As legendas estão em alguns momentos "desconectadas", mas dá para entender a linha geral.
"O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem." Rui Barbosa
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche
sexta-feira, outubro 04, 2013
quarta-feira, outubro 02, 2013
Casal é preso ao tentar enviar celular via pombo ao Presídio Central
02/10/2013 07:04 - Atualizado em 02/10/2013 07:39
Ação foi descoberta porque ave caiu nos fundos da penitenciária de Porto Alegre
Um casal foi preso nessa terça-feira por
tentar enviar um celular por meio de um pombo a um preso no Presídio
Central de Porto Alegre. De acordo com o titular da Delegacia de
Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic),
delegado Eduardo de Oliveira Cesar, a ação foi descoberta quando a ave,
que não teve forças para voar em razão do peso, caiu nos fundos do
penitenciária justamente quando passava uma viatura do Deic, por volta
das 16h15min.
“A ave conseguiu fazer o voo, mas estava bastante volumosa. Foi quando os agentes desconfiaram e encontraram o celular preso ao corpo”, declarou o delegado. Segundo Cesar, a autora da ação foi uma jovem de 21 anos, namorada do preso Wagner Rodrigues, de 19 anos, conhecido como Betinho. O rapaz está preso por tráfico de entorpecentes. A moça estava acompanhada de um amigo do detento, um homem de 35 anos.
Com o casal, os policiais encontraram outro pombo dentro de uma garrafa PET. Na ave, havia uma sacola com dois chips de celular, uma bateria e R$ 427 em dinheiro. Os suspeitos foram presos em flagrante e responderão por crime de ingresso de um telefone celular em um sistema prisional e por crime de maus tratos ao animal. Durante a prisão, os acusados assinaram um Termo Circunstanciado. Conforme o delegado, a pena para as infrações é de três meses a um ano de prisão.
“A ave conseguiu fazer o voo, mas estava bastante volumosa. Foi quando os agentes desconfiaram e encontraram o celular preso ao corpo”, declarou o delegado. Segundo Cesar, a autora da ação foi uma jovem de 21 anos, namorada do preso Wagner Rodrigues, de 19 anos, conhecido como Betinho. O rapaz está preso por tráfico de entorpecentes. A moça estava acompanhada de um amigo do detento, um homem de 35 anos.
Com o casal, os policiais encontraram outro pombo dentro de uma garrafa PET. Na ave, havia uma sacola com dois chips de celular, uma bateria e R$ 427 em dinheiro. Os suspeitos foram presos em flagrante e responderão por crime de ingresso de um telefone celular em um sistema prisional e por crime de maus tratos ao animal. Durante a prisão, os acusados assinaram um Termo Circunstanciado. Conforme o delegado, a pena para as infrações é de três meses a um ano de prisão.
Desperta o Urso - Reconstruindo o Poder Soviético
DefesaNet - 25 de Setembro, 2013 - 09:43
Uma Leitura do Crescimento da Influência Russa e suas Implicações Internacionais
A reestruturação militar russa embute não apenas modernização de equipamentos, mas a adoção de novas táticas e estratégias.
Fabricio Gustavo Dillenburg
Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis
Academia de História Militar Terrestre do Brasil
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul
Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis
Academia de História Militar Terrestre do Brasil
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul
Comunista, ela nunca foi, na precisa acepção da palavra. Permaneceu no âmbito da utopia, num porvir almejado, mas inalcançável. Como capitalismo, também não se manifestou num contexto típico, ocidental, democrático por suposto. Pelo contrário, alimentada durante décadas por uma ilusão de paridade inexistente, ao abrir suas portas para uma economia até então estranha a seus princípios, gerou uma forma de mercado desregulada, que resultou numa verdadeira cleptocracia.
Os poucos que tiveram acesso imediato às facilidades do poder apropriaram-se de bens estatais, materiais ou por concessões de última hora e, à custa de milhares, passaram a usufruir de um estilo de vida inimaginável para a grande maioria.
A União Soviética, por conseguinte, não desapareceu. Transformou-se, sim, mas em certo sentido permanece, em essência, como sempre foi, embora com outra denominação: Rússia.
Nela, como conceito de força e influência, a União Soviética persiste. O engano da destruição da essência soviética teve seu clímax com Gorbachev. Com a Glasnost e a Perestroika, ele foi, em última instância, o responsável direto por um arremedo de abertura democrática que colocou a URSS, literalmente, de joelhos.
Nas comemorações de 1º de maio de 1990, ele teve o questionável mérito de ter sido o primeiro governante soviético a ser ridicularizado e criticado em público. Enfático, contudo, do seu ponto de vista a democracia que proclamava era real; na verdade, era uma ironia que começava na sua própria figura: apesar do discurso, Gorbachev nunca se submeteu ao voto popular. A sua proposta abertura não deu vazão à prosperidade e sua indecisão e desacertos determinaram, rapidamente, seu fim, como político.
Yeltsin, seu substituto, entretanto, tinha em mente alguns objetivos bem claros: abolir o Partido Comunista, desmantelar a já debilitada União Soviética e fazer da Rússia uma potência, através da formação de um estado democrático (à moda russa, obviamente...), capitalista e com sua independência afirmada internacionalmente.
Não demorou a realizar seus intentos. Tornou-se líder inquestionável com uma velocidade avassaladora (quase tão grande quanto sua sede por vodca), agindo pelas costas de Gorbachev, e encerrou a existência oficial da URSS.
Acabou com a superpotência enquanto unidade, mas foi incapaz de alterar definitivamente a lógica intrínseca ao pensamento soviético. Arraigada até os ossos, a mentalidade alimentada por tanto tempo com um silogismo característico ensejaria a oportunidade da criação de uma nova nação, mas com velhas ideias. Eis, pois, o argumento primordial de uma essência notavelmente persistente.
Em fevereiro de 2000, Vladimir Putin iniciou o resgate concreto da URSS: um memorial, resgatando Yuri Andropov, foi inaugurado no prédio da KGB. Em seguida, veio o restabelecimento do hino, a reutilização da bandeira vermelha, das brigadas honoríficas.
Simultaneamente, um processo de fusão de regiões de importância territorial e econômica foi iniciado, visando à criação de um Estado unitário, política e militarmente denso nas considerações de política externa.
A transferência de poder feita em 2008, de Putin para Medvedv, embora representasse, sob certos aspectos, uma tendência à estabilização política, não foi suficiente para demonstrar que a Rússia caminhava para uma abertura democrática de fato. Pelo contrário, décadas serão necessárias para que tal postura seja adotada, se é que será. Para que a democracia se instale sobre as ruínas de um sistema tipicamente ditatorial, como foi o soviético, será necessário que a economia se modernize ainda mais, dando vazão a melhores oportunidades num espectro social mais amplo, e não apenas para alguns poucos grupos privilegiados.
Por outro lado, a modernização do próprio Estado, com a redução progressiva da burocracia, é também um fator de grande importância para a definição do futuro russo. Uma manifestação clara do caminho convergente que a Rússia escolheu, em relação à antiga URSS, é a questão do partido Rússia Unida. O mecanismo de um partido governante onipresente como força organizadora e de liderança sempre foi uma característica soviética¹.
Sob este ponto de vista, a Rússia Unida representa uma força política estabilizadora e agregadora de massa. Seu rápido crescimento (em 2005 já contava com quase um milhão de afiliados) é uma indicação inequívoca de sua importância e influência na política estatal, sobretudo porque em suas fileiras estão oficiais militares de alta patente, intelectuais internacionalmente reconhecidos e outras figuras públicas de grande apelo político. Na prática, o partido possui maioria em mais da metade dos parlamentos regionais e grande número de governadores.
Em outras palavras, a Rússia Unida está presente em todos os níveis de poder, gerenciando a máquina estatal tanto horizontal quanto verticalmente. O partido é, sem sombra de dúvida, a referência ideológica do poder. Putin em muito contribuiu para isso, associando uma imagem intrínseca de força ao Estado e, por decorrência, ao partido. Alguma similaridade com o antigo sistema soviético? Bem nos padrões do Kremlin, esse monopólio do poder, efetivado através do domínio partidário, garantirá transições relativamente tranquilas e uma continuidade fundamental para a completude da estrutura democrática.
Exceto se, por meandros derivados de saudosismos históricos não tão distantes, um dos próximos governantes desviar se para o caminho autoritário, o que, em se falando de Rússia, não é um devaneio remoto. Putin, o mais provável candidato, não o fez (pelo menos, não ainda, abertamente...), mas a ameaça permanece viva, inclusive com seus sucessores: embora os nomes sejam outros, a política e as forças envolvidas nos bastidores continuam as mesmas.
O paradoxo da “democracia controlada”, implantada por Putin, algo compreensível na Rússia por suas raízes históricas, não enfrentou mais do que tímidas críticas do Ocidente, o que garantiu, na prática, o reconhecimento da sua auto concepção como potência político militar.
A aprovação tácita pelos países que poderiam opor-se, de alguma forma, às suas pretensões, deu-se em São Petersburgo, quando a reunião do G8 foi presidida, pela primeira vez, e não por coincidência, pelos russos.
Determinada a colocar-se de igual para igual entre os países ocidentais com influência comprovada, a Rússia demonstrou desde cedo sua disposição através de uma postura agressiva, de parceria ou de concorrência, conforme os obstáculos se apresentavam. Além disso, tratou de estabelecer políticas que garantiam barreiras contra as tentativas de influência que julgava perniciosas para seu modelo de desenvolvimento.
O diálogo, relativamente aberto, com os Estados Unidos da América e com a União Europeia, demonstrou a crescente força econômica derivada, principalmente, da sua gigantesca ênfase na exploração petrolífera e, apesar das discussões crescentes sobre energias alternativas, a Rússia sabe que, na maior parte dos casos, trata-se realmente de discussões, sem consequências práticas, em médio prazo, o que lhe garante fonte de renda estável e a certeza de investimentos por anos a fio.
E, quando as negociações resultarem em projetos viáveis e de grande abrangência para energias limpas, ainda haverá muitos países sedentos pelo ouro negro, dispostos a pagar o preço. Se, nessa perspectiva, há o ponto negativo de deixar sua economia de Estado mais dependente dos preços e variações do mercado mundial (um problema sério, como pudemos observar novamente na crise americana, que se espalhou pelo mundo gerando perdas generalizadas), há o ponto positivo de prover as reservas do Banco Central da Federação Russa com reservas imensas de moeda, com um crescimento médio impressionante nos últimos anos.
A cristalização do imperialismo russo é só uma questão de tempo. Sua postura é a de legítima herdeira do gigantesco ex-império soviético, opinião da qual ela dificilmente será demovida. Os investimentos anunciados na área militar são uma evidência inquestionável a favor de um futuro de imposição, e a base estratégica russa, pragmática ao extremo, não deixa dúvidas de que, o que está sendo projetado e construído, será usado. É apenas uma questão de tempo.
Um exemplo cabal foi o choque com a Geórgia, mais uma operação de sondagem em relação à postura internacional do que, verdadeiramente, uma tentativa de apropriação, de “reunificação” (geopoliticamente falando, do ponto de vista do Kremlin, qualquer ex-território soviético é, substancialmente, território russo).
As eventuais fontes de tensão internas serão reduzidas, senão eliminadas, através de interferência política, aberta ou subterrânea. A simpatia ao regime russo tende a ser secundária, uma vez que seu poder se afirme cada vez mais e sua imponência militar se manifeste com mais veemência. O temor dará, gradualmente, maior importância ao Estado russo, ainda mais com sua aproximação progressiva das potências asiáticas, através de negociações em diversos níveis, e do seu papel de interferência junto a governos que, até bem pouco tempo, eram exclusividade de manipulação dos EUA, como é o caso de alguns países da América Latina. A Rússia caminha inexorável e rapidamente para sua definição de superpotência, em substituição à sua mãe soviética.
Afinal, “genes” históricos não se perdem num processo tão complexo como este. Todas as operações engendradas até o momento mostram que as ex-repúblicas soviéticas tendem, gradativamente, a ficar sob a influência russa, dependendo cada vez mais de seu fornecimento de energia. É uma questão de tempo.
Isso, irremediavelmente, garantirá a lealdade política dessas regiões e garantirá o papel russo como única esfera de influência. O mesmo se aplica às regiões do Báltico, Cáucaso, Ucrânia e Bielo-Rússia, que importam o gás russo e que, progressivamente, vem estreitando relações, principalmente devido à política de preços praticada pelo Kremlin, virtualmente, de barganha.
Trata-se, neste caso, de conseguir uma infiltração sutil e, de forma indireta, o tão necessário apoio internacional. Apesar de muitas áreas estarem progredindo lentamente rumo à independência energética, ainda dependem, em larga escala, do fornecimento constante do Kremlin para que suas economias funcionem plenamente. Aliás, a propósito disso, cabe lembrar que importantes linhas de exportação de gás russo encontram-se no território da Geórgia.
Tão importante é essa relação de dependência, que a Rússia prefere importar gás para equilibrar seu consumo interno do que reduzir suas exportações. Em 2008, foram quase 80 bilhões de metros cúbicos importados. Tudo para manter o balanço do poder.
Por sua vez, pela proximidade e concorrência com a Rússia, o papel do Irã não pode ser subestimado no mercado exportador mundial de gás. Contudo, enquanto a questão nuclear iraniana não for definitivamente esclarecida, a situação manter-se-á relativamente estável, sem maiores riscos para o crescimento russo.
Enquanto isso, o Kremlin negocia armas com o Irã, e outros países do Oriente Médio, revertendo parte do lucro obtido pelos concorrentes, na exportação de gás, para o seu próprio mercado.
As reservas petrolíferas da Rússia são imensas, mas explorar novas fontes exige investimentos pesados. Num futuro próximo, é uma probabilidade considerável que haja o envolvimento maior de capital estrangeiro, ainda que limitado, nessa exploração. Cabe esperar a extensão desses investimentos para que possa ser feita uma avaliação de seu impacto na economia como um todo.
De qualquer forma, com a disponibilidade atual de investimentos, há uma profissionalização das forças militares do país. Desde Yeltsin a reorganização militar vem sendo tentada, através de um programa de reformas previsto para quatro anos, mas que fracassou por falta de planejamento adequado. Em 2000, Putin e seu Ministro da Defesa, Sergei Ivanov, retomaram a tarefa e planificaram mudanças consideráveis, que se completariam em 2010.
Completada essa etapa, novos investimentos foram programados, e o crescimento é notável – e assustador. Entrementes, verificou se que a injeção de dinheiro na área terá que ser maciça, pois que um exército profissional exige estruturas e equipamento diferentes de forças conscritas, o que vem causando certa lentidão no cumprimento de algumas metas estabelecidas, mas sem cortes ou paradas substanciais.
Há, aproximadamente, 1,3 milhões de homens no exército russo, sendo que, desses, mais da metade são soldados. Com a profissionalização das unidades, uma boa parte está sendo dispensada, e o número deverá ser substituído pela qualidade do combatente, incluindo a adoção de sistemas individuais de combate de alta tecnologia (em “parceria” com a França). Os problemas são enormes e, na prática, as unidades estão perdendo mais de um terço de seus efetivos com a reorganização, a maioria sendo dispensada devido a problemas com drogas, alcoolismo e disciplina.
Ainda, para preencher os quadros com pessoal capaz, não há boas perspectivas. As forças armadas são impopulares, mesmo entre desempregados, com o estigma de baixos salários, tratamento inumano e com problemas que perduram por décadas, como a ausência generalizada de infraestrutura para as famílias dos militares, empregos para as esposas, escolas em todos os níveis e seguro social.
O agravante final deu-se nos últimos ajustes econômicos, quando os ralos benefícios que haviam sido adquiridos anteriormente foram extintos: transporte urbano gratuito, cuidados médicos para membros da família, reembolso de despesas com tratamentos clínicos, etc.
O efeito acumulado de todos esses fatores negativos leva a crer que, eventualmente, todos os prazos definidos pelos militares não serão cumpridos, apesar de um plano emergencial de construção estar a pleno vapor. Disponibilizada a infraestrutura necessária, ainda falta a fundamental reversão da mentalidade, a fim de alcançar a prontidão e eficiência almejadas nas tropas de emprego imediato.
Como um paliativo, voluntários de territórios vizinhos, foram incorporados, com atraentes regalias, como a redução do tempo de alistamento de cinco para três anos (prazo que deverá cair para um ano), mas os resultados não foram, até o momento, muito bons. A procura foi baixa e, a qualidade técnica, ficou muito aquém do esperado.
Planos de repatriamento de russos que se encontram no Báltico e em outras áreas, com o oferecimento de notáveis compensações financeiras, também foram relativamente ineficazes, até o momento.
Enganados por Moscou em inúmeras ocasiões, com promessas que nunca se cumpriam, e com padrões de vida melhores do que os que possuíam na Rússia, poucos são os que desejam se aventurar por esse caminho, mais do que incerto.
Apesar disso, mesmo com todas as dificuldades, algumas unidades já se profissionalizaram. As primeiras a serem reorganizadas foram tropas aerotransportadas, como a 76ª e a 98ª Divisões, seguidas de meticuloso planejamento para a migração de tropas especializadas (como o 45º Regimento de Reconhecimento).
Outras tropas permanecem ativas, sendo alimentadas com alistamentos em massa, mas a situação é, evidentemente, de transição, até que as novas unidades estejam devidamente treinadas e equipadas.
Em paralelo, desenvolvem-se novas armas e investimentos em pesquisa militar são incrementados. No âmbito nuclear, o escudo antimíssil proposto pelos Estados Unidos representa uma realimentação das desconfianças oriundas da Guerra Fria, que possivelmente resultará em uma nova corrida armamentista.
A indústria bélica norte-americana, em crise sem precedentes, agradece. A imbecilidade do governo Bush promoveu uma reorganização estratégica russa e abriu caminho para que ações de porte pudessem ser tomadas pelo Kremlin, fornecendo uma justificativa conveniente. Ao fim e ao cabo, o escudo não deverá se concretizar, integral e permanentemente; caso o faça, abrirá uma nova era de problemas para toda a Europa, primariamente, e, em escala global, como efeito colateral, moldará novas relações de poder a partir de investimentos na área de vetores nucleares e de dispositivos para sua interceptação.
A postura eventual da França em apoiar a Rússia, ainda que deva ser vista com grande desconfiança, mostra o nível de preocupação europeu. A construção de um escudo antimíssil conjunto entre EUA e Rússia, empiricamente sugerido, é ilusória e fugaz, e a França tem plena consciência disso. Entretanto, convém a ela manter as relações, com ambos os países, intactas, enquanto analisa melhor a situação e busca tirar dela o máximo de vantagens, seja com a volumosa venda de equipamentos militares, seja com a ampliação de sua influência política, junto aos países satélites que estão envolvidos na discussão.
O discurso russo, numa mescla única de capitalismo, nacionalismo autoritário e socialismo, anuncia mais investimentos pesados na construção e atualização de defesas aeroespaciais e na revitalização da frota de submarinos nucleares, parte de um novo plano de renovação com prazo de término em 2020.
Trata-se de uma resposta às pretensões norte-americanas, uma demonstração de poder que pode ter sérias consequências, em longo prazo. O aumento exponencial dos gastos militares pode gerar uma crise semelhante à que a corrida espacial e a corrida armamentista provocaram na URSS. A situação é outra, os tempos são outros; os perigos, os mesmos.
A Rússia reserva-se o direito de manter sua hegemonia como potência, e não abrirá mão disso. Não há dúvidas a propósito. Para concretizar seus objetivos, ela vai agir como agiria a União Soviética, talvez com uma camada cosmética, a mais, de diplomacia. Ela é, em essência, a própria União Soviética, ciente de suas possibilidades e com a vantagem histórica do conhecimento dos erros que seu antecessor a progenitor cometeu. Habilitar-se a enfrentar o urso russo não será o desejo de nenhum país, ainda que isso sirva como Leitmotif para que ele possa cometer absurdos sob o nariz do direito internacional.
E, como a ONU representa, hoje, o mesmo papel que a Liga das Nações representou no passado, mostrando-se cada vez mais ineficiente e manipulável, medíocre em suas atitudes como mediadora internacional, a tendência é a de que os maiores continuem engolindo os menores.
A gritaria resultará, no máximo, em uma dor de cabeça, mas dificilmente acabará em confronto entre potências, enquanto forem respeitados os limites tácitos estabelecidos entre elas. Simplesmente, porque não vale a pena defender os interesses dos menores, enquanto cada um dos grandes estiver obtendo os lucros planejados. O risco, em relação aos ganhos em jogo, é grande demais.
Por isso, a questão não é se a manifestação imperialista russa vai acontecer, como a norte-americana acontece, mas quando.
Quem viver verá.
- x -
Notas:
1 Tão importante é esta afirmação, que é um desafio lembrarmos os presidentes da URSS. O que conhecemos (e reconhecemos como líderes atuantes), na prática, são os nomes dos Secretários Gerais do Partido.
2 Não apenas a grande resistência dos materiais, mas as próprias características tecnológicas dos equipamentos russos (soviéticos...) colocaram em xeque muitas análises de conceituados especialistas ocidentais, sobretudo quando o desmonte da União Soviética trouxe à luz muitas armas, até então, desconhecidas em sua plenitude.
Por falta de compreensão da doutrina militar soviética e suas aplicações, por muito tempo houve a tendência de subestimar sua indústria bélica, em oposição às “maravilhas” ocidentais, principalmente norte-americanas.
1 Tão importante é esta afirmação, que é um desafio lembrarmos os presidentes da URSS. O que conhecemos (e reconhecemos como líderes atuantes), na prática, são os nomes dos Secretários Gerais do Partido.
2 Não apenas a grande resistência dos materiais, mas as próprias características tecnológicas dos equipamentos russos (soviéticos...) colocaram em xeque muitas análises de conceituados especialistas ocidentais, sobretudo quando o desmonte da União Soviética trouxe à luz muitas armas, até então, desconhecidas em sua plenitude.
Por falta de compreensão da doutrina militar soviética e suas aplicações, por muito tempo houve a tendência de subestimar sua indústria bélica, em oposição às “maravilhas” ocidentais, principalmente norte-americanas.
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O Autor: Fabricio Gustavo Dillenburg tem formação em História e é fundador e responsável pelo Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis.
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, é autor de “Kamikaze: as Invasões Mongóis e as Origens do Vento Divino”.
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, é autor de “Kamikaze: as Invasões Mongóis e as Origens do Vento Divino”.
segunda-feira, setembro 30, 2013
A Síria está sendo depredada por bandidos
AFP
Em dois anos o contrabando de obras antigas para fora da Síria aumentou 10 vezes. Os peritos preveem que, se o processo não for parado o mais rápido possível, essa herança cultural poderá ser perdida para sempre para a Humanidade.
Segundo cálculos preliminares, durante o conflito armado na Síria, ficaram seriamente danificados ou destruídos muitos monumentos históricos, parte dos quais era considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO, enquanto a maioria dos artefatos, laboriosamente recolhidos pelas expedições arqueológicas dos últimos 150 anos, foram vendidos no mercado negro dos países vizinhos da Síria.
Já há um ano os peritos tinham avisado da possibilidade de se perder patrimônio cultural da Humanidade e do aparecimento da “arqueologia paralela”. Nessa altura a direção do país prometeu fazer tudo o que fosse possível para conservar o patrimônio, mas hoje já se tornou evidente que as autoridades não estão em condições de garantir a sua segurança. Desde os seus primeiros dias o conflito armado atraiu a atenção dos profissionais do contrabando que não se detêm perante nada para a obtenção de proveito, diz o presidente do Instituto do Oriente Médio Evgueni Satanovsky:
“Não é uma coincidência a presença de milhares de militantes, incluindo os que já estiveram nas zonas de extensas pilhagens do Iraque, do Afeganistão e da Líbia. Nos anos da luta de libertação da ditadura de Kadhafi, da ditadura de Saddam ou da ditadura de Najibullah, foram pilhados praticamente todos os museus nacionais e parques arqueológicos. É a presença deste tipo de profissionais em território sírio que lhes dá possibilidades extremamente alargadas para abastecer o mercado mundial da “arqueologia paralela”.
A delapidação do patrimônio artístico e cultural durante os períodos de operações militares e de conflitos armados é um fenômeno que, além de se ter tornado constante, já é de certa forma habitual. Continua por apurar o destino dos monumentos da Babilônia depois da guerra do Iraque, é impossível calcular a escala dos roubos na Líbia, enquanto os tesouros do Egito continuam a ser roubados por saqueadores. O comércio de antiguidades sírias já está atingindo uma escala sem precedentes, o seu volume já ultrapassou os dois bilhões de dólares.
O conflito na Síria já dura desde março de 2011. Até hoje na Síria foram destruídas total ou parcialmente 11 necrópoles das épocas romana, paleocristã e do califado árabe, o castelo de Aleppo, datado do século X, e muito mais. Durante este período, segundo informações das autoridades sírias, morreram cerca de oito mil pessoas, mais de 20 mil segundo os dados da ONU.
O mesmo aconteceu no Iraque. Várias relíquias históricas "desapareceram" e foram contrabandeadas para as mãos de colecionadores particulares. Alguns falam até em museus do Ocidente.
Netanyahu aux Etats-Unis pour rétablir la «vérité» israélienne face à l'Iran
Par RFI Article publié le : lundi 30 septembre 2013 à 10:20 - Dernière modification le : lundi 30 septembre 2013 à 11:57
Le Premier ministre israélien Benyamin Netanyahu lors d'une conférence de presse avec John Kerry à Jérusalem, le 15 septembre 2013.
REUTERS/Larry Downing
Benyamin Netanyahu est en déplacement aux Etats-Unis pour tenter de contrer « l'offensive de charme » de l'Iran. Le Premier ministre israélien doit rencontrer ce lundi soir Barack Obama à Washington. Demain, il s'exprimera à l'Assemblée générale des Nations unies. Israël est l'un des rares pays à adopter une position très ferme envers l'Iran, malgré le changement de ton opéré ces derniers jours par les dirigeants iraniens.
Avec notre correspondante à Jérusalem, Murielle Paradon
Avant de décoller pour les Etats-Unis, Benyamin Netanyahu a déclaré qu'il partait pour « dire la vérité face aux flots de belles paroles » qui ont coulé ces derniers jours. « C'est dans l'intérêt du monde et d'Israël », selon le Premier ministre.
Un Netanyahu qui n'a eu de cesse de critiquer ces derniers jours le président iranien, qualifiant son discours à l'ONU de cynique et d'hypocrite.
Il tentera donc de convaincre Barack Obama ce lundi soir, puis les pays des Nations unies, demain, de ne pas relâcher la pression sur l'Iran. De maintenir les sanctions contre le pays.
Mais pour beaucoup de journaux israéliens, la tâche du Premier ministre s'annonce difficile, car il est isolé.
En effet, contrairement à l'an dernier, où il avait fait son petit effet en dessinant une bombe à la tribune de l'ONU, avec une ligne rouge à ne pas franchir, cette année il sera le dernier à s'exprimer, après une semaine très fructueuse pour l'Iran.
Netanyahu voudrait bien apparaître, tel Churchill, comme l'homme qui prévient le monde d'un danger imminent, souligne certains journaux, mais il risque d'être marginalisé, et d'apparaître comme l'homme qui va à contre-courant de l'histoire.
■ VU D'ISRAËL : les Israéliens partagés
Benyamin Netanyahu ne croit pas du tout en un revirement de la position iranienne sur le nucléaire, comme 78% des Israéliens selon un sondage. Les Israéliens se sentent-ils d'ailleurs vraiment menacés par l’Iran ? Reportage à Jérusalem de notre correspondante, Murielle Paradon.
Mali: nouvelles tensions à Kidal entre le MNLA et l'armée malienne
Par RFI Article publié le : lundi 30 septembre 2013 à 13:35 - Dernière modification le : lundi 30 septembre 2013 à 15:45
L’un des 7 check point à l’entrée de Kidal, contrôlé par les casques bleus de la Minusma
Claude Verlon / RFI
Depuis dimanche, la tension est de nouveau vive à Kidal où des tirs ont été entendus ces deux derniers jours. Tôt ce lundi matin, les habitants de la ville ont entendu des coups de feu en provenance du centre où la veille des membres du MNLA avaient eu maille à partir avec l’armée malienne. Il s’agit des premiers affrontements de ce type dans la ville du Nord depuis plusieurs mois.
A Kidal, la situation est redevenue calme ce lundi à la mi-journée. Mais ce matin, vers 6 heures les combattants MNLA et les forces militaires maliennes ont échangé à nouveau des coups de feu dans le quartier de la BMS. La Banque malienne de solidarité a rouvert il y a peu dans la ville et sa sécurité était, jusque-là, assurée par des troupes maliennes.
Ces accrochages ont vite gagné d'autres quartiers de la ville. D'après plusieurs sources, des tireurs embusqués s'étaient installés sur les toits des maisons ou dans des ruelles dans plusieurs quartiers. Les populations sont restées terrées chez elle toute la matinée jusqu'à l'arrivée des forces françaises Serval. Selon nos informations, les Français sont arrivés sur place accompagnés de responsables du MNLA. Ils ont réussi ainsi à calmer les esprits et chacun est retourné dans son camp de cantonnement. Le MNLA évoque un premier bilan de 3 blessés.
Quant à la Minusma, la Mission de l’ONU pour la sécurisation du Mali, selon un de ses responsables militaires sur place, elle a pris en charge ce matin la sécurisation de la banque. Des coups de feu ont aussi été tirés au passage d'une patrouille française à leur arrivée dans la ville. Preuve que la tension est grande. Kidal ressemble depuis plusieurs jours à une cocotte minute après la grenade tirée en fin de semaine dernière et l'explosion dans un ancien dépôt du Programme alimentaire mondial (PAM). Les Nations unies demandent aux deux parties de retourner au plus vite autour de la table des négociations.
Situation tendue à Tombouctou
Autre source d’inquiétude, la ville de Tombouctou où il y a eu une attaque-suicide samedi. Une attaque revendiquée ce lundi par al-Qaïda au Maghreb islamique (Aqmi) comme l’annonce le site mauritanien Alakhbar. Un porte-parole non identifié du mouvement jihadiste, se présentant comme appartenant au bataillon Emirat du désert, explique que le véhicule des deux kamikazes transportait plus d'une tonne d'explosif. Le véhicule a pu entrer dans le centre de la caserne de l'armée malienne faisant 16 morts parmi les militaires maliens, et plusieurs blessés.
Le communiqué d'Aqmi ajoute que l'attentat a aussi entrainé d’importants dégâts matériels au sein de la caserne. Il a annoncé la publication prochaine d'un autre communiqué. A propos du bilan, le gouvernement malien a affirmé de son côté que cet attentat-suicide avait provoqué la mort de quatre kamikazes, de deux civils. Il annonce que sept soldats ont aussi été blessés.
As armas químicas e os dadores de lições: Pequena pedagogia do horror
resistir info - 29 set 2013
1. Camus, 17/09/2013, www.agoravox.fr/...
2. www.courrierinternational.com/... The Guardian , 13/09/2013
3. Fabrice Nicolino, fabrice-nicolino.com/index.php/?p=1608
4. Massimo Fini, www.agoravox.fr/... , mai 2013
5. Thierry Meyssan, resistir.info/moriente/gas_israelense.html , 2013
6. Jean Shaoul, www.mondialisation.ca/...
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...
por Chems Eddine Chitour
"Não compreendo estas reticências quanto ao uso do
gás. Sou fortemente favorável à utilização
do gás tóxico contra as tribos bárbaras... O efeito moral
será bom. Será difundido um terror permanente..."
Sir Winston Churchill a propósito dos rebeldes curdos. |
O mérito de Churchill é ter sido franco. Ele não tinha
qualquer estado de alma em gazear populações e insurge-se contra
aqueles que estão contra isso. Explica-lhes que não há
razão uma vez que são tribos bárbaras que se deve
desmoralizar pelo terror. De passagem, Winston Churchill sem estados de alma
sabe que fala do terror, mas apesar disso persiste e assina. Nesta
contribuição para descrever os factos, vamos falar dos
justiceiros actuais que impõem uma doxa ocidental. Ela repousa, como nos
bons velhos tempos, sobre o feito do príncipe – príncipes,
pode-se dizer – e da carta oficial determinando o destino dos
aldeões, uma versão actual da expedição punitiva a
que os socialistas eram particularmente afeiçoados ao ponto de dela usar
e abusar. Isto aconteceu desde Guy Mollet, que partia em guerras com a sua
cúmplice, a pérfida Albion (e com a incontornável Israel),
sempre que se tratasse de por na ordem os árabes, até a
"punição" prometida à Síria por
Hollande, o cavaleiro destemido e sem mácula, frustrado por não
poder se destrinçar sem a protecção do guarda-chuva
americano.
A história da utilização das armas químicas
Descrevemos numa contribuição anterior a história da utilização das armas químicas remontando aos fogos gregos que um certo Callinicus havia desenvolvido. O fogo grego baseava-se na associação de um comburante, o salitre, com as substâncias combustíveis, como as resinas. Bem mais tarde, é a Alemanha que utiliza primeiro as armas químicas em 1915-17: cloro líquido e fosgénio, depois gás vesicatório e asfixiante de mostarda (ou iperite). Em resposta, a Grã-Bretanha e a França produziram também elas este gás letal. O gás nervin Tabun, que provoca a morte por asfixia, foi descoberto em 1936 por investigadores da sociedade alemã I.G. Farben. Em 1930, a Itália utiliza armas químicas na Líbia e em 1936 na Etiópia.
Os países ocidentais que lançam urros de escândalo, devem lembrar-se que foram eles os inventores e os vendedores destas armas de morte trágica. Camus escreveu a propósito em Agoravox: "(...) Quanto à tragédia do gaseamento da aldeia curda de Halabja em 1988, conviria sem dúvida recuperar do esquecimento o que escrevia Barry Lando, da cadeia americana CBS, em Le Monde de 27/Outubro/2005, que era preciso recordar "que as armas químicas iraquianas eram fornecidas principalmente por sociedades francesas, belgas e alemãs, cujos engenheiros e químicos sabiam exactamente o que Saddam preparava. E que os Estados Unidos haviam anteriormente fornecido a Saddam imagens de satélite que lhe permitiam atacar as tropas iranianas com armas químicas". [1]
Quando Winston Churchill aprovava o gás de combate
Antes de se tornar o ícone da resistência ao nazismo, lê-se numa contribuição publicada no Guardian, Winston Churchill foi um fervoroso defensor do império britânico e um anti-bolchevique convicto. Ao ponto de preconizar o recurso aos gases que haviam sido o terror das trincheiras. (...) Churchill, então secretário de Estado da Guerra, afasta os seus escrúpulos com um gesto de mão. Desde há muito partidário da guerra química, está decidido a servir-se dos gases contra os bolcheviques na Rússia. Durante o Verão de 1919, 94 anos antes do ataque devastador na Síria, Churchill prepara e faz lançar um ataque químico de envergadura. Não foi a primeira vez que os britânicos recorreram ao gás de combate. No decorrer da terceira batalha de Gaza [contra os otomanos] em 1917, o general Edmund Allenby mandou atirar 10 mil obuses com gases asfixiantes sobre as posições inimigas. Entretanto, foi desenvolvido um novo gás extremamente tóxico, o difenilaminecloroarsine, descrito como "a arma química mais eficaz já concebida" [2]
Em 1919 Winston Churchill, então secretário de Estado da Guerra, decide utilizar os grandes meios. Lemos o que escreveu Camus: "Um programa executado ao pé da letra pelo tenente-coronel Arthur Harris que foi louvado nestes termos: "Os árabe e os curdos sabem agora o que significa um verdadeiro bombardeamento... Em 45 minutos somos capazes de arrasar uma aldeia e de matar ou ferir um terço da sua população". Vinte e cinco anos mais tarde, Winston Churchill, fiel a si mesmo, defendia ideias quase idênticas a propósito do Reich nacional-socialista (...) Acrescentemos por honestidade que a utilização britânica dos ataques aéreos com gás mostarda (iperite), nomeadamente em Suleimanié, no Curdistão, junto à fronteira iraniano-iraquiana, em 1925 – um ano após a assinatura do Protocolo de Genebra proibindo "o emprego na guerra de gases asfixiantes, tóxicos ou semelhantes e de meios bacteriológicos" – não foi uma prática totalmente isolada: os espanhóis no Rif marroquino [1921-1927] e os japoneses na China não se privaram de a eles recorrerem". [1]
A França e seu "savoir-faire" nas armas químicas
Tal como todos os países ocidentais, a França desenvolveu de modo intenso os gases de combate, nomeadamente a partir da Primeira Guerra Mundial. O seu know-how foi exportado para vários países. Apesar de todas as convenções assinadas, ela manteve na Argélia uma base de experimentações. Fabrice Nicolino escreveu a respeito: "A França gaullista esqueceu as armas químicas de B2 Namous . A França socialista esqueceu os 5000 mortos de Halabja. Em 16 de Março de 1988, Mirages made in France lançam sobre a cidade curdo-iraquiana de Halabja foguetes cheios de um cocktail de gás sarin, tabun e mostarda. 5000 mortos. (...) A urgência é apoiar Saddam Hussein, raïs do Iraque, contra os mulás de Teerão. E que se saiba, nem uma palavra de Hollande, nesse tempo um dos peritos do Partido Socialista. É verdade que tão cedo eles não darão explicações sobre a base secreta B2 Namous, antiga base de experimentação de armas químicas & bacteriológicas (...) De Gaulle tem a obsessão que se sabe: pela grandeza, pela potência. A nossa primeira bomba atómica explode em 13 de Fevereiro de 1960 na região de Reggane, no centro de um Saara então o francês. O que é menos conhecido é que o poder gaullista negocia a seguir com a Argélia de Ahmed Ben Bella para conservar no Saara bases militares secretas. Os ensaios nucleares franceses, passados a subterrâneos, continuaram no Hoggar, próximo de In Ecker, até 1966. A França assinou em 1925 uma convenção internacional proibindo a utilização de armas químicas, mas o que valem os pedaços de papel? Entre 1921 e 1927, o exército espanhol trava uma guerra de pavor químico contra os insurrectos marroquinos do Rif. E sabe-se agora que a virtuosa França havia formado os "técnicos" e vendido fosgénio e iperita Madrid. [2]
Fabrice Nicolino fala-nos a seguir dos acordos de Evian que permitem à França manter bases militares que eles devolveram no seu estado natural. "Além de Reggane e In Ecker, B2 Namous, um polígono de 60x10 quilómetros ao Sul de Béni Ounif, não longe da fronteira marroquina. Numa nota do estado-maior francês pode-se ler: "As instalações de B2-Namous foram realizadas com o objectivo de efectuar tiros reais de obuses de artilharia ou de armas de saturação como produtos químicos tóxicos persistentes, ensaios de bombas de aviação, pulverizações de agressivos químicos e ensaios biológicos". Em 1997, o ministro da Defesa Alain Richard declara: "A instalação de B2 Namous foi destruída em 1978 e devolvida ao estado natural". Em Fevereiro de 2013, o jornalista de Marianne, Jean-Dominique Merchet, revela que um acordo secreto foi concluído entre a França e a Argélia. Ele trata da despoluição de B2 Namous, "devolvida ao estado natural" trinta anos antes". [3]
A utilização de armas químicas pelos Estados Unidos
É impossível descrever as numerosas circunstâncias nas quais foram utilizadas armas químicas. Que nos basta informar a filosofia do maior apologista destas armas do horror. "Decididamente, lê-se no Agoravox pela pena de Camus, se fosse preciso estabelecer distinções abstrusas entre mortos despedaçados sob bombas convencionais ou asfixiados com gás de nervos. E depois os anglo-americanos deveriam começar por lavar a sua roupa suja ao invés de brincar de indignados e de santos inocentes. (...) Não foi Washington que se dedicou a uma impiedosa guerra química no Vietname entre 1961 e 1971 com pulverizações maciças – 80 milhões de litros – de Agente Laranja, um desfolhante com dioxina? Foram 2,1 a 4,8 milhões os vietnamitas afectados por este composto altamente mutagénicos cujos efeitos se fazem sentir ainda hoje". [1]
Massimo Fini interroga-se por sua vez quanto à autoridade moral dos Estados Unidos: "(...) Mas o que eu gostaria de compreender é de onde exactamente vem esta autoridade moral dos Estados Unidos que se permitem traçar "linhas vermelhas" sobre a utilização de armas químicas. Foram eles, contudo, que em 1985 abasteceram Saddam então no poder e em luta contra os iranianos, e a seguir contra os curdos. (...) Aquando da guerra contra a Sérvia, os EUA utilizaram bombas de urânio empobrecido. (...) Imagina-se facilmente o efeito deste "urânio empobrecido" sobre os civis sérvios e sobretudo sobre as crianças que andam a 1 metro do solo e estão habituadas a tocar tudo. Em 2001, para capturar Ben Laden, os americanos submergiram as montanhas do Afeganistão sob bombas de urânio e o ministro da Defesa, Donald Rumsfeld, declarou que "para apanhar os terroristas, nós utilizaremos também gases tóxicos e armas químicas". Vêem-se hoje os resultados. Um camponês afegão, chamado Sadiay, conta: "Um ataque da NATO destruiu a minha casa, matou minha mulher e três dos meus filhos. Mas quando vi nascer meu sobrinho sem braços e sem pernas, então compreendi que os americanos nos haviam roubado até o nosso futuro". [4]
O segredo dos gases israelenses
"Foram, escreve Thierry Meyssan, as investigações israelenses sobre as armas químicas e biológicas que historicamente pressionaram a Síria a rejeitar a Convenção proibindo armas químicas. É a razão porque a assinatura por Damasco deste documento arrisca-se a revelar a existência, e eventualmente o prosseguimento, de investigações sobre armas selectivas destinadas a matar apenas populações árabes. (...) Um documento da CIA descoberto recentemente revela que Israel também desenvolveu seu próprio arsenal de armas químicas. Responsáveis da informação em Washington estimam que o Estado judeu fabricou e armazenou secretamente armas químicas e biológicas desde há décadas para completar seu presumido arsenal nuclear. Num relatório secreto da CIA de 1983: Satélites espiões americanos detectaram em 1982 "uma fábrica produtora de gás químico e uma unidade de armazenagem no deserto do Negev". [5]
Para Jean Shaoul, a condenação pelos Estados Unidos da utilização de armas químicas não se aplica a Israel. Ele escreve: "Contudo,nenhuma obrigação moral desta espécie é mencionada em relação a Israel, país que detém o mais importante stock de armas químicas, biológicas e nucleares no Médio Oriente e que é o único Estado a não ter assinado o tratado de não proliferação nuclear. Como revelou o sítio web Foreign Policy em 9 de Setembro, não só os Estados Unidos sabem desde há dezenas de anos da existência das armas químicas israelenses como tem mantido silêncio a respeito. Não se trata simplesmente de Israel possuir um importante arsenal de armas químicas. Israel serviu-se delas contra os palestinos na Cisjordânia e em Gaza, contra o Líbano e Gaza durante os assaltos militares de 2006, e durante a operação "Chumbo endurecido" em Gaza em 2008-2009. (...) Um protocolo da convenção de 1980 sobre as armas convencionais proíbe a utilização do fósforo branco enquanto arma incendiária (...) O relatório do inquérito da ONU, o relatório Goldstone, reafirmou as conclusões de numerosos inquéritos internacionais respeitados, confirmado a utilização desproporcionada por Israel da força sobre os palestinos, e as acusações de crime de guerra contra Israel e o Hamas assim como "prováveis crimes contra a humanidade" incluindo a utilização de fósforo branco por Israel. Ali se afirma que as forças israelenses comportaram-se de modo "sistematicamente irresponsável" na sua utilização de fósforo branco nas zonas construídas, citando o ataque israelense contra o edifício da Agência de Cuidados de Saúde da ONU na cidade de Gaza, o ataque ao hospital Al Quds e ao hospital Al Wafa. [6]
Fala-se frequentemente da "Pax Americana" para designar a ordem resultante da hegemonia dos Estados Unidos. Esta posição de força não é uma garantia de equilíbrio e de paz à escala mundial. É assim que os Estados Unidos intervêm de modo crónicos em defesa dos seus interesses estratégicos. Pela história, isso começou em 1846: Guerra americano-mexicana, em que anexam a Califórnia. Foi também, sem ser exaustivo, a Guerra da Coreia (1950-1953), do Vietname (1968-1975). Isso continuou no período recente após a guerra do Vietname onde centenas de toneladas de agentes químicos laranja foram dispersos criando a morte e a desolação durante dezenas de anos, será a sequência da Guerra do Iraque (2003), o folhetim iraquiano da democracia aerotransportada à razão de dezenas de mortos por dia não se encerrou com o enforcamento desumano de Saddam Hussein. Em 2011 foi o saqueio da Líbia e o linchamento abjecto de Kadafi. No total, sessenta e seis intervenções externas, na maior parte sangrentas".
Charles de Gaulle escrevia na sua época que "as armas torturaram mas também moldaram o mundo. Elas cumpriam o melhor e o pior, dando nascimento ao infame e também à maior grandeza, alternativamente cravada no horror ou brilhante na glória. Vergonhosa e magnífica, sua história é aquela dos homens". A guerra de todos contra todos nunca é limpa, é de facto o fracasso da palavra desarmada que é a empatia para com a miséria dos fracos. Seguramente, a humanidade corre para a sua perda.
A história da utilização das armas químicas
Descrevemos numa contribuição anterior a história da utilização das armas químicas remontando aos fogos gregos que um certo Callinicus havia desenvolvido. O fogo grego baseava-se na associação de um comburante, o salitre, com as substâncias combustíveis, como as resinas. Bem mais tarde, é a Alemanha que utiliza primeiro as armas químicas em 1915-17: cloro líquido e fosgénio, depois gás vesicatório e asfixiante de mostarda (ou iperite). Em resposta, a Grã-Bretanha e a França produziram também elas este gás letal. O gás nervin Tabun, que provoca a morte por asfixia, foi descoberto em 1936 por investigadores da sociedade alemã I.G. Farben. Em 1930, a Itália utiliza armas químicas na Líbia e em 1936 na Etiópia.
Os países ocidentais que lançam urros de escândalo, devem lembrar-se que foram eles os inventores e os vendedores destas armas de morte trágica. Camus escreveu a propósito em Agoravox: "(...) Quanto à tragédia do gaseamento da aldeia curda de Halabja em 1988, conviria sem dúvida recuperar do esquecimento o que escrevia Barry Lando, da cadeia americana CBS, em Le Monde de 27/Outubro/2005, que era preciso recordar "que as armas químicas iraquianas eram fornecidas principalmente por sociedades francesas, belgas e alemãs, cujos engenheiros e químicos sabiam exactamente o que Saddam preparava. E que os Estados Unidos haviam anteriormente fornecido a Saddam imagens de satélite que lhe permitiam atacar as tropas iranianas com armas químicas". [1]
Quando Winston Churchill aprovava o gás de combate
Antes de se tornar o ícone da resistência ao nazismo, lê-se numa contribuição publicada no Guardian, Winston Churchill foi um fervoroso defensor do império britânico e um anti-bolchevique convicto. Ao ponto de preconizar o recurso aos gases que haviam sido o terror das trincheiras. (...) Churchill, então secretário de Estado da Guerra, afasta os seus escrúpulos com um gesto de mão. Desde há muito partidário da guerra química, está decidido a servir-se dos gases contra os bolcheviques na Rússia. Durante o Verão de 1919, 94 anos antes do ataque devastador na Síria, Churchill prepara e faz lançar um ataque químico de envergadura. Não foi a primeira vez que os britânicos recorreram ao gás de combate. No decorrer da terceira batalha de Gaza [contra os otomanos] em 1917, o general Edmund Allenby mandou atirar 10 mil obuses com gases asfixiantes sobre as posições inimigas. Entretanto, foi desenvolvido um novo gás extremamente tóxico, o difenilaminecloroarsine, descrito como "a arma química mais eficaz já concebida" [2]
Em 1919 Winston Churchill, então secretário de Estado da Guerra, decide utilizar os grandes meios. Lemos o que escreveu Camus: "Um programa executado ao pé da letra pelo tenente-coronel Arthur Harris que foi louvado nestes termos: "Os árabe e os curdos sabem agora o que significa um verdadeiro bombardeamento... Em 45 minutos somos capazes de arrasar uma aldeia e de matar ou ferir um terço da sua população". Vinte e cinco anos mais tarde, Winston Churchill, fiel a si mesmo, defendia ideias quase idênticas a propósito do Reich nacional-socialista (...) Acrescentemos por honestidade que a utilização britânica dos ataques aéreos com gás mostarda (iperite), nomeadamente em Suleimanié, no Curdistão, junto à fronteira iraniano-iraquiana, em 1925 – um ano após a assinatura do Protocolo de Genebra proibindo "o emprego na guerra de gases asfixiantes, tóxicos ou semelhantes e de meios bacteriológicos" – não foi uma prática totalmente isolada: os espanhóis no Rif marroquino [1921-1927] e os japoneses na China não se privaram de a eles recorrerem". [1]
A França e seu "savoir-faire" nas armas químicas
Tal como todos os países ocidentais, a França desenvolveu de modo intenso os gases de combate, nomeadamente a partir da Primeira Guerra Mundial. O seu know-how foi exportado para vários países. Apesar de todas as convenções assinadas, ela manteve na Argélia uma base de experimentações. Fabrice Nicolino escreveu a respeito: "A França gaullista esqueceu as armas químicas de B2 Namous . A França socialista esqueceu os 5000 mortos de Halabja. Em 16 de Março de 1988, Mirages made in France lançam sobre a cidade curdo-iraquiana de Halabja foguetes cheios de um cocktail de gás sarin, tabun e mostarda. 5000 mortos. (...) A urgência é apoiar Saddam Hussein, raïs do Iraque, contra os mulás de Teerão. E que se saiba, nem uma palavra de Hollande, nesse tempo um dos peritos do Partido Socialista. É verdade que tão cedo eles não darão explicações sobre a base secreta B2 Namous, antiga base de experimentação de armas químicas & bacteriológicas (...) De Gaulle tem a obsessão que se sabe: pela grandeza, pela potência. A nossa primeira bomba atómica explode em 13 de Fevereiro de 1960 na região de Reggane, no centro de um Saara então o francês. O que é menos conhecido é que o poder gaullista negocia a seguir com a Argélia de Ahmed Ben Bella para conservar no Saara bases militares secretas. Os ensaios nucleares franceses, passados a subterrâneos, continuaram no Hoggar, próximo de In Ecker, até 1966. A França assinou em 1925 uma convenção internacional proibindo a utilização de armas químicas, mas o que valem os pedaços de papel? Entre 1921 e 1927, o exército espanhol trava uma guerra de pavor químico contra os insurrectos marroquinos do Rif. E sabe-se agora que a virtuosa França havia formado os "técnicos" e vendido fosgénio e iperita Madrid. [2]
Fabrice Nicolino fala-nos a seguir dos acordos de Evian que permitem à França manter bases militares que eles devolveram no seu estado natural. "Além de Reggane e In Ecker, B2 Namous, um polígono de 60x10 quilómetros ao Sul de Béni Ounif, não longe da fronteira marroquina. Numa nota do estado-maior francês pode-se ler: "As instalações de B2-Namous foram realizadas com o objectivo de efectuar tiros reais de obuses de artilharia ou de armas de saturação como produtos químicos tóxicos persistentes, ensaios de bombas de aviação, pulverizações de agressivos químicos e ensaios biológicos". Em 1997, o ministro da Defesa Alain Richard declara: "A instalação de B2 Namous foi destruída em 1978 e devolvida ao estado natural". Em Fevereiro de 2013, o jornalista de Marianne, Jean-Dominique Merchet, revela que um acordo secreto foi concluído entre a França e a Argélia. Ele trata da despoluição de B2 Namous, "devolvida ao estado natural" trinta anos antes". [3]
A utilização de armas químicas pelos Estados Unidos
É impossível descrever as numerosas circunstâncias nas quais foram utilizadas armas químicas. Que nos basta informar a filosofia do maior apologista destas armas do horror. "Decididamente, lê-se no Agoravox pela pena de Camus, se fosse preciso estabelecer distinções abstrusas entre mortos despedaçados sob bombas convencionais ou asfixiados com gás de nervos. E depois os anglo-americanos deveriam começar por lavar a sua roupa suja ao invés de brincar de indignados e de santos inocentes. (...) Não foi Washington que se dedicou a uma impiedosa guerra química no Vietname entre 1961 e 1971 com pulverizações maciças – 80 milhões de litros – de Agente Laranja, um desfolhante com dioxina? Foram 2,1 a 4,8 milhões os vietnamitas afectados por este composto altamente mutagénicos cujos efeitos se fazem sentir ainda hoje". [1]
Massimo Fini interroga-se por sua vez quanto à autoridade moral dos Estados Unidos: "(...) Mas o que eu gostaria de compreender é de onde exactamente vem esta autoridade moral dos Estados Unidos que se permitem traçar "linhas vermelhas" sobre a utilização de armas químicas. Foram eles, contudo, que em 1985 abasteceram Saddam então no poder e em luta contra os iranianos, e a seguir contra os curdos. (...) Aquando da guerra contra a Sérvia, os EUA utilizaram bombas de urânio empobrecido. (...) Imagina-se facilmente o efeito deste "urânio empobrecido" sobre os civis sérvios e sobretudo sobre as crianças que andam a 1 metro do solo e estão habituadas a tocar tudo. Em 2001, para capturar Ben Laden, os americanos submergiram as montanhas do Afeganistão sob bombas de urânio e o ministro da Defesa, Donald Rumsfeld, declarou que "para apanhar os terroristas, nós utilizaremos também gases tóxicos e armas químicas". Vêem-se hoje os resultados. Um camponês afegão, chamado Sadiay, conta: "Um ataque da NATO destruiu a minha casa, matou minha mulher e três dos meus filhos. Mas quando vi nascer meu sobrinho sem braços e sem pernas, então compreendi que os americanos nos haviam roubado até o nosso futuro". [4]
O segredo dos gases israelenses
"Foram, escreve Thierry Meyssan, as investigações israelenses sobre as armas químicas e biológicas que historicamente pressionaram a Síria a rejeitar a Convenção proibindo armas químicas. É a razão porque a assinatura por Damasco deste documento arrisca-se a revelar a existência, e eventualmente o prosseguimento, de investigações sobre armas selectivas destinadas a matar apenas populações árabes. (...) Um documento da CIA descoberto recentemente revela que Israel também desenvolveu seu próprio arsenal de armas químicas. Responsáveis da informação em Washington estimam que o Estado judeu fabricou e armazenou secretamente armas químicas e biológicas desde há décadas para completar seu presumido arsenal nuclear. Num relatório secreto da CIA de 1983: Satélites espiões americanos detectaram em 1982 "uma fábrica produtora de gás químico e uma unidade de armazenagem no deserto do Negev". [5]
Para Jean Shaoul, a condenação pelos Estados Unidos da utilização de armas químicas não se aplica a Israel. Ele escreve: "Contudo,nenhuma obrigação moral desta espécie é mencionada em relação a Israel, país que detém o mais importante stock de armas químicas, biológicas e nucleares no Médio Oriente e que é o único Estado a não ter assinado o tratado de não proliferação nuclear. Como revelou o sítio web Foreign Policy em 9 de Setembro, não só os Estados Unidos sabem desde há dezenas de anos da existência das armas químicas israelenses como tem mantido silêncio a respeito. Não se trata simplesmente de Israel possuir um importante arsenal de armas químicas. Israel serviu-se delas contra os palestinos na Cisjordânia e em Gaza, contra o Líbano e Gaza durante os assaltos militares de 2006, e durante a operação "Chumbo endurecido" em Gaza em 2008-2009. (...) Um protocolo da convenção de 1980 sobre as armas convencionais proíbe a utilização do fósforo branco enquanto arma incendiária (...) O relatório do inquérito da ONU, o relatório Goldstone, reafirmou as conclusões de numerosos inquéritos internacionais respeitados, confirmado a utilização desproporcionada por Israel da força sobre os palestinos, e as acusações de crime de guerra contra Israel e o Hamas assim como "prováveis crimes contra a humanidade" incluindo a utilização de fósforo branco por Israel. Ali se afirma que as forças israelenses comportaram-se de modo "sistematicamente irresponsável" na sua utilização de fósforo branco nas zonas construídas, citando o ataque israelense contra o edifício da Agência de Cuidados de Saúde da ONU na cidade de Gaza, o ataque ao hospital Al Quds e ao hospital Al Wafa. [6]
Fala-se frequentemente da "Pax Americana" para designar a ordem resultante da hegemonia dos Estados Unidos. Esta posição de força não é uma garantia de equilíbrio e de paz à escala mundial. É assim que os Estados Unidos intervêm de modo crónicos em defesa dos seus interesses estratégicos. Pela história, isso começou em 1846: Guerra americano-mexicana, em que anexam a Califórnia. Foi também, sem ser exaustivo, a Guerra da Coreia (1950-1953), do Vietname (1968-1975). Isso continuou no período recente após a guerra do Vietname onde centenas de toneladas de agentes químicos laranja foram dispersos criando a morte e a desolação durante dezenas de anos, será a sequência da Guerra do Iraque (2003), o folhetim iraquiano da democracia aerotransportada à razão de dezenas de mortos por dia não se encerrou com o enforcamento desumano de Saddam Hussein. Em 2011 foi o saqueio da Líbia e o linchamento abjecto de Kadafi. No total, sessenta e seis intervenções externas, na maior parte sangrentas".
Charles de Gaulle escrevia na sua época que "as armas torturaram mas também moldaram o mundo. Elas cumpriam o melhor e o pior, dando nascimento ao infame e também à maior grandeza, alternativamente cravada no horror ou brilhante na glória. Vergonhosa e magnífica, sua história é aquela dos homens". A guerra de todos contra todos nunca é limpa, é de facto o fracasso da palavra desarmada que é a empatia para com a miséria dos fracos. Seguramente, a humanidade corre para a sua perda.
25/Setembro/2013
1. Camus, 17/09/2013, www.agoravox.fr/...
2. www.courrierinternational.com/... The Guardian , 13/09/2013
3. Fabrice Nicolino, fabrice-nicolino.com/index.php/?p=1608
4. Massimo Fini, www.agoravox.fr/... , mai 2013
5. Thierry Meyssan, resistir.info/moriente/gas_israelense.html , 2013
6. Jean Shaoul, www.mondialisation.ca/...
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...
A Síria e os mercenários lituanos: Os preparativos de uma nova provocação
resistir info - 28 set 2013
[NR] Šiauliai: A quarta maior cidade da Lituânia.
O original encontra-se em www.strategic-culture.org/
por Nikolai Malishevski
Não é segredo que a Lituânia abrigou em Šiauliai
[NR]
alguns corajosos companheiros da NATO, cuja tarefa era patrulhar os
espaços aéreos da Lituânia, Letónia e
Estónia. Logo no dia seguinte após a chegada dos rapazes da NATO,
o hospitaleiro povo de Šiauliai, obviamente para celebrar, atacou-os e
sovou-os. O sangue dos machucados correu no solo lituano. Assim, pode-se
justificadamente argumentar que a integração entre a
Lituânia e a NATO é uma amizade selada com sangue.
O ataque às tropas da NATO não foi um incidente isolado. Ataques semelhantes repetem-se periodicamente em todos os estados europeus membros da aliança, os quais também permutam tropas periodicamente. Lituanos étnicos têm sido sovados ao visitarem soldados da NATO – na Bélgica, Dinamarca, Grã-Bretanha e outros países – mais de uma vez... Até foi escrita uma anedota que resume as razões disso e o rácio de atacantes e atacados na Lituânia: "Por que você atacou primeiro?", pergunta um oficial a uma dúzia de soldados da NATO que foram sovados por três lituanos durante a noite. Os soldados da NATO responderam: "Nós pensámos que havia apenas dois deles, mas de repente surgiu um terceiro".
Segundo uma declaração do Comissário Geral de Polícia da Lituânia, Vytautas Grigaravicius, os ataques a soldados da NATO "são uma das consequências do consumo de álcool", o qual em comparação com os preços ocidentais custa praticamente nada na Lituânia de hoje. Contudo, os problemas enfrentados pela NATO como guardiã dos céus do Báltico não se limitam apenas a ataques e a um consumo excessivo de álcool barato. Na Lituânia, onde a população está a cair dramaticamente após o colapso da URSS mas a prostituição está a tornar-se um "negócio" legal, eles também experimentam grave discriminação por parte das damas da noite locais. O mesmo Comissário Geral de Polícia queixou-se a jornalistas de que as prostitutas lituanas estavam a vender-se a soldados da NATO a uma taxa inflacionada de mais de três vezes do que o normal. Isto obviamente é pura discriminação, tendo em conta que a lista de serviços oferecidos pelas prostitutas permanece a mesma.
Enquanto soldados da NATO se divertem com prostitutas lituanas (embora a um preço super inflacionado), os compatriotas destas prostitutas estão a preparar-se para ir à guerra e já combatem pelos interesses da aliança muito para além das fronteiras da sua pátria. Isto recorda um facto histórico esquecido do mundo antigo: na Antiga Roma, mercenários homens eram comparados a prostitutas mulheres, pois ambos vendiam seus corpos.
Depois de se tornar membro da NATO, a Lituânia imediatamente começou a aumentar o número das suas tropas no exterior – a solidariedade euro-atlântica pedia isso. O então presidente do país, Valdas Adamkus, que por acaso tem tanto a cidadania estado-unidense como a lituana e era fã das tropas da NATO, aprovou um resolução especial para prolongar o envolvimento de lituanos em "operações especiais" no Golfo Pérsico, nos Balcãs e na Ásia Central e do Sul. Ele aparentemente acreditava ser melhor combater maus muçulmanos no seu próprio país do que bons soldados da NATO em casa.
Durante muitos anos, centenas de rapazes lituanos têm sido recrutados para "operações de paz" e têm sido mortos em pontos quentes como o Iraque , Kosovo e Afeganistão . Neste momento, americanos estão a organizar o recrutamento na Lituânia de mercenários a despachar para a Síria. Companhias de segurança privada (CSP) na Lituânia estão envolvidas directamente no esforço de recrutamento. Estas companhias já se distinguiram na sua selecção de pessoal ao participar na condução de exercícios militares da NATO na Lituânia, bem como em negócios executados pelos americanos no Afeganistão através da Lituânia. Companhias americanas de segurança privada, habituadas a executar o trabalho sujo de agências de segurança tanto em "pontos quentes" como durante ataques terroristas no próprio solo americano, também estão a ser utilizadas.
Altas taxas de desemprego e baixo padrão de vida na Lituânia, especialmente entre a população russa, estão a criar um clima favorável ao alistamento. Basta mencionar que mesmo de acordo com os números oficiais, claramente subestimados, do Departamento Lituano de Estatística, este nível é tal que na década passada a população do país caiu em mais de 10 por cento e continua a cair. Depois de receberem seu pagamento inicial, muitos mercenários lituanos, que por alguma razão acreditam serem capazes de sobreviver na Síria, concordam em receber o resto do dinheiro após o início do seu contrato.
Em meados de Setembro, aproximadamente 50 mercenários lituanos foram seleccionados e estão prontos para embarcar em voos fretados da Lituânia para a Turquia junto com um pequeno grupo de turistas. É dada preferência a pessoas entre 25 e 40 anos de idade que executaram serviços militares contratados em exércitos ocidentais. Forças operacionais especiais, engenheiros militares, engenheiros de rádio e electricidade e condutores de camiões pesados são os mais procurados. Por outras palavras, especialistas que possam ser utilizados tanto em acções militares como em situações pós conflito sob a égide da ocupação e de autoridades fantoche (para entrega de abastecimentos, salvaguardar instalações críticas e especialistas ocidentais, ajudar na criação e treino de corpos policiais, etc).
Tal como as coisas estão agora, por um lado Washington aparentemente procura um acordo com Moscovo em relação ao Quadro de Entendimento russo-americano sobre a liquidação de armas químicas da Síria o qual exclui intervenção militar, enquanto por outro lado está a treinar carne de canhão para uma invasão militar e pessoal de serviço para o resultante regime de ocupação num país "libertado" de autoridades legítimas.
Dentre aqueles procurados na Lituânia para alistamento, eles querem pessoas que possam falar russo fluentemente e tenham tanto a cidadania lituana como russa... É bastante possível que com o tempo o Ocidente "descubra" um facto sensacional quanto ao "envolvimento de voluntários da Rússia" juntamente com rebeldes sírios no combate por direitos humanos. Isto no mínimo toldaria relações entre Damasco e Moscovo; e no máximo enfraqueceria a frente internacional de apoio à Síria.
Mesmo se a verdade acerca das vítimas da próxima provocação preparada se tornarem conhecidas do público geral na Lituânia, sempre será possível explicar ao eleitorado lituano que isto é o preço por fazer parte da civilização global e dos valores humanos universais. Ou, ainda mais fácil: recordar que a morte de uma pessoa é uma tragédia, ao passo que a morte de muitos é uma estatística.
O ataque às tropas da NATO não foi um incidente isolado. Ataques semelhantes repetem-se periodicamente em todos os estados europeus membros da aliança, os quais também permutam tropas periodicamente. Lituanos étnicos têm sido sovados ao visitarem soldados da NATO – na Bélgica, Dinamarca, Grã-Bretanha e outros países – mais de uma vez... Até foi escrita uma anedota que resume as razões disso e o rácio de atacantes e atacados na Lituânia: "Por que você atacou primeiro?", pergunta um oficial a uma dúzia de soldados da NATO que foram sovados por três lituanos durante a noite. Os soldados da NATO responderam: "Nós pensámos que havia apenas dois deles, mas de repente surgiu um terceiro".
Segundo uma declaração do Comissário Geral de Polícia da Lituânia, Vytautas Grigaravicius, os ataques a soldados da NATO "são uma das consequências do consumo de álcool", o qual em comparação com os preços ocidentais custa praticamente nada na Lituânia de hoje. Contudo, os problemas enfrentados pela NATO como guardiã dos céus do Báltico não se limitam apenas a ataques e a um consumo excessivo de álcool barato. Na Lituânia, onde a população está a cair dramaticamente após o colapso da URSS mas a prostituição está a tornar-se um "negócio" legal, eles também experimentam grave discriminação por parte das damas da noite locais. O mesmo Comissário Geral de Polícia queixou-se a jornalistas de que as prostitutas lituanas estavam a vender-se a soldados da NATO a uma taxa inflacionada de mais de três vezes do que o normal. Isto obviamente é pura discriminação, tendo em conta que a lista de serviços oferecidos pelas prostitutas permanece a mesma.
Enquanto soldados da NATO se divertem com prostitutas lituanas (embora a um preço super inflacionado), os compatriotas destas prostitutas estão a preparar-se para ir à guerra e já combatem pelos interesses da aliança muito para além das fronteiras da sua pátria. Isto recorda um facto histórico esquecido do mundo antigo: na Antiga Roma, mercenários homens eram comparados a prostitutas mulheres, pois ambos vendiam seus corpos.
Depois de se tornar membro da NATO, a Lituânia imediatamente começou a aumentar o número das suas tropas no exterior – a solidariedade euro-atlântica pedia isso. O então presidente do país, Valdas Adamkus, que por acaso tem tanto a cidadania estado-unidense como a lituana e era fã das tropas da NATO, aprovou um resolução especial para prolongar o envolvimento de lituanos em "operações especiais" no Golfo Pérsico, nos Balcãs e na Ásia Central e do Sul. Ele aparentemente acreditava ser melhor combater maus muçulmanos no seu próprio país do que bons soldados da NATO em casa.
Durante muitos anos, centenas de rapazes lituanos têm sido recrutados para "operações de paz" e têm sido mortos em pontos quentes como o Iraque , Kosovo e Afeganistão . Neste momento, americanos estão a organizar o recrutamento na Lituânia de mercenários a despachar para a Síria. Companhias de segurança privada (CSP) na Lituânia estão envolvidas directamente no esforço de recrutamento. Estas companhias já se distinguiram na sua selecção de pessoal ao participar na condução de exercícios militares da NATO na Lituânia, bem como em negócios executados pelos americanos no Afeganistão através da Lituânia. Companhias americanas de segurança privada, habituadas a executar o trabalho sujo de agências de segurança tanto em "pontos quentes" como durante ataques terroristas no próprio solo americano, também estão a ser utilizadas.
Altas taxas de desemprego e baixo padrão de vida na Lituânia, especialmente entre a população russa, estão a criar um clima favorável ao alistamento. Basta mencionar que mesmo de acordo com os números oficiais, claramente subestimados, do Departamento Lituano de Estatística, este nível é tal que na década passada a população do país caiu em mais de 10 por cento e continua a cair. Depois de receberem seu pagamento inicial, muitos mercenários lituanos, que por alguma razão acreditam serem capazes de sobreviver na Síria, concordam em receber o resto do dinheiro após o início do seu contrato.
Em meados de Setembro, aproximadamente 50 mercenários lituanos foram seleccionados e estão prontos para embarcar em voos fretados da Lituânia para a Turquia junto com um pequeno grupo de turistas. É dada preferência a pessoas entre 25 e 40 anos de idade que executaram serviços militares contratados em exércitos ocidentais. Forças operacionais especiais, engenheiros militares, engenheiros de rádio e electricidade e condutores de camiões pesados são os mais procurados. Por outras palavras, especialistas que possam ser utilizados tanto em acções militares como em situações pós conflito sob a égide da ocupação e de autoridades fantoche (para entrega de abastecimentos, salvaguardar instalações críticas e especialistas ocidentais, ajudar na criação e treino de corpos policiais, etc).
Tal como as coisas estão agora, por um lado Washington aparentemente procura um acordo com Moscovo em relação ao Quadro de Entendimento russo-americano sobre a liquidação de armas químicas da Síria o qual exclui intervenção militar, enquanto por outro lado está a treinar carne de canhão para uma invasão militar e pessoal de serviço para o resultante regime de ocupação num país "libertado" de autoridades legítimas.
Dentre aqueles procurados na Lituânia para alistamento, eles querem pessoas que possam falar russo fluentemente e tenham tanto a cidadania lituana como russa... É bastante possível que com o tempo o Ocidente "descubra" um facto sensacional quanto ao "envolvimento de voluntários da Rússia" juntamente com rebeldes sírios no combate por direitos humanos. Isto no mínimo toldaria relações entre Damasco e Moscovo; e no máximo enfraqueceria a frente internacional de apoio à Síria.
Mesmo se a verdade acerca das vítimas da próxima provocação preparada se tornarem conhecidas do público geral na Lituânia, sempre será possível explicar ao eleitorado lituano que isto é o preço por fazer parte da civilização global e dos valores humanos universais. Ou, ainda mais fácil: recordar que a morte de uma pessoa é uma tragédia, ao passo que a morte de muitos é uma estatística.
27/Setembro/2013
[NR] Šiauliai: A quarta maior cidade da Lituânia.
O original encontra-se em www.strategic-culture.org/
Do derrubamento de Mossadegh à ofensiva contra a Síria
resistir info - 27 set 2013
por Miguel Urbano Rodrigues
Recordar os acontecimentos do Irão há 70 anos ajuda a compreender
a atual estratégia dos EUA para o Médio Oriente.
O discurso em que Obama anunciou que decidira bombardear a Síria inseriu-se numa política de dominação universal concebida no final da II Guerra Mundial.
Inseguro quanto à atitude do Congresso e ciente de que a maioria do seu povo condenava um ataque militar à Síria, o presidente recuou. Mas seria uma ingenuidade acreditar numa viragem da estratégia agressiva dos EUA para a Região. Nesta, o derrubamento do governo de Bashar al Assad é somente uma etapa do projeto que tem por alvo numa segunda fase o Irão, o grande país muçulmano que não se submete ao imperialismo norte-americano.
É útil lembrar que foi ainda em vida de Roosevelt que um grupo de sábios da Casa Branca e do Pentágono elaborou o War and Peace Program, ambicioso plano que visava a longo prazo estabelecer o domínio perpétuo dos EUA sobre a Humanidade, a partir da convicção de que a desagregação do Império Britânico estava iminente e era irreversível.
Ainda não fora criado o estado de Israel, mas a substituição da hegemonia da Grã-Bretanha no Médio Oriente figurava entre as prioridades desse Programa entre cujas metas se incluía o esfacelamento da União Soviética.
O êxito em 1953 do golpe de Estado que derrubou o governo progressista de Mohammad Mossadegh (1882-1967) e permitiu a recolonização do Irão contribuiu para acelerar a penetração política, económica e militar dos EUA no Médio Oriente.
ANTECEDENTES
Desde meados do seculo XIX, a Inglaterra e o Império russo, no contexto da sua confrontação no Afeganistão, desenvolveram um esforço permanente para colocar o Irão (ao tempo Pérsia) sob a sua "proteção".
Após a Revolução Russa de Outubro de 1917 a situação mudou e as pretensões britânicas esbarraram com a firme oposição da União Soviética.
No final da I Guerra Mundial, a monarquia persa agonizava. Um general, Reza Khan, tornou-se primeiro-ministro em 1921 e tentou modernizar o país. Mas, ambicioso, usou a sua popularidade para promover um golpe de estado. Derrubou o soberano Ahmed Qajar e proclamou-se Xá, isto é, imperador.
Entre as personalidades que se opuseram ao novo regime ditatorial destacou-se um jovem que já desempenhara importantes funções públicas: Mohammad Mossadegh.
Filho de um ministro da monarquia e de uma princesa Qajar, Mossadegh estudara Ciências Sociais em França e posteriormente doutorara-se em Direito na Suíça.
Desde a juventude chamou a atenção pela sua honestidade. Ganhou a alcunha de "incorruptível”, como Robespierre. Mas, aristocrata pelo nascimento e educação, casou com uma princesa da última dinastia.
Reza Xá demitiu-o dos cargos que exercia e desterrou-o para Ahamadabad, sua cidade natal.
Nos anos que separaram as duas guerras, o petróleo adquirira uma importância enorme na economia mundial. E a Grã-Bretanha controlava as gigantescas jazidas de hidrocarbonetos do Irão através da Anglo Iranian Oil, um gigantesco polvo transnacional que atuava como monopólio na produção e extração.
Alegando simpatias do Xá pela Alemanha de Hitler, o governo britânico obrigou-o a abdicar em 1941, ocupou o Pais (com exceção da faixa Norte, fronteiriça da URSS) e colocou no trono o filho, Reza Pahlavi.
Mossadegh regressou então à política, primeiro como deputado, depois como ministro das Finanças e ministro dos Negócios Estrangeiros, e finalmente como Primeiro-ministro.
A NACIONALIZAÇÃO DO PETROLEO
Uma vaga de nacionalismo varria então o Irão. Mohammad Mossadegh foi o dirigente que soube encarnar as aspirações do seu povo, liderando a luta por uma independência real.
O Irão estava reduzido à condição de semi-colónia. Ousou o que parecia impossível: desafiou a Inglaterra imperial ao nacionalizar a Anglo Iranian, que era oficialmente propriedade do Almirantado Britânico.
Londres reagiu com sobranceria, apresentando queixa no Conselho de Segurança, mas o órgão executivo das Nações Unidas remeteu o caso para o Tribunal da Haia.
Mossadegh desenvolveu nesses meses uma atividade frenética em defesa da soberania iraniana. Esteve primeiro nos EUA e o seu discurso na ONU teve tamanha repercussão que a revista conservadora Time Magazine o nomeou Homem do Ano em 1951. Viajou depois para a Holanda e pronunciou um discurso histórico no Tribunal de Haia. A sua intervenção foi decisiva para o veredicto daquela alta corte de justiça. O tribunal concluiu que não tinha competência para julgar a denúncia da Grã-Bretanha.
De regresso a Teerão, Mossadegh fechou os consulados britânicos, expulsou todos os técnicos ingleses e rompeu as relações diplomáticas com o governo de Londres.
Restituíra ao Irão a dignidade perdida há séculos e o povo identificou nele um herói.
O GOLPE
O governo britânico, apoiado pelo norte-americano Truman, decidiu recorrer a métodos drásticos para afastar Mossadegh do poder. Intrigando junto do Xá, criou um conflito entre o monarca e o Primeiro-ministro. Mossadegh foi demitido em julho de 1952, mas essa decisão provocou tamanha indignação popular, com manifestações de protesto nas ruas, que o Xá o nomeou novamente Primeiro-ministro.
Fortalecido pelo apoio popular, pediu poderes especiais ao Parlamento para levar adiante 80 projetos de lei que beneficiariam as massas, esmagadas pelas engrenagens de uma sociedade arcaica.
Obteve-os. Mossadegh introduziu nos meses seguintes reformas revolucionárias que envolveram as finanças, o orçamento, a saúde pública, a Justiça, as pescas, a habitação, a previdência social, as comunicações, as forças armadas. Reformas nunca imaginadas numa sociedade islâmica marcada por heranças feudais.
Os acontecimentos precipitaram-se. O governo de Churchill comprou dezenas de deputados para sabotar a política de Mossadegh. Este reagiu convocando um referendo no início de Agosto de 1953 para dissolver o Parlamento. O povo iraniano votou a dissolução por ampla maioria.
A conspiração, entretanto, estava já muito avançada. No dia 15 houve uma tentativa de golpe de estado promovida pelo Parlamento.
Fracassou e o Xá fugiu para Roma.
Mas a CIA, que contava com todo o apoio do governo britânico, que pedira a colaboração de Truman, montara quase simultaneamente o seu golpe com colaboração do exército. Foi precedido de manifestações de rua com a participação de agentes provocadores e de ações de vandalismo no contexto de uma campanha de calúnias contra Mossadegh.
E esse segundo golpe teve êxito. Preso, Mossadegh foi julgado sumariamente por um tribunal militar que o condenou a três anos de prisão e, posteriormente, a residência fixa na sua província.
O Xá regressou de Roma, e em tempo mínimo, as leis progressistas de Mossadegh foram revogadas. O grande beneficiário da mudança foi, porém, o imperialismo norte-americano. As grandes petrolíferas dos Estados Unidos, já então fortemente implantadas na Arábia Saudita e no Iraque, cobiçavam os hidrocarbonetos iranianos. E abocanharam uma grande fatia à custa da Anglo Iranian que reapareceu com o nome de British Petroleum.
UM NACIONALISTA REVOLUCIONÁRIO
A Revolução iraniana de 1979 foi o desfecho da longa e cruel ditadura que, sob a liderança nominal do Xá Reza Pahlavi, se implantou no país após o golpe de 1953.
Recolonizado, o Irão foi o melhor e mais dócil aliado dos EUA no Médio Oriente. Durante um quarto de século, os gigantes transnacionais do petróleo foram no país o poder real.
O Ayatollah Komeiny não teria obtido a amplo apoio popular que lhe permitiu impor a sua República Islâmica xiita se o povo não sentisse uma repulsa tão forte pela arrogância imperial dos EUA e não estivesse maduro para se rebelar contra o monstruoso regime policial do Xá.
A memória do breve governo revolucionário de Mossadegh permanece viva e funciona como um estimulante no confronto dos atuais governantes com Washington. Obama não esconde que os EUA não aceitam um Irão insubmisso.
Mas a ofensiva de desinformação estado-unidense que continua a apresentar Mossadegh como um defensor do socialismo deforma a realidade. Ele foi um patriota que amou profundamente o seu povo e tinha um grande orgulho pela contribuição civilizacional para a Humanidade dos Aqueménidas e Sassânidas persas e do século de ouro dos Safévidas. Mas, apesar de anti-imperialista irredutível, não contestava o sistema capitalista.
O persa Mohammad Mossadegh foi um humanista. Herdeiro de grandes latifúndios, distribuiu as suas terras pelos camponeses que as trabalhavam. E como Primeiro-ministro ofereceu o seu vencimento a estudantes pobres de Direito.
Hoje é venerado como um herói pelo seu povo.
O discurso em que Obama anunciou que decidira bombardear a Síria inseriu-se numa política de dominação universal concebida no final da II Guerra Mundial.
Inseguro quanto à atitude do Congresso e ciente de que a maioria do seu povo condenava um ataque militar à Síria, o presidente recuou. Mas seria uma ingenuidade acreditar numa viragem da estratégia agressiva dos EUA para a Região. Nesta, o derrubamento do governo de Bashar al Assad é somente uma etapa do projeto que tem por alvo numa segunda fase o Irão, o grande país muçulmano que não se submete ao imperialismo norte-americano.
É útil lembrar que foi ainda em vida de Roosevelt que um grupo de sábios da Casa Branca e do Pentágono elaborou o War and Peace Program, ambicioso plano que visava a longo prazo estabelecer o domínio perpétuo dos EUA sobre a Humanidade, a partir da convicção de que a desagregação do Império Britânico estava iminente e era irreversível.
Ainda não fora criado o estado de Israel, mas a substituição da hegemonia da Grã-Bretanha no Médio Oriente figurava entre as prioridades desse Programa entre cujas metas se incluía o esfacelamento da União Soviética.
O êxito em 1953 do golpe de Estado que derrubou o governo progressista de Mohammad Mossadegh (1882-1967) e permitiu a recolonização do Irão contribuiu para acelerar a penetração política, económica e militar dos EUA no Médio Oriente.
ANTECEDENTES
Desde meados do seculo XIX, a Inglaterra e o Império russo, no contexto da sua confrontação no Afeganistão, desenvolveram um esforço permanente para colocar o Irão (ao tempo Pérsia) sob a sua "proteção".
Após a Revolução Russa de Outubro de 1917 a situação mudou e as pretensões britânicas esbarraram com a firme oposição da União Soviética.
No final da I Guerra Mundial, a monarquia persa agonizava. Um general, Reza Khan, tornou-se primeiro-ministro em 1921 e tentou modernizar o país. Mas, ambicioso, usou a sua popularidade para promover um golpe de estado. Derrubou o soberano Ahmed Qajar e proclamou-se Xá, isto é, imperador.
Entre as personalidades que se opuseram ao novo regime ditatorial destacou-se um jovem que já desempenhara importantes funções públicas: Mohammad Mossadegh.
Filho de um ministro da monarquia e de uma princesa Qajar, Mossadegh estudara Ciências Sociais em França e posteriormente doutorara-se em Direito na Suíça.
Desde a juventude chamou a atenção pela sua honestidade. Ganhou a alcunha de "incorruptível”, como Robespierre. Mas, aristocrata pelo nascimento e educação, casou com uma princesa da última dinastia.
Reza Xá demitiu-o dos cargos que exercia e desterrou-o para Ahamadabad, sua cidade natal.
Nos anos que separaram as duas guerras, o petróleo adquirira uma importância enorme na economia mundial. E a Grã-Bretanha controlava as gigantescas jazidas de hidrocarbonetos do Irão através da Anglo Iranian Oil, um gigantesco polvo transnacional que atuava como monopólio na produção e extração.
Alegando simpatias do Xá pela Alemanha de Hitler, o governo britânico obrigou-o a abdicar em 1941, ocupou o Pais (com exceção da faixa Norte, fronteiriça da URSS) e colocou no trono o filho, Reza Pahlavi.
Mossadegh regressou então à política, primeiro como deputado, depois como ministro das Finanças e ministro dos Negócios Estrangeiros, e finalmente como Primeiro-ministro.
A NACIONALIZAÇÃO DO PETROLEO
Uma vaga de nacionalismo varria então o Irão. Mohammad Mossadegh foi o dirigente que soube encarnar as aspirações do seu povo, liderando a luta por uma independência real.
O Irão estava reduzido à condição de semi-colónia. Ousou o que parecia impossível: desafiou a Inglaterra imperial ao nacionalizar a Anglo Iranian, que era oficialmente propriedade do Almirantado Britânico.
Londres reagiu com sobranceria, apresentando queixa no Conselho de Segurança, mas o órgão executivo das Nações Unidas remeteu o caso para o Tribunal da Haia.
Mossadegh desenvolveu nesses meses uma atividade frenética em defesa da soberania iraniana. Esteve primeiro nos EUA e o seu discurso na ONU teve tamanha repercussão que a revista conservadora Time Magazine o nomeou Homem do Ano em 1951. Viajou depois para a Holanda e pronunciou um discurso histórico no Tribunal de Haia. A sua intervenção foi decisiva para o veredicto daquela alta corte de justiça. O tribunal concluiu que não tinha competência para julgar a denúncia da Grã-Bretanha.
De regresso a Teerão, Mossadegh fechou os consulados britânicos, expulsou todos os técnicos ingleses e rompeu as relações diplomáticas com o governo de Londres.
Restituíra ao Irão a dignidade perdida há séculos e o povo identificou nele um herói.
O GOLPE
O governo britânico, apoiado pelo norte-americano Truman, decidiu recorrer a métodos drásticos para afastar Mossadegh do poder. Intrigando junto do Xá, criou um conflito entre o monarca e o Primeiro-ministro. Mossadegh foi demitido em julho de 1952, mas essa decisão provocou tamanha indignação popular, com manifestações de protesto nas ruas, que o Xá o nomeou novamente Primeiro-ministro.
Fortalecido pelo apoio popular, pediu poderes especiais ao Parlamento para levar adiante 80 projetos de lei que beneficiariam as massas, esmagadas pelas engrenagens de uma sociedade arcaica.
Obteve-os. Mossadegh introduziu nos meses seguintes reformas revolucionárias que envolveram as finanças, o orçamento, a saúde pública, a Justiça, as pescas, a habitação, a previdência social, as comunicações, as forças armadas. Reformas nunca imaginadas numa sociedade islâmica marcada por heranças feudais.
Os acontecimentos precipitaram-se. O governo de Churchill comprou dezenas de deputados para sabotar a política de Mossadegh. Este reagiu convocando um referendo no início de Agosto de 1953 para dissolver o Parlamento. O povo iraniano votou a dissolução por ampla maioria.
A conspiração, entretanto, estava já muito avançada. No dia 15 houve uma tentativa de golpe de estado promovida pelo Parlamento.
Fracassou e o Xá fugiu para Roma.
Mas a CIA, que contava com todo o apoio do governo britânico, que pedira a colaboração de Truman, montara quase simultaneamente o seu golpe com colaboração do exército. Foi precedido de manifestações de rua com a participação de agentes provocadores e de ações de vandalismo no contexto de uma campanha de calúnias contra Mossadegh.
E esse segundo golpe teve êxito. Preso, Mossadegh foi julgado sumariamente por um tribunal militar que o condenou a três anos de prisão e, posteriormente, a residência fixa na sua província.
O Xá regressou de Roma, e em tempo mínimo, as leis progressistas de Mossadegh foram revogadas. O grande beneficiário da mudança foi, porém, o imperialismo norte-americano. As grandes petrolíferas dos Estados Unidos, já então fortemente implantadas na Arábia Saudita e no Iraque, cobiçavam os hidrocarbonetos iranianos. E abocanharam uma grande fatia à custa da Anglo Iranian que reapareceu com o nome de British Petroleum.
UM NACIONALISTA REVOLUCIONÁRIO
A Revolução iraniana de 1979 foi o desfecho da longa e cruel ditadura que, sob a liderança nominal do Xá Reza Pahlavi, se implantou no país após o golpe de 1953.
Recolonizado, o Irão foi o melhor e mais dócil aliado dos EUA no Médio Oriente. Durante um quarto de século, os gigantes transnacionais do petróleo foram no país o poder real.
O Ayatollah Komeiny não teria obtido a amplo apoio popular que lhe permitiu impor a sua República Islâmica xiita se o povo não sentisse uma repulsa tão forte pela arrogância imperial dos EUA e não estivesse maduro para se rebelar contra o monstruoso regime policial do Xá.
A memória do breve governo revolucionário de Mossadegh permanece viva e funciona como um estimulante no confronto dos atuais governantes com Washington. Obama não esconde que os EUA não aceitam um Irão insubmisso.
Mas a ofensiva de desinformação estado-unidense que continua a apresentar Mossadegh como um defensor do socialismo deforma a realidade. Ele foi um patriota que amou profundamente o seu povo e tinha um grande orgulho pela contribuição civilizacional para a Humanidade dos Aqueménidas e Sassânidas persas e do século de ouro dos Safévidas. Mas, apesar de anti-imperialista irredutível, não contestava o sistema capitalista.
O persa Mohammad Mossadegh foi um humanista. Herdeiro de grandes latifúndios, distribuiu as suas terras pelos camponeses que as trabalhavam. E como Primeiro-ministro ofereceu o seu vencimento a estudantes pobres de Direito.
Hoje é venerado como um herói pelo seu povo.
O Irão desconhecido
Contrariamente ao que pensam muitos portugueses, intoxicados por um sistema
mediático perverso, o Irão não é um país
subdesenvolvido.
Com uma superfície de 1 648 000 km2 (o triplo da França) tem uma população de 79 milhões de habitantes.
Herdeiro de grandes civilizações, o seu povo é o mais culto e educado do Islão, sendo muito baixa a percentagem de analfabetos.
Sociedade multinacional – somente 52% dos habitantes são persas – o idioma oficial, o farsi, é falado por toda a população. Foi durante séculos a língua da corte otomana e dos imperadores Mongóis da India.
O sector avançado da indústria é comparável ao de países como o Brasil e o México. Produz quase meio milhão de automóveis por ano, a maioria de marcas nacionais.
É o quarto produtor de petróleo do mundo e possui as maiores reservas de gás natural. Auto-suficiente na produção de cereais, conta com rebanhos bovino e ovino de muitas dezenas de milhões de cabeças.
Tive a oportunidade numa viagem de carro pelo planalto iraniano de passar em frente das instalações nucleares de Natanz. Soube ali que estão protegidas por misseis sofisticados, de produção nacional, capazes de atingir Israel.
Os generais do Pentágono admitem que bombas convencionais serão provavelmente ineficazes se utilizadas contra os bunkers subterrâneos de Natanz.
O original encontra-se no semanário
Avante!
de 26/Setembro/2013
Com uma superfície de 1 648 000 km2 (o triplo da França) tem uma população de 79 milhões de habitantes.
Herdeiro de grandes civilizações, o seu povo é o mais culto e educado do Islão, sendo muito baixa a percentagem de analfabetos.
Sociedade multinacional – somente 52% dos habitantes são persas – o idioma oficial, o farsi, é falado por toda a população. Foi durante séculos a língua da corte otomana e dos imperadores Mongóis da India.
O sector avançado da indústria é comparável ao de países como o Brasil e o México. Produz quase meio milhão de automóveis por ano, a maioria de marcas nacionais.
É o quarto produtor de petróleo do mundo e possui as maiores reservas de gás natural. Auto-suficiente na produção de cereais, conta com rebanhos bovino e ovino de muitas dezenas de milhões de cabeças.
Tive a oportunidade numa viagem de carro pelo planalto iraniano de passar em frente das instalações nucleares de Natanz. Soube ali que estão protegidas por misseis sofisticados, de produção nacional, capazes de atingir Israel.
Os generais do Pentágono admitem que bombas convencionais serão provavelmente ineficazes se utilizadas contra os bunkers subterrâneos de Natanz.
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