"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, agosto 14, 2008

Tribos vencem na era da globalização

Instituto Humanitas Unisinos - 13/08/08

A guerra na Geórgia/Ossétia do Sul é o mais acabado exemplo de que, mesmo no auge da globalização, conceitos tribais superam quaisquer outras considerações e provocam, nas grandes potências, a cínica adoção do velhíssimo ditado popular "faça o que eu digo, não faça o que eu faço". O comentário é de Clóvis Rossi, jornalista, e publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-08-2008.

Afinal, como perguntava o jornalista Thierry Maliniak em "El País", da Espanha: "Se se podem modificar as fronteiras em bases étnicas nos Bálcãs, por que não no Cáucaso?".

Refere-se, como é óbvio, ao fato de que a União Européia e os EUA apoiaram e patrocinaram a independência de Kosovo, nos Bálcãs, de maioria albanesa, contrariando Sérvia e Rússia. Se houvesse lógica, EUA e UE deveriam apoiar a independência da Ossétia do Sul, de maioria russa, supostamente sufocada pela Geórgia.

Aliás, se a Rússia usasse a lógica, deveria aceitar a independência de Kosovo, pelo mesmo motivo que incentiva a independência da Ossétia do Sul.

Quando a lógica contradiz os jogos de influência e de poder, perde a lógica.

Mas os jogos de poder já não são como eram. A Rússia engoliu a independência kosovar, o que não ocorreria nos tempos da União Soviética, em sua área de influência.

Agora, o presidente George W. Bush e seu vice, Dick Cheney, podem ranger os dentes, ameaçar e gritar, sem que a Rússia ficasse minimamente comovida. Ao contrário, esmagou rapidamente um movimento, provavelmente mal calculado, do governo da Geórgia, o mais recente aliado do Ocidente nas vizinhanças da Rússia.

Uma coisa é aceitar "revoluções coloridas", primeiro na Ucrânia e depois na própria Geórgia, que trocaram governos pró-Rússia por governos pró-Ocidente. Outra seria aceitar a humilhação de não defender a própria tribo (os russos da Ossétia do Sul). Há quem ache que a ofensiva na região é uma volta às políticas da velha URSS. Pode ser, mas é mais provável que se trate da última fronteira traçada pela nova Rússia, claramente tribal.

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