"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 14/12/07

Eucaliptos + aço = menos carbono?


O que é que a produção de aço, os eucaliptos e o aquecimento global têm em comum? Tudo, responde uma representação do setor privado brasileiro, integrada na delegação do Governo de Lula da Silva em Bali. São empresários e consultores reunidos num grupo estratégico sobre florestas e siderurgias. E estão empenhados em obter mais apoios para uma solução alternativa aos combustíveis fósseis na produção de ferro gusa, o ingrediente básico do aço. A reportagem é do jornal O Público, 13-12-2007.

A idéia, já em prática, é substituir o coque, o combustível fóssil que alimenta 98 por cento dos fornos siderúrgicos no mundo, por carvão vegetal renovável. A palavra renovável é central. O carvão vegetal obtido através do corte de uma floresta madura resulta em mais emissões de gases com efeito de estufa do que o coque em si, diz Fábio Marques, da empresa Plantar.

A solução é cultivar eucaliptos - a diabolizada árvore tão polêmica em Portugal e noutros países. Segundo a Plantar, ganha-se duplamente. Enquanto crescem, as árvores absorvem dióxido de carbono. E, por ser um combustível renovável, o uso do carvão tem um balanço de emissões nulo.

"Esta dupla combinação já está sendo aplicada comercialmente. E começa a produzir outro tipo de resultados: créditos de emissões, que podem ser vendidos, ao abrigo do mecanismo de desenvolvimento limpo do Protocolo de Kyoto.

Um projeto de 50 milhões de dólares da Plantar está fazendo isso, em Curvelo, no estado de Minas Gerais. Com verbas de um fundo de carbono do Banco Mundial, foram plantados 23 mil hectares de eucaliptos de alto rendimento, numa antiga área de pastagens, para alimentar uma central siderúrgica capaz de produzir 200 mil toneladas de gusa por ano.

Às críticas ambientalistas, Fábio Marques responde com medidas como a plantação de árvores autóctones, e com as certificações internacionais do projeto. Não é o único caso. O grupo siderúrgico Arcelor Mittal aposta em três projetos semelhantes no Brasil. "Se você não utilizar a floresta plantada para fazer ferro gusa, tem de usar coque", diz José Otávio Franco, diretor de Ambiente no grupo.

Enquanto o Brasil lucra com a plantação de florestas, o Governo não segue o mesmo rumo na desflorestamento. Dois ministros brasileiros - Celso Amorim, das Relações Exteriores, e Marina Silva, do Meio Ambiente - disseram ontem, em Bali, que o Brasil se opõe a que políticas para conter a desflorestamento possam gerar créditos de carbono.

O que o Brasil propõe é um sistema de "incentivo positivo" pela redução do desflorestamento, com ajuda financeira externa, mas sem gerar créditos para o país doador. "Queremos que o nosso esforço seja um esforço adicional e que não signifique a subtração dos compromissos e das metas dos países desenvolvidos", disse Marina Silva.

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