"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, outubro 02, 2008

'Os pobres serão os perdedores', constata prêmio Nobel

Instituto Humanitas Unisinos - 02/10/08

Os bancos podem quebrar, mas a crise não deixará nenhum banqueiro na miséria. Quem afirma isso é o Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunnus, economista, banqueiro e criador de um esquema de microcréditos que transformou a vida de milhares de pessoas em seu país, Bangladesh. Nesta entrevista, Yunnus deixa claro que, no fim de todo esse processo da crise financeira internacional, quem de fato sofrerá serão os mais pobres. “Quem tem vários milhões de dólares continuará com alguns milhões. Já os pobres, aqueles que tinham como pagar uma refeição inteira, em pouco tempo se darão conta de que poderão pagar apenas por metade. E são esses quem mais sofrerão”, afirmou Yunnus, chamado de “o banqueiro dos pobres”: ele foi o fundador do Grameen Bank e é hoje é uma das pessoas mais ricas de Bangladesh, uma nação pobre que faz fronteira com a Índia. Mas alerta que uma nova regulação do sistema financeiro precisa ser criada urgentemente.

A entrevista é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 02-10-2008.

Eis a entrevista.

Como o sr. explica a crise que o mundo financeiro atravessa hoje?. Por que o setor não viu a turbulência chegando?

Todos sabiam que ela viria. Antes de mais nada, a crise mostra que há um grande vazio na estrutura dos sistema e na metodologia de trabalho das instituições financeiras. Precisamos arrumar esse vazio e garantir que esse colapso que estamos vendo hoje jamais se repita.

O que o sr. sugere aos governos neste momento?

Os responsáveis por essa crise precisam ser identificados. Mas os erros no sistema também precisam ser bem avaliados. O que se necessita agora é criar um sistema em que haja maior controle sobre o que está ocorrendo. Antes do colapso, poucos sabiam exatamente o que ocorria em termos de transação em um banco.

O que muda, então, no sistema?

Tudo. O que vivemos é um enorme choque para o mundo. É um impacto muito forte, como poucas vezes vimos antes. O mundo e o sistema financeiro simplesmente não podem continuar como estão e como vinham trabalhando. Essa é a grande lição que essa crise nos deixa. Não digo que não existia regulação nos mercados. Ela até existia, mas não era a correta.

Quem mais sofre hoje com a crise?

Certamente não serão os grandes banqueiros. No final das contas, quem perderá de verdade serão os mais pobres, e isso em todo o mundo. A crise que atravessamos hoje certamente vai provocar uma desaceleração na economia mundial nos próximos meses, e será difícil que a recuperação seja rápida. Quem tinha um bilhão continuará tendo um bilhão. Quem tem vários milhões, continuará com alguns milhões. Já os pobres, aqueles que tinham como pagar uma refeição inteira, em pouco tempo se darão conta de que poderão pagar apenas por metade. E são esses quem mais sofrerão com a crise.

Países como o Brasil serão afetados pela crise?

Certamente. Os bancos americanos, durante muitos anos, criaram tentáculos em todo o mundo. Agora, uma crise levará muita gente com eles. O Brasil certamente sofrerá, como todos os demais países emergentes.

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