"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, novembro 02, 2008

ONU tenta recuperar credibilidade no Congo

Instituto Humanitas Unisinos - 02/11/08

Na entrada do complexo da ONU em Goma, um cartaz lembra aos cerca de 17 mil soldados que compõem a força internacional de estabilização da República Democrática do Congo: é proibido pagar por qualquer serviço sexual; é proibido oferecer ajuda humanitária em troca de sexo; é proibido freqüentar casas de prostituição.

A reportagem é de Fábio Zanini e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 02-11-2008.

Os mandamentos são uma tentativa da Monuc, a maior missão de paz da ONU no mundo, de recuperar algo de sua credibilidade após uma sucessão de escândalos.

Na mais recente onda de violência, os capacetes azuis foram incapazes de oferecer segurança à população.

Como resultado, na última segunda-feira centenas de moradores de Goma atacaram com pedras prédios das Nações Unidas em Goma. Duas pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas quando os capacetes azuis reagiram utilizando armas de fogo.

Os escândalos da ONU não são somente de abuso sexual de congolesas. Em abril, a emissora britânica de rádio e TV BBC acusou soldados indianos e paquistaneses da missão de trocar armas por ouro e marfim com grupos rebeldes.

Ao longo dos últimos cinco anos, pelo menos 70 militares foram enviados de volta a seus países de origem.

A Monuc, sigla em francês para Missão das Nações Unidas para o Congo, é um exemplo da chamada "síndrome do veículo branco", um fenômeno que costuma ocorrer em áreas instáveis e miseráveis que são repentinamente tomadas pela parafernália da organização. A referência é à cor dos caminhões, jipes e Land Rovers que servem aos militares e civis operando sob a bandeira azul celeste da ONU.

Dólares

Significa que há o risco de o trabalho humanitário ser ofuscado por efeitos colaterais para a população local. Os dólares dos salários pagos pela missão de paz costumam trazer aumento repentino no consumo de álcool, prostituição e inflação de produtos e serviços.

Na cidade de Goma, a economia é totalmente dolarizada, reflexo da presença da Monuc já há seis anos. O franco congolês tornou-se secundário.

Um croissant de chocolate custa US$ 1, quase nada para estrangeiros, mas muito para a população congolesa que sobrevive com uma renda menor do que esse valor por dia.

O único bar e restaurante digno do nome e o solitário supermercado atendem à clientela internacional cercados por favelas, ruas com esgoto a céu aberto e buraqueira generalizada no que passa por asfalto.

A Monuc ocupa praticamente todo o aeroporto da cidade, com alojamentos e mais alojamentos para militares se enfileirando junto ao muro de proteção, divididos pelos 13 países que compõem a missão. Uma área cercada abriga o Urubatt (batalhão uruguaio), outra o Indiabatt e assim por diante. Aviões e helicópteros brancos tomam os hangares.

Nos últimos meses, a organização tem iniciado um arrojado esforço de relações públicas, pedindo desculpas na emissora de rádio que administra, buscando responsáveis e prometendo mudanças. O "código de conduta sexual" é um exemplo.

"Nós realmente sentimos muito que indivíduos tenham cometido atos que prejudicam tanto o nosso trabalho e a nossa imagem. Esta missão é uma amostra do conjunto da população mundial, e isso acaba se traduzindo em alguns comportamentos deploráveis de alguns", afirma Sylvie Van Den Wildenberg, porta-voz da missão da ONU.

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