"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 06/02/08

Capim invasor já ocupa 20% dos campos do RS

O famoso céu azul do Rio Grande do Sul, desde os anos 1950, é testemunha da chegada acidental do capim annoni (Eragrostis plana) aos pampas. Sem inimigos naturais, a planta rapidamente conquistou terreno e tornou-se um dos maiores problemas ambientais do país nos anos 1970. E, hoje, o mesmo status é mantido, porque 20% dos campos sulinos estão forrados com ela. A reportagem é de Eduardo Geraque e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 06-02-2008.

Preocupados, os cientistas da ONG Instituto Hórus resolveram calcular o prejuízo econômico que esse processo causa aos pecuaristas gaúchos. A conta dá a dimensão do tamanho do estrago: só em 2005, a produção de gado no extremo sul do Brasil sofreu uma perda de US$ 3,4 milhões, com um acumulado entre 1995 e 2005 de US$ 29 milhões.

E se nada mais radical fosse feito para coibir a invasão? Esta foi uma das perguntas imaginadas pelos autores do estudo.

"Em 1979, esse capim já ocupava uma área de 20 mil hectares. Em 2007, a área invadida é de 2 milhões de hectares" afirma a pesquisadora Sílvia Ziller, especialista em espécies invasoras e uma das autoras do estudo que avalia o impacto econômico do capim annoni no Rio Grande do Sul.

Segundo a engenheira florestal, as projeções recém-concluídas mostram que o problema só tende a aumentar. Em 2015, quase 4,5 milhões de hectares deverão estar forrados com o capim. "O prejuízo acumulado até lá poderá chegar aos US$ 600 milhões."

As contas são baseadas no prejuízo por hectare. Enquanto o produtor perde US$ 38,91 na área em que existe a invasão, ele ganha US$ 17,15 quando, no seu pasto, quem está presente é a espécie nativa.

"Com essa área de ocupação -o capim chegou inclusive, via estradas, até o sul da Bahia- é impossível fazer um controle mecânico", diz Ziller.

Controle biológico

Segundo ela, o esforço para barrar a proliferação do capim invasor no Brasil deveria contar com um reforço extra, no caso, do país de onde a planta foi trazida nos anos 1950, pelo pecuarista Ernesto Annoni.

"Os sul-africanos desenvolveram técnicas de controle biológico eficientes e relativamente baratas", diz Ziller, lembrando que a Embrapa também desenvolve pesquisas para tentar equacionar o problema.

No caso das técnicas africanas, que usam predadores naturais da planta, como insetos, para tentar brecar as futuras invasões, elas custam, segundo a pesquisadora brasileira, mais ou menos 1% do prejuízo que o capim annoni causa.

Falso positivo

De acordo com Ziller, o caso da planta invasora gaúcha é apenas um entre vários que existem no Brasil. Mas, como ele é exemplar, é sempre bom ter consciência de como um simples acidente pode causar problemas por várias gerações.

"As primeiras sementes da planta vieram sem querer espalhadas no meio de outra espécie, que era muito usada na época para forrar o pasto."

Mais daí, ao chegar aqui, os pecuaristas perceberam que o capim annoni deixava o pasto verde, inclusive no inverno.

"Mas isso ocorria em um espaço curto de tempo. Além disso, o [capim] annoni tem muita fibra, o gado não consegue fazer digestão direito e a planta passa a não ser mais palatável", diz Ziller. Mesmo isso sendo descoberto logo, os fazendeiros já haviam importado sementes da África. E descartaram o material de qualquer forma.

"Essa planta produz muitas sementes, que são transportadas de várias formas, pelo próprio gado ou nos pneus das máquinas. É muito fácil de a invasão ocorrer mesmo.

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