"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, dezembro 20, 2008

Megafraude nos EUA tem mais vítimas, inclusive o Santander

Instituto Humanitas Unisinos - 16/12/08

À medida que passam os dias, os tentáculos e as possíveis perdas com o suposto esquema fraudulento montado pelo gestor Bernard Madoff, o ex-presidente da Bolsa Nasdaq, aumentam de tamanho e se espalham por grandes bancos, como o espanhol Santander, fundos de caridade (entre eles o do diretor Steven Spielberg) e até pequenos investidores.

A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 16-12-2008. A notícia é tema do editorial "Fraude gigantesca" do jornal El País, 16-12-2008.

Desde a quinta-feira da semana passada, quando Madoff foi preso, já foram revelados cerca de US$ 20 bilhões expostos a perdas -que podem ultrapassar os US$ 50 bilhões (uma vez e meia os prejuízos desde setembro de 2007 do Citigroup, um dos bancos mais afetados pela crise) -, no que caminha para ser uma das maiores fraudes da história.

Ontem, o HSBC revelou que tem US$ 1 bilhão em fundos investidos pelo ex-presidente da Nasdaq. O Santander, um dos bancos que parecem ter melhor se saído até agora da crise global, disse que corre o risco de perder 2,33 bilhões. A lista de bancos inclui ainda UBS, Royal Bank of Scotland e Nomura Holdings, por exemplo.

Segundo o "Wall Street Journal", também foram afetados pelo possível golpe as fundações de Steven Spielberg e do Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel. Um representante do diretor de "Prenda-me Se For Capaz" (sobre o golpista Frank Abagnale) confirmou as perdas da fundação de caridade, mas disse não saber o montante.

Mas até o agora o maior perdedor parece ser o fundo de hedge Fairfield Greenwich, que tem braço no Brasil e afirmou que US$ 7,5 bilhões (ou mais da metade dos ativos que gerenciava) estavam investidos em veículos ligados a Madoff.

"Nós estamos chocados e apavorados com essa notícia", disse um dos fundadores do fundo, Jeffrey Tucker. "Não tínhamos nenhuma pista de que nós e outras empresas e investidores privados éramos vítimas de um esquema fraudulento tão grande e sofisticado."

O grupo dos possíveis prejudicados inclui ainda bilionários como Fred Wilpon, dono do New York Mets, um dos times de beisebol mais conhecidos dos EUA, e Mortimer Zuckerman, dono do jornal "New York Daily News". Mas ele também é formado por pequenos investidores, como Arnold Sinkin, 75, um vendedor aposentado de carpetes.

Madoff é acusado pelas autoridades americanas de montar um esquema Ponzi, em que oferecia retornos altos aos seus investidores usando dinheiro pago com a entrada de novos clientes, em vez de utilizar a receita obtida com as aplicações. Antes de ser preso, ele teria dito a funcionários que estava "acabado", que "não tinha mais nada" e que tudo não passava de "uma grande mentira".

Segundo o "The Wall Street Journal", famílias abastadas espanholas foram trazidas para o esquema de Madoff por membros da aristocracia financeira do país, entre eles parentes do patriarca dos bancos espanhóis, Emílio Botín, presidente do conselho do banco Santander. A dupla de ouro da DreamWorks, Steven Spielberg e Jeffrey Katzenberg, também teve prejuízos. Uma das fundações de Spielberg, a Wunderkinder, tinha dinheiro com Madoff. Já Katzenberg perdeu milhões de dólares. A informação é do jornal Valor,

O jornal El País, 15-12-2008, numa ampla reportagem, afirma que "Emilio Botín, presidente do Santander, não esquecerá facilmente a Bernard L. Madoff, ex-presidente de Nasdaq. O maior banco espanhol e da zona euro reconheceu que investiu 2 bilhões e 230 milhões de euros de seus clientes nos produtos geridos por Madoff, autor da maior fraude de Wall Street depois de Enron".

Investigação

Uma das questões que investigadores e os órgãos reguladores terão que enfrentar nos próximos meses é como um esquema tão grande como o de Madoff conseguiu durar tanto tempo sem ser identificado.

Segundo pessoas próximas à investigação, as autoridades reguladoras norte-americanas não voltaram a inspecionar a empresa de assessoria em investimento de Madoff (que teve a sua liquidação ordenada pela Justiça dos EUA ontem) depois que ela foi submetida à vistoria há dois anos.

A SEC (órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado de valores mobiliários) não examina os livros contábeis de Madoff desde o dia em que ele registrou a empresa no órgão, em setembro de 2006, disseram duas pessoas, que preferiram não ter seus nomes divulgados.

A SEC tenta inspecionar assessorias pelo menos uma vez a cada cinco anos, além de buscar examinar de perto empresas recém-registradas ao longo de seu primeiro ano de atividade, disseram ex-autoridades do órgão e advogados do setor de valores mobiliários.

"É difícil imaginar que uma fraude da magnitude que dizem ter sido essa não tenha sido acompanhada por problemas significativos e generalizados de cumprimento [da legislação]", afirmou Mercer Bullard, ex-advogado do setor de fundos mútuos da SEC.

Madoff foi assessor da SEC em regulamentação de mercados, além de ser um doador regular em campanhas políticas.

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