"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, dezembro 20, 2008

Fed acirra divergências entre Fazenda e BC

Instituto Humanitas Unisinos - 17/12/08

A decisão surpreendente e histórica do Fed de praticamente zerar a taxa básica de juros deve acirrar ainda mais as divergências entre a Fazenda e o Banco Central na condução da política monetária. A avaliação da Fazenda é que o BC já deveria ter seguido o mesmo caminho na reunião do Copom da semana passada, quando decidiu manter a Selic em 13,75%.

A reportagem é de Guilherme Barros e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-12-2008.

Os técnicos da Fazenda acham que o BC errou ao não ter baixado os juros e a conseqüência será uma desaceleração mais forte da economia neste e no próximo trimestre. Para a Fazenda, ao contrário do que tem dito o presidente do BC, Henrique Meirelles, o Brasil não é uma ilha isolada do mundo para manter a taxa básica de juros no atual patamar.

Para a Fazenda, a decisão do BC teve um caráter muito mais político do que técnico. O BC quis dar uma demonstração de força e de independência diante das pressões do governo para baixar os juros, quando a decisão tinha que ser técnica.

Não é, na opinião da Fazenda, a primeira vez que o BC erra neste ano. Em abril, o BC também errou ao subir os juros com receio da alta dos preços das commodities. Na época, os técnicos da Fazenda diziam que essa alta seria temporária, o que acabou se confirmando.

O BC, por sua vez, está convencido de que o Brasil terá uma desaceleração muito forte neste e no próximo trimestre, o que deve ficar claro na ata do Copom que será divulgada amanhã, e deve baixar o juro na reunião do dia 21 de janeiro.

O que o BC avalia é que a situação no Brasil é diferente da dos Estados Unidos. Os EUA enfrentam um problema de deflação, e as previsões são que o PIB no quarto trimestre deve sofrer uma queda de 5%, sendo que o país já vem de um processo de desaceleração forte.

No Brasil, ao contrário, para o BC, a economia estava crescendo em um ritmo muito forte até setembro. A inflação caiu nas últimas semanas, mas ainda não cedeu o suficiente para iniciar o processo de redução dos juros. A queda do dólar é um fator que contribui para baixar os juros, já que o efeito da valorização da moeda americana sobre a inflação era a maior preocupação do BC.

Para o BC, dos três fatores que influenciam a demanda, que são o crédito, o emprego e a renda, apenas o primeiro foi muito atingido pela crise. O governo está tentando evitar ao máximo que o emprego e a renda sejam afetados. Se isso ocorrer, será inevitável uma nova onda mais forte de desaceleração. O que se espera é que os cálculos e o "timing" do Banco Central estejam corretos.

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