"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, julho 29, 2008

Mercosul deve perder relevância

Instituto Humanitas Unisinos - 28/07/08

O Mercosul pode perder relevância e o projeto brasileiro de integração da América do Sul sairá arranhado com o racha entre Brasil e Argentina na Rodada Doha, estima Alfredo Valladão, professor da cátedra Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris. O Brasil aceitou um acordo de liberalização industrial na Organização Mundial do Comércio (OMC) que a Argentina recusa. Se Buenos Aires obtiver uma exceção específica para sua indústria, a primeira vítima será a Tarifa Externa Comum (TEC), dizem técnicos do bloco. A reportagem é do jornal Valor, 28-07-2008.

Ao contrário de analistas mais céticos, Valladão acha que o Mercosul vai continuar, até pela capacidade de jeitinho dos sócios, "mas é capaz de perder relevância para definir políticas comuns em termos comerciais, e se limitar a administrar o 'acquis' (acervo)".

A divergência na OMC, contudo, terá impacto político maior sobre a integração regional. A relação do Brasil com a Argentina é politicamente estratégica. É dela que depende toda a integração desejada pelo governo Lula. Sem o eixo Brasília-Buenos Aires, não haverá integração sul-americana, porque foi a condição que existiu para se passar de uma situação de competição para de cooperação entre os dois sócios. "Nada vai funcionar na integração se voltar a competição entre Brasil e Argentina", afirma.

"Politicamente, [o racha cria mal estar não só na Argentina, mas na América do Sul. Com tantas posições divergentes, é difícil ver como pôr tudo isso junto. Bolívia e Venezuela também são sócios do Mercosul, teoricamente. O que sobra dessa integração?", questiona.

Por outro lado, o Brasil está tendo um protagonismo global, o que não é o caso da Argentina, em profunda crise política. E o problema do Brasil é conciliar esse protagonismo global e a necessidade de manter a relação privilegiada com a Argentina. "Por causa de seus interesses globais, o Brasil apóia a conclusão da rodada. O que aconteceu é que os brasileiros tentaram buscar ao máximo [um entendimento com os argentinos na OMC], mas chega a hora que não dá para sacrificar a rodada por causa da oposição argentina", nota o professor. "A questão imediata é quem vai ficar com a Argentina na OMC, e tudo indica que só serão mesmo Venezuela, Bolívia e Cuba."

A tarefa é de tentar convencer a Argentina a aceitar o pacote, o que pode significar Brasília conceder algo para manter as boas relações, diz Valladão. Mas ele estima que o projeto sul-americano vai sair arranhado de toda maneira.

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