"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, abril 01, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 01/04/08

Crise nos EUA ameaça mais o México e a América Central. Conseqüência do Nafta e Cafta

A crise americana provocará impactos em todos os países das Américas, mas os reflexos mais agudos serão sentidos pelas economias mais integradas com a dos EUA, aquelas que mantêm acordos de livre comércio com os americanos. Alguns desses países, como Honduras e México, poderão ver suas exportações encolherem mais de 10% nos próximos anos e até mesmo enfrentar o risco de mergulharem em suas próprias recessões. O Brasil seria pouco afetado. A reportagem é de Marcos de Moura e Souza e publicada pelo jornal Valor, 01-04-2008.

As projeções constam de uma estudo produzido pelo Center for Economic and Policy Research (CEPR, na sigla em inglês), entidade de pesquisas sem fins lucrativos sediada em Washington, nos EUA. O trabalho avalia impactos nas exportações para o mercado americano com a desaceleração da economia do país. Os autores apostam que a retração deverá "acelerar um processo inevitável" de ajuste e redução do déficit comercial dos EUA, que em 2006 atingiu o pico - insustentável, dizem eles - de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo faz dois cenários: que o déficit caia para 3% ou 1% em 2010.

Nos dois casos, os países mais atingidos pela redução das importações americanas serão os que integram os tratados livre comércio com os EUA: o Nafta (México e Canadá) e o Cafta (Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e República Dominicana).

O estudo estima que a queda das exportações do Canadá para os EUA poderão representar uma redução de 13,5% do total das exportações canadenses. No caso do México, 14,6%; Nicarágua 13,5%; e Honduras, 15,5%. Para o economista Luis Sandoval, um dos autores do estudo intitulado "O Impacto Econômico da Desaceleração dos EUA nas Américas", o reflexo sobre esses países poderia ser definido como um "efeito colateral" dos acordos de livre comércio.

"Nas negociações desses acordos, os argumentos se baseavam nos benefícios trazidos pelo aumento das importações dos EUA e em projeções de contínua aceleração americana", disse o economista. "As possibilidades de desaceleração são difíceis de se prever e os negociadores talvez não tenham levado muito em conta esse cenário."

É claro, lembra ele, que no período de crescimento acelerado da economia americana, os acordos promoveram ampliação das vendas para os EUA de têxteis, alimentos processados, como açúcar, e produtos primários de países pobres da América Central. O problema, diz, é que o efeito adverso será tão intenso quanto os ganhos.

Segundo o estudo, as economias mais dependentes deverão experimentar uma forte redução da entrada de divisas, redução de postos de trabalho ou até mesmo de recessão. Na última recessão americana, em 2001, o PIB do México teve um "avanço" real de 0%. "E a próxima recessão dos EUA (possivelmente já em curso) provavelmente será pior".

Os países da América do Sul estariam mais protegidos. As economias da região são descritas pelo estudo como mais fechadas e consequentemente com PIBs menos dependentes das receitas de importações exportações. Além disso, os EUA não são, em geral, um cliente predominante. As exportações da Argentina para o país representam só 1,6% do PIB argentino; 2,9% do Brasil e 15% da Venezuela - dos quais 95% são relacionados ao petróleo. E como o consumo americano de petróleo e gás não deve cair, dizem os pesquisadores, os efeitos da crise na Venezuela e noutros exportadores de energia, como Canadá e Equador, "devem ser mitigados".

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