"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, outubro 02, 2008

Crise faz remessas de imigrantes mexicanos diminuírem

BBC Brasil - 02/10/08

Muro na fronteira entre Tijuana (México) e San Diego (EUA)/arquivo
Autoridades relacionam diminuição a esforços contra imigração
A crise econômica nos Estados Unidos fez com que as remessas de dinheiro enviadas por imigrantes mexicanos a suas famílias também tenham diminuído, apontam dados do Banco Central Mexicano.

As remessas de dinheiro dos imigrantes mexicanos tiveram a maior queda já registrada. Em agosto deste ano, a diminuição foi de cerca de 12% em relação ao mesmo mês de 2007.

Esse dinheiro representa a segunda maior fonte legal de entrada de recursos em moeda estrangeira no México, perdendo apenas para os ganhos com a venda de petróleo.

Diminuição

A queda já era sentida desde o início do ano.

Nos primeiros oito meses deste ano, os imigrantes mexicanos enviaram ao país U$S 15,5 bilhões, 4% a menos que no mesmo período do ano passado.

Especificamente no mês de agosto, foram enviados ao país US$ 1,9 bilhão, contra US$ 2,2 bilhões no mesmo mês de 2007.

A diminuição dos valores das remessas pode ter relação com o fato de cerca de 20% dos imigrantes mexicanos trabalharem no ramo da construção civil nos EUA, um dos setores da economia que mais sofrem com a crise.

Além das dificuldades econômicas, as autoridades também responsabilizam os esforços do governo dos EUA para conter a imigração pela diminuição nas remessas.

US$ 300 bilhões

Os Estados Unidos são a casa de 98% dos mexicanos que vivem fora de seu país, e a diminuição das remessas pode causar problemas às pequenas cidades que vivem do dinheiro dos imigrantes.

Segundo o secretário do Tesouro do México, Augustin Carstens, os cofres do país também devem sofrer este ano com a queda no turismo e a desvalorização do preço do petróleo.

As remessas enviadas por imigrantes a seus países de origem movimentam cerca de US$ 300 bilhões por ano em todo o mundo.

EQUADOR CONSEGUE DA ODEBRECHT O QUE SERRA NEM TENTOU

Conversa Afiada - 02/10/2008 01:49



Serra sabe como se impor
aos interesses das empreiteiras !

Paulo Henrique Amorim

Ele (Serra) é sem escrúpulo, passa por cima da mãe".
(De Ciro Gomes, numa sabatina da Folha)

. A Odebrecht construiu uma hidrelétrica no Equador que não dava luz.

. O Presidente do Equador denunciou o contrato, avisou que não pagava mais um tusta, exigiu indenização e botou administradores da Odebrecht na cadeia.

. O Estadão, sempre na vanguarda do Golpe de “Estado de Direita” e, agora, adepto da ideologia do “Destino Manifesto” da elite branca brasileira, exigiu num editorial que o Governo Lula invadisse o Equador e depusesse esse malsinado esquerdista Rafael Correa.

. Mais esperta que os golpistas do “Estado de Direita”, a Odebrecht foi lá e fez um acordo.

. Ou seja, Correa defendeu os interesses do povo equatoriano com muito mais eficiência do que o “bem preparado” presidente eleito José Serra, que até hoje não deu um pio sobre a catástrofe que a Odebrecht e outros empreiteiros provocaram com a cratera da Linha 4 do metrô de São Paulo.

. José Serra prefere combater o “câmbio alto”, criticar a política econômica do Governo, a falar das falhas de empreiteiras que, em São Paulo, são premiadas com novas obras.

. O Conversa Afiada submeteu 30 perguntas ao presidente eleito José Será sobre a cratera do metrô.

. Clique aqui para ler.

. Ele jamais respondeu e chegou a afirmar que as perguntas não passavam de “brincadeiras de tolices” (?). Clique aqui para ler.

. Na verdade, eram 29 perguntas, porque a 30ª. era sobre como Serra pretende comprar ambulâncias para São Paulo.

. Veja como Serra deveria tratar a Odebrecht:

http://www.estadao.com.br/geral/not_ger251765,0.htm

'Os pobres serão os perdedores', constata prêmio Nobel

Instituto Humanitas Unisinos - 02/10/08

Os bancos podem quebrar, mas a crise não deixará nenhum banqueiro na miséria. Quem afirma isso é o Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunnus, economista, banqueiro e criador de um esquema de microcréditos que transformou a vida de milhares de pessoas em seu país, Bangladesh. Nesta entrevista, Yunnus deixa claro que, no fim de todo esse processo da crise financeira internacional, quem de fato sofrerá serão os mais pobres. “Quem tem vários milhões de dólares continuará com alguns milhões. Já os pobres, aqueles que tinham como pagar uma refeição inteira, em pouco tempo se darão conta de que poderão pagar apenas por metade. E são esses quem mais sofrerão”, afirmou Yunnus, chamado de “o banqueiro dos pobres”: ele foi o fundador do Grameen Bank e é hoje é uma das pessoas mais ricas de Bangladesh, uma nação pobre que faz fronteira com a Índia. Mas alerta que uma nova regulação do sistema financeiro precisa ser criada urgentemente.

A entrevista é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 02-10-2008.

Eis a entrevista.

Como o sr. explica a crise que o mundo financeiro atravessa hoje?. Por que o setor não viu a turbulência chegando?

Todos sabiam que ela viria. Antes de mais nada, a crise mostra que há um grande vazio na estrutura dos sistema e na metodologia de trabalho das instituições financeiras. Precisamos arrumar esse vazio e garantir que esse colapso que estamos vendo hoje jamais se repita.

O que o sr. sugere aos governos neste momento?

Os responsáveis por essa crise precisam ser identificados. Mas os erros no sistema também precisam ser bem avaliados. O que se necessita agora é criar um sistema em que haja maior controle sobre o que está ocorrendo. Antes do colapso, poucos sabiam exatamente o que ocorria em termos de transação em um banco.

O que muda, então, no sistema?

Tudo. O que vivemos é um enorme choque para o mundo. É um impacto muito forte, como poucas vezes vimos antes. O mundo e o sistema financeiro simplesmente não podem continuar como estão e como vinham trabalhando. Essa é a grande lição que essa crise nos deixa. Não digo que não existia regulação nos mercados. Ela até existia, mas não era a correta.

Quem mais sofre hoje com a crise?

Certamente não serão os grandes banqueiros. No final das contas, quem perderá de verdade serão os mais pobres, e isso em todo o mundo. A crise que atravessamos hoje certamente vai provocar uma desaceleração na economia mundial nos próximos meses, e será difícil que a recuperação seja rápida. Quem tinha um bilhão continuará tendo um bilhão. Quem tem vários milhões, continuará com alguns milhões. Já os pobres, aqueles que tinham como pagar uma refeição inteira, em pouco tempo se darão conta de que poderão pagar apenas por metade. E são esses quem mais sofrerão com a crise.

Países como o Brasil serão afetados pela crise?

Certamente. Os bancos americanos, durante muitos anos, criaram tentáculos em todo o mundo. Agora, uma crise levará muita gente com eles. O Brasil certamente sofrerá, como todos os demais países emergentes.

Sim do Senado americano custa US$ 150 bi a mais

Instituto Humanitas Unisinos - 02/10/08

Uma nova versão do pacote do governo dos Estados Unidos, para salvar bancos e financeiras, foi aprovada ontem à noite pelo Senado americano, por 74 votos a 25. Além de crescer em termos de documento — passou de 106 para 451 páginas —, ele ficou mais caro: antes, usaria US$ 700 bilhões dos contribuintes e, agora, consumirá US$ 850 bilhões. Isso porque lobistas de vários setores fizeram a festa, aproveitando-se da necessidade do governo de fazer concessões a dezenas de parlamentares, para que votassem a favor do pacote. Alguns dos próprios legisladores fizeram exigências, de olho nos eleitores de sua região: a maioria dos que eram contrários ao pacote está disputando a reeleição em novembro.

A reportagem é de José Meirelles Passos e publicada pelo jornal O Globo, 02-10-2008.

No total, são cem senadores, mas um, Ted Kennedy, está em tratamento de saúde e não compareceu à sessão.

Os lobistas passaram o dia todo no Congresso sugerindo mudanças. E existe, ainda, a perspectiva de o pacote tornar-se ainda mais caro, uma vez que ele será encaminhado hoje à Câmara dos Representantes, onde os deputados também poderão realizar novos enxertos que impliquem mais custos. O deputados devem votar o projeto amanhã. Caso eles façam novas mudanças, o pacote terá de voltar ao Senado. O presidente George W.

Bush comemorou a decisão do Senado e pediu que a Câmara faça o mesmo.

As mudanças de ontem se referem, basicamente, à prorrogação de várias isenções de impostos que já tinham expirado ou estavam por expirar, beneficiando desde laboratórios farmacêuticos até autódromos. Vítimas de furacões em vários estados também ficarão isentas de impostos. Escolas rurais, que nada tinham a ver com o sistema financeiro, receberão mais recursos.

Pessoas com problemas mentais ganharão, de empregadores e seguradores, a mesma cobertura dada a pacientes de doenças físicas.

Varejo à parte, o novo pacote contém duas medidas de peso específico.

Uma é o aumento de US$ 100 mil para US$ 250 mil no teto para a garantia que o governo dá aos depósitos bancários. Isso, por um lado, tranqüiliza os correntistas em geral.

E, principalmente, alivia as pequenas empresas e bancos comunitários. O principal lobista destes festejou:

- Podemos ser pequenos, mas somos muito espertos — disse Camden Fine, presidente da Banqueiros Comunitários Independentes, que representa oito mil bancos pequenos.

Os grandes bancos e financeiras, que já eram os principais beneficiários do pacote, obtiveram mais do governo.

Um item novo diz que a Securities and Exchange Commission (SEC, que regula o mercado de capitais) vai relaxar temporariamente as regras que os obrigam a usar preços de mercado na avaliação de seus ativos, ao registrá-los em seus balanços. Eles, assim, ficam livres de registrar a perda.

Bush passou o dia ao telefone, convencendo senadores e deputados a aprovarem o salvamento:

— Temos de estabilizar a situação para que não fique ainda pior e nossos cidadãos percam seus bens e o seu trabalho — disse ele.

Os candidatos presidenciais, Barack Obama e John McCain, também fizeram apelos, além de terem viajado à Washington para votar.

Os banqueiros têm feito intenso lobby. O dinheiro do pacote deverá ser usado basicamente para a compra, pelo Tesouro, de títulos de hipotecas que ainda não foram pagos. Mas os banqueiros querem que o governo assuma outros papéis podres, como empréstimos para compra de veículos e dívidas com cartões de crédito.

O grande temor dos bancos e financeiras é não conseguir vender ao governo tantos títulos podres quanto precisariam para colocar a casa em ordem. Um estudo da Moody’s Economy.com calcula que os bancos concederam 15 milhões em hipotecas ruins entre 2004 e 2007, e que dez milhões não serão pagas.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Hong Kong anuncia pacote de ajuda a bancos

BBC Brasil - 01/10/08


Bolsa de Hong Kong
A bolsa de Hong Kong também sofreu com a rejeição do pacote americano
A Autoridade Monetária de Hong Kong anunciou na noite de terça-feira um pacote para aliviar a pressão sobre os bancos em meio à crise financeira.

O órgão, que opera como banco central da metrópole asiática, determinou cinco medidas para dar maior liquidez aos bancos, que sofreram grandes perdas com a recente turbulência nos mercados internacionais.

Essencialmente o pacote facilita empréstimos do governo às instituições e estende prazos de quitação.

O pacote vêm após o Congresso americano ter rejeitado na segunda-feira legislação que garantirá US$ 700 bilhões em socorro a Wall Street.

A negativa do Congresso fez o índice Dow Jones perder 777 pontos na sessão de segunda-feira e causou tendência negativa nas bolsas da Ásia, que operaram no começo da terça-feira em forte queda.

No final do dia, porém, houve recuperação e o Hang Seng de Hong Kong fechou o pregão na terça em alta de 0,79%.

Nova York também se recuperou na terça após o presidente George W. Bush fazer um discurso televisionado prometendo aprovar a legislação necessária para socorrer os mercados.

Ainda não se sabe como os investidores na Ásia reagirão ao anuncio da autoridade financeira de Hong Kong, pois as bolsas da China estão fechadas nesta quarta-feira por conta do feriado do dia nacional.

Medidas

As cinco medidas anunciadas pela Autoridade Monetária de Hong Kong têm caráter de exceção emergencial e serão válidas até o fim de março do ano que vem.

Para dar margem de liquidez ao bancos, o governo vai passar a prover empréstimos aceitando como garantia ativos em hipotecas.

Os bancos também poderão passar a utilizar ativos denominados em dólares americanos (como títulos do Tesouro americano) como garantia para conseguir empréstimos emergenciais no overnight.

Antes, apenas ativos denominados em dólares de Hong Kong eram aceitos.

Esses empréstimos feitos no overnight terão a validade estendida de 24 horas para até três meses e não serão cobrados juros de penalidade, como era a prática antes.

Alem disso, os bancos podem, à partir de agora, vender diretamente à Autoridade Monetária dólares americanos em troca de dólares de Hong Kong, uma ação que antes não era permitida apesar de a moeda de Hong Kong ter seu lastro no dólar americano.

Há rumores de que o governo ainda estuda intervir no mercado financeiro para proibir a prática da venda especulativa antecipada de ações que se beneficia da tendência de queda, numa manobra conhecida no jargão financeiro pelo termo de “short selling”.

O governo não confirmou esses rumores e até terça-feira não havia feito uma intervenção na bolsa.

O pacote de medidas foi anunciado poucos dias após Hong Kong testemunhar uma corrida ao Banco do Leste da Ásia (Bank of East Asia) que abalou a estabilidade da instituição.

Rumores espalhados via mensagens de texto fizeram milhares de clientes do BEA correr às agências na quarta-feira passada para retirar suas economias.

O desespero dos clientes só teve fim no momento em que o governo afirmou que a saúde financeira do BEA estava garantida.

Foi para evitar a repetição de cenas como essa que a Autoridade Monetária de Hong Kong decidiu abrir crédito aos bancos.

Monitores da UE começam a entrar na Geórgia

BBC Brasil - 01/10/08

Observadores europeus desembarcam em Tbilisi. Foto: AP
Os observadores devem fiscalizar a retirada das tropas
Observadores da União Européia entraram na zona de segurança estabelecida ao redor das províncias separatistas da Ossétia do Sul e Abecásia, na Geórgia, para monitorar a retirada de tropas russas da região.

Cerca de 200 observadores não-armados irão fiscalizar a retirada das tropas, prevista no acordo de cessar-fogo entre Rússia e Geórgia.

Um correspondente da BBC, entretanto, disse que a equipe de monitores que ele acompanhava não recebeu permissão do Exército russo para entrar na área - controlada pela Rússia desde o início do conflito armado com a Geórgia, em agosto.

Pelos termos do acordo firmado entre os dois países e mediado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, a retirada deve ser feita até o dia 10 de outubro, o que significa que os soldados russos devem deixar as zonas de segurança dentro de dez dias.

O correspondente da BBC Richard Galpin, afirma, entretanto, que há dúvidas sobre o comportamento dos russos e se eles irão de fato permitir o acesso dos observadores às áreas controladas.

Galpin, que acompanha a movimentação de monitores da UE em Mukharani, perto da zona de segurança, disse que as tropas russas no local não estão autorizando a entrada das equipes européias, alegando "razões de segurança".

Contradição

O porta-voz das tropas russas no país, Vitaly Manushko, afirmou que os monitores poderão patrulhar apenas “até a fronteira ao sul das zonas de segurança”.

Segundo Galpin, ainda não está claro se a postura da Rússia é apenas uma bravata ou mesmo uma tentativa de atrasar a entrada dos monitores europeus e, conseqüentemente, a retirada das tropas russas das áreas controladas.

Para o correspondente, o acesso dos observadores a todas as áreas será um verdadeiro teste para avaliar o compromisso da Rússia com o acordo de cessar-fogo assinado em agosto.

O chefe de política internacional da União Européia, Javier Solana, afirmou que as mensagens vindas de Moscou são contraditórias, mas se disse otimista de que o início da missão dos observadores irá seguir conforme o acordo.

“Estou otimista de que as duas partes irão cumprir, assim como nós fizemos, com os termos do acordo”, disse.

A retirada das tropas russas é um dos principais pontos do acordo de cessar-fogo mediado pela França.

No entanto, a Rússia pretende manter um contingente de cerca de 8 mil soldados na Abecásia e na Ossétia do Sul – províncias que Moscou reconheceu como Estados independentes.

Os líderes ocidentais condenaram tanto o controle das áreas de segurança quanto o reconhecimento pelos russos da independência das regiões separatistas da Geórgia.

Conflito

O conflito na região começou no dia 7 de agosto, quando a Geórgia tentou retomar o controle sobre a Ossétia do Sul à força depois de uma série de conflitos menores.

A Rússia invadiu a região lançando um contra-ataque e expulsando as tropas georgianas da Ossétia do Sul e da Abecásia.

O porta-voz do ministro da Defesa russo, Nikolai Uvarov, disse que a Rússia removeu alguns postos de controle na área portuária de Poti, na costa do Mar Negro.

Com essa remoção, os russos continuam com nove postos ao redor da Ossétia do Sul e três próximos da Abecásia, de acordo com a agência de notícias russa Ria Novosti.




A 'desfinanceirização' da economia global

Instituto Humanitas Unisinos - 01/10/08

"No primeiro semestre deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) estimava em US$ 600 trilhões o valor dos derivativos em circulação no mundo. Ou seja, mais de dez vezes o Produto Mundial Bruto", informa J. Carlos de Assis, presidente do Instituto Desemprego Zero, em artigo publicado no jornal Valor, 01-10-2008. Segundo ele, o Plano Paulson, não terá sucesso, pois "a quantia de US$ 700 bilhões parece muito, mas é apenas aproximadamente 7% do montante das hipotecas sob suspeita, algo próximo a US$ 13 trilhões". Ele afirma que "a atual crise, que chamo de "desfinanceirização" global, demoliu um dos ícones do pensamento neoliberal, o dogma da auto-regulação dos mercados. O próximo a cair será o dogma do orçamento equilibrado (ou do superávit primário), sobretudo se o desemprego voltar a crescer".

Eis o artigo.

O capital financeiro, dos anos 80 para cá, tinha licença para matar. E quase matou o capital produtivo. A esse processo se deu o nome de globalização, embora analistas menos entusiastas o tenham chamado de "financeirização". Não é novo. Teve uma preliminar nos anos 20, auge do liberalismo pregado nos Estados Unidos pelo presidente John Calvin Coolidge, ídolo do presidente Ronald Reagan. Como se viu, naquele caso acabou em Grande Depressão. Agora teria que acabar em algo parecido.

"Financeirização" é o modo pelo qual o capital se descola do setor produtivo, baseado este no valor trabalho. É a acumulação de valores fictícios, sem produção. Em seus momentos terminais assume a forma de uma vertigem especulativa completamente descolada de ativos reais.

É o que temos visto. No primeiro semestre deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) estimava em US$ 600 trilhões o valor dos derivativos em circulação no mundo. Ou seja, mais de dez vezes o Produto Mundial Bruto.

A crise no mercado subprime americano é apenas a ponta do iceberg. Não estamos diante de uma "bolha" imobiliária similar à "bolha" das bolsas em 1987. Agora, o que está em jogo é "a bolha", não "uma bolha". Como na dança das cadeiras, o capital especulativo que gira em torno do planeta, sob diferentes formas, vai ser impelido a se sentar. E não haverá cadeira para todos.

Pode-se prever perdas gigantescas em todos os mercados, com uma rápida tentativa de migração para o único título seguro, os papéis dos Tesouros dos países centrais, ou a terra.

Por isso, o pacote de George W. Bush, mesmo melhorado pelo Congresso americano, não terá sucesso. A quantia de US$ 700 bilhões parece muito, mas é apenas aproximadamente 7% do montante das hipotecas sob suspeita, algo próximo a US$ 13 trilhões.

Os aplicadores, que podemos chamar sem qualquer escrúpulo moral de especuladores, terão perdas gigantescas. A questão, pois, não é saber o volume de perdas, mas avaliar como isso se refletirá no mercado real, onde está a renda das famílias normais e o emprego. E como o governo se comportará para evitar o caos social subseqüente.

O impacto na renda e no emprego será inevitável, pois, a despeito da função antitrabalho e anti-social dos mercados especulativos, as instituições que o constituem empregam dezenas de milhares de pessoas, a maioria delas especializada. Ficarão sem emprego num primeiro momento. Isso afetará a demanda agregada e, por esse caminho, as expectativas de investimento, gerando mais desemprego - agora, na economia real. O processo pode transformar-se numa espiral descendente, caso o governo não aja de forma sábia.

O remédio é conhecido desde o New Deal, o programa econômico de Roosevelt: ativação da demanda agregada através de déficits públicos. Até que isso seja efetivado, porém, haverá uma luta ideológica nos Estados Unidos, assim como houve antes do New Deal. Conservadores insistirão em proteger os investidores por cima, enquanto democratas, mais sensíveis a demandas sociais, procurarão dar proteção social por baixo.

É evidente que, a médio prazo, num país democrático de cidadania ampliada, os democratas acabarão vencendo.

É preciso deixar claro que a negativa de proteção a investidores/especuladores não é apenas, nem principalmente, uma questão moral. É uma questão de eficácia. Um investidor num título subprime, ou em qualquer derivativo, é alguém que estava com dinheiro sobrando e queria ganhar mais. Uma perda o atingirá no patrimônio, mas nem em todo ele ou na renda corrente. Se o governo compra seu título podre, ele vai vai gastar o valor equivalente em consumo ou investimento. Vai entesourá-lo sob alguma forma, talvez em ouro. Com isso, não dará qualquer contribuição ao aumento da produção ou da renda real da sociedade, nem estimulará o emprego.

No Brasil, já temos uma taxa de desemprego que justifica um grande programa de garantia de emprego no estilo New Deal. Num simpósio realizado em maio, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), discutiu-se o Projeto Cidade Cidadã - um Programa de Emprego Garantido associado a um Programa de Trabalho Aplicado nas periferias metropolitanas -, que resolveria simultaneamente os problemas de desemprego e de degeneração das áreas favelizadas e ajudaria a resolver o problema da segurança, e finalmente do desemprego em geral. É hora de pensar em aplicá-lo, o que dependerá de mobilização social e decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A atual crise, que chamo de "desfinanceirização" global, demoliu um dos ícones do pensamento neoliberal, o dogma da auto-regulação dos mercados. O próximo a cair será o dogma do orçamento equilibrado (ou do superávit primário), sobretudo se o desemprego voltar a crescer.

Mesmo fazendo superávit primário, será possível financiar o projeto Cidade Cidadã, que custará, ao longo de cinco anos, cerca de R$ 40 bilhões por ano. Recorde-se que, na eleição de 1932 nos Estados Unidos, em plena Grande Depressão, ambos os candidatos falavam em equilibrar o orçamento. Só quando assumiu é que Franklin Delano Roosevelt se deu conta de que a nação estaria em crise ainda maior se insistisse nesse dogma. Seria bom que nossos líderes pensassem nisso.

Stiglitz prevê longa recessão nos EUA

Instituto Humanitas Unisinos - 01/10/08

O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz prevê uma longa recessão nos EUA, segundo entrevista publicada ontem no jornal italiano “La Stampa”. Para ele, a crise atual é uma das piores do século, o que vai se refletir em uma “queda livre” da Bolsa de Nova York “maior do que podemos imaginar.” E o pacote que está sendo negociado no Congresso americano poderá salvar Wall Street, mas terá pouco efeito para a recuperação da economia, defendeu o economista em artigo também publicado ontem no jornal inglês “Guardian”. O artigo pode ser lido, hoje,no jornal El País.

A notícia é do jornal O Globo, 01-10-2008.

“Estamos em meio a uma das piores crises do século e, enquanto não tocarmos o fundo, não poderemos vir à tona”, disse Stiglitz ao “La Stampa.” Segundo ele, “veremos o índice Dow Jones (da Bolsa de Nova York) em uma queda livre maior do que podemos imaginar e teremos quebras barulhentas de instituições financeiras”, um quadro que certamente levará a “economia americana para uma longa recessão.” Na entrevista, reproduzida pela agência de notícias AFP, o economista — que foi assessor econômico do presidente democrata Bill Clinton e já ocupou a vice-presidência do Banco Mundial — também fez previsões para o resultado das eleições americanas. Na sua avaliação, diante do panorama, o próximo presidente dos EUA será Barack Obama. “Em uma situação desse tipo, não há qualquer possibilidade de que os americanos levem à Casa Branca o partido do atual presidente”, disse.

Obama é do partido democrata.

Seu adversário, John McCain, é candidato pelo partido Republicano do presidente George W. Bush.
No artigo publicado no “Guardian”, o Nobel diz que o sistema financeiro global está mergulhado em uma “confusão” e que não há consenso em como reparar os danos já causados.

Stiglitz diz que o plano de Bush poderá salvar o sistema financeiro, mas se pergunta se o pacote funcionará para estimular a economia e como ficarão os contribuintes e os “déficits sem precedentes.” Na sua avaliação, o plano que não foi aprovado na última segunda-feira é bem melhor que a proposta original da Casa Branca. Ainda assim, diz, contém falhas. A primeira delas é que — novamente — ele se baseia no princípio da “corrente para baixo” da economia.

Em outras palavras, jogar dinheiro suficiente para Wall Street o canalizaria para a Main Street, ajudando os trabalhadores e os proprietários de imóveis. No entanto, afirma Stiglitz, a economia da “corrente para baixo” quase nunca funciona. Por isso, dificilmente vai funcionar desta vez.

Raiz da crise é crédito mal avaliado, diz

Além disso, o plano assume que o problema fundamental é de confiança. Para Stiglitz, isso é “sem dúvida” parte do problema, mas a raiz da crise estaria no fato de o mercado financeiro ter feito empréstimos ruins. “Teve uma bolha imobiliária, e os empréstimos foram feitos com base em preços inflados”, diz no artigo.

Stiglitz lembra que a bolha estourou e que os tais empréstimos mal avaliados criaram rombos em bancos. “Qualquer socorro que pague um valor justo por esses ativos não farão nada para consertar o buraco.” Ao contrário, diz, o socorro “vai providenciar maciças transfusões de sangue para um paciente que tem uma vasta hemorragia interna.”

Crise leva pessoas a morar em carro nos EUA

BBC Brasil - 30 de setembro, 2008 - 08h05 GMT (05h05 Brasília)

Rajesh Mirchandani
BBC News, Santa Barbara

A cidade de Santa Bárbara se orgulha de seu estilo de vida tipicamente californiano, com praias, cafés e uma charmosa arquitetura de estilo espanhol.

É claro que tudo tem um preço robusto: localizadas entre as montanhas de Santa Ynez e o Oceano Pacífico, estão casas que valem milhões de dólares.

Mas, mesmo nesta ensolarada enseada de riquezas, muitos vivem longe do sonho norte-americano.

Em um estacionamento no lado oposto de uma rua de mansões luxuosas, a noite traz uma estranha visão.

Alguns carros chegam e estacionam nos cantos do terreno. Dentro de cada carro, mulheres, talvez alguns animais de estimação e malas cheias de coisas e roupas de cama.

A poucos metros de casas com quartos ociosos, estão os habitantes de Santa Bárbara que são obrigados a dormir em seus carros.

Sem-teto há pouco mais de um ano, eles são uma conseqüência direta do colapso do mercado imobiliário norte-americano.

Casas 4x4

Neste estacionamento apenas para mulheres, Bonnee (que revela apenas seu primeiro nome), usa um vestido azul e tem um comportamento de mulher de negócios.

Um ano atrás, ela vivia como, ironicamente, uma corretora de imóveis. Mas, quando as pessoas pararam de comprar casas, seu salário, baseado em comissões, secou e, como muitos clientes, ela não conseguiu pagar sua hipoteca.

De repente, ela se achou sem lugar para morar a não ser seu 4x4.

Pilhas de cobertores estão no porta-malas do veículo. Documentos pessoais estão nos compartimentos ao lado dos bancos. Uma caixa de maquiagem e uma carteirinha de uma academia de ginástica (onde ela toma banho) estão na frente. Com ela, constantemente, estão fotos de sua antiga vida.

Ela não consegue acreditar em sua situação.

"Meu Deus, o coração da América está sangrando", diz.

Lágrimas começam a sair de seus olhos.

"Eu sei que as coisas vão ficar melhores, mas é triste. Eu realmente lutei muito".

Um outro 4x4 entra no estacionamento e Barbara Harvey, de 67 anos, desce do carro.

Ela abre o porta-malas e dois grandes cães da raça golden retriever saem.

Barbara começa sua rotina noturna. Ela pega algumas de suas malas e tira um pijama e iogurtes (seu jantar). Ela então arruma cobertores na parte de trás do carro.

Barbara também costumava trabalhar com o financiamento de imóveis. Mas, desde abril, ela e seus cães, Ranger e Phoebe, passam todas as noites em seu carro. É apertado, mas ela diz que se ela dormir na diagonal, todos cabem dentro do veículo.

Nova tendência?

O estacionamento deixa as pessoas que dormem em carros entrarem a partir das 7h da noite, mas os banheiros públicos fecham com o pôr-do-sol.

Como resultado, Barbara diz que não bebe nenhum líquido depois que ela chega. De manhã, ela toma banho na casa de um amigo.

Vestida com roupas limpas e confortáveis e usando óculos escuros, ela não se parece em nada com o estereótipo do sem-teto.

"Vai começar a haver um monte de indivíduos que são de classe-média, mas que não podem comprar nada. Nós estamos em uma terrível confusão econômica. Acho que ainda não vimos nem metade do que vai acontecer com este país", diz Barbara.

Este novo fenômeno de sem-teto de classe média é difícil de quantificar, mas a New Beginnings, uma organização que cuida do sistema de estacionamentos-dormitórios em Santa Bárbara, diz que acomoda cerca de 55 pessoas em seis estacionamentos.

A assistente social Nancy Kapp, ela também uma ex-sem-teto, afirma que há uma lista de espera para espaço nestes estacionamentos e que ela recebe cada vez mais ligações de pessoas que estão para perder suas casas.

Ela diz que um novo tipo de sem-teto está surgindo nos EUA.

Pesadelo americano

"Ser pobre é como um câncer, agora este câncer está atingindo a classe-média", ela explica. "Não importa o quão forte você seja, é uma quebra na psique humana quando você começa a perder tudo que tem".

"Estas pessoas trabalharam a vida inteira para terem uma casa e agora tudo está desmoronando. Isto não é o sonho americano, é o pesadelo americano", diz Nancy.

Os preços de casas na Califórnia caíram 30% do início do ano até maio. Poucos lugares nos Estados Unidos foram tão atingidos.

Mas grupos imobiliários norte-americanos dizem que o aumento dos sem-teto nos EUA começou com o início da crise, no ano passado.

Vida em trailer

Em outro estacionamento em Santa Bárbara, Craig Miller, sua mulher Paige, e seus dois filhos dizem que se sentem apertados no pequeno trailer onde eles têm vivido por meses.

"É difícil manter as coisas limpas", diz Paige. "É difícil se sentir completo".

Originalmente da Flórida, a família cruzou os Estados Unidos para começar uma nova vida na Califórnia. Mas, incapazes de encontrar trabalho em tempo integral e incapazes de pagar aluguel, nas palavras de Craig, eles ficaram "presos".

Ele diz que, no início, era como férias, mas agora tudo está muito duro.

"Conseguir dinheiro para comida não é uma coisa na qual tínhamos que pensar antes", diz Miller.

"Nós esperamos conseguir sair daqui e conseguir um lugar para ficar. Estamos trabalhando duro para isso. Esta é apenas uma situação, não nosso destino".

Quando vai ficando escuro em Santa Bárbara, aqueles que dormem em carros se preparam para mais uma noite.

Mas todos precisam acordar cedo: não é permitido ficar lá depois das 7h da manhã.

Alguns trabalham, outros passam o dia dirigindo de um lugar para o outro.

Quando a noite cai de novo, eles voltam para o estacionamento.

Comparado com sem-teto de outros países e mesmo outros americanos, estes ainda têm sorte.

Mas se a crise econômica piorar, podem aparecer mais deles?

Fim de festa no Primeiro Mundo

BBC Brasil - 30/09/2008, 02:08 PM

  • Rogério Simões

wallstreet.jpgQue o mundo desenvolvido, ou simplesmente Primeiro Mundo, tem um padrão de riqueza muito maior do que o resto dos países é óbvio. Mas, para entender o que o colapso dos mercados financeiros representa nesta parte do mundo, em termos de estilo de vida, vale a pena lembrar como foi a última década nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.

Deste lado do Atlântico, por muitos anos tanto o então primeiro-ministro Tony Blair como o então chanceler do Erário, ou ministro das Finanças, Gordon Brown, se gabaram dos números mágicos da economia britânica. Seguidamente os dois citavam dados que pareciam ter sido obtidos num passe de mágica: menores juros em décadas, menor taxa de inflação do Pós-Guerra e menor taxa de desemprego em sabe-se lá quanto tempo. Inflação baixa com juros também baixos? E emprego sobrando? Seria possível? Brown, hoje primeiro-ministro, dizia ter reinventado as leis da economia. Em 2004, um dado assustou o país, apenas para ser rapidamente ignorado: a dívida pessoal dos britânicos, em hipotecas, prestações de carro novo e cartões de crédito havia ultrapassado 1 trilhão de libras. Quase o total do PIB nacional.

Até pouco tempo atrás, um britânico de classe média, sem nenhum dinheiro guardado e apenas com um emprego mediano, podia levar uma vida bastante confortável. Viajava de avião para a Itália por 1 libra (promoções em tempos de petróleo quase de graça), obtinha uma hipoteca no valor total do imóvel a ser adquirido e acumulava uma dívida de umas 5 mil libras no cartão de crédito. Isso em apenas um dos cartões, porque nada o impedia de ter vários. Tudo conseqüência da varinha de condão de Gordon Brown, que fazia de todo e qualquer cidadão britânico um milionário em potencial. Aqueles que já estavam bem ficaram melhores ainda: no final do ano, a City (centro financeiro de Londres) dava bilhões de libras apenas em bônus aos seus funcionários.

Poucos ousam chamar essa política daquilo a que ela realmente se assemelha: um esquema de pirâmide. Na edição passada da revista New Yorker, Nick Paumgarten não mediu palavras: segundo ele, Wall Street foi pega "em um esquema de pirâmide criado por ela mesma". A alegoria é simples: todo mundo parecia estar ficando "rico", aqui na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, com o dinheiro dos outros. Comprava-se uma casa em Londres por 150 mil libras, e dois ou três anos depois ela já valia 250 mil. O proprietário vendia o imóvel e ou embolsava o lucro ou subia mais um degrau na chamada "property ladder", a escada do mercado imobiliário, adquirindo um imóvel maior e mais caro. Aquele que comprou a casa esperava fazer o mesmo: contava com a valorização do imóvel para que outro cidadão viesse e alimentasse o sistema, adquirindo a sua residência. Enquanto isso, o mercado financeiro usava o dinheiro em circulação para gerar mais riqueza, sem que ninguém soubesse exatamente de onde ela vinha. Como escreveu Paumgarten, sobre o mercado americano: "Foi um período extraordinariamente criativo - um modernismo do dinheiro, com uma equivalente tendência à abstração". Ele acrescenta: "Era o que antropólogos e psicólogos chamam de pensamento mágico - a tendência de acreditar que desejar algo faz com que esse algo aconteça".

No mercado imobiliário, parecia claro que um dia o último da fila olharia para trás e, à espera de um novo comprador, não encontraria ninguém. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos e, conseqüentemente, aqui na Grã-Bretanha. A fonte secou. A conta de mais de dez anos de riqueza crescente finalmente veio, de uma vez só. O mercado mostrou não ter dinheiro para pagar pelos exageros. Como disseram nos últimos dias muitas figuras políticas, entre elas a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi: "A festa acabou". A mágica não funciona mais.

O grande destaque de hoje das notícias da SIC foi o actual "pânico financeiro mundial".

aijesus.blogspot.com - 30/09/08

BREVES -16. a crise mundial

  1. Comentando essa "crise mundial", José Gomes Ferreira justificou-a dizendo que "os gestores tiveram de obedecer a uma lógica de objectivos que foi fatal". Acho que a mesma lógica há-de ser fatal noutros domínios
    [a Escola incluída].
  2. Por mor da crise mundial (?), o preço do petróleo caiu medonhamente
    [como já não caía há anos].
    Cairá o preço dos combustíveis em Portugal? Medonhamente -- ou amedrontadamente?


  3. Eu não percebo nada de economia. Deve ser por isso que não percebo isto: bancos, seguradoras,... entram em crise -- e os bancos centrais e os governos injectam dinheiro e Blair admite que serão os contribuintes a pagar a crise e salvar os bancos. Então... e quando são os contribuintes
    [e os clientes dos bancos e das seguradoras]
    a entrar em crise, quem é que os injecta? Quem injecta as pessoas e os casais que ficam desempregados, sem possibilidade de pagar a prestação da casa e as demais que devem?
    [Este sistema capitalista, neo-liberalista ou sem neo nem liberalista, tem muita piada!...]

ADVOGADO DE DANTAS TEM CARRO QUE CUSTA R$ 600 MIL

Conversa Afiada - 30/09/2008 10:26



Com Dantas é assim: a grana rola !

Paulo Henrique Amorim

. Leitor do Conversa Afiada enviou e-mail com informação valiosa: Nélio Machado, um dos advogados (ele trabalha com uns outros 99) de Daniel Dantas no Crime, tem um carro que vale R$ 600 mil.

. Caro leitor, pasme: um carro avaliado em R$ 600 mil !

. Lamentavelmente, o carro foi roubado e o PiG não se deu ao trabalho de informar ao dileto leitor quem era o proprietário dessa jóia e a quem servia.

. Acompanhe a desdita de Machado:

Susto com ação de bandidos na Lagoa
Plantão | Publicada em 11/11/2006 às 20h08m
RJTV
RIO - Uma ação de bandidos contra dois homens num carro importado assustou motoristas, no fim da tarde deste sábado, na Lagoa Rodrigo de Freitas. O trânsito na Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa Rodrigues de Freitas ficou congestionado, na altura do Estádio de Remo do Botafogo. Tudo por causa de um carro importado, um carro italiano – Maserati, avaliado em R$ 600 mil, que foi abandonado no meio da rua. Segundo testemunhas, por volta das 17h30, um outro carro emparelhou, fez disparos contra o motorista e ocupante do banco do carona. Este ocupante, ainda não identificado, foi baleado e levado para o Hospital Miguel Couto na Gávea. Segundo a Polícia Militar, o carro deve ser rebocado para a delegacia da Gávea. Agora há pouco, a policia identificou como dono do carro, o advogado Nélio Roberto Seidl Machado - um dos mais importantes advogados criminalistas do país. Ele dirigia o carro. O homem ferido no pé e levado para o Miguel Couto é o motorista do advogado, que estava no banco do carona. Ele não corre risco de morte. Nélio Machado acompanha o motorista no hospital.

. Neste fim de semana, Lauro Jardim deu outra notícia sobre Nélio Machado.

. (Jardim tem uma coluna na Veja. No “Dossiê sobre a Veja”, Luis Nassif demonstrou que é difícil discernir entre informação e negócio no que Jardim escreve. Clique aqui para ir ao Nassif e ao dossiê sobre a vala negra que corre na redação da Veja. Jardim integra o glorioso elenco do Sistema Dantas de Comunicação. Clique aqui para ler.)

. (Ao lado dele está o “editor” de uma publicação supostamente jornalística dedicada a advogados. Trata-se do amigo mais íntimo do Supremo Presidente Gilmar Mendes.)

. (Outro insigne jornalista aparentemente a serviço da operação Dantas/Kroll é Leonardo Attuch, segundo dados da Justiça americana. Veja bem, caro leitor, Justiça americana ! Clique aqui para ler.)

. Jardim fala dos honorários de Nélio Machado.

. E Jardim deve ser muito bem informado sobre Dantas ...

. Veja bem, caro leitor, Daniel Dantas paga honorários de R$ 25 milhões.

. Vá à coluna do Jardim, mas, cuidado: não fique muito tempo por lá. Isso pode sair caro:

O Opportunity está pagando 25 milhões de reais de honorários ao advogado Nélio Machado. É dinheiro à beça, mas justiça se faça a Machado: os rolos da turma não são pequenos. Aliás, na CPI dos Grampos, Daniel Dantas chegou a dizer em seu depoimento: "Eu tenho, às vezes, reclamado aqui com o senhor Nélio Machado que ele coloca honorários que podem ser excessivos".

. Ou seja, com Dantas é assim: a grana rola !

. O Conversa Afiada mostrou que Nélio Machado jantou recentemente, em Brasília, com emissários do Presidente Supremo do Supremo Tribunal, numa conversa que foi fotografada e filmada.

. O que se tratou nesse jantar é um assunto tão sério que deu ao Presidente Supremo do Supremo a certeza de que era indispensável dar o Golpe de “Estado de Direita”. Clique aqui para ler e clique aqui também.

. O Conversa Afiada informa que está muito interessado em divulgar essas fotos e esse vídeo.

. Quem tiver esse vídeo e se dispuser a cometer o gravíssimo “crime do vazamento para prejudicar brancos, ricos e de olhos azuis”, pode contar com a cumplicidade do Conversa Afiada. O endereço é: cafiada@gmail.com.

. O Conversa Afiada é a favor do vazamento !

. Por falar nisso, em vazamento: cadê o áudio da gravação da Veja com a conversa do Supremo Presidente com o senador Demóstenes Torres ? Não foi essa conversa que derrubou o ínclito Delegado Dr. Paulo Lacerda ? Não foi essa conversa que deu origem à babá eletrônica do Ministro serrista Nelson Jobim ? Cadê o áudio ?

OS EUA NÃO PASSAM DE UMA BANANA REPUBLIC COM BOMBA ATÔMICA

Copnversa Afiada - 30/09/2008 08:48



Morgan sabia quem ia quebrar.
Paulson e Bernanke não sabem

Paulo Henrique Amorim

. Segue-se uma breve antologia de frases retiradas da leitura da imprensa americana, nesta noite de segunda para terça, sobre a crise econômica.

. (Ler o PiG sobre esse ou qualquer outro tema de relevância justifica reproduzir o que Joan Didion disse, uma vez, sobre os livros de Bob Woodward: “These are books in which measurable cerebral activity is virtually absent.” (Estes são livros – ou reportagens – em que está ausente qualquer atividade mental que se possa medir.) (Extraído de http://www.nytimes.com/2008/09/28/books/review/Abramson-t.html?scp=2&sq=bob%20woodward&st=cse)

. Vamos à antologia:

. O Estado deve ser tão pequeno “que se possa afogá-lo numa banheira”.
Grover Norquist, ideólogo da extrema direita, que trabalhou para George W. Bush (clique aqui).

. “Não haverá maior tributo à maturidade de nossa sociedade do que retirar os trabalhadores desses prédios em volta de nós e transformá-los em monumentos ao tempo em que o Governo desempenhava um papel maior do que merecia ou pudesse executar.”
Jeb Bush, irmão de George W. Bush ao tomar posse como Governador da Flórida, em frente ao prédio do Governo.

. “Por favor, não deixe o Estado pôr as mãos no Medicare.”
Velhinho, de joelhos, implora a um político do Partido Republicano.

. “Os fundamentos da economia estão sólidos.”
John McCain, no dia seguinte à bancarrota do Lehman e da venda a preço de banana da Merril Lynch.

. “Essa recessão é mental.”
Phil Gramm, principal conselheiro econômico de McCain. Como senador, impediu que o Banco Central americano regulasse as instituições financeiras não bancárias.

. “A era do Estado forte acabou.”
Bill Clinton, em 1996.

. “O problema é que tem gente demais que não entende nada da situação.”
Extraído de artigo de Steve Pearlstein, no Washington Post.

. “Uma medida de como o povo americano NÃO confia nos políticos de Washington nem nos banqueiros de Wall Street é que prefere correr o risco reduzir sua fortuna e sua renda a seguir a liderança deles.”
Do mesmo artigo de Pearlstein.

. “J. P. Morgan tinha acesso direto à contabilidade de praticamente todos os bancos em crise, o que permitia avaliar com precisão quanto eles valiam. Hoje, é difícil, para não dizer impossível, a autoridade financeira saber o que exatamente se passa.”
De Robert Bruner e Sean Carr, autores de “O Pânico de 1907”, citados em “Vamos chamar J. P. Morgan de volta – ele era mais eficiente do que Paulson e Bernanke juntos” , de L. Gordon Crovitz, no Wall Street Journal.

. (Clique aqui para saber mais sobre J. P. Morgan).

. “O que nós temos aí é um governo disfuncional que não está preparado para enfrentar uma crise de grandes proporções. Porque o Congresso se compõe de um bando de loucos e ninguém acredita numa vírgula do que a Casa Branca diz. Como disse um amigo meu, ontem à noite: nós nos tornamos uma banana republic com bomba atômica.”
Paul Krugman, no New York Times online.

. “O Governo não é a solução do nosso problema. O Governo É o problema.”
Ronald Reagan, no discurso com que tomou posse pela primeira vez.

. (“Vamos enterrar a Era Vargas.”
Fernando Henrique Cardoso, numa daquelas frases que deveríamos ter esquecido.)

Os cabeças de panilha e a crise

Blog do Luis Nassif - 30/09/08

Um pequeno exemplo sobre como funciona o estilo “projetar a fotografia” adotado por lguns analistas econômicos. Sua análise consiste em pegar séries históricas, fotografar o momento atual e projetar para o futuro. Se não existe crise hoje, não há porque incluí-la no cenário futuro.

Menciono o artigo do “professor de Deus”, por ser um economista que tem a coragem de se expor. Mas vale para todo esse padrão de análise que domina o mercado e, por via dele, o jornalismo financeiro.

Todos os pontos que ele coloca estavam delineados há tempos e foram sistematicamente ignorados pela cobertura financeira e pelas analistas de mídia (para separar daqueles analistas que falam menos mas que perceberam há mais tempo esse tsunami e proporcionaram lucros gordos às suas instituições)

De Alexandre Schwartsman, na Folha de hoje

(...) De qualquer forma, portanto, vivemos a iminência de uma forte queda adicional do crescimento americano, cujas conseqüências não podem ser ignoradas. Especificamente no caso brasileiro, se é verdade que apenas pouco mais de 2% do PIB estão diretamente expostos (via exportações) à economia americana, há outros canais pelos quais o país pode sofrer impactos negativos.

O primeiro viria pela queda no preço de commodities na esteira da desaceleração mundial.

A elevação no preço desses bens implicou aumento no preço dos bens exportados pelo Brasil relativamente àqueles que importamos. Isso tem permitido aumentar as importações mais do que poderíamos em circunstâncias normais, e, portanto, possibilita que a demanda doméstica cresça bem à frente do PIB. Sem, porém, o auxílio das commodities, isso não poderia ser mantido, implicando significativa depreciação do real combinada com aperto monetário para trazer o crescimento da demanda doméstica a níveis inferiores aos do crescimento do PIB.

Por outro lado, é difícil imaginar que uma forte redução do crescimento mundial não resulte também em redução do fluxo de capitais para as economias emergentes, Brasil entre elas, levando à depreciação adicional do câmbio e à necessidade de conter ainda mais a demanda.

Isso dito, se as conseqüências da crise serão negativas, é também importante notar que o Brasil dispõe, hoje, de instrumentos que permitem, ao menos, mitigar esses efeitos (...)

Os alertas do Blog

23/01/08 08:34



O desafio brasileiro


O grande desafio atual do país é: como reduzir a tendência de aumento do déficit em transações correntes. Esse é o ponto central.

Com o câmbio do jeito que está, mantidas as atuais condições de vôo, 2008 já registrará déficit em transações correntes, perfeitamente financiável – se mantidas as atuais condições de vôo.

A questão é que, na ponta, a deterioração do saldo comercial está vindo muito rápida. Com a ampliação da crise, mudam as condições de vôo. Os países se tornarão mais protecionistas, haverá muito mais competição no mercado internacional.



Coluna Econômica - 28/01/2008

O mercado e os erros continuados


Em meados do ano passado, colunistas de jornais afiançavam que eram irreversíveis as mudanças no cenário internacional; que o Brasil teria que se conformar em ter moeda apreciado e ser um exportador de commodities.

No final do ano, com a crise externa comendo solta, muitos colunistas enfatizavam o “descolamento” da crise. Isto é, a crise ficaria restrita à maior economia mundial, e não afetaria os grandes emergentes, como China, Índia, Rússia e Brasil.

Eram teses estapafúrdias. Se os grandes emergentes crescem ancorados no crescimento do comercio mundial, é evidente que um esfriamento na economia do maior comprador afetará a todos. Mas a tese do “descolamento” pegou.



Coluna Econômica - 30/01/2008

Jogando com a sorte


Continuo chamando a atenção para a deterioração das contas externas brasileiras. Hoje em dia, é o ponto sensível. Contas externas são como um transatlântico: não se consegue mudar a rota rapidamente. Por isso mesmo, quando a rota aponta para uma zona de perigo, governantes responsáveis tratam de providenciar mudanças, que só terão efeito mais adiante.



09/04/08 09:30



A marcha da insensatez

Na semana passada já tinha comentado, aqui, as incongruências do Relatório de Inflação do Banco Central.


O todo era diferente da soma das partes.

Juntando as partes, tinha-se um quadro futuro de menos pressão sobre atividade econômica e preços e de aumento de riscos sobre as contas externas:

• Risco de ampliação da recessão mundial.

• Risco de queda nos preços das principais commodities.

• Aumento na percepção de risco mundial reduzindo, a médio prazo, os fluxos financeiros para o país.

Mesmo assim, as conclusões do relatório eram de que aumentaram os riscos de inflação e que as contas externas são financiáveis a médio prazo.

Coluna Econômica - 24/06/2008

Até onde irá o dólar


Por quanto tempo ainda o dólar vai continuar se depreciando frente o real? Como será a saída desse situação surreal, de um dólar abaixo de R$ 1,60?

Operadores experientes apostam que o dólar continuará caindo, podendo chegar perto de R$ 1,55. Depois, em um ponto próximo qualquer – talvez em outubro – haverá um repique, uma revalorização que poderá devolvê-lo ao patamr de R$ 1,75 a R$ 1,80.



02/07/08 07:35

A sinuca de bico da inflação


A demora do Banco Central em baixar os juros, quando podia, em segurar o câmbio, enquanto dava tempo, levou a isso: não pode baixar os juros, agora, senão as expectativas disparam; com juros altos, não haverá como evitar nova rodada de apreciação do real (a não ser que a crise internacional recrudesça mais cedo e influencie as cotações por aqui); com mais apreciação, aumentará o déficit nas transações correntes; e a crise internacional tornará cada vez mais difícil o financiamento dos emergentes.



Coluna Econômica - 01/08/2008

A cegueira com a crise externa

O caça-fantasmas

Blog do Luis Nassif - 30/09/08

Por C. Brayton

Inquérito sobre o grampo empaca até por falta de sinais que tal grampo realmente existia.

O Globo:

"O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, afirmou nesta segunda-feira que o inquérito dos grampos deverá ser prorrogado. O inquérito foi aberto no início de setembro para investigar o suposto grampo na conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

"Até o momento a polícia não tem nenhuma pista concreta sobre os autores do suposto grampo. A PF está tendo dificuldades até mesmo de encontrar indícios materiais da escuta telefônica."

Comentário

Pergunto: se comprovado que foi uma armação da Veja, em que tipo de crime a revista incorreu? Como ficam os limites do sigilo de fonte quando os indícios apontam para uma armação que produziu uma crise institucional?

Porque a retórica financeira falhou

Blog do Luis Nassif - 30/09/08

Para entender a rejeição ao Pacote Paulson/Bernanke é preciso juntar algumas peças.

Historicamente, o mercado se impunha sobre as políticas econômicas nacionais brandindo o chamado terrorismo financeiro-midiático.

Criava-se uma marola, a imprensa repercutia, havia uma agitação no câmbio, medo dos gestores da política econômica e conseguia-se impor as medidas desejadas pelo mercado.

Dos planos econômicos dos anos 80 até o terrorismo em torno da eleição de Lula, essa retórica funcionou eficazmente no Brasil. E continua funcionando, aliás. É o único país do mundo em que, no meio da maior crise financeiro-econômica dos últimos 70 anos, o Banco Central continua analisando o comportamento futuro da demanda, baseado nas séries históricas. O último baile do Titanic é pinto perto desse autismo.

No mundo o jogo não foi diferente. Em toda grande crise de balanço de pagamentos de países, o FMI era acionado para salvar os investimentos especulativos – não os países em si.

Um dos episódios mais vergonhosos da moderna história econômica do país foi o acordo com o FMI fechado por Gustavo Franco e Pedro Malan em fins de 1998. Os dólares que entraram serviram exclusivamente para que os investidores (grande parte, recursos brasileiros no exterior que alimentavam o circuito dos gestores que influenciavam o BC) saíssem sem prejuízos maiores. O país ficou com a dívida, para reduzir os prejuízos dos especuladores e dos gestores de recursos.

Esse modelo começou a ser colocado em xeque nos últimos anos.

O epicentro da crise ocorre com a conjugação dos seguintes fatores:

1. Fim do ciclo de financeirização, enfraquecendo o álibi da crise sistêmica – justamente no momento em que a crise, de fato, tornou-se sistêmica.

2. O mais impopular presidente da República da história moderna dos Estados Unidos.

3. Mudança radical no modelo de disseminação da informação. No meu livro “Os Cabeças de Planilha” há um capítulo especial analisando esse processo de disseminação das análises de bancos: surgem nos departamentos econômicos dos bancos novaiorquinos, depois na grande imprensa internacional. São reproduzidos pelas filiais nos demais países, depois pelos departamentos econômicos dos bancos locais, batem na imprensa nacional e tornam-se verdade acabada. A disseminação dos blogs e de outras formas de comunicação pela Internética rompeu com esse monolitismo a partir do centro difusor: os Estados Unidos.

Dentro desse cenário, o pacote de ajuda aos bancos deveria conter uma dose de legitimidade política muito maior do que em outras épocas. Teria que ficar claro a salvação dos bancos, mas a punição dos especuladores; o fim da esbórnia dos ganhos dos executivos e medidas que amenizassem os problemas dos mutuários.

A primeira versão do pacote era escandalosamente favorável aos bancos. Provavelmente foi de modo intencional, para permitir às lideranças partidárias sugerir as mudanças e se tornarem co-patrocinadoras do pacote. Com as alterações, parecia que o pacote tinha ganhado a legitimidade necessária para ser aprovado.

Onde falhou a estratégia? Não houve tempo hábil para informar a uma opinião pública cada vez mas críticas. Ou o pacote não passou a confiança necessária de que os bancos seriam enquadrados de vez.

Nada impede que até quinta não possa ser negociado um outro pacote ou possa haver mais clareza sobre as intenções e a operacionalização deste pacote.

Só que, quanto mais tempo leva para domar o incêndio financeiro, mais efeitos haverá sobre a economia real.

AS ALIANÇAS E O CINISMO DO PT GAÚCHO

Site do Azenha - Atualizado em 30 de setembro de 2008 às 14:44 | Publicado em 30 de setembro de 2008 às 14:43

por ALTAMIRO BORGES, EM SEU BLOG

Estacionada em terceiro lugar nas últimas pesquisas eleitorais, a candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre, deputada federal Maria do Rosário, decidiu baixar o nível da sua campanha. Após um intenso bombardeio viral, alimentado nos subterrâneos da política, ela mesma resolveu atacar em público, durante o horário eleitoral na TV, a candidatura de Manoela D’Ávila (PCdoB), que desponta como o novo na acirrada disputa na capital gaúcha. Numa tática suicida, que dificulta a unidade das esquerdas para o segundo turno, a petista aliviou os ataques ao candidato da direita, o atual prefeito José Fogaça, e colocou a comunista como alvo do seu descontrole emocional.

“A nossa adversária agora é ela, e não o Fogaça”, confessou o coordenador da sua campanha em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. O centro do ataque é dos mais cínicos e frágeis. É contra a política de alianças costurada em torno da candidatura Manoela D’Ávila, que congregou PCdoB, PPS, PSB, PMN, PR e PTdoB, o que lhe garantiu maior amplitude política e tempo de televisão. A destemperada onda de ataques revela as dificuldades do PT, que está dividido e desmotivado, não possui um eixo consistente de campanha – não sabe se defende ou renega os 16 anos de administração petista na capital – e padece novamente do isolamento político.

Partido rachado e desmotivado

As dificuldades do PT do Rio Grande do Sul, que há tempos convive com as fratricidas disputas internas, foram agravadas pelas prévias que aprovaram a candidatura de Maria do Rosário. Ela venceu por uma diferença de apenas 56 votos (2.193 a 2.137), derrotando o ex-ministro Miguel Rosseto, postulante da corrente Democracia Socialista (DS), que é hegemônica no estado. Houve até denúncias de fraudes na prévia, além do uso de cabos eleitorais e transportes contratados. Na sequência, como prova cabal de sectarismo, o postulante a vice pela DS também foi rejeitado.

Estes e outros fatos acirraram ainda mais os conflitos internos e geraram maior desmotivação na militância. Uma constatação visível nas ruas de Porto Alegre é que a campanha petista deste ano é fria e insossa, contando basicamente com cabos eleitorais remunerados. Muitos militantes mais à esquerda não se engajaram na batalha; nem sequer aparecem nos principais eventos; alguns até optaram por fazer campanha em outras cidades da região metropolitana. A ausência da militância é registrada, com certa dose de ironia, em várias reportagens da mídia nacional e gaúcha.

“As caminhadas dos militantes, tradicionais nas campanhas petistas, não empolgam os eleitores do partido. A avaliação interna é de que a prévia para a indicação do candidato rachou o PT”, constatou recente matéria da Folha de S.Paulo. “As perguntas que o PT deve estar se fazendo são as mesmas do eleitor não-filiado: o que aconteceu com a aguerrida militância? Onde está a energia da Democracia Socialista, corrente que prometeu se engajar quando Maria do Rosário derrotou Miguel Rosseto na prévia?”, cutuca o blog da corrosiva jornalista Rosane de Oliveira.

Isolamento político e hipocrisia

Além da divisão interna, o PT não obteve maiores êxitos nas iniciativas para ampliar as alianças. Bem que tentou, o que confirma o cinismo do discurso atual. “Na tentativa de conquistar o PDT, Maria do Rosário e o presidente do partido, Ricardo Berzoini, estiveram com o deputado Vieira da Cunha, líder nacional dos trabalhistas. A deputada também teve encontro com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi”, registrou a imprensa. Em função do histórico do partido, as tratativas com o PDT e com outras legendas não deram certas e o PT ficou novamente isolado na disputa. Até o PSOL, tão avesso às alianças, conseguiu se coligar com o PV, outrora aliado de Fogaça.

Rejeitada e isolada, Maria do Rosário apela agora para o cínico discurso do “antes só do que mal acompanhada”. Baita hipocrisia! Esta não é a política atual do seu partido, o PT. Para vencer as eleições e garantir governabilidade, o presidente Lula estabeleceu amplas alianças, inclusive com partidos que hoje são alvos da ira da candidata gaúcha. Sua própria corrente interna, Movimento PT, é famosa pela postura de centro-direita e pelo pragmatismo nas alianças – é só ler suas teses internas. Agora mesmo, no traumático episódio da aliança informal com o tucano Aécio Neves, um dos líderes da sua tendência, Romênio Pereira, foi o mais enfático defensor da dobradinha.

Alianças do PT gaúcho com o PPS

O cinismo da crítica às alianças de Manoela D’Ávila, em especial com o PPS, fica patente ao se constatar que o PT gaúcho se coligou com o mesmo partido em 61 municípios do estado. O levantamento produzido por Bernardo Joffily, editor do Vermelho, é demolidor neste sentido:

- Canoas é o maior município onde PT e PPS estão coligados: com 238 mil eleitores, é o terceiro maior colégio eleitoral do estado, depois de Porto Alegre e Pelotas, e o segundo da Grande Porto Alegre. As duas siglas participam do BOM (Bloco de Oposição Municipal), que inclui outros quatro partidos, entre eles o PCdoB, e tem o prefeito do PTB como principal adversário.

- Em Sapucaia do Sul (97 mil eleitores, 13o colégio eleitoral gaúcho) a Frente Popular Trabalhista coliga o PT, PPS e mais três partidos. Vilmar Ballin (PT) tem como colega de chapa Ibanor Catto, do PDT.

- Cachoeirinha (89 mil eleitores, 14o maior eleitorado do Rio Grande do Sul) assistiu à coligação do PT com o PPS e mais três siglas, na Frente Popular e Progressista. O candidato a prefeito é Leonel Matias (PT).

- Outro destaque é Bento Gonçalves, com 76 mil eleitores. A coligação Bento é Nosso Compromisso traz o petista Professor Lunelli para prefeito e o vice, Gentil Santalucia, do PPS.

- Em Guaíba (68 mil eleitores), a coligação Juntos Faremos Mais tem o PPS na cabeça da chapa, com Nelson Cornetet. O vice é o petista Pedrinho Correia Filho e outras três legendas estão na aliança.

- Seguem-se, por ordem alfabética, mais 22 municípios do Rio Grande do Sul onde o PT e o PPS estão coligados. Não entraram neste levantamento os casos em que os dois partidos estão na coligação, mas fora da chapa majoritária – exceto em casos muito especiais, como Ibirubá, onde os dois partidos estão unidos na campanha para eleger Fucks Schroeder, do DEM.

- No total estes municípios somam 805 mil eleitores: quase empatam com Porto Alegre, que tem 1,039 mil eleitores.

- Em Barra do Guarita (3 mil eleitores) a coligação chama-se A Vez é Agora. Tem apenas dois partidos: PT e PPS.

- Em Benjamin Constant do Sul (2 mil eleitores) a União por Benjamin coliga o PT com o PPS e mais outras quatro siglas.

- A Prefeitura de Boa Vista do Buricá (6 mil eleitores) é disputada pela coligação União, Mudança e Desenvolvimento. Iloi Francisco Schons, do PPS, concorre a prefeito com o petista Antonio Mota como vice.

- Butiá (16 mil eleitores) tem a coligação Avança Butiá: PPS-PT-PMDB. A chapa inclui Sérgio Malta, do PPS, candidato a prefeito, com Paulo Machado, do PT, na vice.

- A coligação Renovar com Participação concorre em Camargo (2 mil eleitores) com João Carlos Zanatta, do PT, para prefeito, e Angela Maria, do PPS, para vice.

- Campina das Missões (5 mil eleitores) tem no páreo a coligação União Democrática Popular: PT-PPS-PSDB. O petista Melchior Mallmann concorre a prefeito e seu vice é Hortêncio da Silva, do PPS.

- Em Capão da Canoa (27 mil eleitores), Amauri Germano, do PT, tem como vice Tibirro Raupp, do PPS, na coligação Renovação pela Cidadania.

- Em Cerro Largo (9 mil eleitores), a coligação Cerro Largo para Todos tem Canisio Schmidt, do PT, como candidato a prefeito, na vice Carlinhos Giordani, do PMDB, e inclui ainda o PPS.

- Em Horizontina (14 mil eleitores), Buda Schneider, do PPS, encabeça a coligação Por uma Horizontina Melhor, com um vice petista, Nildo Hickmann.

- Ibirubá (15 mil eleitores) tem nesta eleição a coligação Frentão. Num desafio aos cientistas políticos, o Frentão alia o DEM, PT, PPS, PP e PSB. O cabeça de chapa é Fucks Schroeder, do DEM, e seu vice Mário Pedersen, do PP.

- Em Itatiba do Sul (4 mil eleitores) concorre a Frente Popular. Coligam-se nela o PT, PPS e PSB.

- A coligação Maximiliano para Todos, em Maximiliano de Almeida (4 mil eleitores), reúne PT, PPS e outras quatro siglas. O petista Belchior Bragança é candidato a prefeito.

- Em Passo do Sobrado (5 mil eleitores) concorre a Frente Ampla e Democrática, uma aliança do PT, PPS e PDT.

- As eleições em Redentora (6 mil eleitores) incluem a Aliança Muda Redentora, outra coligação pouco ortodoxa, entre PT, PPS, PTB, PSDB e PP. Amauri Pissinin (PT) e Chico Wagner (PPS) integram a chapa.

- Em Santo Antonio das Missões (9 mil eleitores) concorre a Frente Popular, que inclui o PT, PPS e mais três legendas.

- Santo Cristo (12 mil eleitores) também tem sua Frente Popular registrada para o 5 de outubro. Coligam-se nela o PT, PPS e PTB.

- São Domingos do Sul (2 mil eleitores) tem nesta eleição a Aliança para o Desenvolvimento de São Domingos do Sul: PT, PPS e mais três siglas, com candidato a prefeito do PT e a vice do PMDB.

- Em São José do Norte (20 mil eleitores) a Frente Poipular Nortense coliga o PT, PPS, PCdoB, PV e PSB. O candidato a prefeito é o Professor Binho, do PT.

- São Lourenço do Sul (34 mil eleitores) formou a Frente Popular, com três partidos: PT, PPS e PCdoB.

- Em São Valentim (3 mil eleitores) a coligação Unidos pelo Futuro de São Valentim alia quatro partidos. O candidato a prefeito é Antonio Zanandrea, do PT; seu vice, Kiko Remus, do PPS.

- Taquari (20 mil eleitores) tem como opção no dia 5 a coligação Taquari em Primeiro Lugar: PT, PPS, PSB, PRB, PR, PCdoB. Maneco Hassen, do PT, sai para prefeito.

- Em Vera Cruz (17 mil eleitores) inscreveu-se a Aliança Democrática: PPS, PT, PMDB e PRB. Guido Hoff, do PPS, é o cabeça de chapa, com Valdomiro Rocha, do PT, na vice.