"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, março 13, 2008

Resitir Info - março 2008

A primeira base de dados da indústria petrolífera

A história da Petroconsultants

por Colin Campbell [*]

Uma companhia de petróleo tem, naturalmente, todas as razões para rastrear as actividades dos seus competidores, as quais podem ter significado comercial. Outrora, nos Estados Unidos, elas costumavam contratar pessoas conhecidas como "scouts" a fim de manter as sondas (rigs) sob observação, por vezes com binóculos. Eles podiam, por exemplo, contar os bocados de tubagem que estavam a ser removidos para avaliar a profundidade do furo. Também podiam vagabundear pelos bares e conversar com perfuradores diante de uma cerveja. No princípio da exploração do Mar do Norte, algumas companhias de petróleo colocaram observadores em traineiras para observar sondas e se possível ouvir rádio comunicações, nas melhores tradições das patrulhas.

Isto mais ou menos significa o que hoje seria chamada espionagem industrial.

Um geólogo americano chamado Harry Wassall trabalhou para a Gulf Oil e foi transferido para Cuba na década de 1950, onde casou-se com uma bela senhora cubana chamada Gladys. Quando a Gulf Oil chamou-o de volta, ele preferiu permanecer em Cuba, e fundou um pequeno boletim para informar acerca de actividades petrolíferas na ilha, expandindo posteriormente a sua cobertura à América Latina. Ele designou um agente em cada país para informar acerca de desenvolvimentos com o petróleo, incluindo a localização de novos poços pioneiros (wildcats) e os resultados. Grande parte disto não constituía informação particularmente confidencial.

Quando Fidel Castro chegou ao poder, ele já não podia dirigir este negócio a partir de Cuba e mudou-se para a Espanha, abrindo um escritório em Genebra a fim de expandir a cobertura a todo o mundo, denominando-o Petroconsultants. Ao logo dos anos ele construiu uma rede de contactos, muitas vezes incluindo antigos homens do petróleo com conhecimento e experiência de um país particular, que permitiu construir a base de dados com continuidade e fiabilidade.

As principais companhias de petróleo apoiavam informalmente o esforço pois preferiam não falar directamente umas com as outras, mas queriam saber o que cada uma delas estava a fazer. Elas queriam boa informação e também a davam. Naqueles dias isto não era um assunto particularmente sensível. Além disso a Petroconsultantes foi uma das primeiras a utilizar computadores para a base de dados e, durante algum tempo, as grandes companhias de petróleo consideraram conveniente sub-contratar as suas próprias bases de dados a fim de serem administradas em Genebra numa base confidencial.

A companhia envelheceu juntamente com o seu proprietário e tornou-se uma encantadora organização à moda antiga recheada de antigos homens do petróleo que haviam construído relacionamentos a longo prazo, e tinham o conhecimento e experiência para reunir e validar informação.

Harry Wassall ganhou interesse na questão do Pico Petrolífero, vendo o seu significado mais vasto. A Petroconsultants leu o meu primeiro livro, The Golden Century of Oil, o qual cotinha muitos erros porque nessa altura eu ainda não havia avaliado quão inconfiáveis eram os dados públicos. A empresa convidou-me a efectuar um estudo semelhante mais baseado nas suas bases de dados e eu foi coadjuvado por Jean Laherrere, que se havia reformado da Total. Fizemos um grande estudo baseado na informação abrangente que nos fora disponibilizada. O resultado acabou por se suprimido sob a pressão de uma companhia de petróleo, mas a Petroconsultants co-publicou o meu segundo livro, The Coming Oil Crisis, e também estimulou Jean e eu a escrever o artigo "The End of Cheap Oil", publicado em 1998 na Scientific American.

Harry Wassal morreu em Novembro de 1995 e a Petroconsultants foi vendida à IHS, que era uma companhia americana de bases de dados, fundada penso eu por um membro da família Krupp da Alemanha, que não tinha qualquer perícia particular em petróleo.

O escritório de Genebra foi então colocado numa base muito mais comercial, e a maior parte da antiga equipe deixou-o, levando consigo os seus anos de continuidade, amizade, relacionamento especial e longa experiência.

Consequentemente, tornou-se muito mais difícil reunir informação válida, e a tarefa tornou-se muito mais difícil porque as principais companhias petrolíferas já não dominavam o negócio devido ao crescimento de companhias estatais e de muitas pequenas companhias promocionais. Em muitos casos não era possível fazer mais do que assegurar informação pública, parcialmente a partir da Internet, e tentar compilá-la tão bem quanto possível.

O CERA era uma consultora de petróleo, dirigida por Daniel Yergin, que é bem conhecido pelo seu excelente livro, The Prize, o qual descreve a história da indústria petrolífera. Ele próprio não tem experiência na indústria do petróleo, mas a companhia naturalmente podia aconselhar sobre desenvolvimentos petrolíferos e garantir consultorias sem tem qualquer particular conhecimento pormenorizando das reservas de campos específicos ou de países. O CERA por sua vez por adquirido pela IHS, e agora tem acesso à sua base de dados, no que ela tem de valioso. Como consultora, o CERA naturalmente tem todas as boas razões para tentar agradar aos seus clientes e evitar questões polémicas.

Assim, no que se refere ao estudo do Pico Petrolífero, a melhor abordagem é retornar à base de dados primitiva da Petroconsultants como ponto de partida, e rastrear as mudanças, revisões e acréscimos subsequentes, descontando quaisquer anomalias e inconsistências. Apesar das dificuldades que tornam virtualmente impossível assegurar informação abrangente, é factível determinar e rastrear os padrões gerais de esgotamento.

[*] Fundador da ASPO .

Nota do actual presidente da ASPO, Kjell Aleklett:
Nós que trabalhamos com a modelação da produção futura de petróleo sabemos a importância das reservas. Colin Campbell, fundador da ASPO, conta-nos aqui uma história interessante acerca da origem da base de dados que o CERA utiliza e afirma ser a melhor. A história indica que o IHS e o CERA estão a administrar dados que podem ter sido coleccionados por aliados escuros em salas cheias de fumo. Isto é a história da Petroconsultants.

O original encontra-se em www.peakoil.net

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