"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, julho 15, 2009

Cartel de droga lança a maior ofensiva contra o governo mexicano

Instituto Humanitas Unisinos - 14/07/09


A Polícia Federal está se aproximando muito e rapidamente da cúpula do cartel mais perigoso do México. Essa honra rara não é ostentada pelo La Família [cartel mexicano] por causa da quantidade de cocaína ou de efedrina que ele é capaz de importar através do porto de Lázaro Cárdenas para depois exportar para os Estados Unidos, nem mesmo por causa das dezenas de plantações de papoula sob seu controle em Michoacán.

A reportagem é de Pablo Ordaz, publicada no jornal El País, 13-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O poder do La Família, e por isso a sua periculosidade, se deve ao fato de ele funcionar como um Estado paralelo e como uma religião. A uma ordem de El Chango ou de El Chayo, seus líderes (o primeiro, mais guerreiro; o segundo, mais rezador), um exército de criminosos se arma com rifles de alto poder e com granadas de fragmentação e se lança contra o objetivo marcado pelo seu general ou seu pastor. Na sexta-feira, o objetivo era claro: a Polícia Federal. E o sábado amanheceu com cinco agentes mortos e 18 feridos.

A última batalha começou na sexta-feira. A Polícia Federal prendeu um indivíduo apelidado de La Minsa. Ao aparecer, esse sujeito, de nome Arnoldo Rueda Medina, desempenhava um papel principal na estrutura do La Familia. Em pouco tempo, havia passado de chefe dos criminosos para coordenador de coordenadores, só abaixo de El Chango e de El Chayo. Suas funções, segundo os investigadores, eram a de manter o contato com os provedores internacionais de droga e precursores químicos, assim como a de designar, e portanto de destituir (trabalho este um pouco mais sangrento), os chefes do La Familia em zonas importantes: Guanajuato, Aguascalientes, San Luis Potosí...

O caso é que, ao ser apresentado diante dos meios de comunicação, La Minsa chorou. Sua reação deve ter se devido, segundo os investigadores, ao fato de que, talvez, ele imaginava a ordem que, já nesse momento, El Chango e El Chayo deviam ter dado aos seus criminosos: era preciso resgatá-lo ou matá-lo, não se podia deixar um indivíduo com tanta informação nas mãos da polícia.

A madrugada do sábado foi um inferno. Os meios de comunicação locais já qualificavam a reação do La Família como "a maior ofensiva contra os policiais federais e o Exército na história do crime organizado". Em Michoacán, mas também nos Estados de Guerrero e Guanajuato, comandos de criminosos atacaram instalações policiais e tramaram emboscadas a grupos de soldados. Até um hotel de Lázaro Cárdenas em que, há semanas, as forças federais estão alojadas foi objeto de um ataque. O resultado depois de uma noite de espanto foi de cinco militares mortos (três federais e dois soldados) e outros 18 policiais feridos.

Mesmo que La Minsa siga em poder dos interrogadores e a muitos quilômetros de Michoacán, a ira do La Familia segue fervendo nas zonas onde o seu poder é maior: Apatzingán, Lázaro Cárdenas, Pátzcuaro, Zitácuaro e, obviamente, Morelia, a capital do Estado. Em Gucamayas, município de Lázaro Cárdenas, forças da Polícia Federal e criminosos do La Família continuavam mantendo um duro enfrentamento neste domingo.

A guerra do governo do México contra o La Familia começou há quase um ano. Na meia-noite do dia 15 de setembro de 2008, coincidindo com o grito da Independência, um grupo de criminosos jogou granadas contra a multidão que festejava a data na praça de Morelia. Ainda hoje não se sabe de quem partiu a ordem nem com qual objetivo. Mas sabe-se, sim, o que conseguiram: que o presidente Felipe Calderón desse instruções à Polícia Federal e ao Exército para que pusessem ordem no seu Estado natal.

A ordem não chegou, mas sim a constatação de que existem, no México, outros poderes não legítimos e, às vezes, mais efetivos do que o do próprio Estado. O La Familia é um deles. El Chango e El Chayo controlam os prostíbulos, as máquinas caça-níqueis, a pirataria, a venda de armas e o tráfico de drogas, mas também negócios legais como postos de gasolina, mercados...

Há poucas semanas, os policiais federais detiveram um bom número de prefeitos, fiscais e policiais que estavam nas listas da organização. Agora foi a ver de La Minsa.

A cúpula está cada vez mais próxima, mas, pelo que foi visto nas últimas horas em Michoacán, ainda será preciso muito sangue e muitas balas para se chegar até ela.

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