"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, setembro 17, 2008

O ensaio geral está acabado

Resisitir Info - 17/09/08
por Richard Heinberg
Preços de referência do petróleo. Quando o preço do barril cai abaixo dos US$100, nem mesmo um furacão no Golfo do México e uma declaração da OPEP de que o cartel cortará a produção em mais de 500 mil barris por dia é capaz de travar a sangria. Como resposta, o Financial Post "Peak Oil peak" , citando este autor fora de contexto. Compare isto com o meu comentário que foi a fonte da citação.

O preço do petróleo não era suposto ascender indefinidamente? O mundo não ia acabar agora? O que aconteceu? O que quer dizer isto tudo? apresenta um artigo intitulado "Peak Oil peak" , citando este autor fora de contexto. Compare isto com o meu comentário que foi a fonte da citação.

Paciência, gentil leitor. Tudo será explicado.


Primeiro, por que o preço do petróleo subiu este Verão a cerca de US$150? Acerca disto há pouco acordo entre os especialistas. Um novo relatório dos administradores de hedge fund Michael Masters e Adm White (divulgado em 10 de Setembro pelos senadores Byron Dorgan, D, e Maria Cantwell, D) atribui tudo à especulação . Fundos de pensão, fundações e outros investidores institucionais compraram muitas commodities no princípio deste ano, e isso remeteu o preço do petróleo bruto para a lua. Recentemente os mesmos investidores retiraram o seu dinheiro do mercado de futuros do petróleo, e isto representou para o petróleo um mergulho de volta à terra. Vamos em frente, rapazes, não há nada a ver aqui.

Mas isto contradiz directamente as descobertas de um estudo anterior da Comodity Futures Trading Comission. Aquele relatório de 100 páginas concluía que a disparada do preço tinha tudo a ver com oferta e procura.

Ainda confuso?

Então há o argumento a circular através da fábrica de rumores (desculpem, não há uma atribuição de www a esta) a dizer que a queda nos preços do petróleo desde o fim de Julho mostra o apoio da Wall Street aos republicanos quando o país se aproxima das eleições de Novembro. Afinal de contas, prossegue a argumentação, o JP Morgan controla 40% dos puts e calls [*] no mercado petrolífero. Acrescente a Goldman Sachs e umas poucas outras casas correctores e há aí o potencial para a manipulação de aproximadamente a metade do petróleo total dos mercados de futuros.

Se os preços da gasolina estiverem em ascensão, o eleitorado mais provavelmente desejará remover os republicanos e procurar uma mudança. A Wall Street gosta dos favores que a administração Bush distribuiu ao longo dos últimos anos e quer mais do mesmo. Ou assim parece a estória.

A explicação mais prosaica para a alta do preço: a procura estava a aumentar, a oferta não, de modo que o preço subiu. Quando o preço chegou suficientemente alto, isto (juntamente a crise de crédito) lançou os EUA (e o mundo) e a economia na recessão. Este facto enfraqueceu seriamente a procura por petróleo. Veja-se a queda na quilometragem de veículos, por exemplo.

De uma coisa podemos estar certos: o preço importa. Quando o mercado fala, as pessoas ouvem. Durante semanas, quando o petróleo estava a bater recordes quase diariamente, houve discussão sem precedentes do conceito de Pico Petrolífero nos jornais financeiros, tanto em papel como on line. O que é mais significativo é que as pessoas começaram a conduzir menos . Hummers [2] acumulavam-se em stands, não vendido. Companhias de aviação e fabricantes de automóveis balouçavam à beira da bancarrota.

Em suma, muitas pessoas acordaram para a profunda vulnerabilidade que implicava ter baseado a sua economia, e por extensão as suas vidas, numa impossibilidade — a extracção de um recurso não renovável a taxas sempre crescentes.

Quando o preço caiu, tornaram a dormir.

Mas a alta súbita do preço no princípio de 2008 foi simplesmente um ensaio geral. A queda na procura dá ao mundo um momento para recuperar o fôlego antes de recomeçar o inevitável processo ascensão gradual dos preços. Seja como for, a US$100 ou algo como isso, o preço do petróleo ainda está 50 por cento mais alto do que no ano passado e 10 vezes o nível de uma década atrás.

Quando vier o próximo esmagamento da oferta, poderemos ver preços de US$200, US$250 ou US$300. Mas, mais uma vez, a ascensão não será constante e incessante. Veremos outra vez uma alta seguida por um mergulho — de vez, talvez, de volta aos US$150.

Enquanto isso, será que o petróleo a US$100 será uma ocasião para o sonambulismo ou para o reposicionamento estratégico? Para decisores políticos, isto é um momento para pensar claramente acerca de medidas a longo prazo para reduzir a procura pro-activamente e apoiar o desenvolvimento de fontes de energia renovável. Para os cidadãos, é uma oportunidade para fazer o esforço de mudar hábitos, comprar um carro mais pequeno, e envolver-se em trabalhos comunitários de preparação para o Pico Petrolífero.

Para aqueles de nós que têm estado envolvidos em tais trabalhos há vários anos, esta é a hora de preparar para o inevitável tsunami, quando jornalistas nos telefonam dia e noite lutando para entender o conceito, e quando governos de cidades, negócios e políticos nacionais pedirão conselhos sobre como enfrentar. Faríamos melhor em estarmos preparados.

O mundo teve um inequívoco toque de despertar do relógio do alarme petrolífero global. Simplesmente pressionar o botão para cochilar mais desperdiçaria o que pode ser a nossa última oportunidade para actuar antes de a necessidade obrigar-nos a reagir por meios inferiores ao óptimo.
11/Setembro/2008
[1] Instrumentos financeiros nas bolsas. Comprar um opção call dá o direito de comprar uma quantidade especificada de um tí:tulo ou uma mercadoria e inversamente comprar uma opção put dá o direito de vender.
[2] Hummer: marca de veículo muito consumidor de gasolina.

O original encontra-se em http://postcarbon.org/dress_rehearsal_over

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