"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, setembro 21, 2008

Analfabetismo: pior do que na Bolívia

Instituto Humanitas Unisinos - 19/09/08

O governo Lula chegou ao quinto ano com 14,1 milhões de jovens e adultos analfabetos no país, segundo a última Pnad. A pesquisa foi realizada em setembro de 2007 e revelou que o país permanecia com uma taxa de analfabetismo de dois dígitos — 10% (incluindo o Norte rural) — entre a população de 15 anos ou mais. Em números absolutos, havia mais iletrados que a população da Suécia e da Noruega juntas. De 2006 para 2007, a taxa brasileira caiu de 10,4% para 10%. No Nordeste, 19,9% da população permaneciam sem saber ler e escrever.

A reportagem é de Demétrio Weber e Letícia Lins e publicada pelo jornal O Globo, 19-09-2008.

O ligeiro recuo na taxa nacional, porém, nada contribuiu para melhorar a posição do Brasil num ranking latino-americano de 22 nações: o país ocupava a 15ª posição, atrás de Bolívia (9,7% de analfabetos), Suriname (9,6%), México (7,6%), Paraguai (6,3%), Chile (3,5%) e Argentina (2,4%). Em situação pior, estavam apenas República Dominicana (10,9%), Jamaica (14%), El Salvador (14,5%), Honduras (16,9%), Nicarágua (19,5%), Guatemala (26,8%) e Haiti (37,9%).

Cuba tem a menor taxa: 0,2%.

A comparação usou dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

— É preocupante. O número de analfabetos ainda está muito alto — disse o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny.

O IBGE calcula também o chamado analfabetismo funcional, que considera a população com menos de quatro anos de estudo. No ano passado, 21,6% dos brasileiros estavam nessa situação. No Nordeste, o índice alcançava 33,5%, ou seja, mais de um terço da população.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, disse que o ritmo de redução é inferior ao desejado, mas acentuou a tendência de queda: em 2004, a taxa era de 11,4% e caiu para 11,1%, em 2005, e 10,4%, em 2006.

— É lenta, mas consistente.

Lázaro criticou o governo de São Paulo, lembrando que o estado tinha o segundo maior número de analfabetos no país, atrás somente da Bahia, mas não investia em ações para combater o problema.

— São Paulo tem o segundo maior número de analfabetos, mas nenhum programa de alfabetização de jovens e adultos — disse Lázaro.

O Brasil Alfabetizado foi lançado em 2003, quando a prioridade do governo Lula era erradicar o analfabetismo na gestão do então ministro Cristovam Buarque. O programa investirá R$ 300 milhões este ano para atender 1,3 milhão de jovens e adultos. Segundo Lázaro, 30% das matrículas costumam ser de quem já sabe ler e escrever. Até hoje, o governo desconhece o impacto do programa, pois não sabe quantos alunos efetivamente são alfabetizados.

Em 1992, a taxa de analfabetismo brasileira era de 17,2%.

Nesse período de 15 anos, a maior redução ocorreu no Nordeste: de 32,7% para 19,9%.

Analfabetismo é bem maior no interior do Nordeste Não é preciso ir longe para ver que o analfabetismo vai demorar a acabar em Pernambuco, onde os próprios órgãos oficiais calculam que há 100 mil crianças fora da escola.

Alberto Barbosa da Silva, de 13 anos e morador de Cabo de Santo Agostinho, é uma delas.

Já tentou estudar duas vezes, mas não conseguiu aprender nada. Diz que não gosta de colégio. No ano passado, matriculouse, mas só ficou no colégio por um mês. Não sabe ler, escrever e nem mesmo assinar o nome. Sua tia, Edite Barbosa da Silva, de 28 anos, parou de estudar ao 18. Cursou até a 4asérie: sabe ler e escrever “mais ou menos”.

No Nordeste, as taxas de analfabetismo chegam a 19,9%. Mas há municípios, como Gameleira, onde 25% dos maiores de 20 anos não sabem ler nem escrever. No meio rural, esse número chega a 57%.

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