"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, outubro 01, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 27/09/07

A revolução dos monges em Mianmar

Os militares que governam Mianmar há 45 anos ameaçam fazer represálias contra os protestos encabeçados pelos religiosos budistas. Manifestação realizada nesta segunda-feira com cerca de 300 mil pessoas já se tornou a maior manifestação popular contra a Junta Militar no poder. A reportagem foi publicada no El País, 25-09-2007. A tradução é do Cepat.

Entrincheirados em sua nova capital, Naypyitaw, os generais que governam o Nianmar (antiga Birmânia) há 45 anos enfrentam um dilema de difícil solução. Podem endurecer a repressão das manifestações encabeçadas pelos monges budistas, que começaram há uma semana e se estendem por todo o país asiático, mas se arriscam a provocar com isso uma rebelião em massa de cidadãos indignados com os ataques aos religiosos. Ou podem deixar que marchem pelas ruas pacificamente, mas correndo o risco de que o movimento cresça e acabe também em rebelião.

No momento, a Junta Militar que governa o país asiático está mais inclinado à segunda opção, ainda que com reservas. As manifestações a favor da reconciliação nacional e pela libertação dos dissidentes, se ampliaram ontem. Entre 200 mil e 300 mil birmaneses (ao menos 22 mil religiosos), segundo fontes, saíram de forma pacífica às ruas da antiga capital, Yangun, e outras cidades de Mianmar – Mandalay, a segunda maior, e Pakokku – na maior manifestação contra os militares desde a matança de ativistas democratas perpetrada há duas décadas pelo regime (morreram três mil pessoas), que ameaçou adotar represálias.

O ministro birmanês para Assuntos Religiosos, o general Thura Myint Maung, advertiu os monges budistas que encabeçavam as manifestações de que o Governo tomará medidas contra eles, ainda que não tenha dado detalhes, segundo a televisão estatal.

“Não parece que os monges vão recuar”, afirmava uma fonte diplomática em Yangun, informa a agência Reuters. Outros analistas assinalam que os generais vivem na nova capital (que mudou recentemente de Yangun para Naypyitaw), alheios à realidade.

A ONU, a União Européia e a maioria dos países ocidentais, como os Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, chamaram ontem as autoridades para terem calma. O presidente norte-americano, George W. Bush, tinha previsão de anunciar à noite mais sanções contra o regime de Mianmar, como negar os vistos aos membros do Governo.

As manifestações começaram no dia 19 de agosto como um movimento contra as duras medidas econômicas impostas pela Junta que, durante a noite e sem aviso prévio, elevou os preços dos combustíveis em 500%. Depois de vários dias de caos, o Governo prendeu centenas de ativistas (218, segundo informou ontem a Associação de Presos Políticos da Birmânia). Um grupo de monges saiu às ruas em Pakokku, localidade situada no norte do país, para protestar também contra a medida e foram agredidos pelos soldados.

Esta agressão indignou os religiosos, que pediram ao Governo que se desculpasse e, quando finalizou o prazo que haviam proposto, começaram a sair às ruas respaldados por milhares de civis que os acompanharam em todas as marchas – às quais, no domingo, também se somaram monjas budistas vestidas de branco – no que começa a ser conhecida como a revolução açafrão pela cor das roupas budistas.

Depois que os monges encabeçaram as marchas durante os últimos oito dias, as manifestações adquiriram um aspecto político. Entre os manifestantes se encontravam funcionários da oposição, assim como da Liga Nacional pela Democracia, o partido liderado pela Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, em prisão domiciliar desde junho de 2003 por ordem dos militares.

Depois de muitos anos de confinamento, Suu Kyi apareceu no sábado passado na soleira de sua casa para render tributo aos monges e a centenas de cidadãos que ultrapassaram a barreira policial que impedia as pessoas de se aproximarem da residência da líder da Liga Nacional pela Democracia, a única formação que resiste à forte pressão do regime.

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