http://www.hottopos.com/notand8/elian.htm(resumo de palestra que o autor - renomado escritor de livros didáticosda Ed. Saraiva - tem proferido para professores de 1o e 2o graus de todo o país)
Elian Alabi Lucci
Em seu livro mais recente, a Era do Acesso, o consagrado autor Jeremy Rifkin (autor também do portentoso O Século da Biotecnologia), demonstra grande preocupação (aliás, generalizada entre os estudiosos das Ciências Sociais) com o que vem acontecendo neste início do século XXI, com o processo de globalização que, nesta sua quarta fase, nos inseriu na Sociedade Pós Industrial. Trata-se da descoberta por parte das empresas transnacionais de como a produção cultural pode gerar lucros numa sociedade que, como diz Domenico De Masi, caminha cada vez mais para o ócio, primeiro por conta do envelhecimento da população e depois com a exclusão do trabalho.
Para explorarem este novo filão, a indústria cultural - diante de um homem cada vez mais vazio de sentido para sua vida, no que tange à busca de valores essenciais -, as multinacionais e os gestores do processo de globalização estão tentando nos inserir na era do acesso ou, também como ela é economicamente chamada, de “economia da experiência”.
Para isto, estas empresas estão todas a caminho da transição da propriedade para o acesso.
Elas estão vendendo seus imóveis, reduzindo seus estoques, alugando seu equipamento e terceirizando suas atividades em uma corrida de vida ou morte para se livrarem de todos os tipos de bens materiais.
Ter muitas coisas está sendo considerado fora de moda neste atual estágio econômico.
No mundo comercial de hoje quase tudo que é necessário é arrendad (leasing).
Ter, guardar, acumular, ainda são naturalmente conceitos prezados mas, agora, diante da velocidade das inovações tecnológicas, muitas vezes estas coisas tornam problemática a noção de propriedade.
Em uma sociedade como a atual, de produção customizada, de inovação e atualizações quase que diárias e de ciclos de vida dos produtos cada vez mais curtos, tudo se torna quase imediatamente desatualizado, daí não valer pena deter a posse de bens.
Como bem coloca Rifkin ter, guardar, acumular, em uma economia onde a mudança em si é a única constante, está fazendo cada vez menos sentido e, em assim sendo, o melhor é o acesso.
Mas o que é acesso?
Até há bem pouco tempo essa palavra só era ouvida ocasionalmente, restringindo-se geralmente a questão de ingresso no espaço geográfico ou físico. Mas, a partir da década de 1990, o Concise Oxford Dictionary inclui esta palavra em sentido humano, demonstrando assim seu novo e crescente uso.
Neste momento de nossas vidas, acessar é um dos termos mais empregados no dia a dia por quase toda a sociedade mundial ou, pelo menos, por grande parte dela, mesmo sabendo-se que há ainda países que nem sequer completaram sua primeira revolução industrial e que, aliás, não são poucos e que, talvez, nem a venham completar já que a exclusão tecnológica é muito mais perversa do que aquela provocada pela era industrial.
O acesso, portanto, passou a ser o bilhete de ingresso para o avanço e para a realização pessoal. Além disso é também uma expressão de grande significado político, uma vez que acessar diz respeito a distinções e divisões, sobre quem deverá ser incluído e quem deverá ser excluído.
É assim que essa palavra está se transformando numa ferramenta conceitual muito potente para se repensar em nova visão de mundo assim como também em uma nova visão econômica.
Esta nova visão econômica a qual já nos referimos como a da “economia da experiência”, está gerando um “comércio de ponta” que já começa a envolver o marketing de um vasto arranjo de experiências culturais ao invés de tão somente os tradicionais bens e serviços industriais.
Como exemplo disso pode-se dizer que o turismo global, parques temáticos, grandes centros de entretenimento, bem-estar, moda e culinária, esportes e jogos profissionais, filmes, música, televisão, além naturalmente da educação, estão se tornando rapidamente o centro de um novo ciclo ou período considerado super capitalista que comercializa o acesso a experiências culturais. Aliás, mais de um quarto da população mundial gasta muito dinheiro neste momento acessando experiências culturais, criando assim um novo mundo em que a própria vida de cada pessoa se torna efetivamente um mercado comercial.
Daí se pode observar que estamos embarcando num período em que um número cada vez maior de experiências humanas é comprado na forma de acesso às diversas redes do ciberespaço, nas quais um número cada vez maior de usuários gasta grande parte do seu dia-a-dia, são controladas por algumas poderosas empresas transnacionais da mídia e que, para aumentarem ainda mais o seu porte, estão promovendo um intenso processo de fusões.
Assim, esta absorção da esfera cultural pela comercial indica uma mudança fundamental nas relações humanas com sérias conseqüências para o futuro da sociedade, isto porque, desde os primórdios de nossa civilização até o momento, a cultura sempre precedeu o mercado e agora é o mercado que quer mercantilizar a cultura. Prova disso é o que se encontra recolhido no texto “A crise da cultura”, de Hanna Arendt, publicado no livro Entre o passado e o futuro onde ela afirma que a arte está no caminho do entretenimento.
Se é entretenimento, é efêmero, pois esta é a própria condição do entretenimento e em sendo assim, a questão da memória, da preservação, do tempo necessário para se construir toda uma cultura vai por água abaixo.
As pessoas criam comunidades, desenvolvem códigos de conduta social, partilham valores e edificam a confiança social na forma de capital social.
Somente quando a confiança social e a troca social são bem desenvolvidas é que as comunidades se engajam no comércio e nas transações comerciais, daí ser muito provável que a grande tarefa da próxima era, a do acesso ou das sensações como querem alguns cientistas sociais, seja restaurar um equilíbrio entre âmbito cultural e âmbito comercial.
Os recursos culturais correm inclusive o risco de conhecer uma excessiva exploração e redução nas mãos do comércio, assim como aconteceu com os recursos naturais, muitos hoje em fase de exaustão de suas reservas devido a era industrial, onde o lucro passou a ser o grande objetivo a ser perseguido.
A era do acesso traz também no seu processo de desenvolvimento um novo tipo de ser humano.
A juventude deste início de um novo século, sente-se muito mais à vontade em dirigir negócios e engajar-se em atividades sociais no mundo maravilhoso do comércio eletrônico e adapta-se facilmente aos vários mundos simulados.
O mundo deles, pode-se dizer, é muito mais teatral do que ideológico.
Da mesma forma que a imprensa e a televisão alteraram a consciência humana, principalmente a partir do século passado, o computador provavelmente terá um efeito semelhante na consciência das pessoas e sobretudo dos jovens neste e nos próximos séculos.
É cada vez maior o número de jovens que estão crescendo diante de telas de computador e gastando boa parte de seu tempo em salas de bate papo e ambientes simulados, levando os adolescentes a possuírem estruturas de consciência fragmentadas e transitórias, cada uma delas usada para negociar tudo o que encontrarem no mundo virtual ou em rede, a qualquer momento.
Pais, pedagogos, psicólogos, estão muito preocupados com o fato de que essa atual geração possa começar a viver a realidade como algo um pouco mais do que apenas entretenimento e que lhes venha a faltar uma experiência socializadora que possibilite entender e adaptar-se ao mundo que os rodeia com todas as suas problemáticas.
A defasagem entre gerações está sendo acompanhada também por uma defasagem social e econômica, igualmente profunda.
É grande a parcela da sociedade mundial que ainda é vítima da escassez física e para os pobres ou excluídos - agora tecnológicos e virtuais -, a luta pela sobrevivência continua mais dura ainda, e ter posses é meta cada vez mais distante, maior ainda quando agora o domínio cultural por parte das multinacionais deverá eclipsar mais ainda as fracas identidades culturais de pequenos grupos e algumas poucas nações.
A defasagem, como podemos acompanhar todos os dias pelo noticiário jornalístico e televisivo, entre os que têm posses e os que não têm é enorme, porém entre os conectados e os desconectados é ainda mais acentuada.
Essa separação da sociedade mundial em duas esferas distintas: os que vivem dentro dos portões eletrônicos do ciberespaço e aqueles que vivem do lado de fora dele correspondendo a chamada divisão digital, representa um momento decisivo na História da Civilização.
Quando uma parcela significativa da população já não é mais capaz de se comunicar com outra no tempo e no espaço, a questão do acesso assume um significado político de proporções históricas.
Em conclusão, a grande divisão que se observa cada vez mais, na próxima era, é entre aqueles cujas vidas são conduzidas cada vez mais para o ciberespaço e aqueles que nunca terão acesso a esse novo e poderoso âmbito da existência humana, sendo este quem irá determinar muito das lutas políticas, sociais e econômicas nos próximos anos.
"O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem." Rui Barbosa
Friedrich Nietzsche
quarta-feira, julho 22, 2009
Globalização Cultural - a Pior das Globalizações
Lula a Tom Cavalcante: vamos trazer Ciro para SP. Bye-bye Serra 2010
Amigo navegante mineiro chama a atenção do Conversa Afiada para trecho da colona (*) de Mônica Bergamo, na pág. 2 da seção Ilustrada da Folha:
“O humorista Tom Cavalcante e a mulher, Patrícia, sentam-se ao lado do Presidente Lula … “Precisamos marcar de comer uns caranguejos”, diz Lula a Tom, que pede: “Temos que importar o Ciro Gomes aqui para São Paulo.” “Vamos trazê-lo, sim,” diz Lula.
Lula e Tom estavam na festa dos 50 anos do cardiologista de Lula, Roberto Kalil Filho.
Quem também esteve na festa foi o Zé Pedágio, que exibia uma cara de quem comeu e não gostou – saiba por que a candidatura do Serra naufragou, segundo o Nassif.Parecia que ia fazer um cateterismo a frio … Paulo Henrique Amorim
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(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Fujimori pega 7 anos na terceira condenação. O Farol não foi condenado nem uma vez
Saiu no Estadão Online:
AE-AP – Agencia Estado
Desde que voltou ao Peru, Fujimori já tinha sido condenado a 25 anos de prisão num julgamento e a mais 10, em outro.
Leia a íntegra do texto no Estadão Online:
O Governo do Farol de Alexandria foi o ÚNICO do mundo a apoiar publicamente a terceira eleição de Fujimori..A embaixada do Brasil em Lima era uma extensão do escritório de Vladimiro Montesinos, o espião-chefe de Fujimori, que foi preso pela CIA, porque trocava armas por cocaína da Colômbia..Fujimori renunciou à Presidência por fax e fugiu para o Japão.. Fujimori foi o campeão do neoliberalismo no Peru.. O campeão do neoliberalismo no México, Carlos Salinas de Gortari, fugiu para a Irlanda.. O campeão do neoliberalismo no Chile, Augusto Pinochet, morreu em prisão domiciliar e só não foi para a cadeia porque deu parte de maluco.. O campeão do neoliberalismo na Argentina, Carlos Menem, não pode ver um carro da Polícia que sai a correr.. Aqui, o campeão do neoliberalismo, o Farol de Alexandria, recebe US$ 50 mil por palestra, mais o jatinho alugado.. (E Daniel Dantas está solto …). Paulo Henrique Amorim |
Alô, alô, Jereissati e Sergio Andrade: De Sanctis vai para cima da BrOi
Saiu na revista eletrônica Teletime:
Juiz aceita pedido para investigar a fusão Oi/BrT
O Juiz Fausto Martin De Sanctis aceitou na última quinta, dia 16, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra Daniel Dantas e mais 13 pessoas ligadas ao grupo Opportunity. E, conforme pedido do MPF, determinou a abertura de mais três inquéritos policiais para apurar delitos cuja denúncia não pôde ser oferecida desta vez. Um desses inquéritos será para investigar eventuais delitos cometidos no processo de alienação do controle da Brasil Telecom para a Oi.
O grupo Opportunity, de Daniel Dantas, fazia parte do bloco de controle da Brasil Telecom e da cadeia societária da Oi. Para que o negócio pudesse ser fechado, os compradores negociaram com o Opportunity o fim dos litígios e das investigações por gestão fraudulenta na administração das companhias. São exatamente os pontos levantados pelo Ministério Público para pedir a abertura dos processos. O Opportunity Fund, que era controlador da Brasil Telecom e acionista da Oi, e que teve suas ações adquiridas no processo de fusão, também está sendo investigado em decorrência de crimes contra o sistema financeiro. Durante a Operação Satiagraha, deflagrada contra o Opportunity há pouco mais de um ano, as interceptações telefônicas realizadas com ordem do juiz De Sanctis apontaram para possíveis crimes financeiros na estruturação da operação de fusão no que dizia respeito ao Opportunity. A sede do Angra Partners, gestora dos fundos de pensão e responsável direta pelas negociações com a Oi, também foi alvo de operação de busca e apreensão.
Vá ao site da Teletime
Leia também:
QUEM DAVA $$$ AO PC FARIAS Ermírio de Morais e Sergio Andrade estão na lista
Dantas começa a voltar para a cadeia. De Sanctis aceita denúncia do “valerioduto”
Saiu no JB online:
Juiz aceita denúncia contra Dantas e mais 13 investigados
Portal Terra
DA REDAÇÃO – O juiz federal Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, aceitou a denúncia do Ministério Público Federal
(MPF) contra o banqueiro Daniel Dantas, controlador do grupo Opportunity, e outras 13 pessoas por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.
A denúncia, oferecida no início deste mês, ligou o Opportunity ao suposto esquema do mensalão, afirmando que o grupo financiou o “valerioduto” quando controlava a Brasil Telecom. A acusação do MPF é resultado das investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, que prendeu Dantas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas.
17:46 – 20/07/2009
Leia a íntegra no JB Online.
De Sanctis determinou a liquidação em 48 horas do fundo de Dantas “Opportunity Especial” – fundo de investimento em ações.
De Sanctis saiu de férias…
O “valerioduto” é só o começo dessa conversa.A denúncia do Procurador Rodrigo de Grandis é muito maior.O interessante é que, durante a cobertura do “mensalão” – que ainda está por provar-se -, o PiG (*) se recusava a mencionar o nome de Dantas.Era muito perigoso: o nome de Dantas leva ao colo de Fernando Henrique…E à filha de Serra…Na CPI do “mensalão”, a Bancada Dantas no Congresso, sob o impacto da liderança robusta do senador Heráclito Fortes, quase impediu que Dantas fosse denunciada.Duas senadoras, Ideli Salvatti e Ana Júlia, é que conseguiram, na prorrogação, denunciar Dantas. Isso leva à conclusão de que, mais cedo ou mais tarde, Dantas terá um encontro com o corajoso Ministro Joaquim Barbosa. Leia também: Dantas pode fugir mas não pode se esconder de Barbosa Por que Dantas dava tanto dinheiro ao Marcos valério? Alô, alô, Jereissati e Sergio Andrade: Dantas começa a voltar para a cadeia Paulo Henrique Amorim |
Em tempo: Viva a Operação Satiagraha. Quem disse mesmo que ela não provaria nada?
Em tempo2: Segundo Fernando Henrique Cardoso, Daniel Dantas é “brilhante”
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
Chuíça(*): Serra faz pedágio em mictório (**) do metrô
Saiu no jornal Agora, pág. A4:
“Faltam banheiros para passageiros do metrô (de SP).”
“Na maior parte das estações, os usuários são obrigados a passar pela catraca para encontrar sanitário. Nem todos são gratuitos… Entre as 55 estações das quatro linhas do metrô, 25 têm banheiros em suas proximidades. Todos ficam em áreas de circulação pública, em espaços anexos, como terminais de ônibus. Ou seja, para usar o banheiro, quem já passou pelas catracas só tem a opção de sair e, quando retornar, pagar outra passagem.”
Zé pedágio – aquele que se aproxima celeremente de um naufrágio, segundo o Nassif – é um gênio.Inventou o pedágio de mictório ! Isso é que é ser competente ! Esse pobre repórter do Agora, o Gilberto Yoshinaga, a essa hora da manhã de segunda feira, já deve estar demitido. (O Agora pertence à Folha, onde Serra merece tratamento especial.) Leia o que o Nassif escreveu sobre o que Serra faz com jornalistas que escrevem o que ele não quer: “4. Abandonando qualquer veleidade de inovar na gestão, qual a marca de Serra? Perdeu a de bom gestor, perdeu a do sujeito aberto ao contato com linhas de pensamento diversas (que consolidou na Saúde), firmou a de um autoritário ameaçador (vide as pressões constantes sobre qualquer jornalista que ouse lhe fazer uma crítica).” Paulo Henrique Amorim |
(*)Chuíça é o que o PiG (***) de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.
(**) Serra tem um problema com mictórios. Leia aqui para ver que ele demitiu da Osesp o grande maestro John Neschling, por causa de um mictório
(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista
O caso Lúcio Flávio
Por Marcos P.B.
Lúcio Flávio Pinto
Brasil - Punido em Belém, premiado em São Paulo
20.07.09 - BRASIL
Adital -
Eu devia estar em São Paulo no dia 9 para receber homenagem durante o 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que começaria formalmente nesse dia. Não pude ir por causa da condenação que me foi imposta, três dias antes, pelo juiz Raimundo das Chagas Filho, da 4ª vara cível de Belém, na ação de indenização por dano moral, cumulada com tutela inibitória, proposta contra mim por Romulo Maiorana Júnior e Ronaldo Maiorana, donos do grupo Liberal. Junto comigo, também seria homenageado Paulo Totti, repórter especial do jornal Valor Econômico, que tem base em Porto Alegre.
Lívio, meu filho, me representou e leu a mensagem que mandei para os dirigentes da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), responsável pela realização do congresso. O texto é reproduzido a seguir.
Quatro anos atrás eu devia ir a Nova York para receber um prêmio do Comitê de Proteção aos Jornalistas. Fui escolhido para a honraria como represente do continente americano, numa premiação que abrange todos os quatro continentes. À última, hora tive que mandar minha filha para me representar. Audiências na justiça do Pará, marcadas para a mesma época, não me permitiram me afastar de Belém.
Outras dessas “coincidências” aconteceram em vários momentos, como neste agora. Felizmente, tenho uma família numerosa, para os nossos padrões de classe média, e aqui fala em meu lugar outro filho, o Lívio. No sábado, estarei representado pelo mais novo, o Angelim. Espero não ter que continuar a aumentar a família, à maneira da Bíblia, para dar oportunidade a todos de falarem em meu nome para os colegas de profissão e todos os que se encontram reunidos em solenidades como esta.
Ela deveria ser simplesmente festiva. Um momento de trégua para saudarmos o mais longo período democrático em toda a história de 120 anos da nossa república. Tão pouca república para democracia ainda menor. Há 24 anos não temos violações constitucionais. O recorde anterior, da Quarta República, fora de 19 anos. Mas estamos realmente na plenitude do estado democrático de direito? Temos, de fato, mais do que uma democracia formal? Ou estão nos entretendo com fogos de artifício de liberdade disparados aos céus, enquanto, cá embaixo, pisam nos nossos calos (ou num ponto mais sensível acima)?
Tornei-me jornalista profissional quando a ditadura de 1964 tinha dois anos. Acompanhei de perto seus rastros até o seu fim, em 1985. Durante esse período, fui levado às barras dos tribunais apenas uma vez, enquadrado na terrível Lei de Segurança Nacional. Mas a Auditoria Militar de Belém desqualificou o suposto delito (de opinião) e a justiça comum, ao invés de me condenar, como queriam os perseguidores, reconheceu que eu cumpria meu dever de jornalista e me absolveu, com elogios.
De 1992 até o dia de hoje, no período de mais ampla democracia da história brasileira, já fui processado 33 vezes e condenado quatro. A quinta condenação me apanhou com um pé a caminho de São Paulo, nesta segunda-feira, e me derrubou da escada do avião. Tive que ficar em Belém para tratar da minha defesa contra a decisão do juiz da 4ª vara cível da capital paraense. Ele quer que eu pague 30 mil reais de indenização, mais juros e correção monetária, além de custas judiciais e honorários advocatícios, que arbitrou pelo máximo, de 20% do valor da causa (ou seja, seis mil reais). O juiz não ficou por aí: também me proibiu de voltar a falar de Romulo Maiorana pai, o fundador do maior império de comunicações do Norte do Brasil, afiliado à Rede Globo de Televisão, cuja memória eu teria ofendido com um artigo publicado no meu Jornal Pessoal. Se depender do juiz, não poderei mais falar não apenas do pai, que morreu em 1986, mas também dos seus dois filhos, que propuseram a ação cível de indenização por dano moral, embora Ronaldo Maiorana e Romulo Maiorana Júnior não tenham feito tal pedido na peça inicial do processo. E me impôs a publicação de uma carta, que os dois nunca escreveram, como exercício do direito de resposta.
Depois da leitura da sentença, eu podia ir para o espelho da madrasta da Branca de Neve e me perguntar: sou mesmo um jornalista sério ou achincalho a honra alheia, como disse de mim o juiz Raimundo das Chagas Filho, usando essa expressão, tão pouco judiciosa? Meu jornal integra a imprensa marrom ou amarela? Falo do que não conheço? Informo sem apurar? Não tenho escrúpulos? Então, por que os senhores me homenageiam hoje? Estão consagrando um farsante?
Num dia como o de hoje, em 1997, eu estava ao lado do fórum romano. Era o primeiro cidadãos das Américas a receber o Colombe d’Oro per la Pace, um troféu até então distribuído apenas entre europeus, três deles ao meu lado naquele dia. Comigo, foi distinguido o deputado federal irlandês John Humme, de nome inspirador, que no ano seguinte receberia outro prêmio, o Nobel da Paz. Ao abrir a sessão, o senador Luigi Anderlini, presidente da instituição que criou o prêmio, destacou um fato inusitado: no auditório sentavam-se, vizinhos, pela primeira vez, os embaixadores da Inglaterra e da Irlanda do Norte, unidos no reconhecimento pela luta do deputado Humme em favor da paz naquela conturbada região. O público, emocionado, aplaudiu de pé.
O embaixador brasileiro foi o único a não levar o calor oficial ao representante do seu país. Um funcionário da embaixada tentou se explicar, meio sem jeito. O embaixador Pires do Rio estava ocupado demais. Mas, ao testemunhar a relevância da solenidade, quis consertar, me convidando para almoçar no belíssimo Palácio Pamphili. Não fui, é claro. Soube depois que o embaixador se informara com o Itamaraty sobre a minha pessoa e recebera recomendação de fazer-se ausente. Eu não era confiável ao governo do ex-professor Fernando Henrique Cardoso, nosso príncipe sociólogo, embora os italianos me considerassem em condições de receber a honrosa distinção do prêmio, quebrando o unitarismo europeu.
Continuo a não ser confiável ao poder estabelecido. Tenho o indesejado mau hábito de também não confiar nos poderosos. Só que vou conferir o que eles fazem, a partir da premissa de que fazem mais por si do que pelo povo, que, de alguma maneira, lhes deu o poder que usam - e do qual, em regra, abusam. Tenho feito isso desde que comecei no jornalismo, 43 anos atrás. Busco a verdade, aquela verdade que é relevante para os cidadãos, os mesmos cidadãos que também me conferiram um tantinho de poder, do qual, apesar disso, jamais abusei.
Meu poder deriva da minha inteligência, maior ou menor, o mais democrático dos poderes. O que sei digo por inteiro aos que me lêem ou ouvem. Mas se o que eu disser não corresponder à verdade, ou à sua aproximação mais próxima (se me permitem o pleonasmo), podem me dizer, da forma que acharem conveniente, que estou errado. E eu assumirei a nova verdade. Desde, é claro, que seja convencido sobre ela.
Há quase 22 anos o Jornal Pessoal tem sido um espaço da verdade. Espaço modesto, artesanal, paupérrimo, apesar de o juiz ter atribuído ao meu quinzenário uma riqueza tal, em condições de poder arcar com o valor indenizatório. Esse valor equivale a um ano e meio de faturamento bruto do Jornal Pessoal. Se a sentença fosse aplicada a O Liberal, valeria, no mínimo, 30 milhões de reais. Desse tamanho, seria um golpe de morte, tanto ao jornal rico quanto ao jornal pobre, o que dá uma medida mais exata da intenção dos promotores da ação, que pediram originalmente valor equivalente a 300 salários mínimos.
O Jornal Pessoal tem apenas doze páginas, em formato ofício. Não usa cor nem fotografia. É uma massa de texto. Por tão pouco, custa relativamente caro, três reais. O preço não é suficiente porque sua tiragem é de apenas dois mil exemplares. Mas não é suficiente principalmente porque o jornal nunca aceitou publicidade, oficial ou privada, explícita ou disfarçada. Nem compadrio, nem nepotismo. Sua diretriz é: não aceitamos embromação. Pouco importa se quem fale seja o governador, o empresário, o dono da comunicação ou a bela atriz: tudo que disserem e fizerem será checado, comparado, submetido a teste de consistência e interpretado. Se não gostarem do produto final, podem se manifestar. O Jornal Pessoal é das raríssimas publicações a reproduzir todas as cartas que lhe são enviadas, na íntegra, mesmo aquelas que ofendem o único funcionário da empresa. Mesmo que a ofensa venha na forma de palavrões, como já aconteceu. A carta sai, sempre.
Pequeno, circulando apenas em bancas e livrarias, sem glamour, sem capital, ainda assim o Jornal Pessoal repercute. Outro dia mereceu matéria de página inteira no Los Angeles Times, com chamada de capa. Está no clipping de empresas poderosas, como a Vale do Rio Doce, que é tema constante das suas páginas, sem nunca ter sido desmentido. O Jornal Pessoal erra, mas até agora só errou em pequenas coisas, na maioria das vezes pelo excesso de trabalho do seu redator solitário, que tirou suas últimas férias em 1984, para escrever, nos Estados Unidos, um livro contra um dos ídolos daquele país naquela época, o milionário Daniel Ludwig, que foi dono de um império na Amazônia, o Projeto Jari.
O Jornal Pessoal nunca errou sobre o essencial. E muito menos errou deliberadamente. Ele se arrisca sempre, tentando encontrar a verdade, sobretudo a última verdade, a mais recente, a mais importante, a mais incômoda, aquela que não pode faltar na agenda dos cidadãos, para que eles saibam o que lhes interessa e decidam da melhor maneira possível. Mirando o cotidiano, façam a história. Mesmo que para isso o jornal precise comprar brigas, e brigas enormes e extensas, com aqueles que gostam de manipular a sociedade e fazer de sua vontade e de suas suscetibilidades e veleidades fontes de arbítrio, da verdade utilitária.
A quantidade de processos e de condenações que acumulo desde 1992 é um indicador da razão da existência do jornal, que é uma razão essencial, a exigir que a democracia seja mais do que um retrato decorativo na parede da república, exclusivista e excludente. Mais sintomático ainda é o fato de que dos 33 processos que sofri, 19 sejam da autoria dos donos do grupo Liberal, que se consideram os donos da informação no Pará, senhores da verdade conveniente. Nunca um jornalista foi tão perseguido por uma empresa jornalística, acho eu.
Na origem dessa corporação está um cidadão filho de italianos, Romulo Maiorana, que foi meu amigo e que jamais faria o que seus sucessores estão fazendo, apesar de nossas grandes diferenças, que provocaram certos atritos durante os 13 anos em que trabalhei no jornal dele, ao mesmo tempo em que era correspondente de O Estado de S. Paulo em Belém. Como a Itália é meu segundo país, por afetividade, tenho-a sempre na memória. Ao receber o prêmio em Roma, recitei trecho da Divina Comédia, de Dante, de onde tirei uma expressão para definir a Amazônia pelo que ela se tornou com sua ocupação irracional e destrutiva: a selva selvaggia aspra e forte. No grande poema me inspiro para definir também o que é que pretendem meus perseguidores, aliados a esta instância do poder que precisa da nossa atenção, fiscalização e reflexão: a justiça.
Na entrada do inferno, Dante vislumbrou uma advertência:
“Deixai a esperança, vós que entrais”.
É a placa que os donos do poder querem impor a Belém, ao Pará e à Amazônia, da qual pretendem se assenhorear pelo exercício da violência, da coação e da irracionalidade. Por isso tenho sido tão processado e tão perseguido, a ponto de não poder estar aqui, como pretendia, entre pares e amigos. Mas esses potentados não conseguirão o que pretendem. A verdade nos libertará. Como antes. E como sempre.
Muito obrigado pela generosa lembrança do meu nome e piedosa paciência com as minhas palavras.
fonte :
adital
Inflação em queda
Do Guia Financeiro
FOCUS 02 -
Taxas de inflação permanecem em queda
Apenas IPC-Fipe registrou crescimento, diz estudo
Enquanto as estimativas para o IPCA registram elevação, os dados referentes a outros índices mostram desaceleração na maioria dos casos, segundo o relatório Focus, elaborado pelo Banco Central a partir das estimativas de aproximadamente 100 instituições financeiras.
No caso do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), o indicador manteve sua trajetória de queda pela quinta semana consecutiva, passando de 0,95% para 0,90%.
Segundo o documento, as perspectivas referentes ao mês de julho seguiram em queda pela sexta semana consecutiva, de 0,10% para 0,05%. Para agosto, os dados também foram reduzidos: de 0,29% para 0,25%, a segunda contração consecutiva. O indicador suavizado nos próximos 12 meses desacelerou pela primeira semana, de 4,36% para 4,22%.
Já o IGP-M (Índice Geral de Preços/mercado) estimado para o fim deste ano retrocedeu pela décima primeira semana seguida, de 0,50% para 0,44%.
Na análise mensal, os dados de julho ampliaram a deflação pela segunda semana consecutiva, de -0,13% para -0,15%. Para o mês de agosto, os números desaceleraram pela terceira semana, de 0,22% para 0,20%.
Por outro lado, os dados suavizados nos próximos 12 meses avançaram pela primeira semana, de 3,86% para 3,98%.
Já os números recentes ao IPC-Fipe (Índfice de Preços ao Consumidor Amplo)avançaram pela primeira semana, de 4,10% para 4,11%.
Os dados do índice para julho seguiram estáveis em 0,35% pela terceira semana consecutiva, enquanto os dados de agosto subiram de 0,35% para 0,36% pela primeira semana. Os dados suavizados nos próximos 12 meses avançaram pela primeira semana, de 4,16% para 4,17%.
Para 2010, todos os dados calculados permaneceram estáveis em 4,50%.
Tatiane Correia
Comentário
Segundo o “manual do jurista”, se a inflação estiver caindo, juros altos para impedir que suba.
A substituição tributária
Por galves
Nassif,
Não tem relação direta com o tema, mas retoma um post seu sobre a substituição tributária. Você mais uma vez à frente dos acontecimentos.
(OESP) Empresas vão à Justiça contra fisco paulista
A ampliação do regime de substituição tributária no Estado de SP colocou empresários e entidades de classe em pé de guerra com o governo Serra. Desde o ano passado, 23 novos setores foram incorporados ao sistema, que transfere às empresas o recolhimento do ICMS de um setor, com base em médias de preço. Por outro lado, a sistemática tem revelado alguns efeitos colaterais negativos para a atividade econômica, que resultaram numa onda de ações judiciais e transferência de negócios para outros Estados. O secretário da Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo, atribui o movimento a sonegadores. “De fato, quem sonega está muito chateado com esse regime. Esses podem ir embora de São Paulo mesmo”, dispara ele, destacando que a arrecadação cresceu R$ 3 bi em 2008 por causa do regime. (OESP)
Comentário
Um jornalista da revista Época colocou em seu blog uma crítica à lei anti-fumo, por seu caráter autoritário - não por seus objetivos. Bastaram poucos dias para que fosse acionado o Doutor Dráuzio Varella para acusar os contrários à lei de comprado pela indústria tabagista.
É guerra permanente, para qualquer questionamento que se faça.
Alemanha quer nacionalizar parte do sistema bancário
O governo alemão está preocupado com que a atual escassez de crédito bancário que assola a indústria vá se agravar ainda este ano, e está considerando resolver o problema adquirindo participações forçadas em bancos, à semelhança da política adotada pelas autoridades dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, relatou um jornal alemão na segunda-feira. O plano prevê que os bancos sejam forçados a assumir a ajuda estatal, nacionalizando uma parte deles em troca, noticiou o Süddeutsche Zeitung, citando fontes anônimas. Até agora, tanto a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel e o ministro das Finanças, Peer Steinbrück, rejeitaram tais auxílios obrigatórios e estão permitido aos bancos escolherem se desejam explorar o fundo de estabilização do governo criado no ano passado. Mas analistas da Chancelaria, Ministério das Finanças e da Economia agora concordam que a Alemanha está sob risco de um arrocho de crédito que poderia agravar a recessão, já a mais profunda desde a década de 1930, disse o Süddeutsche.
China alerta para empréstimos imobiliários
O principal regulador bancário da China alertou no domingo para os riscos de ressurgimento dos empréstimos bancários, singularizando os perigos de crescimento insalubre do mercado imobiliário. “(Nós) Devemos controlar o risco de empréstimos imobiliários”, afirmou Liu Mingkang, o chefe da Comissão Reguladora Bancária da China, acrescentando que medidas devem ser tomadas para avaliar melhor a solvabilidade dos mutuários. Liu disse que os empréstimos bancários têm ajudado a estabilizar a economia, mas fez um de seus mais fortes apelos aos bancos, a fim de evitar riscos excessivos. “No primeiro semestre do ano, os empréstimos bancários do nosso país se expandiram rapidamente e ajudaram a desempenhar um papel importante na estabilização da economia, mas o crescimento dos empréstimos levou a um acúmulo dos riscos”, disse em uma declaração no site da Comissão Reguladora Bancária da China. Sua advertência surge após junho de empréstimos atingiu 1,53 trilhão de iuanes (US$ 223,9 bilhões), superior às expectativas dos analistas.
Economias do Báltico afetam bancos suecos
O banco sueco SEB relatou perdas no período de abril a junho, devido à sua exposição às enfraquecidas economias bálticas. O SEB registrou um prejuízo líquido de 193 milhões de coroas (US$ 24,7 milhões), comparado com um lucro de 2,8 bilhões de coroas no mesmo período do ano anterior. O SEB teve uma perda de crédito de 3,6 bilhões de coroas, 74% dos quais foram nos Países Bálticos, e reconheceu uma desvalorização de 2,4 bilhões de coroas nos valores dos seus ativos no Báltico e Rússia. O aprofundamento da recessão nos Países Bálticos pesou fortemente sobre os bancos nórdicos. Os ativos do SEB ficaram altamente expostos a uma possível precipitação em países como a Letónia e a Lituânia, após a rápida expansão nos últimos anos.
A tragédia nordestina
Por Alexandre Leite
Nassif, veja essa matéria do estadão:
Renda maior não alavanca o NE (será)
Estudo inédito da FGV mostra que qualidade de vida não foi beneficiada pelo ganho maior das famílias da região
A renda da população do Nordeste, região mais carente do Brasil, cresceu nos últimos anos impulsionada pelo fortalecimento da economia nacional e pelos programas de transferência de recursos como o Bolsa-Família. O dado negativo é que isso não refletiu em melhora na qualidade de vida das pessoas que apenas sobrevivem nesses Estados e nem contribuiu para um desenvolvimento local sustentável.
[...]
Para se ter noção do atraso em que vive o Nordeste, todos seus integrantes apresentavam em 2001 baixíssimo grau de desenvolvimento (índice abaixo de 25). Em 2007 esse quadro teve relativa melhora, apenas Piauí, Maranhão e Alagoas permaneciam nesse grupo. No caso específico do Piauí e Maranhão, eles eram em 2001 e permaneceram em 2007 como os Estados mais subdesenvolvidos do Brasil, com classificação 11,4 e 15,8 (leia abaixo).
[...]
No caso do Piauí ele partiu em 2001 de um patamar de 2,9 (em uma escala de 0 a 100) para 11,4 em 2007. [...] Em 2003 apenas 46 dos 226 municípios tinham escola de ensino médio. Hoje todas têm.
comentário meu (do Alexandre)
Em seis anos, 6 estados do Nordeste deixaram o “baixíssimo grau de desenvolvimento”; no caso do Piauí praticamente quadruplicou (2,9 para 11,4). Numa leitura simplista, em 6 anos cresceu mais (8,5) do que em toda sua história anterior (2,9).
É claro que são números dramáticos, mas dizer que “não refletiu em melhora na qualidade de vida das pessoas” é um pouco de exagero. Esse dado das escolas de ensino médio no Piauí chega a ser impressionente, pois isso reduz de forma consistente a migração precoce das melhores cabeças.
Assim como o Brasil perde universitários para o mercado internacional, com prejuízos enormes para nossa inteligência profissional, essas cidades perdem crianças motivadas com 9, 10 anos ou pq as famílias migram para as capitais ou pq simplesmente param de estudar.
Emir Sader: Honduras, antes e depois do golpe
por Emir Sader, no seu blog em Carta Maior
O golpe militar contra o presidente Mel Zelaya em Honduras colocou um problema novo para o continente, a partir de velhos procedimentos. Apoiado na unidade das elites dominantes em torno das FFAA, do Judiciário e do Parlamento, foi dado um golpe que tirou do poder a um presidente legalmente eleito, que havia proposto ao país uma Assembléia Constituinte – que incluía o direito a reeleição do atual presidente.
A reação popular de apoio ao presidente deposto foi clara e maciça, ao mesmo tempo que os golpistas conseguiam manter – até agora, pelo menos – a unidade das elites tradicionais, com apoios de setores da população. Ao mesmo tempo, a condenação internacional ao golpe foi unânime, com algumas repercussões no plano econômico – como a suspensão da venda subsidiada de petróleo venezuelano e acordos com o BID, conforme o país foi suspenso da OEA.
Mas a condenação internacional tem se mostrado insuficiente, diante da atitude do governo golpista. Zelaya aceitou as propostas do mediador, o presidente da Costa Rica, mesmo se elas impediriam que ele retomasse a proposta de convocação da Assembléia Constituinte, demonstrando sua disposição de pacificação e deixando claro que a intransigência vem dos golpistas.
Diante do impasse, Zelaya anuncia seu retorno ao país para buscar, pela via da luta de massas – ele fala mesmo de insurreição -, o mandato que lhe foi outorgado pelo povo. Demonstra combatividade e confiança no apoio popular. Pode voltar à presidência de forma similar a que retornou Hugo Chavez.
Uma solução política permitiria que Zelaya ou um candidato diretamente vinculado a ele – fala-se de sua mulher, dado que não existe reeleição na super remendada constituição, agora rasgada pelos golpistas. Zelaya tem o direito de submeter ao povo hondurenho seu governo e as propostas de aprofundamento das reformas que apenas começou a colocar em pratica no país – o suficiente para que as elites tradicionais, responsáveis pela situação de país mais pobre do continente, junto como Haiti, reagissem com o golpe militar.
Para a América Latina, é o momento de mostrar que os tempos mudaram, que tal como a Venezuela inaugurou, os golpes militares serão derrotados pelo povo organizado. O golpe deve abrir um caminho novo em Honduras, cansadas de ser a “republica bananeira”, como foi caracterizada por um escritor norteamericano. Houve um antes e um depois do golpe na Venezuela, deve haver um antes e um depois do golpe em Honduras.
De Arbenz a Zelaya: a Chiquita Inc.[1] na América Latina
Em Honduras, a influência das empresas plantadoras de frutas alcança todas as áreas da vida política e militar do país. Por isso, são chamadas "los pulpos" [os polvos] tantos são os seus longos tentáculos. Não raro, os que não aceitam as imposições das corporações são encontrados mortos nas plantações. Em 1904, O. Henry cunhou a expressão "Banana Republic", para designar a tristemente famosa United Fruit Company e suas ações em Honduras.
17-19/7/2009
por Nikolas Kozloff, em Counterpunch
Traduzido por Caia Fittipaldi
Quando os militares de Honduras derrubaram o governo eleito de Manuel Zelaya há duas semanas, ouviu-se um suspiro de alívio nas salas da Chiquita Inc., grande corporação da plantação e distribuição de frutas. No início de 2009, a empresa, que tem sede em Cincinnati, fez eco às críticas de Dole contra o governo em Tegucigalpa, que aumentara o salário mínimo nacional em 60%. A Chiquita reclamou que as novas leis afetariam seus lucros; que a empresa passaria a gastar em Honduras mais do que na Costa Rica: 20 cents a mais para produzir um engradado de abacaxis e 10 cents a mais, para ser exato, para produzir um engradado de bananas. No total a Chiquita alegou que perderia milhões de dólares por efeito das reformas trabalhistas de Zelaya, dado que a corporação produzia cerca de 8 milhões de engradados de abacaxi e 22 milhões de engradados de bananas por ano.
Imediatamente depois de o novo salário mínimo ser aprovado, a Chiquita procurou apoio junto ao Honduran National Business Council, conhecido pela sigla em espanhol COHEP. Como a Chiquita, o COHEP também estava muito infeliz com o novo salário mínimo aprovado por Zelaya. Amílcar Bulnes, presidente do grupo, imediatamente ameaçou que, se o governo mantivesse o novo salário mínimo, as empresas seriam obrigadas a demitir, o que aumentaria o desemprego no país. Principal organização de empresários de Honduras, o COHEP reúne 60 associações comerciais e câmaras de comércio nas quais estão representados todos os setores da economia de Honduras. (...) Hoje, a opinião do COHEP é que a ONU e a OEA devem enviar observadores a Honduras para que comprovem que o país não suportará sanções. A COHEP apoia o golpe de Estado e o governo de Roberto Micheletti e argumenta que Zelaya não deve voltar ao país, em nome de manter-se a tranquilidade e a paz.
Chiquita: De Arbenz ao "Bananagate"
Não surpreende que a empresa Chiquita procure aliados entre as forças mais retrógradas de Honduras. A Coordinadora Latinoamericana de Sindicatos Bananeros (Colsiba, em http://www.colsiba.org/), que reúne os trabalhadores das plantações de banana na América Latina, tem denunciado que a Chiquita não oferece equipamento de segurança aos empregados e tem-se recusado a assinar acordos trabalhistas coletivos na Nicarágua, Guatemala e em Honduras.
A Colsiba compara as condições de trabalho nas plantações da empresa Chiquita a campos de concentração. É comparação explosiva, à qual não falta boa dose de verdade. As mulheres empregadas nas plantações da Chiquita em toda a América Central trabalham das 6h da manhã às 19h, com grossas luvas de borracha que lhes queimam as mãos. Há trabalho infantil. Os trabalhadores latino-americanos têm tentado denunciar as condições de trabalho impostas pela empresa Chiquita, inclusive a exposição a produtos tóxicos, como o DBCP, pesticida que provoca esterilidade, câncer e defeitos congênitos em bebês.
A Chiquita, sucessora da United Fruit Company and United Brands, tem longa e terrível história política em toda a América Latina. Presidida por Sam “O homem-banana" Zemurray, a United Fruit entrou no negócio de plantar bananas no início do século 20. Zemurray declarou certa vez, em frase que se tornou famosa, que "Em Honduras, gasta-se mais para comprar uma mula, que um deputado do Parlamento." Na década dos 1920s, a United Fruit controlava 650 mil acres da melhor terra de Honduras, praticamente um quarto de toda a terra agricultável. E, ainda mais grave que isso, controlava todas as estradas e vias férreas.
Em Honduras, a influência das empresas plantadoras de frutas alcança todas as áreas da vida política e militar do país. Por isso, são chamadas "los pulpos" [os polvos] tantos são os seus longos tentáculos. Não raro, os que não aceitam as imposições das corporações são encontrados mortos nas plantações. Em 1904, O. Henry cunhou a expressão "Banana Republic", para designar a tristemente famosa United Fruit Company e suas ações em Honduras.
Na Guatemala, a United Fruit financiou e apoiou o golpe militar, feito com participação da CIA, em 1954, contra o presidente Jacobo Arbenz, reformista que havia iniciado um projeto de longo prazo de reforma agrária. A derrubada do governo de Arbenz levou a 30 anos de agitação e guerra civil na Guatemala. Depois, em 1961, a United Fruit emprestou seus barcos para exilados cubanos apoiados pela CIA que tentaram derrubar o governo de Fidel Castro, no que ficou conhecido como "ataque à Baía dos Porcos".
Em 1972, a United Fruit (já sob o novo nome de United Brands) impôs, em Honduras, o governo do general Oswaldo López Arellano. O ditador foi depois substituído, em função de um escândalo de propinas que a United Brands dava a Arellano, que ficou conhecido como "Bananagate". A Corte Suprema acusou a United Brands de subornar Arellano com 1,25 milhão de dólares, suborno acrescido de outro 1,25 milhão, quando o governo reduziu as taxas de exportação de frutas. Durante o Bananagate, o presidente da United Brands morreu, no que se suspeita que tenha sido suicídio, ao cair de um arranha-céu em Nova York.
O "go-go" nos anos Clinton e a Colômbia
A United Fruits também tem negócios na Colômbia, onde age com igual violência há praticamente o mesmo tempo. Em 1928, 3.000 trabalhadores entraram em greve, exigindo da empresa melhor salário e melhores condições de trabalho. A empresa, inicialmente, se recusou a negociar; mais tarde, cedeu a algumas reivindicações secundárias e declarou que as demais seriam "ilegais" ou "impossíveis". Quando os trabalhadores recusaram-se a abandonar a praça onde estavam reunidos, os militares atiraram e mataram centenas.
A Chiquita jamais alterou profundamente qualquer de suas políticas trabalhistas. Mas as coisas tornaram-se ainda mais difíceis no final dos anos 90s, quando a empresa aliou-se a grupos paramilitares de direita. Sabe-se que essas milícias receberam da Chiquita mais de um milhão de dólares. Em sua defesa, a empresa declarou que pagava para receber proteção, aos paramilitares.
Em 2007, a Chiquita pagou 25 milhões de dólares como multa, condenada em processo investigado pelo Departamento de Justiça dos EUA, relacionado àqueles pagamentos a milícias e paramilitares. A Chiquita é a única empresa, em toda a história dos EUA, que foi condenada por manter negócios e relações financeiras com organização identificada como "organização terrorista".
Em processo movido contra a Chiquita, vítimas da violência dos paramilitares declararam que a empresa continua a patrocinar todo o tipo de atrocidades, inclusive o terrorismo, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O advogado das vítimas declarou que o relacionamento entre a empresa Chiquita e os paramilitares "já mostrava sinais claros de produção, distribuição e venda de banana sob regime de terror."
Em Washington, Charles Lindner, presidente da Chiquita, jamais deixou de cortejar a Casa Branca. Lindner sempre foi dos maiores doadores para as campanhas eleitorais dos Republicanos; em certo momento, passou a doar prodigamente também para os Democratas, então empenhados em eleger Bill Clinton. Clinton agradeceu-lhe fazendo de Lindner principal assessor militar do governo de Andrés Pastrana, que presidia então uma Colômbia em que proliferavam os esquadrões da morte. Ao mesmo tempo, os EUA dedicavam-se à implementação de sua agenda neoliberal, de governo pelas corporações econômicas, estratégia que sempre fora defendida por Thomas “Mack” McLarty, amigo de infância de Clinton. McLarty já servira como Enviado Especial para a América Latina. É figura intrigante, à qual voltaremos nos parágrafos seguintes.
A conexão Holder-Chiquita
Considerado o passado da Chiquita na América Central e na Colômbia, não surpreende que a empresa tenha-se aliado à COHEP em Honduras. Além, contudo de unir-se às associações de empresários lobistas hondurenhos, a Chiquita também mantém relações com os mais poderosos escritórios de advocacia de Washington. Segundo o Centro de Defesa da Política com Responsabilidade, a Chiquita pagou 70 mil dólares por serviços de lobby ao escritório Covington & Burling nos últimos três anos.
O escritório Covington & Burling é conhecido por prestar serviços de assessoria a multinacionais. Eric Holder, atual Procurador Geral, que foi co-coordenador geral da campanha de Obama e foi representante do Procurador Geral no Congresso no governo de Bill Clinton foi sócio do escritório até há pouco tempo. O mesmo Holder, quando ainda sócio de C & B, cuidou da defesa da Chiquita quando a empresa foi processada pelo Departamento de Justiça. Em sua sala luxuosa, na nova sede de C & B, a alguns metros do prédio do New York Times em Manhattan, Holder preparou Fernando Aguirre, presidente da Chiquita, para uma entrevista ao programa "60 Minutos" sobre os esquadrões da morte colombianos.
Holder aconselhou o presidente da Chiquita a reconhecer que a empresa foi culpada do crime de "envolver-se em transações com uma específica organização terrorista". Ao mesmo tempo, o advogado, que recebeu mais de dois milhões de dólares como honorários, conseguiu montar com a Corte um acordo 'de irmãos', pelo qual a Chiquita pagaria uma multa de 25 milhões de dólares, parcelados em cinco anos. E nenhum dos executivos acusados que aprovaram todos os pagamentos ao grupo terrorista seria condenado a prisão.
O estranho 'Caso Covington'
Se se examina um pouco mais a fundo essas relações, logo se descobre que o escritório C & B representa a Chiquita e, além disso, opera como uma espécie de elo de conexão pelo qual passam vários movimentos que, todos, visam a impor uma política de direita 'linha dura' na América Latina. É aliança antiga, que já existia no tempo de Kissinger (e de sua ação no Chile, em 1973) e inclui outro escritório, McLarty Associates (sim, do mesmo Mack McLarty dos governos Clinton), empresa que também vendo serviços de consultoria estratégica internacional.
De 1974 a 1981, John Bolton também trabalhou no escritório C & B. Como Embaixador dos EUA na ONU durante o governo Bush (pai), Bolton foi inimigo feroz dos movimentos de esquerda na América Latina, por exemplo na Venezuela. E recentemente, John Negroponte assumiu como vice-presidente do escritório Covington & Burling. Negroponte é ex-representante do Secretário de Estado no Congresso, foi diretor do Serviço Nacional de Inteligência e representante dos EUA na ONU.
De 1981 a 1985, Negroponte foi embaixador dos EUA em Honduras; e teve papel de destaque no apoio aos "Contra" que conspiravam para derrubar o governo sandinista na Nicarágua. Grupos defensores de direitos humanos várias vezes denunciaram Negroponte por ignorar crimes cometidos pelos esquadrões da morte hondurenhos, os quais, como depois se descobriu, eram treinados pela CIA. De fato, no período em que Negroponte serviu como embaixador em Honduras, a embaixada em Tegucigalpa tornou-se uma das maiores bases da CIA na América Latina (o número de funcionários decuplicou).
Até o presente, ainda não há provas que liguem a Chiquita Inc. e seus executivos ao golpe de Estado em Honduras. Mas aí estão, reunidos, vários peso-pesados dos negócios-e-política, todos muito suspeitos, em quantidade suficiente para justificar que as investigações prossigam. Seja o COHEP, seja o escritório Covington & Burling, seja Holder ou Negroponte ou McLarty, a Chiquita Inc. sempre teve amigos poderosos que jamais apreciaram as políticas trabalhistas progressistas do governo Zelaya em Honduras.
[1] "Chiquita Brands International Inc.", nova denominação da "United Fruit Company". Sobre o conglomerado – maior distribuidor de frutas para os EUA –, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Chiquita_Brands_International ou o website de propaganda, em http://www.chiquita.com/
* Nikolas Kozloff é autor de Revolution! South America and the Rise of the New Left Palgrave-Macmillan, 2008). Mantém um blog em senorchichero.blogspot.com
O artigo origimal, em inglês, pode ser lido em:
Águas do PR têm 45 espécies em risco de extinção
A água é um elemento natural dos mais prejudicados pela poluição, o uso em excesso e a falta de cuidado com sua preservação. O sentido do trabalho do Movimento Água da Nossa Gente é a conscientização de que somente tendo a água como um bem comum, acessível a todos e sob responsabilidade coletiva, será possível deter o movimento destrutivo imposto às nossas águas por modelos que não equilibram o de desenvolvimento econômico com o respeito à natureza.
O artigo é publicada por EcoDebate, 20-07-2009.
A situação difícil dos recursos hídricos em nosso país é visível a olho nu nos rios das nossas cidades transformados em esgotos a céu aberto e em mananciais e fontes de água potável destruídos pela ocupação desordenada e a poluição.
Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou um levantamento sobre invertebrados e peixes em extinção no Brasil que trouxe números que confirmam o que observamos cotidianamente em nossas águas. O estudo completa um amplo mapeamento que levantou 632 animais ameaçados de extinção, entre répteis, anfíbios, mamíferos e invertebrados terrestres. Os animais aquáticos são a maioria deste total, com 238 espécies em risco de extinção.
Os estudos do IBGE sobre a fauna ameaçada de extinção têm base em listas do Ibama e foram complementados por informações levantadas em instituições de pesquisas e na literatura especializada. A primeira publicação é de 2006, sobre aves. Em 2007 teve outro sobre mamíferos, répteis e anfíbios. E em 2008, foi sobre insetos e invertebrados, sempre tratando de espécies ameaçadas de extinção.
A publicação lançada agora revela um número bastante alto de espécies aquáticas nesta condição, estando o Paraná entre os estados com mais animais aquáticos ameaçados de extinção, com 45 espécies em risco. No ranking da destruição ocupamos o quinto lugar, atrás apenas de São Paulo, com 86, Rio de Janeiro, com 75, Rio Grande do Sul com 55, e Bahia, com 50.
Os números são ainda mais preocupantes pelo fato de evidentemente se referirem às espécies já conhecidas, isso em um amplo universo ainda pouco estudado. Segundo a bióloga Mônica Brick Peres, do Instituto Chico Mendes, existem no mundo cerca de 30 mil espécies de vertebrados aquáticos, sendo que apenas 4% foram pesquisados.
Falando à imprensa, a coordenadora de Recursos Naturais do IBGE, Lícia Leone Couto, disse que o processo de extinção se deve à poluição das águas, a pesca esportiva e o comércio de peixes ornamentais. Outro fator que demonstra a ação humana destrutiva é a maior ocorrência de extinção de animais em cidades costeiras, onde é grande a atividade de construções imobiliárias.
No interior dos estados, além da pesca predatória e da poluição industrial, contribuem para a ameaça de extinção a falta de defesas mínimas para as águas, como a existência de matas ciliares e reservas naturais, e também a atividade agrícola exercida sem o respeito ao meio ambiente.
Reconstrução da rodovia Porto Velho-Manaus divide o governo, mas já atrai muitos migrantes
Ao longo da carcomida rodovia BR-319, contrastes e nuances da dura realidade se multiplicam em uma das regiões mais preservadas da Amazônia. A meio caminho entre Manaus e Porto Velho, prospera o descontrole sobre a extração ilegal de madeira, a grilagem de terras e o garimpo irregular. E o crônico abandono de moradores seduzidos pelo Estado para povoar a região nos anos 70 soma-se à derrubada de florestas, pecuária clandestina e questões indígenas insolúveis.
A reportagem é de Mauro Zanatta e publicada pelo jornal Valor, 20-07-2009.
As obras de reconstrução da estrada de 870 quilômetros, conduzidas em ritmo lento pelo Exército no trecho já licenciado (até Humaitá), avançam de Rondônia em direção ao coração do Amazonas, onde a BR-319 cruza a lendária Transamazônica. Quase uma picada no meio da floresta em alguns trechos, a 319 corta uma área do tamanho da Espanha e divide o governo federal. O Ibama, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, rejeitou a licença ambiental para o resto da estrada, mas o DNIT, do Ministério dos Transportes, lista argumentos econômicos e sociais para tirar do papel o projeto, incluído como prioridade no PAC. Em 1977, na inauguração, a estrada era toda asfaltada.
Os interesses eleitorais na BR são evidentes. O ministro Carlos Minc (PT) sofre pressão de ONGs ambientalistas para resistir ao cerco do colega Alfredo Nascimento (PR), pré-candidato ao governo do Amazonas. O Valor percorreu, a partir de Porto Velho, 1 mil km no sul do Amazonas - na 319 e na Transamazônica - para registrar os impactos da rodovia sobre a vida de moradores e cidades limítrofes.
Da presença do Estado, há apenas as placas do DNIT e do Exército anunciando "portais" de fiscalização ao longo da estrada. A PM amazonense tem apenas 300 homens para impor a lei em um território duas vezes maior do que o Estado de São Paulo. A Polícia Rodoviária desativou, há dois anos, seu único posto em Humaitá e a Polícia Federal mantém o efetivo a 200 km dali, em Porto Velho.
Longe dos olhos do Estado, a vida segue. Nem mesmo a profusão de buracos e atoleiros de todos os tamanhos, que insinuam as dificuldades para tocar a obra, têm sido obstáculo a uma corrida migratória no sul do Amazonas. Uma "bolha" imobiliária já começou na área de influência da BR e os índios das etnias apurinã e mura querem a demarcação de suas terras antes do avanço das obras.
A forte demanda por madeira embala sonhos na região onde o rebanho bovino supera 1 milhão de cabeças. As obras para garantir Manaus como sede da Copa do Mundo de 2014 estimulam a cobiça.
Haveria demanda para 300 mil m3 de madeira, um negócio de R$ 2 bilhões nos próximos anos. Boa parte dessa matéria-prima deve sair do sul do Estado. Na beira da BR-319, pequenos lotes são vendidos por R$ 200 ou R$ 300. Um projeto de assentamento de 48 mil hectares, situado entre a BR e o caudaloso rio Madeira, começa a receber as 144 famílias escolhidas pelo Incra. O assentamento, ironicamente batizado de Realidade, repete o processo patrocinado pelo regime militar na década de 70.
Mesmo sem licença ambiental, as áreas de até 100 hectares começaram a ser ocupadas. E desmatadas. "Depois de reabrir essa BR, vai chegar mais especulação e vão querer vender os lotes. Na beira da estrada, vai ter corte raso e invasão", prevê a chefe do Incra de Humaitá, Terezinha Leite Barbosa. "Vão pintar e bordar, a não ser que botem um pelotão armado". Indicada há seis anos pelo hoje senador João Pedro (PT-AM), ela lidera nove servidores e aponta grilagem, pressão política e concentração da terra como as chagas da região.
O Incra admite que Realidade repetirá a história fundiária de Santo Antonio do Matupi, uma agrovila do município de Manicoré, no meio da Transamazônica e distante 320 km da BR-319. "Lá, eram 596 famílias no projeto. Mas as pessoas venderam as terras e aquilo já virou um fazendão de 300 mil hectares", diz Terezinha.
Desde 2000 como bispo de Humaitá, o alemão dom Franz Meinrad Merkel defende a BR e resume seu impacto ambiental a "uma questão política" de Brasília. "Se houver fiscalização rigorosa, não tem impacto", diz. "Mas o Estado precisa assumir o controle. Sem isso, a avidez pelo lucro vai prevalecer". O bispo afirma que os fiéis católicos estão aflitos. "Aqui, não há latifundiários. Temos quase um culto à floresta e precisamos dar esse passo para o desenvolvimento", prega.
Mas as florestas de Realidade correm risco. Três serrarias próximas ao vilarejo devem ser reativadas. "Precisamos dessa alternativa para sobreviver. Se não for isso, o que será?", defende o prefeito José Sidnei Lobo (PMDB). Ele promete apoiar a abertura de estradas para os lotes do Incra e cobrar de Manaus as autorizações para exploração seletiva (planos de manejo), paralisadas desde o fim de 2008. Hoje, o Amazonas tem uma fila de 816 planos para 1,2 milhão de hectares. Sem os planos, cresce a extração ilegal. O escritório regional do Ibama avisa não dispor de efetivo para fiscalização, mas pede urgência na aprovação dos manejos. "Sem isso, vão fazer de qualquer jeito", diz o chefe-substituto Francisco Araújo. "Não temos efetivo nem parceria com o órgão estadual. É impossível fazer bem feito".
De fato, alguns caminhões de toras já circulam pela BR. E os carros do Ibama estão no pátio. "Vai ter derrubada, sim. Podemos abrir 20%. E aqui não dá para viver sem plantar", avisa Josimar Santana Brito, 30 anos, vice-presidente da associação de moradores de Realidade. "O extrativismo dá para dois meses. E depois, fazemos o quê?", indaga. O vilarejo de Josimar tem dois bares, cinco igrejas, um "orelhão" movido a bateria solar e algumas casas cobertas de palha. Água encanada e energia chegaram há dois meses. Um cabo de fibra ótica da Embratel margeia a estrada, mas não há carros, posto de saúde nem ambulância. Tudo vem de Humaitá por um desconfortável trajeto de 100 km. São seis ou sete horas na carroceria do único veículo comunitário, um caminhão doado à associação de moradores pelo governo federal. Para desalento local, nem mesmo as duas novas unidades de conservação vizinhas garantiram a presença do Estado. vê imperar a dureza cotidiana.
Todos os dias, famílias inteiras chegam ao vilarejo formado por 60 famílias. O comerciante capixaba Osmar Oliveira da Cunha, 36 anos, gastou R$ 23 mil para erguer um galpão onde devem parar os ônibus da linha que rasgará os 600 quilômetros da BR em direção a Manaus. "Breve hotel e restaurante", diz a placa. Para a esposa e os quatro filhos, Osmar improvisou uma "meia-água" e já trabalha em dez pequenos quartos de alvenaria para futuros viajantes. Evangélico, como boa parte dos moradores, ele toca na igreja e vendeu três casas em ColnizaMatupi para investir no negócio. "Vou colocar até internet aqui", planeja. Ele gastará mais R$ 50 mil na obra e em condicionadores de ar, geladeiras e televisões. Dono de 400 hectares no assentamento, Osmar também quer ganhar com manejo e "aluguel" da floresta. "O governo ainda vai pagar para a gente não desmatar", aposta. (MT) e em
Pioneiro do novo Eldorado regional, o pecuarista goiano João Nogueira Nascimento, 50 anos, comprou algumas áreas e doou 15 hectares para urbanização. "Com essa BR, isso aqui vai explodir de gente. Vamos ter 400 famílias." E aposta que, em "seis ou sete anos", o lugar vira cidade. Dono de 220 bois, diz que a prefeitura construirá mais 60 casas em 40 dias.
Mas promessas e sonhos também causam desilusão. A PM do Amazonas registra um aumento de conflitos agrários e de violência gerada por disputas em garimpos ilegais e no tráfico de drogas pelo rio Madeira. O coronel Daniel Piccolotto, comandante da Regional Sul da PM, critica o Ibama pela proibição do plantio de grãos nos chamados campos naturais da região. "Isso piorou o quadro. Tiraram o arroz e forçaram o produtor a virar madeireiro", analisa. Defensor da BR e das madeireiras, o gaúcho, que tenta impor a lei em uma área duas vezes maior do que o Reino Unido, diz que "só não há tragédias maiores" por causa da dificuldade de acesso na floresta. "A situação hoje na BR é tranquila, mas esse 'meião' vai ser um problema. Fica longe de tudo e não tem controle", diz, apontando no mapa um trecho de 450 km da rodovia sem vilarejos nem ação pública.
O descontrole na região não poupa nem o Exército. O 54º Batalhão de Infantaria de Selva foi obrigado a mudar os controles para evitar a devastação de 45 mil hectares de florestas da União sob sua jurisdição. "Já entraram vários madeireiros lá. Intensificamos as patrulhas e passamos a usar a área para treinar a tropa", diz o coronel Renato Nery. No comando de 600 homens, acha que a BR deve trazer "tráfico de drogas e bandidos", mas ressalva que o asfalto ajudará a romper o isolamento. "Vai ter impacto, vai ter grileiro, mas não podemos condenar as cidades ao congelamento econômico. Não dá para ficar isolado para sempre." Em Humaitá, o Exército também atua como hospital.