"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, dezembro 18, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 18/12/07

Tensão e mal-estar marcam 34ª Cúpula de Presidentes do Mercosul

A Cúpula de Presidentes do Mercosul começou ontem sob clima tenso. O ambiente foi ilustrado pelo ministro da Economia do Uruguai, Danilo Astori, que afirmou ser preciso “não ocultar as dificuldades, que são várias e se agravam porque o Mercosul tem 16 anos e ainda muitos problemas a resolver”. A reportagem é de Denise Chrispim Marin e Ariel Palacios e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-12-2007.

Entre as pendências estavam as reivindicações do Uruguai e Paraguai para reduzir as assimetrias regionais. Os sócios do Mercosul também estavam encontrando dificuldades para avançar na definição do código aduaneiro e na eliminação da dupla tarifa externa.

Segundo manchete do jornal argentino Clarín, 18-12-2007, “Lula busca conter o mal-estar de Tabaré Vázquez com o Mercosul”. O presidente uruguaio, informa o jornal, teria submetido a idéia de abandonar o Mercosul numa reunião da Frente Ampla, seu partido. Mas o pedido foi negado.

Além disso, nas comitivas do Brasil e da Argentina existia mal-estar com a insistência uruguaia em ter permissão de negociar acordos de livre comércio com outros países. Diplomatas do bloco indicaram que esta é a “pior cúpula em muitos anos”.

Paradoxalmente, apesar do estancamento de negociações internas e de divergências políticas, nunca antes o comércio dentro do Mercosul atingiu níveis tao exuberantes, superando mais de US$ 26 bilhões. Há 17 anos era de US$ 1 bilhão.

A 34ª edição da cúpula terá como ponto alto, hoje, a assinatura do acordo de livre comércio com Israel. Será o primeiro acordo desse tipo do Mercosul com um país de fora da América do Sul.

O chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, afirmou ontem que “o Mercosul caminha para se desenvolver, apesar das tremendas sacudidas”. “Só vai fracassar se houver incompetência nossa e traição aos objetivos da integração.” Mas ele voltou a pleitear mais liberdade para que seus sócios possam negociar acordos comerciais com países de fora do bloco.

VENEZUELA

O governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, decidiu esperar um pouco mais pela aprovação de sua entrada oficial no Mercosul. Ontem, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, admitiu que a aprovação deve ocorrer durante 2008.

Dessa forma, a Venezuela flexibiliza o discurso duro que tinha até poucos meses sobre os prazos para integrar-se ao bloco. Em agosto, Chávez havia declarado, em tom de ultimato, que até a cúpula de Montevidéu a Venezuela teria de ser sócio pleno. Caso contrário, não haveria justificativa para ir a Montevidéu. Apesar das ameaças, Chávez participa da cúpula.

Maduro fez acusações aos Estados Unidos, indicando o governo George W. Bush como opositor da integração sul-americana. Mas afirmou que “coisa alguma poderá deter a integração”.

Chávez desembarcou na capital uruguaia com o prestígio abalado pela derrota no referendo para a mudança da Constituição de seu país. Além disso, é acusado de envolvimento no “escândalo da maleta, a tentativa de contrabando de US$ 790 mil para a Argentina por meio do empresário venezuelano Guido Antonini Wilson, supostamente para uso na campanha eleitoral de Cristina Kirchner.

Esse caso, que também atinge o governo de Cristina Kirchner, ressuscitou as denúncias de que Chávez financiaria políticos em vários países da região. O escândalo poderia ser um fator desfavorável a mais para complicar a aprovação da Venezuela no Mercosul.

Chávez aproveitará sua presença em Montevidéu para condecorar o poeta Mario Benedetti. Além disso, discursará hoje na Universidade da República.

CARAS AMARRADAS

A transmissão da presidência temporária do Mercosul promete ser tensa, já que o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, a entregará à presidente argentina, Cristina Kirchner. Vázquez e Cristina estão em plena crise bilateral por causa da “guerra da celulose”, que afeta as relações entre os dois países há dois anos e meio.

Cristina acirrou a crise que seu antecessor e marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, arrastava contra o Uruguai desde meados de 2005. No discurso de posse, atacou Vázquez, indicando que seu governo era o responsável pela crise bilateral.

O pivô da crise é a fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia, no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai, que divide os dois países. A Argentina exige que a fábrica seja desativada, com o que não concorda o Uruguai.

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