"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 14/12/07

O mistério das 70 pastilhas de material radioativo

No dia 26 de setembro passado, uma faxineira da empresa pública Enusa descobriu um frasco de plástico branco de 100ml com 70 pastilhas de óxido de urânio enriquecido a 4,5%, o mesmo que se emprega como combustível nas centrais nucleares. O frasco apareceu nos terrenos da empresa em Juzbado (Salamanca) fora da zona de segurança, próximo à porta exterior, no chão, junto a uma azinheira. Todos os controles falharam. O incidente não tem precedente, já que o extravio na Espanha (por roubo ou acidente) costuma ser de elementos radioativos para hospitais.

A reportagem é de R. Méndez e foi publicada no El País, 7-12-2007. A tradução é do Cepat.

A Guarda Civil investiga desde então o caso, centrando-se nos empregados, mas dois meses e doze dias depois não há presos. Segundo as fontes consultadas a investigação se centra em três empregados, mas não há forma de ir além. Pode ter sido qualquer um deles e não há provas conclusivas contra nenhum.

Esse urânio é radioativo, mas não o suficiente para impedir ao diretor de combustível da Enusa, José Emeterio Gutiérrez, pegá-lo com luvas e mostrar as pastilhas. São pretas e medem menos de dois centímetros de altura por menos de um de diâmetro. Empilhadas em varetas formam o combustível que produz a eletricidade nas nucleares espanholas. As pastilhas encontradas continham gadolínio, um elemento para rebaixar a capacidade para produzir eletricidade do material.

O problema não é tanto estas 70 pastilhas, mas o descontrole que manifestou e que, previsivelmente, acarretará uma sanção por parte do Conselho de Segurança Nuclear.

O incidente levantou dúvidas: “Se não se tivesse encontrado essas pastilhas perto da fábrica, quando a Enusa teria se dado conta da falta desse material?”, inquiriu por escrito ao Governo o deputado da Esquerda Unida e Iniciativa pela Catalunha Verde Joan Herrera, que registrou sete perguntas sobre o caso.

“Tendo em conta que a quantidade de material nuclear encontrado fora da zona de controle é bem inferior às tolerâncias dos inventários de material nuclear, é improvável que esta perda teria sido detectada”, replicou o Governo. Ou seja, que uma perda tão pequena, entre as 300 toneladas ao ano que a Enusa trata, não teria sido notada. Se apareceu foi porque tudo indica que quem tirou o recipiente da zona de controle – na qual os pórticos detectores de radiação deveriam tê-lo assinalado – o colocou ali para que fosse encontrado. Parecia mais um aviso, um protesto ou reclamação trabalhista, que um roubo.

O acontecido foi notificado à Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA) mesmo que, segundo o Governo, essas pastilhas não teriam servido nem para fabricar uma bomba suja – uma bomba convencional à qual se une uma fonte radioativa para dispersar a contaminação. Para essa finalidade e ainda mais para fabricar uma bomba atômica, falta urânio enriquecido a 90%.

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