"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, setembro 26, 2008

Fugindo da solução óbvia

Blog do Luis Nassif - 26/09/08

Entenda os impasses em torno do Plano Paulson.

O sistema bancário americano está atulhado com títulos do subprime. Esses papéis foram adquiridos por valores muito baixos, em relação ao seu valor de face. Essa diferença corresponde à rentabilidade esperada pelos bancos especuladores, caso o papel fosse levado até o vencimento.

Existe uma curva de valor desse papel. Ou seja, a cada dia uma parte dos juros é apropriada ao valor inicial de aquisição do papel, até chegar no vencimento com o papel valendo 100% do valor de face.

Vamos a um pequeno exemplo matemático:

1. Uma empresa hipotecária pega sua carteira de contratos de risco (subprime) e vende para um banco a uma taxa de 15% ao ano.

2. Se o prazo médio da carteira for de 120 meses, o banco irá pagar US$ 24,71 por cada US$ 100,00 que terá a receber no vencimento.

3. A cada dia que passa (supondo dias corridos), o valor dessa carteira aumentará 0,0388%. Assim, no 120º dia, por exemplo, a carteira estará valendo US$ 25,90. No 4º ano, estará valendo US$ 43,23. E assim por diante.

Mas suponha que o banco necessita vender essa carteira no mercado. Quanto maior a sua pressa, menor o valor que conseguirá. Se a curva da carteira está em US$ 30,00, por exemplo, na hora de vender no mercado conseguirá, digamos, apenas US$ 15,00.

A discussão sobre o plano Paulson reside nessa diferença. Paulson-Bernanke querem pagar integralmente os US$ 30,00. Os críticos querem que pague os US$ 15,00 para não premiar os especuladores.

Os críticos têm sua razão. Os bancos aceitaram correr riscos em troca de remuneração elevadíssima de 15% ao ano. Se o Tesouro americano paga o preço do papel, eles receberão os 15% (até a data da troca) sem incorrer em perda alguma. Por outro lado, alega Bernanke, se pagar o preço de mercado os bancos ficarão totalmente descapitalizados, com conseqüências drásticas sobre o futuro.

A solução para esse impasse é lógica. Implementá-la exige um presidente com coragem de colocar o guizo no gato. No caso, no poderio de Wall Street. É só pegar o modelo sueco. Paga-se pelos títulos um meio termo entre o valor da curva e o de mercado. A direrença será coberta com ações dos bancos, que ficarão guardadas pelo Tesouro para venda futura. Não haverá descapitalização dos bancos, porque as ações apenas trocarão de mãos.

Os acionistas serão penalizados, assim como os executivos, mas a instituição bancária é preservada. Mas, passada a borracasca, novos investidores adquirirão as ações, valorizadas, ressarcindo o Tesouro e permitindo a recriação do sistema financeiro em outras bases.

Essa é a solução óbvia, até para preservar os valores americanos de respeito ao mercado e ao contribuinte.

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