"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, novembro 12, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 11/11/07

Mundo caminha para o terceiro choque energético

Com os preços do petróleo se aproximando da simbólica marca dos US$ 100 por barril, o mundo está caminhando para seu terceiro choque de energia em uma geração. Mas a alta atual é fundamentalmente diferente de passadas crises do petróleo, e suas conseqüências mundiais serão mais amplas e mais duradouras. A reportagem é de Jad Mouawad e publicada pelo jornal New York Times e traduzida pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-11-2007.

Da mesma forma que nas crises de energia dos anos 70 e 80, os elevados preços atuais do petróleo vêm causando ansiedade e sofrimento aos consumidores e gerando temores mais amplos quanto ao seu impacto sobre a economia como um todo.

Ao contrário de outros choques do petróleo, causados por súbitas interrupções nas exportações do Oriente Médio, desta vez os preços vêm subindo firmemente à medida que cresce a demanda por gasolina nos países desenvolvidos, centenas de milhões de chineses e indianos ascendem da pobreza à prosperidade e outras economias em desenvolvimento crescem em ritmo escaldante.

"Esse é o primeiro choque de energia causado por demanda que o mundo já enfrentou", disse Lawrence Goldstein, economista da Fundação de Pesquisa de Política Energética.

As previsões quanto ao preço futuro do petróleo variam amplamente. Alguns analistas consideram que ele pode cair a US$ 75 ou até menos no ano que vem, enquanto uns poucos observadores projetam preços da ordem de US$ 120 por barril.

Virtualmente ninguém diz acreditar em um retorno ao preço praticado há uma década, de US$ 20 por barril, o que significa que os consumidores precisam se preparar para uma era de custos muito mais altos para os combustíveis.

A raiz dessa alta chocante do petróleo -que já ultrapassa os 50% neste ano e atinge os 365% na última década- é um desdobramento positivo: a expansão sem precedentes que a economia mundial está vivendo.

A demanda da China e da Índia deve dobrar nas duas próximas décadas, à medida que essas economias continuam a se expandir e seus cidadãos optam por comprar mais carros e por viver em cidades, em busca de um estilo de vida que os ocidentais vêem como comum.

Mas, à medida que sobem os preços, a economia mundial passa a navegar por águas inexploradas. A alta até o momento não parece estar prejudicando o crescimento, porém muitos economistas se questionam sobre quanto tempo mais essa situação pode durar. "Os preços atuais são muito altos e terminarão prejudicando igualmente a todos, produtores e consumidores", disse Faith Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia.

O preço do barril de petróleo terminou a última sexta-feira cotado a US$ 96,32 na Bolsa de Nova York e durante a semana passada chegou a valer US$ 98,62, antes de recuar. O preço do produto se tornou volátil, e muitos analistas esperam que o marco dos US$ 100 por barril, considerado importante em termos psicológicos, seja superado em algum momento das próximas semanas.

"Os mercados atuais se parecem com a torcida que se levanta para incentivar seu time a atacar nos minutos finais de uma partida de futebol americano", disse Daniel Yergin, historiador do petróleo e presidente da consultoria Cambridge Energy Research Associates. "As pessoas chegam a parecer mais relaxadas quanto ao preço de US$ 100 por barril do que pareciam diante de uma cotação de US$ 60 ou US$ 70."

O petróleo não está distante de seu pico histórico de preços, atingido em abril de 1980, um ano depois da revolução islâmica iraniana. Considerada a inflação, o barril então chegou a ser cotado a US$ 101,70, em dólares atuais.

Pela maior parte do século 20, enquanto promovia a transformação do mundo moderno, o petróleo foi tanto barato quanto abundante. Ao longo dos anos 90, por exemplo, os preços médios do petróleo foram de US$ 20 por barril. Mesmo com os altos preços praticados agora, ele ainda sai mais barato que água mineral importada, que custaria o equivalente a US$ 180 por barril, ou que o leite, cujo barril custaria US$ 150.

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