"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, abril 24, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 23/04/07

Tropas do Brasil em Darfur?

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, quer contar com soldados brasileiros na força de paz de 3 mil homens que precisa enviar a Darfur, no Sudão. Mas o Itamaraty vem resistindo à idéia, para evitar discutir a responsabilidade do governo sudanês na crise. O cálculo do governo é de que precisa manter sua posição de diálogo com os países africanos para garantir seu eventual apoio na busca por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. A notícia é de Jamil Chade e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 23-04-2007.

Depois de meses de negociação com o governo do Sudão, a ONU conseguiu sinal verde há uma semana para enviar tropas de paz à região. Mais de 200 mil pessoas já morreram em quatro anos de conflito em Darfur, onde milícias árabes apoiadas pelo governo sudanês combatem separatistas não-árabes. Calcula-se em 2,5 milhões o número de refugiados. Dados coletados por representantes da ONU no Sudão indicam que o governo teria financiado milícias e, portanto, seria em parte responsável pelos massacres.

Com mais de 100 mil soldados pelo mundo, a ONU tem dificuldades para obter dos países membros a mobilização de novas tropas. Para a força de paz no Sudão, os assessores do secretário-geral multiplicam os encontros com governos considerados como centrais no fornecimento de soldados e o Brasil é um dos principais alvos.

“Teremos uma missão de paz híbrida, com soldados africanos e de outras regiões”, disse Ban Ki-Moon, que assumiu o cargo de secretário-geral no início do ano. “A comunidade internacional esperou demais e a população do Sudão sofreu por muito tempo. Ainda nem sabemos qual é o total de vítimas. Mas sabemos que é uma situação inaceitável.”

Na ONU, autoridades acreditam que o apoio do Brasil à missão de paz pode ter dois obstáculos. O primeiro é o fato de que o Itamaraty surpreendeu muitos países nos últimos meses ao evitar votar resoluções que responsabilizem o governo do Sudão pelos massacres. O segundo é que o governo brasileiro vem insistindo em que as tropas no Haiti já esgotam seus recursos para missões no exterior.

Nos corredores da organização a percepção é de que o País terá de assumir novas responsabilidades se de fato quer ser um dos novos membros permanentes do Conselho de Segurança. Hoje só Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido são membros permanentes. A discussão sobre a reforma da ONU, incluindo a ampliação do conselho, não é nova. “Há mais de dez anos a ONU debate o assunto e não consegue chegar a acordo”, admitiu Ban Ki-Moon, que visitará os países latino-americanos no segundo semestre. Em 2005, a organização tentou votar a expansão do conselho, mas não obteve consenso.

Assessores indicam que Ban Ki-Moon veria a candidatura do Brasil como “legítima”. Na semana passada, o secretário recebeu uma delegação do Itamaraty para tratar do assunto, dentro da nova fase de reforma, iniciada na sexta-feira, com uma nova proposta de debates e fórmulas menos ambiciosas.

APOIOS

Os assessores de Ban Ki-Moon acham que o Brasil deveria estar mais preocupado com a falta de apoio na própria América Latina do que em garantir a boa vontade de países africanos. Eles avaliam que a crescente divisão política na América Latina pode virar um obstáculo. Nos anos 90, a principal oposição ao Brasil vinha da Argentina. Hoje, Venezuela, Colômbia e México também não estariam entusiasmados com a candidatura. A esperança brasileira é manter o apoio de Alemanha, Japão e Índia, que também querem um posto no conselho. Na semana passada, o G-4, como são conhecidos, se reuniu em Brasília para fechar uma estratégia para a próxima etapa de debates na ONU.

“Diante da sensibilidade do assunto, não posso dizer quando uma votação sobre a expansão do conselho vai ocorrer. Está nas mãos dos países como a expansão será tratada”, afirmou Ban Ki-Moon em Genebra. “Todos concordam que, diante das mudanças drásticas no cenário internacional, é necessário expandir o conselho. Mas quando falamos quem deve estar, quantos e quando, não há um acordo.”

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