"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, setembro 30, 2008

Os banqueiros de Deus. Salvos da crise graças ao ouro e aos fundos

Instituto Humanitas Unisinos - 28/09/08

Inspiração divina ou bons assessores com os pés no chão? Na crise das Bolsas as finanças do Vaticano e da Igreja Anglicana se saíram bem: em Roma, com uma providencial inversão de rota, que já em 2007 transformaram os investimentos da Santa Sé de títulos acionários em ouro. E Canterbury, pelo contrário, os administradores da Igreja da Inglaterra jogaram pesado utilizando o “short selling” (1), ou seja, vendas a descoberto com que se visa lucrar com a queda de um título. As indiscrições foram reveladas por dois jornais ingleses: Tablet, no que diz respeito às operações do Vaticano e o “Financial Times, para os investimentos dos bispos anglicanos.

A notícia é do jornal La Stampa, 27-09-2008.

Tablet, cotidiano católico, pediu a analistas um exame dos dados do relatório anual da gestão econômica 2007 do Vaticano, que foi publicado em julho de 2008. E da leitura dos especialistas emerge que a Santa Sé, sabiamente aconselhada, se precaveu antecipadamente dos perigos do mercado e converteu os próprios capitais em investimentos seguros, tanto que agora possui, entre outras coisas, uma tonelada de ouro (valor de mercado: 19 milhões de euros). Além disso a Igreja de Roma disporia de 340 milhões de euros em moeda, outros 520 milhões em obrigações e um patrimônio imobiliário de 420 milhões de euros.

À luz destes dados, comenta o especialista do Tablet, a Santa Sé “parece bem posicionada para ter lucros, apesar da atual tempestade financeira”. Mas para Vicenzo Di Mauro, bispo, secretário da Prefeitura vaticana para os Assuntos Econômicos, “os resultados do primeiro semestre de 2008 são preocupantes e não induzem ao otimismo. Por isso é preciso que a administração da Santa Sé opere com prudência e máxima objetividade”.

Para a Igreja de Londres, ao contrário, o discurso é também de princípio: nos últimos dias, Canterbury divulgou duas reprimendas aos hedge fund que utilizavam o “short selling”, sobretudo nas fases mais agudas das últimas quedas das Bolsas.

Mas os gestores dos fundos, geralmente quietos neste tipo de polêmica, desta vez decidiram não calar: “Os bispos anglicanos – declara ao Financial Times, Hungh Hendry, do fundo Eclectica Asset Management – acusam que é o short sellig é “pecado”, mas depois participam dos nossos lucros” e descreve, nas páginas do famoso jornal financeiro londrino, uma série de dados sobre operações no setor da Igreja da Inglaterra, que acusa de “hipocrisia”.

A resposta veio de Anrew Brown, responsável pela gestão patrimonial de Canterbury: “Nunca recorremos ao short selling e nunca o faremos”, garante. No entanto, uma fonte próxima do arcebispo Williams, chefe da Igreja Anglicana, acrescenta: “Nenhuma hipocrisia. Foram simplesmente feitos investimentos em vários setores como se faz na clássica prática de diversificar o portfólio”.

Nota:

1.- Short selling: tomada de empréstimos de ações para sua venda imediata e posterior recompra com o que se espera seja um preço mais baixo para devolvê-la ao proprietário original e ficar com o lucro obtido nessa transação.

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