"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, outubro 02, 2008

Sim do Senado americano custa US$ 150 bi a mais

Instituto Humanitas Unisinos - 02/10/08

Uma nova versão do pacote do governo dos Estados Unidos, para salvar bancos e financeiras, foi aprovada ontem à noite pelo Senado americano, por 74 votos a 25. Além de crescer em termos de documento — passou de 106 para 451 páginas —, ele ficou mais caro: antes, usaria US$ 700 bilhões dos contribuintes e, agora, consumirá US$ 850 bilhões. Isso porque lobistas de vários setores fizeram a festa, aproveitando-se da necessidade do governo de fazer concessões a dezenas de parlamentares, para que votassem a favor do pacote. Alguns dos próprios legisladores fizeram exigências, de olho nos eleitores de sua região: a maioria dos que eram contrários ao pacote está disputando a reeleição em novembro.

A reportagem é de José Meirelles Passos e publicada pelo jornal O Globo, 02-10-2008.

No total, são cem senadores, mas um, Ted Kennedy, está em tratamento de saúde e não compareceu à sessão.

Os lobistas passaram o dia todo no Congresso sugerindo mudanças. E existe, ainda, a perspectiva de o pacote tornar-se ainda mais caro, uma vez que ele será encaminhado hoje à Câmara dos Representantes, onde os deputados também poderão realizar novos enxertos que impliquem mais custos. O deputados devem votar o projeto amanhã. Caso eles façam novas mudanças, o pacote terá de voltar ao Senado. O presidente George W.

Bush comemorou a decisão do Senado e pediu que a Câmara faça o mesmo.

As mudanças de ontem se referem, basicamente, à prorrogação de várias isenções de impostos que já tinham expirado ou estavam por expirar, beneficiando desde laboratórios farmacêuticos até autódromos. Vítimas de furacões em vários estados também ficarão isentas de impostos. Escolas rurais, que nada tinham a ver com o sistema financeiro, receberão mais recursos.

Pessoas com problemas mentais ganharão, de empregadores e seguradores, a mesma cobertura dada a pacientes de doenças físicas.

Varejo à parte, o novo pacote contém duas medidas de peso específico.

Uma é o aumento de US$ 100 mil para US$ 250 mil no teto para a garantia que o governo dá aos depósitos bancários. Isso, por um lado, tranqüiliza os correntistas em geral.

E, principalmente, alivia as pequenas empresas e bancos comunitários. O principal lobista destes festejou:

- Podemos ser pequenos, mas somos muito espertos — disse Camden Fine, presidente da Banqueiros Comunitários Independentes, que representa oito mil bancos pequenos.

Os grandes bancos e financeiras, que já eram os principais beneficiários do pacote, obtiveram mais do governo.

Um item novo diz que a Securities and Exchange Commission (SEC, que regula o mercado de capitais) vai relaxar temporariamente as regras que os obrigam a usar preços de mercado na avaliação de seus ativos, ao registrá-los em seus balanços. Eles, assim, ficam livres de registrar a perda.

Bush passou o dia ao telefone, convencendo senadores e deputados a aprovarem o salvamento:

— Temos de estabilizar a situação para que não fique ainda pior e nossos cidadãos percam seus bens e o seu trabalho — disse ele.

Os candidatos presidenciais, Barack Obama e John McCain, também fizeram apelos, além de terem viajado à Washington para votar.

Os banqueiros têm feito intenso lobby. O dinheiro do pacote deverá ser usado basicamente para a compra, pelo Tesouro, de títulos de hipotecas que ainda não foram pagos. Mas os banqueiros querem que o governo assuma outros papéis podres, como empréstimos para compra de veículos e dívidas com cartões de crédito.

O grande temor dos bancos e financeiras é não conseguir vender ao governo tantos títulos podres quanto precisariam para colocar a casa em ordem. Um estudo da Moody’s Economy.com calcula que os bancos concederam 15 milhões em hipotecas ruins entre 2004 e 2007, e que dez milhões não serão pagas.

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