"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, julho 18, 2009

Escudos humanos e destruições gratuitas, confessam soldados de Gaza

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

"Casas eram demolidas em todos os lugares, não havia uma sem estar danificada. Era terrível, parecia um filme sobre a Segunda Guerra Mundial. Entendi que era melhor atirar primeiro e fazer as perguntas depois. Em cada casa que nos aproximávamos, mandávamos um civil na frente, um 'Johnnie', apoiando o fuzil nas suas Justificarcostas".

A reportagem é de Fabio Scuto, publicada no jornal italiano La Repubblica, 16-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Em cada casa que nos aproximávamos, mandávamos um vizinho na frente, um 'Johnnie'. Depois, entrávamos naquela casa apontado a metralhadora nas costas do civil". O relato anônimo de um sargento-maior da Brigada Golani – uma das unidades de elite do exército israelense – é sobre a guerra suja de Gaza em janeiro. É um dos 54 testemunhos diretos recolhidos pela organização Breaking The Silence – composta por ex-militares que lutam pelo respeito aos direitos humanos – sobre a conduta do exército na operação Cast Lead [chumbo fundido ou chumbo grosso]: 22 dias de batalhas, 1.400 palestinos assassinados, 13 israelenses mortos, destruições gigantescas.

Nas 112 páginas, os soldados de Tshal relatam não só como civis palestinos foram utilizados como escudos humanos, sem fazer distinção entre milicianos do Hamas e população civil e sem outras regras de recrutamento senão a de minimizar as próprias perdas.

"Ninguém te dizia para matar os inocentes, mas as instruções eram de que qualquer um que fosse suspeito devia ser morto. Entendi que era melhor atirar primeiro e fazer as perguntas depois", conta um outro militar.

Testemunhos de homicídios absolutamente gratuitos, como o de um homem de 50-60 anos, descrito por um outro soldado. Ele relata ter visto, de noite, um palestino com uma tocha na mão, aparentemente desarmado: o oficial no comando da repartição proibiu que dessem tiros de advertência e, quando o homem estava próximo, o oficial mandou abrir fogo contra ele. "Não vou esquecer enquanto estiver vivo. Todos atiravam, e o homem gritava. Quando veio o dia, mandamos um cão para averiguar se ele tinha explosivos consigo... Mas ele não trazia nada, só a tocha. O oficial se justificou assim: 'Era de noite... era um terrorista'".

No dossiê, repetem-se as acusações sobre o uso indiscriminado de armas de fósforo branco nas estradas de Gaza e de "destruições totais não ligadas a nenhuma ameaça concreta para as forças israelenses".

O relatório, financiado por grupos de ativistas dos direitos humanos israelenses e dos governos da Espanha, Inglaterra e da União Europeia, prova, segundo o porta-voz do Breaking The Silence, Mikhael Mankin, "o modo imoral em que a guerra foi conduzida, um modo devido ao sistema de comando em vigor e não ao comportamento individual dos soldados".

Em uma minuciosa resposta à denúncia, o porta-voz militar israelense, depois de ter lembrado que a operação Cast Lead foi lançada em resposta a oito anos de disparos de mísseis contra a população civil no sul de Israel, acusou o Breaking The Silence de ter redigido um relatório baseado em "testemunhas anônimas e genéricas", mas acrescentou que serão abertas investigações sobre toda denúncia de mau comportamento dos soldados.

O ministro da Defesa, Ehud Barak, pediu que todas as denúncias sejam apresentadas junto ao seu ministério e repetiu que o exército israelense "é o que tem o maior senso moral do mundo", uma frase que o governo usa muitas vezes para responder à avalanche de críticas por causa do uso inescrupuloso da força militar que chovem na cabeça dos soldados sempre mais frequentemente.

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