"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, outubro 28, 2008

No Brasil, montadoras e seus fornecedores dão férias e demitem

Instituto Humanitas Unisinos - 24/10/08

As incertezas sobre os efeitos da crise internacional na demanda e o aumento das restrições ao crédito direto ao consumidor pelos bancos estão levando um grande número de empresas ligadas ao setor automobilístico a reduzir o ritmo da produção, com a antecipação de férias coletivas e, em alguns casos, até demissões. Três das grandes montadoras (General Motors, Fiat e Volkswagen) colocaram, ou já programaram, férias coletivas para mais de 10.600 empregados.

A reportagem é de Lino Rodrigues e Ronaldo D’Ercole e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 26-10-2008.

As montadoras de motocicletas da Zona Franca de Manaus (AM) colocaram em férias coletivas metade de seus funcionários na semana passada.

São 8.500 metalúrgicos que, se somados a outros prestadores de serviços terceirizados, elevam para 12.500 o número de trabalhadores parados no Pólo Industrial da cidade. As demissões, em Manaus, ainda se limitam a 80 empregados terceirizados da Dafra, estreante no mercado de motocicletas de pequena cilindrada.

‘Empresários não querem assumir dificuldades’

Com a desaceleração na produção de veículos, empresas de autopeças do interior de São Paulo e de outros estados estão aderindo às férias fora de época.

A paralisação de uma das linhas de produção da fábrica da GM em São José dos Campos levou a Remi Automotivo, de Brusque (SC), a acertar com o sindicato dos metalúrgicos da cidade que, a partir de amanhã, 82 de seus 136 funcionários ficam em casa, reduzindo a produção de motores de partida para automóveis.

Em Campinas, o sindicato de metalúrgicos informou que pelo menos oito empresas estão concedendo férias coletivas, depois de redução no volume de encomendas das montadoras.
Parte das autopeças também está incentivando quem tem férias vencidas a sair agora.

— Eles (os empresários) não querem assumir publicamente que estão passando por dificuldades por causa da crise internacional — afirmou Jair dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas.

Segundo Santos, neste mesmo período em 2007, as empresas de autopeças da região estavam a todo vapor, com os empregados fazendo horas extras, trabalhando nos fins de semana e feriados. Algumas empresas já estão até demitindo.

A Tampas Click, fabricante de tampas para tanques de combustível, demitiu 40 trabalhadores; a Robert Bosch, outros 80; e a Magneti Marelli, mais 16, segundo o sindicato.

— A preocupação agora é o que vai acontecer em novembro, já que a matéria-prima dessas empresas é em grande parte importada — disse Santos, que teme novas demissões.

O Sindipeças, sindicato que reúne as empresas de autopeças, já começou a consultar as associadas para avaliar melhor o quadro. O último dado da entidade sobre emprego no setor, referente a agosto, indicava um acréscimo de mil trabalhadores ante julho.

Os 1.700 empregados da Fiat que haviam saído retornam quarta-feira ao trabalho, depois de dez dias de descanso.

Já a Volkswagen colocará 900 funcionários do terceiro turno da fábrica de São José dos Pinhais (PR) em férias por dez dias em novembro.

Vendas em outubro serão menores que em setembro

Desde o inicio do mês até a última terça-feira, haviam sido vendidos 149.142 carros novos no país. A previsão das montadoras é fechar outubro com 250 mil unidades vendidas, número menor que as 269 mil unidades de setembro.

A redução dos prazos, com juros maiores e mais exigências, como a cobrança do pagamento de entradas pelos bancos, mudou o ânimo dos consumidores, com reflexos nas vendas.

— Não é que haja queda nas vendas, mas sim uma situação de desaceleração nos negócios. A indústria crescia a uma taxa de 30% ao mês, e esse ritmo agora caiu para 24% — justificou um executivo de uma montadora.

No Pólo Industrial de Manaus (AM), 2.300 dos 10 mil empregados da Moto Honda da Amazônia entraram ontem em férias coletivas, acompanhando a parada de 55% dos funcionários da rival Yamaha. Nos dez dias que os funcionários ficarão em casa, segundo a Honda, cerca de 40 mil motocicletas deixarão de ser produzidas.

Já a Yamaha informou que o recesso na produção se deve à crise de confiança no sistema financeiro, “cujos reflexos já são notados em nosso mercado de atuação”.

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