles Argentina, Brasil e Uruguai), antes de levantar barreiras à importação de carne.

Os exportadores destes países podem vender carne no mercado europeu, livre de barreiras, por um preço de até US$ 14 mil a tonelada, mais que o dobro do que se paga pela carne comum. A cota da Argentina é de 28 mil toneladas, bem acima da brasileira, de 5 mil toneladas. Quando, há dois meses, a brasileira Marfrig comprou a mais importante indústria argentina de carne processada, a Quick Food iniciou-se no país um debate sobre a estrangeirização da Cota Hilton. O projeto do governo afeta os frigoríficos brasileiros que investiram alguns milhões de dólares na compra de frigoríficos argentinos, atraídos exatamente por este benefício. Indústrias americanas do setor também seriam atingidas.

Pode ser que as novas medidas tenham sido tomadas no calor da campanha eleitoral, como forma de ganhar votos para Cristina Kirchner. Mas também pode ser um sinal de que os Kirchner pretendem limitar o avanço empresarial brasileiro no país. Aproveitando a queda do valor dos ativos devido à crise de 2002, indústrias brasileiras começaram a adquirir empresas argentinas. Segundo dados da Agência de Promoção de Investimentos do governo argentino (ProsperAr), os brasileiros já investiram US$ 6,7 bilhões em aquisição de empresas na Argentina no período 2002-2007

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