"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, março 13, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 13/03/08

Fiat fortalece império na produção de motor. Nova fábrica no PR

Ao comprar a Tritec, uma fábrica do Paraná desativada, a Fiat abriu ontem um caminho para não apenas ser a maior produtora de motores da América Latina como também atender a uma determinação da matriz de fornecer motores para empresas fora do grupo italiano. A reportagem é de Marli Olmos e Marli Lima e publicada pelo jornal Valor, 13-03-2008.

Com um investimento de R$ 250 milhões, a Fiat colocará a instalação de Campo Largo novamente em atividade para produzir uma nova família de motores de porte médio. O valor da compra não foi revelado. O produto será destinado às próprias empresas do grupo e também a clientes externos.

Na Europa, a FPT - sigla da chamada Fiat Powertrain Technologies -, divisão mundial da companhia que produz motores e transmissões, faturou no ano passado ? 7,1 bilhões, dos quais 24% foram obtidos com a venda para clientes fora do grupo Fiat. A ordem da matriz do grupo, em Turim, é elevar essa fatia e incluir na estratégias todas as fábricas da América do Sul.

O grupo italiano já tem uma fábrica de motores em Betim (MG), ao lado da fábrica de automóveis, outra em Sete Lagoas (MG), junto com a linha de caminhões Iveco e mais uma em Córdoba , na Argentina. A unidade argentina conseguiu já no ano passado um contrato de fornecimento de transmissões para o grupo francês PSA Peugeot Citroën . Mas os planos da companhia são ambiciosos. Na Europa, essa divisão produz motores até para locomotivas. No Brasil, já está acertada a produção em breve de motores para geradores de energia em Sete Lagoas, segundo Franco Ciranni, o executivo que comanda a FPT na América do Sul.

As três fábricas existentes já começaram a receber investimentos que elevarão a capacidade de produção para cerca de 900 mil motores por ano. Com a Tritec, o grupo ganhará um adicional de 400 mil unidades. Esse é o volume para o qual a Tritec foi concebida há quase 10 anos, embora essa capacidade não tenha sido atingida até agora.

Inaugurada em 1999, com investimentos de US$ 500 milhões, a Tritec é fruto de uma aliança inusitada entre duas montadoras - a americana Chrysler e a alemã BMW, duas multinacionais de peso que escolheram o Brasil para fazer a sua única joint venture em todo o mundo.

O fracasso desse casamento começou a ficar nítido quando aconteceu a aliança mundial da Chrysler com o grupo alemão Daimler, também em 1999. Chrysler e Daimler também se separaram no ano passado. Enquanto durou, a aliança DaimlerChrysler incomodava os negócios na Tritec, já que uma das sócias, a BMW, é rival da Mercedes-Benz, concorrente nos carros de luxo.

Fontes muito próximas aos entendimento para a compra da Tritec informaram que essa distância entre as duas sócias atrapalhou as negociações e foi motivo para que as discussões durassem mais do que o previsto. Antes da Fiat, a Tritec chegou a ser cobiçada pela General Motors, outra montadora que encontra dificuldades para produzir motores em quantidades suficientes para atender ao atual aumento de produção de automóveis no país. No mês passado a GM decidiu investir na construção de uma fábrica nova em Santa Catarina.

Fiat e GM que também já se juntaram numa aliança mundial estiveram juntas na produção de motores, inclusive no Brasil. Foi, aliás, essa experiência que fez as duas multinacionais perceberem a força que tinham na produção de motores. Ainda hoje, por conta a de acerto feito no fim da aliança, em 2005, a Fiat vende motores a diesel para a GM na Europa e a GM, por sua vez fornece a linha das versões 1.8 para os carros Fiat fabricados no Brasil.

A linha de produção da Tritec foi desligada em julho do ano passado, quando saíram os últimos motores exportados para equipar os automóveis Mini Cooper, da BMW, e PT Cruiser, da Chrysler. A Tritec fabricava motores de 1.4 e 1.6 litro e toda sua produção era voltada ao mercado externo.

Dos antigos tempos, sobraram 100 empregados que agora serão mantidos na nova estrutura, segundo garantiu ontem a direção da Fiat. No passado, a Tritec chegou a contar com cerca de 400 empregados. Segundo a direção do grupo Fiat, a FPT planeja ainda aumentar o número de funcionários no Paraná para 500.

O investimento de R$ 250 milhões que será usado na fábrica de Campo Largo Paraná está fora do pacote de R$ 6 bilhões que o grupo Fiat anunciou no final do ano passado. Segundo informações de executivos da empresa, os recursos serão usados para detalhes necessários à reativação da linha de produção, como eliminação de gargalos e treinamento dos novos empregados.

Os antigos proprietários da Tritec já usavam blocos de motor produzidos pela Teksid, coincidentemente uma empresa do grupo Fiat que fabrica peças fundidas. A Teksid está localizada próxima à fábrica de automóveis da Fiat, o que significa que os blocos continuarão sendo transportados de Minas Gerais até o Paraná.

Ciranni fez ontem uma apresentação da FPT para o governo paranaense. O grupo agora passa a ter em todo o mundo 16 fábricas, 11 centros de pesquisas e 20 mil empregados.

O executivo prevê para a região da América do Sul faturamento de R$ 1,2 bilhão em 2010. Equipes técnicas irão iniciar os trabalhos para a reativação da Tritec. Ciranni espera que as máquinas voltem a funcionar no segundo semestre. O plano é que no início de 2009 saiam da fábrica os primeiros motores da nova proprietária. ]

Numa primeira fase, a fábrica que a Fiat comprou no Paraná deverá produzir 275 mil motores por ano. Esse volume deverá ser elevado para 400 mil em curto espaço de tempo, segundo a diretoria da empresa.

Ao ser questionado sobre as negociações com a Chrysler, nos Estados Unidos, Ciranni limitou-se a dizer que elas duraram meses. Segundo ele, a transferência da fábrica para Minas Gerais nunca chegou a ser cogitada. O executivo recusou-se a falar sobre o interesse dos concorrentes pela fábrica. Além do interesse demonstrado pela GM, a Tritec foi alvo de outras ofertas de compras, como a da chinesa Lifan e das russas AutoVaz e GAZ.

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