"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, novembro 12, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 08/11/07

Envio de remessas. Setor automobilístico ultrapassa bancos no envio de rendas

Depois de um período de vacas magras, as remessas de lucros e dividendos da indústria automobilística quadruplicaram nos últimos dois anos. As montadoras enviaram US$ 2,091 bilhões para suas matrizes nos 12 meses encerrados em setembro, segundo o Banco Central. Com isso, o setor tomou a liderança entre os que mais mandam rendas ao exterior, ultrapassando os bancos. Outras atividades da economia também multiplicaram o envio de lucros e dividendos, como siderurgia, produtos químicos e eletricidade e gás. A reportagem é de Alex Ribeiro para o Valor Econômico, 8-11-2007.

"O setor automobilístico investiu muito no passado", afirma Olivier Gerard, sócio-diretor da Trevisan Consultores. "Agora, está colhendo os frutos." Os fabricantes de veículos, sozinhos, respondem por 14% das remessas de lucros e dividendos, mostra levantamento do BC com operações a partir de US$ 1 milhão. As remessas são bastante concentradas. Um grupo de sete setores, incluindo veículos, responde por dois terços delas. Outras atividades que se destacam são intermediação financeira (11% das remessas totais), eletricidade e gás (10%), alimentos e bebidas (9%), químicos (8%), siderurgia (8%) e comércio (6%).

A indústria automobilística investiu pesado na década de 1990, e, durante anos, teve retornos abaixo do esperado. De 1996 a 2000, os ingressos de capitais das empresas automobilística somaram US$ 4,3 bilhões. Foi o setor industrial com maior fluxo de investimentos diretos no período. De 2001 a 2006, entraram US$ 6,3 bilhões.

Nessa onda de investimentos, foram abertas 22 fábricas e se estabeleceram no país montadoras como Renault, Peugeot, Toyota e Honda. Empresas que já tinham presença no Brasil ampliaram e modernizaram suas unidades e anunciaram a construção de fábricas, como as instalações da Ford da Bahia. "O retorno sobre esse investimento é demorado", diz Gerard.

Um estudo do BC mostra que, nessa época de vacas magras, entre 1997 e 2004, as remessas de lucros e dividendos da indústria automobilística equivaleram a apenas 2% do estoque de investimentos diretos do setor. O percentual foi bem mais baixo do que, por exemplo, o do setor de fabricação de produtos alimentícios, com 8%, e de siderurgia e de produção de minerais não-metálicos, ambos com 6%.

Os investimentos dos anos 1990 aumentaram a capacidade de produção de 2 milhões para 3,5 milhões de veículos. Mas, durante anos, a indústria operou com alta capacidade ociosa. Foi só a partir de 2004 que a produção alcançou de forma consistente o patamar dos 2 milhões. A expectativa é que a produção cheguem perto do limite da capacidade em 2008, com 3,2 milhões de automóveis. Junto com a produção, aumentaram as remessas - US$ 498 milhões em 2005 e, no ano seguinte, US$ 1,3 bilhão. Neste ano, foram US$ 2 bilhões, nos 12 meses encerrados em setembro.

Se a indústria automobilística se tornou a campeã de remessas, o setor de telecomunicações está no outro extremo - entre os setores que remetem pouco, relativamente aos capitais investidos. O censo de capitais estrangeiros mostra que, em 2000, o setor de telecomunicações detinha o maior estoque de investimentos no país entre os vários setores, com US$ 18,761 bilhões, ou 18,2% dos capitais estrangeiros. De 2001 para cá, também foi o que mais investiu, com US$ 17,215 bilhões.

As remessas do setor de telecomunicações, porém, não acompanharam o avanço dos investimentos - têm-se mantido estáveis na casa dos US$ 500 milhões desde 2005. "As empresas investem muito para acompanhar as mudanças tecnológicas", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, que também é economista-chefe da Telefônica.

As instituições financeiras, com remessas de US$ 1,673 bilhão nos 12 meses encerrados em setembro, são o segundo setor da economia que mais remete lucros, com um crescimento de 40% nos fluxos em dois anos. Dois fatores explicam as fortes remessas dos bancos. Um deles são os maciços investimentos diretos feitos no passado recente. Entre 1996 e 2001, foram aplicados US$ 15,921 bilhões, o que faz o setor de bancos o segundo com maior ingresso de investimentos diretos no período, atrás apenas das telecomunicações. Outro fator são os altos lucros do setor bancário.

O setor de energia elétrica e distribuição de gás é o terceiro que mais remete lucros e dividendos. Os fluxos mais que quadruplicaram entre 2005 e os 12 meses encerrados em setembro, passando de US$ US$ 337 milhões para US$ 1,4 bilhão. A exemplo da indústria de veículos, é um setor que investiu pesados nos anos 1990.

Os dados do BC mostram que, de 1996 a 2000, o setor de energia elétrica recebeu US$ 13,3 bilhões em investimentos, fluxo menor apenas que os de telecomunicações e de bancos. De 2001 a 2006, foi o setor entre os serviços que mais recebeu investimentos, com US$ 8,707 bilhões.

Entre 1999 e 2002, porém, o setor de energia elétrica, sobretudo distribuição, sofreu fortes perdas, devido à desvalorização do real e do racionamento de energia elétrica. A situação começou a melhorar em 2003 e, dois anos depois, praticamente todas as distribuidoras de energia elétrica tiveram lucros.

O setor de siderurgia remeteu US$ 1,9 bilhão nos 12 meses encerrados em setembro, um aumento de 73% em relação aos US$ 692 milhões ocorridos em 2005. Os lucros, puxados pela alta no preço do aço, ajudam a explicar as remessas. No primeiro semestre, as 27 empresas com capital aberto do setor metalúrgico lucraram R$ 5,2 bilhões, mais do que o lucro ocorrido em todo o ano de 2003, de R$ 4,6 bilhões. Também tiveram crescimento expressivo nas remessas de lucros e dividendos o comércio (alta de 39%) e de produção de alimentos e bebidas (26%) desde 2005.

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