"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, outubro 31, 2010

A Indignação de Ruth Rocha

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 31 de outubro de 2010.

“O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira”. (Ruth Rocha)

- Ruth Rocha

A escritora de livros infantis Ruth Rocha nasceu em São Paulo no dia 2 de março de 1931. Ruth formou-se em sociologia política, trabalhou como orientadora educacional no Colégio Rio Branco e faz parte da Academia Paulista de Letras.

Na década de sessenta escrevia artigos sobre educação para diversas revistas, dentre elas a Revista Cláudia e, em 1976, lançou seu primeiro livro, “Palavras Muitas Palavras”. Já publicou mais de 130 títulos traduzidos em 25 idiomas e sua obra mais conhecida é “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que vendeu mais de um milhão de exemplares.

Em 1998, foi condecorada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura e, em 2002, foi escolhida como membro da Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro.

O Jornal O Globo publicou, recentemente, um artigo de Ruth Rocha em que ela declara não autorizar a inclusão de seu nome em um manifesto a favor da candidata petista Dillma Roussef e que considera a publicação de seu nome na lista “um desaforo”. Ruth exigiu a retirada imediata de seu nome do manifesto e escreveu uma carta aberta à Dillma.

“Carta à candidata Dilma”

“Meu nome foi incluído no manifesto de intelectuais em seu apoio. Eu não a apoio. Incluir meu nome naquele manifesto é um desaforo! Mesmo que a apoiasse, não fui consultada. Seria um desaforo da mesma forma. Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... ‘acontece’. Acontece, mas não pode acontecer. Na verdade esse tipo de descuido revela duas coisas: falta de educação e a porção autoritária cada vez mais visível no PT. Um grupo dominante dentro do partido que quer vencer a qualquer custo e por qualquer meio.

Acho que todos sabem do que estou falando.

O PT surgiu com o bom sonho de dar voz aos trabalhadores, mas embriagou-se com os vapores do poder. O partido dos princípios tornou-se o partido do pragmatismo total. Essa transformação teve um ‘abrakadabra’ na miserável história do mensalão. Na época o máximo que saiu dos lábios desmoralizados de suas lideranças foi um débil ‘os outros também fazem... ’. De lá pra cá foi um Deus nos acuda!

Pena. O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira. Desde a retomada da democracia no meio da década de 80 o Brasil vem melhorando; mesmo governos contestados como os de Sarney e Collor (estes, sim, apóiam a sua candidatura) trouxeram contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura.

Com o Plano Cruzado, Sarney tentou desatar o nó de uma inflação que parecia não ter fim. Não deu certo, mas os erros do Plano Cruzado ensinaram os planos posteriores cujos erros ensinaram os formuladores do Plano Real.

É incrível, mas até Collor ajudou. A abertura da economia brasileira, mesmo que atabalhoada, colocou na sala de visitas uma questão geralmente (mal) tratada na cozinha.

O enigmático Itamar, vice de Collor, escreveu seu nome na história econômica ao presidir o início do Plano Real. Foi sucedido por FHC, o presidente que preparou o país para a vida democrática. FHC errou aqui e ali. Mas acertou de monte. Implantou o Real, desmontou os escombros dos bancos estaduais falidos, criou formas de controle social como a Lei de Responsabilidade Fiscal, socializou a oferta de escola para as crianças. Queira o presidente Lula ou não, foi com FHC que o mundo começou a perceber uma transformação no Brasil.

E veio Lula. Seu maior acerto contrariou a descrença da academia aos planos populistas. Lula transformou os planos distributivistas do governo FHC no retumbante Bolsa Família. Os resultados foram evidentes. Apesar de seu populismo descarado, o fato é que uma camada enorme da população foi trazida a um patamar mínimo de vida.

Não me cabem considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos. Meu discurso é outro: é a democracia que permite a transformação do país. A dinâmica democrática favorece a mudança das prioridades. Todos os indicadores sociais melhoraram com a democracia. Não foi o Lula quem fez. Votando, denunciando e cobrando, foi a sociedade brasileira, usando as ferramentas da democracia, quem está empurrando o país para frente. O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos. Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.

1) desprezo ao culto à personalidade;

2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então;

3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.

Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma.”

- Eric Nepomuceno pede desculpas a Ruth Rocha

“Foi um tremendo e lamentável equívoco”. (Eric Nepomuceno)

O tradutor e escritor Eric Nepomuceno, um dos organizadores do manifesto pediu desculpas pelo equívoco. “Foram mais de dez mil e-mails em menos de duas semanas, muitos deles de pessoas anônimas (aposentados, estudantes, donas de casa), aderindo ao manifesto que nós convocamos. Entre eles, o de uma senhora chamada Ruth Rocha. Fiquei encarregado, com a ajuda de alguns amigos, de buscar nomes do meio artístico e cultural (cineastas, atores, diretores de teatro, atrizes, músicos, escritores, dramaturgos, compositores) e não pedi, nem procurei, a adesão da Ruth Rocha escritora. Não a conheço pessoalmente, e procurei adesões apenas junto ao meu círculo de relações. Portanto, o nome dela não passou por mim. Emir Sader ficou encarregado, também com alguns amigos, de nomes do meio acadêmico. Pode ser que entre eles alguém tenha conseguido a adesão de uma senhora chamada Ruth Rocha”.

(http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/a-escritora-ruth-rocha-desmente-apoio-a-dilma-rousseff/)



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br