"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, dezembro 29, 2008

A "OBRIGAÇÃO" DE SE DIVERTIR

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 22 de dezembro de 2008 às 13:00

O caso de uma jovem que morreu durante um cruzeiro marítimo me fez lembrar de situações que testemunhei com crianças americanas em tempos recentes.

"I'm not having fun", diziam elas, em tom de reclamação. "Não estou me divertindo". O que me remeteu à minha própria infância: teria sido bizarro eu dizer ao meu pai ou à minha mãe que não estava me divertindo. Tomaria uma pedalada. Era por conta de cada criança se divertir ou não. Com ou sem brinquedos. Com ou sem amigos. Com a bola de capotão ou a bola de meia ou a bola imaginária.

Mas hoje temos crianças de shopping center, crianças de parques de diversão, crianças que precisam se divertir 24 horas por dia. Elas "precisam" se divertir como se fosse uma tarefa. "I'm bored", dizem as crianças gringas aos pais. "Estou aborrecido". E os pais tomaram para si essa tarefa como se fosse um segundo emprego: é preciso "divertir" os filhos.

O que me leva de volta ao cruzeiro marítimo. Gosto não se discute. Eu jamais faria um cruzeiro marítimo. Já imaginaram o porre de conviver com gente que não te agrada? E se você embarcar e não gostar do ambiente? Pula em alto mar e sai nadando? Não há nada pior no mundo do que ficar preso em um navio com uma galera que não te agrada. E se a comida for sofrível? A música for ruim? Você sequestra o capitão do navio e manda o transatlântico voltar ao porto?

E se você acorda num daqueles dias e não está com vontade de ver gente? De dançar? De ouvir música? Duvido que um jovem de hoje, destes criados em shopping center, decida pegar um livro e se trancar numa cabine. Eles precisam "se divertir". A qualquer custo. É quase uma obrigação profissional. Não estranho que alguns deles se entreguem às drogas sintéticas. É o "bebo para tornar as pessoas interessantes" do século 21.

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