"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, setembro 14, 2010

CARTA ACÚSTICA

Diário do Nordeste - 13 de Setembro de 2010

Poluição sonora na Capital chega a nível de alto risco
Segundo pirâmide da OMS, numa escala de cinco, Fortaleza atingiu o grau três com impactos graves sobre a população.
A barulheira é geral em Fortaleza. Tráfego de carro, caminhão, ônibus, avião, motos, além de buzinas, sirenes, obras, equipamentos eletrônicos, carro de som, shows, fábricas, gente falando alto ou até gritando fazem parte do cotidiano da cidade e responsáveis por um mal "silencioso" e muito perigoso: a poluição sonora. Segundo constata a Carta Acústica, ainda a ser divulgada oficialmente pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), a situação é mais crítica do que pensamos e com resultados danosos para a nossa saúde.
Só para se ter ideia do tamanho do problema que a cidade enfrenta, de acordo com a pirâmide de riscos da Organização Mundial da Saúde (OMS), numa escala de cinco graus, Fortaleza chegou ao terceiro patamar. Isso significa que a população está exposta a decibéis bem acima do suportado pela audição e com isso, sendo vítima do desconforto auditivo, do estresse, alterações da pressão arterial e do sistema nervoso.
"Corremos um sério risco de em pouco tempo chegar ao quarto patamar", alerta o coordenador da equipe de combate à poluição sonora da Semam, Aurélio Brito. Para evitar o pior, aponta ele, é preciso haver maior controle sobre as fontes poluidoras, como as casas de show e veículos de propaganda, cuja aparelhagem de som chega a níveis acima de 100 decibéis (db). "Que é um nível extremamente perigoso para quem fica exposto por muito tempo ao som nessas alturas".
Que o diga o estudante Pedro José de Almeida, de 20 anos de idade. Com perdas na audição devido ao uso diário de MP3 e gostar de ouvir bem alto o som de seu carro, ele precisou, há pouco mais de três meses, a usar um aparelho auditivo. "Comecei com um incomodo, mas nem liguei e continuei a gostar de música bem alta. Agora, sei que fiz errado e poderia ter prevenido o problema", confessa.
A prevenção é a única alternativa para evitar a surdez, alerta o otorrino e chefe do Núcleo de Saúde Auditiva do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), João Deodato. "O problema é irreversível. O aparelhinho apenas amplifica o som para a pessoa escutar um pouco melhor".
Segundo o médico, a perda auditiva induzida por ruídos afeta pessoas de todas as idades. A poluição sonora, diz, é definida pela ONU como a terceira de maior impacto na população, mas a que apresenta o maior perigo por sua dificuldade de percepção e aceitação imediata de seus efeitos, que só são notados ao longo do tempo.
A fonoaudióloga Emília Kelma aponta que a poluição sonora também interfere na comunicação oral, que é base da convivência humana. "Além disso, perturba o sono, o descanso e o relaxamento, impede a concentração e aprendizagem, e o que é considerado mais grave, cria estado de cansaço e tensão que podem afetar significativamente até o sistema cardiovascular".
Problemas esses enfrentados pelo aposentado José Matos Pordeus, de 73 anos. Ele procurou atendimento no HGF e foi encaminhado pelo especialista para o Núcleo Auditivo. "Não durmo direito pois moro perto de uma fábrica e também meus netos adoram ouvir som alto dentro de casa. Faz tempo que sentia que não escutava direito, mas agora piorou muito", conta.
Casos como os de José são comuns, frisa Kelma. Ela conta que já atendeu pacientes, como um músico de 32 anos de idade, que perdeu a audição da noite para o dia. "Ele costumava passar horas a fio à frente de aparelhagem de som em festas e deu no que deu", lamentou.
A poluição sonora em Fortaleza já é fator de risco para a saúde pública, aponta Aurélio Brito. A Carta Acústica, ainda está sendo finalizada e trará o mapa dos ruídos, apontando ações de combate. "O desrespeito à legislação e à população é gritante na cidade", critica. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), informa, o limite tolerável ao ouvido humano é de 65 decibéis. "Aqui, em muitos locais, passamos e muito desse limite", afirma, citando como exemplo o tráfego de uma avenida de grande movimento, com a Santos Dumont ou Antônio Sales, pode chegar aos 85dB. Se a via estiver em obras, a coisa piora, chegando a 120db.
Várias cidades brasileiras já reduziram seus níveis a parâmetros mais aceitáveis, procurando adequar-se a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) buscando também se aproximar de patamares aceitáveis praticados nos países de primeiro mundo.
Tendência natural, aponta Aurélio, é seguir os mesmos caminhos que a maioria das grandes cidades tem tomado: fechar o aeroporto no horário noturno e proibir a operação de aviões com tecnologia defasada e estabelecer horários para a realização de shows em áreas públicas, como o Aterrinho da Praia de Iracema. É preciso melhorar e isso, garante, a Semam está fazendo com a capacitação da equipe, maior rigor nas autorizações e liberações para uso de equipamentos sonoros. "Também estaremos atentos e responsável pela cassação de autorizações e alvarás, fechando os estabelecimentos que não atenderem à legislação vigente".
Enquete
Ruídos e estresse
"Fortaleza está muito barulhenta. O trânsito é o pior com buzinas e zoada de motor ligado todo tempo"
David José da Rocha
18 anos
Estudante
"Carros com som altíssimo e sem respeito a ninguém são os que mais te deixam estressado e com perda na audição"
Francisco Alves Teixeira
62 anos
Aposentado
Perigo aumenta
"A poluição sonora pode destruir a célula auditiva e isso é irreversível. É preciso cuidar e prevenir"
João Deodato
Médico chefe do Núcleo Auditivo do Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
NÚCLEO AUDITIVO
Aumenta procura por atendimento no HGF
A equipe multidisciplinar do Núcleo de Saúde Auditiva do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) redobrou trabalho nos últimos meses com o aumento no número de pacientes que procuram por atendimento especializado. Lá, são realizados desde exames até implante coclear ou o "ouvido biônico" pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A queixa é quase unânime: problemas ou perda gradual da audição provocadas pela poluição sonora, medicamento ou genética.
A médica Emília Kelma diz que não é incomum as pessoas atendidas se queixam de problemas que vão desde perda de reflexos, irritação permanente, insegurança, embaraço nas conversações, perda de compreensão das palavras, dores de cabeça, fadiga, distúrbios cardiovasculares, distúrbios hormonais, gastrites e disfunções digestivas. "A perda da audição também é consequência grave".
Entre os tratamentos indicados, o HGF já faz desde julho passado, o implante coclear . Nove pacientes receberam o benefício e ainda nesta semana, a equipe do Núcleo irá "ligar" o aparelho para que eles possam escutar. "É um processo de reaprendizagem da escuta", explica o médico João Deodato.
O implante coclear, explica ele, é um equipamento computadorizado colocado dentro da cóclea, na parte interna do ouvido. Ele capta os sons e os transforma em sinal elétrico, que é interpretado no cérebro como estímulo sonoro. A unidade custa em torno d e R$ 60 mil.
Esse é um problema muito sério e ainda infelizmente pouco difundido para a população, uma vez que, os mais transparentes são a poluição atmosférica e a das águas.

Colégios Militares

Gen Santos
No editorial 23/08/2010, Zero Hora aborda o tema “Privilégios”, colocando no mesmo patamar, os que existem no Poder Judiciário e, segundo a opinião do jornal, os da classe militar que desfruta a possibilidade de matricular seus filhos em vagas reservadas nos diferentes Colégios Militares existentes no país.
Não conseguiu, contudo, o editorialista esconder sua verdadeira intenção: usando a linguagem do “políticamente correto” e uma forma preconceituosa e superficial de abordagem de complexo tema, atingir o segmento militar, comparando “alhos com bugalhos”.
Erige-se, assim, a editoria do jornal do Grupo RBS em paradigma da moralidade e centro da virtude, apontando à Sociedade Gaúcha um pretenso privilégio. Sobre os primeiros - os de uma categoria realmente privilegiada - basta ver os vencimentos iniciais de juízes, promotores, procuradores em início de carreira que superam, quase em dobro, os de Generais, Almirantes e Brigadeiros, do último posto de longa carreira, todos com quase cinquenta anos de serviço- nem uma linha de reprovação.
Aliás, seria uma surpresa para as hostes castrenses, ler e ouvir dos referidos senhores elogios à sua atuação, principalmente a dos modelares educandários que, desde o Império até hoje, anualmente entregam ao país ( filhos de militares e de civis) cidadãos física, moral e intelectualmente preparados, mercê dos esforços , da abnegação e da disciplina de sua gente e da atuação eficiente e exemplar de seu Sistema de Ensino que privilegia, em todas as etapas, o mérito.
Convém relembrar ao editorialista que a criação do primeiro Colégio Militar (o do Rio de Janeiro) ocorreu para abrigar órfãos de militares mortos durante a Guerra do Paraguai em virtude da insensibilidade dos governos de então, sempre parcimoniosos, como os de todas as épocas, com relação aos pleitos e as necessidades da classe militar.
A criação dos demais Colégios foi uma forma exitosa e inteligente de superar os inúmeros inconvenientes provocados pelas sucessivas transferências de oficiais e graduados ao longo de suas carreiras.
Por último e não menos importante, convém registrar que todos os integrantes dos Corpos diretivos, docentes, auxiliares de ensino, monitores, pertencem aos quadros do Exército (oficiais e graduados) e as despesas com sua manutenção oriundas do reduzido orçamento anual de verbas, historicamente alocadas ao Exército Brasileiro.
Prevalecendo a sugestão exposta no mencionado editorial – impedir a matrícula de filhos de militares transferidos (e somente estes) - não restará ao Exército Brasileiro, senão fechar as portas desses importantes Estabelecimentos de Ensino. Não haveria razão para o Exército continuar a dispender esforços e recursos em uma atividade (ensino) cuja responsabilidade, por lei, pertence ao Ministério da Educação. A adoção dessa medida será, com certeza, uma forma de piorar, ainda mais, o lastimável estado do ensino público do país.
Para os que não estão a par do ocorrido, um certo Procurador Regional da República (Domingos Sávio da Silveira) ingressou com a representação na Procuradoria Regional do Direito do Cidadão, contra o dependente de militar ter o ingresso nos colégios garantido e sem necessidade de processo seletivo (vale ressaltar que é nos anos em que não há concurso, pois para esses anos os dependentes de militares também tem que realizar concurso, salvo em caso de transferência do militar de uma Região para outra, e, mesmo assim limitado a um prazo de três anos).
A ação (segundo o procurador) visa a constitucionalidade, ou seja, direito de igualdade para todos.
Como exposto acima no texto, a criação dos Colégios Militares foi feita para atender uma necessidade particular. A partir de determinado momento foi dada a possibilidade de ingresso para o público em geral através de concurso.
Já que há a preocupação do procurador em relação ao acesso universal. Creio que a primeira coisa que esse individuo deveria fazer era acabar com a OAB, uma vez que a "carteirinha" da OAB é exigida em vários concurso, e aí sim, se impede o acesso universal de todos os formandos em direito a vários concursos públicos. Isso não é muito pior do que o que acontece nos Colégios Militares? Ou será que existe interesse em manter os vários cursinhos (pagos) preparatórios para o concurso da OAB?

Homenagem à Maçonaria Gaudéria

Hiram Reis e Silva, Cidreira, RS, 07 de setembro de 2010.

Caro Irmão Maçom
Quero te saudar na simbologia
Do compasso entrelaçado por um esquadro
Fulgurado no centro pela invencível estrela flamejante.
De princípio, agradeço ao Grande Arquiteto do Universo
Por ter-nos criado Justos, Perfeitos e Iguais.
Somos filhos de uma mesma mãe: Fecunda, Generosa, Bondosa.
(Ir:. Henrique Jorge)


- A Independência do Brasil à Sombra da Acácia

O Brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em uma sessão da Loja “Comércio e Artes”, propôs que se conferisse ao Príncipe D. Pedro I, o título de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”. D. Pedro aceitou o título, propondo apenas a supressão do termo “Protetor”. Os maçons, habilmente, arquitetaram o desenrolar do 7 de setembro de 1822, lançando a idéia da convocação de uma Constituinte. Gonçalves Ledo e Januário Barbosa redigiram o projeto e, no dia 3 de junho, foi publicado o Decreto convocando a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa.

A proposta de admissão do Príncipe na Ordem, a 13 de julho de 1822, foi aprovada e a 2 de agosto, D. Pedro era iniciado na Loja “Comércio e Artes”, recebendo o nome de “Guatimozim”. Na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, D. Pedro promulgou o que já fora resolvido a 20 de agosto no Grande Oriente do Brasil. D. Pedro atendeu às recomendações da Maçonaria e o grito, segundo Adelino de Figueiredo Lima, era a denominação de uma das “palestras” da sociedade secreta “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”, fundada por José Bonifácio.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site:
http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Raposa e Serra do Sol e o Imbróglio de Tarso

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 02 de setembro de 2010.

Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida. (Rui Barbosa)
É sempre bom relembrar como o caso da Raposa e Serra do Sol foi tratado com “isenção” pelo então Ministro da InJustiça - Tarso Genro. O mesmo deu na época, uma clara demonstração de como uma autoridade da República “não deve agir” na resolução de conflitos deste gênero. Tarso foi a Roraima para ouvir, tão somente, as facciosas lideranças indígenas do CIR (favoráveis à demarcação contínua) deixando clara sua posição favorável à minoria separatista. A Força Nacional e a PF agiram como meganhas de republiqueta de 5ª categoria seguindo taxativamente a determinação de Tarso. O jornalista Reinaldo Azevedo publicou na ocasião um artigo mostrando a ação nazista e altamente condenável da Gestapo de Tarso Genro, candidato, infelizmente, mais uma vez, ao governo do Estado do Rio Grande do Sul.
- Raposa Serra do Sol: Entre a Realidade e a Mistificação Ongueira
Fonte: Reinaldo Azevedo
“Tarso, fica claro a cada dia, é um perigo para a democracia. Esta evidente que ele se aproveita das licenças concedidas pelo estado de direito para transgredi-lo e para turvar a democracia. Não conhecíamos, até agora, detalhes da ação da PF em Raposa Serra do Sol. Vimos apenas o que publicou uma imprensa notavelmente bem-comportada (com o governo), que já tinha elegido (é o certo no caso, não ‘eleito’) os seus bandidos e os seus mocinhos. Como é usual no Brasil, quem produz um alfinete que seja corre o risco de ir parar atrás das grades. Pois bem. Clique no link:
www.defesanet.com.br/toa1/raposa_24.htm para ver o vídeo
Vale a pena ver o vídeo todo para ressaltar o ridículo de Tarso Genro e de seus homens de preto. Mas uma passagem, em especial, merece ser apreciada: a invasão da Fazenda Canadá, a partir de 6min31s. Os agentes chegam e se trava, então, o seguinte diálogo:
- Proprietário - Tem mandado judicial?
- Policial - Negativo.
- Proprietário - Não tem mandado judicial?
- Policial - Não temos mandado judicial.
- Proprietário - Então eu não vou permitir vocês entrarem sem mandado judicial.
- Policial - Então nós vamos entrar à força.
- Proprietário - Perfeitamente.
- Policial - Como está sendo feito em outras propriedades também.
- Segundo Policial - O sr. pode esclarecer como o sr. vai resistir a isso?
- Proprietário - Posso, posso, eu vou resistir...
- Segundo Policial - Como?
- Proprietário - Eu vou resistir dentro da legalidade, na Justiça.
- Segundo Policial - O sr. vai resistir de alguma outra forma?
- Proprietário - Eu vou resistir dentro da legalidade, na Justiça.
- Segundo Policial - Ok. Tudo bem.
E os meganhas cortam o cadeado, invadem a fazenda sem mandado judicial. O diálogo acima é por demais eloquente. Dispensa grandes considerações. Observem, se vocês quiserem um motivo adicional para indignação, que, mesmo depois de o proprietário ter deixado claro que vai resistir na Justiça, há uma espécie de provocação, tentando induzi-lo a dizer algo que caracterize resistência ativa à ação policial - o que, certamente, levaria a PF a fazer o que fez com outro fazendeiro: meter-lhe algemas nos braços. Este é o estado policial de Tarso Genro, o trotskista surtado. Como vocês bem sabem, a questão tramitava e tramita na Justiça, e os agentes federais jamais poderiam ter invadido uma propriedade sem mandado judicial. Como? ‘Não é propriedade’? ‘É tudo dos índios’? A questão, reitero, está sub judice. É mais um abuso de autoridade patrocinado pelo ministro da Justiça”.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

segunda-feira, setembro 13, 2010

A mamata do Bolsa-Ditadura

Jovem Pan On Line - 18/08/2010 17h18min

O Tribunal de Contas da União decidiu revisar todas as indenizações concedidas a perseguidos políticos da ditadura militar. As indenizações já somam 4 bilhões de reais. Quer dizer: a “luta” não era pela redemocratização do pais. A ideologia era somente um investimento financeiro que hoje está rendendo um bom dinheiro. A anistia ampla, geral e irrestrita criou o Bolsa-Ditadura. Poeta Álvaro Alves de Faria comenta.

por Poeta Álvaro Alves de Faria



Fortaleza do Tapajós

Hiram Reis e Silva, Cidreira, RS, 30 de agosto de 2010.

Sobre o cimo de uma ribanceira de pedra na aba do Rio à direita da Vila ainda existem os remanescentes de uma Fortaleza de figura quadrangular elevada em 1697 à custa de Manoel da Motta de Siqueira; o qual em retribuição desta despesa foi agraciado com o governo vitalício da mesma Fortaleza. (BAENA)

- “Cabeça de Ponte”
Promanou esta fortificação da mesma ideia de por em defesa o Amazonas contra a invasão de inimigos, especialmente dos franceses. (Artur Viana)
O desenvolvimento da Aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós (Santarém), no século XVII, despertou a cobiça dos inimigos da Coroa Portuguesa tendo em vista sua importância estratégica. A Aldeia servia de “cabeça de ponte” para apoiar as incursões portuguesas na Hinterlândia Amazônica. A construção da Fortaleza do Tapajós fazia parte de um grande projeto defensivo e ofensivo que estabelecia posições fortificadas, casas-fortes, fortalezas, acampamentos devidamente equipados que visavam conter as ameaças de invasão e consolidar o domínio lusitano na região.

- Francisco da Motta Falcão
Fonte: Arthur Cezar Ferreira Reis - Ensaio: Manaus e Outras Vilas, Manaus, 1934.
“Morador do Pará e homem de personalidade na sociedade local, sertanista, já por ocasião dos sucessos que sacudiram o Maranhão com o pronunciamento dos colonos contra a Companhia de Jesus e contra a Companhia do Comércio, tivera atuação sucessória, como delegado de Gomes Freire. Acompanhando o Capitão-General, que viera realizar a pacificação ou enfrentar o movimento pelos meios violentos, Falcão desembarcara antes de qualquer outra autoridade para sentir as reações do ambiente revolucionário. Entrara em contato com os moradores e verificara que nada havia a temer. Gomes Freire viera para a terra depois, se encontrar resistências. Falcão mostrara-se mediador hábil. Sua passagem pelo sertanismo regional foi a passagem de todos quantos tinham de enfrentar a adversidade e os perigos do interior. E, seguramente, ao contato com a realidade dura que fora observando e estudando é que se propusera aquela empresa, realmente oportuna, útil aos interesses reinóis e que o propunham como um colono ágil, objetivo, realístico, colono que servia a S. Majestade sem deixar de cuidar dos problemas de sua própria fazenda”.

- Alvará Régio de 15.12.1684
O Alvará determinava que Falcão deveria concluir, às suas expensas, num prazo de quatro anos, a construção das fortalezas do Tapajós, do Rio Urubu, do Rio Madeira e boca do Rio Negro conforme as plantas elaboradas pelo engenheiro Pedro de Azevedo Carneiro, com a melhor técnica possível e respeitadas as contingências locais, de pedra e barro. As autoridades contribuiriam com sessenta índios e dez cavaleiros. Em troca Falcão seria nomeado comandante da Praça Militar, cujo cargo poderia ser transferido hereditariamente aos seus descendentes.

- Projeto e Localização
O local, como de costume, estava localizado em uma das partes mais altas da região, precisamente no “outeiro” escolhido pelo Padre Antonio Vieira para ser sede da missão e que o Padre João Felipe Bettendorf, em 1661, mandara roçar e demarcar para ali construir a igreja e residência dos missionários.
O projeto da Fortaleza era em forma de quadrilátero com 48 metros de lado e um baluarte em cada vértice. No centro estava localizado um paiol, alojamento para a tropa e a cadeia. As muralhas de taipa e pilão possuíam seteiras para os mosquetões e peças de artilharia.
Taipa e pilão: após a preparação das formas, com madeira robusta, eram colocados em seu interior, por camadas, lascas de madeira de lei, barro, cal, saibro, pedras miúdas e cascalho e socados com soquetes de madeira até completar a forma.

- Pequeno Histórico
Francisco da Motta Falcão faleceu antes de ver a obra concluída e seu filho Manoel da Motta de Siqueira designado, por ele, como seu sucessor para os favores reais, prosseguiu nos serviços. Siqueira realizou sua inauguração oficial, em 1697, embora a Fortaleza não estivesse concluída, a cerimônia foi presidida pelo Capitão-General Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho que inspecionava as fortalezas da região. A tradição oral reza que as salvas de artilharia racharam uma das muralhas, que começou a desmoronar aos poucos desde então.

“Foi em 1749 que começou a mostrar ruínas nos ângulos e na cortina da parte do Rio. A mesma Fortaleza, posto que pela elevação do sítio dominasse a passagem do Rio, não podia atalhar nela a navegação proibida, porque o sistema de canhoneiras não permitia às peças de artilharia fazer os tiros por baixo do horizonte pelos ângulos que o declive da montanha exigia: e deste modo aquela Fortaleza não era chave capaz de fechar aquele estreito do Amazonas não só a todo o arrojo interno, perturbador da ordem, mas ainda a qualquer projeto de invasão estrangeira”. (BAENA)

Em 1762, Domingos Sambucetti foi encarregado de examiná-la e reconstruí-la. A construção foi executada à base de pedra e cal material de boa solidez e resistência, foi aumentada sua artilharia e o paiol. Infelizmente sem contar com uma manutenção adequada com o passar dos anos começou novamente a ruir.
Em 1795, o Capitão-General D. Francisco de Souza Coutinho apresentou um minucioso relatório ao Ministro dos Negócios da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro em que dizia textualmente: “ponho de parte tudo o que respeito a Fortaleza de Gurupá, de Parú, de Santarém, de Óbidos e do Rio Negro porque considero como inúteis e só próprias para dividir as forças”.
No final do século XVIII a Fortaleza do Tapajós ameaçava desabar. Foi então que o Governador Francisco de Sousa Coutinho determinou sua restauração no dia 18 de março de 1803, mas, infelizmente, nada de concreto foi feito.

“Nos dias da cabanagem (1835), os homens que tratavam de organizar a resistência na Vila de Santarém, contra a esperada incursão dos cabanos, instituíram um Corpo Provisório de artilharia que contava com três peças de bronze, calibre 2, retiradas da Fortaleza e adaptadas em reparos. Eram as únicas existentes em Santarém”. (SANTOS)
“Ao encerrar-se o período português na Amazônia, a Fortaleza não apresentava mais qualquer sentido militar - era ruína histórica, desprovida de qualquer resquício de poderio. (...) Na forma do velho costume, voltava-se em 1867 à carga: por uma ordem especial do Ministério da Guerra, o Capitão de engenheiros Luiz Antônio de Souza Pitanga marchou para Santarém e ali empreendeu a tarefa de fortificar de novo a cidade, tarefa improfícua que devia ficar por concluir definitivamente”. (REIS)
“Quando o Governador Imperial mandou o engenheiro, capitão Pitanga, tratar da reconstrução do forte, no mesmo ano, 1867, enviou seis peças de artilharia, calibre 6, com as respectivas palamentas, para serem colocadas na Fortaleza. Os serviços de reconstrução, porém, como os novos canhões, ficaram em meio caminho”. (SANTOS)

Hoje podemos encontrar, aos pares, essas peças de artilharia distribuídas na Praça do Centenário, no Aeroporto e na Sede da Sudam.

“Dentro de poucos anos a fortificação, abandonada de vez, desfazia-se em escombros. Depois tiraram-lhes os canhões, precipitaram-nos pelas ladeiras da colina abaixo, para um terreno particular”. (REIS)
“Abandonado pelos poderes públicos, o velho baluarte, bem como as abas e arredores do outeiro, todo o conjunto considerado propriamente do Ministério da Guerra, foi sendo ocupado por particulares que, sem protesto ou reclamação de ninguém, iam se apossando das terras, construindo barracas e casas até mesmo no recinto das muralhas arruinadas. Em setembro de 1908, o 2º Tenente do Exército, Fileto de Oliveira Pimentel, filho de Santarém, denunciou e pediu providencias ao Major de engenheiros Comandante da Fortaleza de Óbidos, a respeito de construções particulares que estariam a fazer-se pelas vizinhanças do fortim de Santarém. (...) mas tudo ficou em nada. Mais ou menos em 1926, apareceu em Santarém um cidadão (...) Comprou uma casinha situada ao lado das velhas muralhas, as benfeitorias, é claro, que logo mandou demolir e construir em seu lugar uma bela vivenda para sua moradia, a qual, pouco depois, foi vendida ao governo do estado (Interventoria Magalhães Barata) que mandou aumentar e adaptar o prédio para ali funcionar o Grupo escolar, atual Grupo Frei Ambrósio”. (SANTOS)

O descaso e a ignorância pulverizaram tudo. A Fortaleza sucumbira sem jamais ter cumprido sua missão. Não existe qualquer traço remanescente da Fortaleza, apenas a Praça Frei Ambrósio que representa um marco histórico importante além de permitir uma visão privilegiada da Foz do Tapajós.

Fontes:
REIS, Arthur Cezar Ferreira Reis. Santarém: seu Desenvolvimento Histórico - Rio de Janeiro - Editora Civilização Brasileira, 1979.
BAENA, Antonio Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará (1615-1823) - Belém, PA: Editora da Universidade Federal do Pará, 1969.
SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Ode à Engenharia Militar Brasileira

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 14 de agosto de 2010.

“Os serviços maiores e missões mais importantes
São na guerra confiadas a nossa grande energia
Que também mede emoções vibrantes
Em que Porfia a nobre Engenharia”
(Canção Do Engenheiro)

- Origens da Engenharia Militar
A primeira civilização a contar com elementos totalmente dedicados à Engenharia Militar foi, provavelmente, a Romana, cujas Legiões contavam com um corpo de engenheiros conhecidos como ‘architecti’. O advento da pólvora e a invenção do canhão deram um grande impulso à Engenharia, que teve de adequar suas fortificações para fazer frente ao poder das novas armas.

- Engenharia Militar no Brasil
Desde o Brasil Colônia os Engenheiros Militares absorveram e aprimoraram a arte portuguesa de planejar e construir fortificações, edificações e acessos. Os testemunhos das obras realizadas, pela Engenharia Militar Lusobrasileira, solidamente construídos e estrategicamente localizados ainda fazem parte de nossa paisagem como bastiões de nossas fronteiras marítimas e terrestres.
Naqueles tempos ser engenheiro pressupunha ser, obrigatoriamente, oficial do exército, já que o ensino regular de Engenharia estava ligado à vertente militar. Em 1792, foi criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, uma das primeiras escolas de Engenharia do mundo, embrião do Instituto Militar de Engenharia (IME) e da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na Real Academia é que se começou a estender o acesso de civis aos conhecimentos técnicos de Engenharia resultando, em 1874, na separação do ensino civil do militar, só então surgindo a Engenharia Civil.
Na primeira metade do século XX, o Brasil experimentou acelerado processo de desenvolvimento que concorreu para a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); o primeiro curso de Engenharia Aeronáutica do País, a construção do Tronco Principal Sul (TPS) e nas décadas seguintes se implantou um dos mais modernos Sistemas de Telecomunicações do mundo com o concurso efetivo e fundamental dos engenheiros egressos do IME.
O IME foi pioneiro, ainda, nos cursos de Energia Nuclear e da Computação. Os governos militares, numa visão estratégica voltada para o futuro, dedicaram uma atenção, muito especial, à integração da Amazônia, transferindo para aqueles longínquos rincões o grosso da Engenharia de Construção. Rodovias foram projetadas e implantadas com determinação e heroísmo pelos soldados engenheiros. Nos dias de hoje, como nos de ontem, a Engenharia Militar responde com oportunidade e alta qualidade aos desafios que se lhe são propostos para atender aos reclames do desenvolvimento nacional. Aqueles que condenam o emprego da Engenharia Militar Brasileira em obras viárias ignoram sua história e sua missão que é, em tempo de paz, colaborar com o desenvolvimento Nacional, construindo estradas de rodagem, ferrovias, pontes, açudes, barragens, poços artesianos e inúmeras outras obras que se fizerem necessárias.

- Missão
A Engenharia Militar é empregada, no Brasil, em obras de infraestrutura desde a vinda do imperador Dom João VI, no início do século XIX. Atuando, mormente, em regiões distantes e inóspitas, onde a iniciativa privada não considera o empreendimento economicamente interessante.
A Lei Complementar n° 97, de 09 de junho de 1999, regulamenta a cooperação das Forças Armadas com o desenvolvimento nacional e defesa civil.
“II - cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante;”
Em 06 de janeiro de 2003, o então Ministro da Defesa, José Viegas Filho, firmou com o Ministério dos Transportes um acordo para o Exército construir, recuperar e duplicar rodovias federais, além de fiscalizar as obras executadas por empreiteiras privadas. Essas atividades além de serem vitais para o desenvolvimento nacional são, também, fundamentais para o adestramento dos militares de Engenharia do Exército Brasileiro.

- PAC do Exército
Por Guilherme Queiroz - ISTO É DINHEIRO, nº: 669 - 30 julho 2010
“A corporação se transforma na maior construtora do País ao deslocar 11 mil militares para tocar 80 obras, num valor de R$ 2 bilhões”.
“Uma sofisticada pavimentadora de concreto trabalha na restauração da BR-101, na divisa entre a Paraíba e Pernambuco. Importada da Alemanha por R$ 4 milhões, chama a atenção pela lataria camuflada. Ela pertence ao Exército, a ‘construtora’ encarregada da obra e, nos últimos anos, um dos mais importantes braços executores do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O governo tem delegado à farda verde-oliva uma parcela expressiva das obras federais, num portfólio que se destaca não só pelo valor, mas por sua relevância para a infraestrutura nacional.
São canteiros distribuídos em rodovias, portos e aeroportos, com orçamento superior a R$ 2 bilhões. Muitas não saíam do papel, em grande parte, devido a irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Para evitar atrasos, o Exército emprega todos os 11 mil homens de sua Diretoria de Obras e Construção em cerca de 80 projetos. ‘O Exército é hoje a maior empreiteira do País’, reclama João Alberto Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias.
A bronca é natural. Poucas construtoras no País têm hoje uma carteira de projetos como a executada – sem licitação – pelos batalhões do Exército. No PAC, há 2.989 quilômetros de rodovias federais sob reparos, em construção ou restauração, com gastos previstos em R$ 2 bilhões. Destes, 745 quilômetros – ou R$ 1,8 bilhão – estão a cargo da corporação. Isso equivale a 16% do orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes neste ano.
Os militares refutam as críticas de concorrência desleal. ‘Não estamos aqui para competir com a iniciativa privada. Apenas participamos do esforço do governo para diminuir as diferenças regionais e, ao mesmo tempo, ser instrumento do Estado para regular um mercado em conflito’, disse a DINHEIRO o general de divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe, diretor de obras e cooperação do Exército.
A primeira missão nessa estratégia foi a reforma de três trechos da BR-101, principal rodovia costeira do País. É um bolo de R$ 1 bilhão que as empreiteiras disputaram, mas não saborearam, por conta das sucessivas disputas judiciais.
O governo repetiu a dose em estradas paralisadas havia anos sob acusação de irregularidades ou problemas ambientais. Casos da BR-163, conhecida como Cuiabá-Santarém e da BR-319, entre Porto Velho e Manaus, construída em 1974, mas que, abandonada pelas autoridades, foi absorvida pela Floresta Amazônica. ‘Faremos da BR-319 a primeira rodovia verde’, disse a DINHEIRO o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Para as empresas de transporte, a recuperação da deteriorada malha rodoviária brasileira é motivo de comemoração. ‘Vemos com entusiasmo o fim dos imbróglios que retardavam a recuperação de importantes trechos rodoviários’, afirma Clésio Andrade, presidente da Confederação Nacional do Transporte.
Estima-se que, ao serem concluídas, as obras entregues ao Exército terão um custo até 20% menor para os cofres públicos. A corporação não pode lucrar com os serviços que presta. Como emprega os próprios oficiais e soldados, já remunerados pelo soldo, o custo da mão de obra deixa de ser um componente do preço final da empreitada. Por tudo isso, o Exército está desempenhando um papel fundamental na infraestrutura necessária para o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
O esforço é maior nos aeroportos. A Infraero entregou aos militares as obras de restauração de uma das pistas de pouso e do pátio de aeronaves do Aeroporto Internacional de Guarulhos, avaliadas em R$ 43 milhões, depois de dois anos de paralisação por determinação do TCU. Suspensos por desvio de recursos, os projetos dos aeroportos de Vitória e Goiânia também podem ser concluídos pelo Exército. ‘A transferência era absolutamente indispensável para retomarmos o nosso cronograma operacional’, explica Jaime Parreira, diretor de obras da Infraero”.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E ainda há quem queira reduzir o orçamento militar e sufocar a Força com baixos salários. Será que existem interesses excusos nesses casos?

domingo, setembro 12, 2010

Eleições 2010

Estamos nos aproximando do dia 03 de outubro, data de extrema importância para o país, uma vez que estaremos escolhendo quem dirigirá nossos destinos em todos os aspectos nos próximos quatro anos. Falo isso, pois a escolha do presidente é problema menor (apesar de toda a linha ideológica que este(a) trás), mas os acordos políticos de lado a lado deixou pelo menos os principais concorrentes muito próximos. Mas, também há a eleição para o Congresso, e nessa é que realmente a disputa de poder é maior, uma vez que, a principio, o presidente necessita do apoio do Congresso Nacional para aprovar o seu orçamento. Interessante é que o próprio Congresso, assim como o Judiciário, gerem sem nenhum controle externo seu prórprio orçamento. Assim se faz festa no Brasil.

Os que temem a Dilma, me parecem ingênuos, ou ainda não perceberam que ela vai trazer junto à tiracolo o Sarney, o Collor e vários outros segmentos de uma ala política bem diversa do que o PT (que ainda se considera partido) pregava anos anteriores.

O que me preocupa nessa situação é o retorno de quadros internos do PT que não são exatamente pessoas que gostaríamos que voltassem à cena política. No caso me refiro entre outros, mas principalmente a José Dirceu. Sei que alguns orgãos da mídia já falaram que nada foi comprovado em relação à José Dirceu e que ele está livre e inocentado, mas Daniel Dantas também está livre e inocentado e se não engano por um magistrado máximo do mais alta corte do país.

Pode-se alegar em relação aos dois que os casos são diferentes, mas alguém pode provar? Que tipo de julgamento tiveram os dois, foram totalmente isentos ou parciais? Como é dito pela boca do povo, a justiça brasileira só manda para a cadeia ladrão de galinha. Então, considerando o senso popular (apesar de comum), temos razão para suspeitar de tais fatos.

Para mim, tão perigoso como Serra chegar ao poder, é ter de volta aos circulos máximos a figura de Dirceu e outros que foram excluídos no mesmo momento político e em escandâlos relacionados. A faxina que os partidos deveriam fazer (e o PT que pregava a ética acima de tudo) sempre são de faz de conta. Na realidade muitas vezes nem acontecem, os membros passam simplesmente a executar tarefas menos visíveis à população.

Esse é o medo que me dá na vitória de Dilma, mas mesmo assim, prefiro correr esse risco a ter de volta ao poder o PSDB.

O meu mais sincero desejo é que houvesse uma pressão popular sobre o retorno de tais pessoas nos circulos de influência da presidência e do Congresso Nacional, mas infelizmente para mim isso é só um sonho, um sonho que dificilmente se realizará enquanto houver essa (ridicula, sem expressão e sem sentido) democracia, que é tão ou mais fechada que os governos ditatoriais que tantos execram, uma vez que nada podemos fazer em relação à mudança de programas políticos dos candidatos eleitos ou das ações que tais políticos tomam em relação às verbas públicas. Gosto de lembrar que nenhum General que governou o Brasil nos "Anos de Chumbo" saiu do poder rico, como tanto vemos (até mesmo com construção de castelos) nesses nossos 20 anos de democracia (que exemplo de modelo político).

Me desculpem os leitores, mas alguns dias a gente está assim, meio que com o pé esquerdo fora da cama o dia todo.

Exército Brasileiro, uma Instituição Confiável!

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 31 de julho de 2010.

“Em certa ocasião, um general norte-americano me pediu que comparasse o Exército brasileiro ao de seu país. Respondi-lhe que o meu Exército era nacional, comprometido com a manutenção da paz ao longo de um arco de fronteira com dez nações, articulado nos três níveis da administração do país e a última barreira na manutenção da lei e da ordem”.(Sérgio Paulo Muniz Costa)

- Daniel Aarão Reis Filho

“Possui graduação em História - Universite de Paris VII (1975), mestrado em História - Universite de Paris VII (1976) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1987). É professor titular de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Desenvolve, atualmente, duas linhas de pesquisa: Os intelectuais russos e as modernidades alternativas (séculos XIX e XX) e História das Esquerdas no Brasil. Temas principais de reflexão: intelectuais, política, revoluções socialistas, esquerdas, ditadura militar”.
Quem consultar o “Curriculum Lattes” do Daniel observará que o autor omitiu, intencionalmente, sua militância política passada. Mas quem será, na realidade, este homem que tem a pretensão de tentar macular a instituição considerada mais confiável do Brasil? Parece que Daniel ou seria “Plínio”, “Djalma”, “Luciano” ou “Sandro” esqueceu de informar no seu “Curriculum” alguns dados importantes que nos permitiriam entender o conteúdo ridículo de seu artigo “As Forças Armadas e os Nossos Narizes”.
- Militante da AP, DI/GB, MR-8;
- Ex- Dirigente da AP, foi Presidente da UNE;
- Em 1969, integrante do Grupo de Ação da DI/GB;
- Em 15 de fevereiro de 1969, participou do assalto ao Hospital Central da Aeronáutica;
- Em abril de 1969, participou da III Conferência do MR-8, eleito para a Direção Geral;
- Em janeiro de 1970, integrante da Direção Geral (DG) do MR-8 e assistente da Frente Operária (FO);
- Em 16 de fevereiro de 1970, à noite, foi estourado o “aparelho” da Rua Montevidéu, 391/201, Penha/GB, onde foi baleado o policial Daniel Balbino de Menezes. Fugiram os militantes: Aarão Reis, José Roberto Spiegner, Cid de Queiroz Benjamin, Vera Sílvia Araujo Magalhães, Carlos Augusto da Silva Zílio e mais um não identificado;
- Em 15 de junho de 1970, foi um dos 40 militantes comunistas banidos para a Argélia, em troca do Embaixador da Alemanha, em seguida foi para o Chile;
- Em novembro de 1972, no Chile, participou da Assembléia da cisão do MR-8, permanecendo com o Grupo Militarista (MR-8) CP, Construção Partidária, que veio a dissolver-se em 1973;
- Em declaração ao jornalista Elio Gaspari, Daniel afirmou:
“Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática”.

- As Forças Armadas e os Nossos Narizes
Por Daniel Aarão Reis Filho
“(...) servem exatamente para quê as Forças Armadas? Da maneira como a memória nacional é ali cultivada, desde os Colégios Militares aos sofisticados Cursos de Estado-Maior. Dos processos de formação de seus quadros. Dos procedimentos com que zelam pelos arquivos da nação sob sua guarda e do silêncio com que protegem a tortura praticada nos tempos da ditadura. Do modo como ainda não se reconhecem como simples funcionários públicos, uniformizados e armados pela sociedade que, com os impostos, remunera seu trabalho. (...)
De sorte que as Forças Armadas, embora visíveis, movem-se com procedimentos próprios, ignorados e não controlados. Contudo, suas marcas na história permanecem como ferro em brasa no couro dos bois.
Mas, quem as vê, embora tão perto dos nossos narizes? (...)”.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Resolvi destacar a parte do texto que já foi referendada por vários historiadores, em que se afirma a total ausência de uma prática democrática por parte de nossa "Resistência". E ainda há quem fale dos Governos Militares...

Coração e Caráter de Euclides da Cunha

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 22 de julho de 2010.

Alberto Rangel, Rondon, Lauro Müller e Tasso Fragoso foram alguns dos ilustres colegas de Euclides da Cunha na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Alberto Rangel, por solicitação do “Grêmio Literário Euclides da Cunha”, realizou uma Conferência em homenagem ao aniversário do falecimento do seu grande amigo. Reproduziremos algumas partes desta homenagem que apresenta um pouco do muito que fez esse grande brasileiro pelo seu país e que, infelizmente, não tem, por parte da maioria dos brasileiros, o devido reconhecimento.

- Euclides da Cunha - Um Pouco do Coração e do Caráter
Por Augusto Rangel
Senhoras e Senhores: O tropeiro ou o simples viandante matuto costuma colocar uma pequena pedra qualquer ao sopé da cruz, encontrada à margem das nossas estradas ou veredas rurais e provincianas. Os piedosos semeiam calvários, concorrendo para a imortalidade de anônimos. É o preito humilde do que vai passando, na intenção do monumento que se não há de erguer...
Consagrando estes instantes à obra vindoura, com que se pretende significar a admiração do Brasil por Euclides da Cunha, colaboramos com a mesma ternura e veneração das almas, nos caminhos sertanejos, para o granito e o bronze que lhe devemos à memória.
Realmente, o terrível esquecimento nacional, que tem agruras despenhosas de ribanceira e sorvos repentinos de perau, se predispõe aos nossos olhos a engolir a lembrança do valoroso e emérito escritor. Não vimos dar um grito nesta tribuna, e à moda do fórum antigo acender a revindita, abraçado teatralmente à vítima... Todo impregnado ainda das impressões colhidas na fortuna de excelente convivência, o nosso intento é menos ostentativo das galas e deveres de patrono num pretório, do que o de evocar o amigo, quase que exclusivamente, nas feições do seu caráter raro e nos traços inegáveis da sua meiga e profunda afetividade. (...)
É o prisma do sofrimento o melhor decomponedor das almas. Torna-se o exame mais fácil e mais claro às refrações da dor. Cabem aqui, na verdade, as alusões inescusáveis à angústia do sacrificado, se é, com efeito, a homenagem ao homem moral que perpetraremos, interessados no desenho do coração cristalino, melindroso e probo e no apontamento das linhas tenacíssimas da sua alma de espartano.
Verificando-lhe os sentimentos, nos períodos da correspondência, privada e em lembranças reais da sua vida ativa, havemos de procurar fixar um pouco de luz nos desvãos da sombra injuriosa e maldita. Preferiram-se tais reflexões e sondagens ao esforço de recordar Euclides nos aspectos da sua estupenda produção intelectual. A outros as conjugações da crítica, nos labirintos da estética literária, a debulharem e esgaravatarem as grandezas e nonadas da arte, do pensamento e do estilo, as profanações daqueles para quem a originalidade é possessão diabólica e o ‘regionalismo’ sério motivo de prevenção e de escarmento... (...)
Os admiradores da pena que traçou o “À margem da História” prosternem-se ante os segredos do íntimo e do puro. Foi ele mesmo que escreveu estas palavras brandas e confitentes, entremostrando na forma impiedosa do porfiador sem recuos, o ser de nobre inteligência e de límpida bondade que nele se abrigava: “Minutos existem mesmo em que o abomino e chego a ter-lhe ódio - esses sentimentos porém - como felizmente todos os sentimentos maus em mim (que são inúmeros porém efêmeros) desaparecem facilmente”. O seu talento foi muito e o coração demais. (...)
A 20 de setembro de 1908, Euclides da Cunha expressa-se desta forma: “De mim nada tenho que dizer. Há uma pasmaceira trágica neste país que esperneia galvanizado na praia Vermelha e morre à fome nos sertões. De sorte que vivo mais ai do que aqui - fugindo, através dos livros, para o seio de outras gentes”.
Continua a maré do nojo enchendo-lhe o coração de desdéns. Exila-se na leitura, rompe pelo matagal do pensamento humano a pobre criatura, devorada por um desgosto pungente, que se mascara. Que o sofrimento secreto se abafe no percuciar das páginas sorvidas e decifradas. Adormecer-lhe-ia o mal, ao emoliente das ideias exprimidas pelos cérebros alheios. Por essa época, deveriam ter-lhe jorrado da pena as estrofes do Paraíso dos medíocres... (...)
Eis o que mais adiante Euclides escrevia, disfarçando nos protestos contra a sujeição às mediocridades lerdas de uma secretaria, as lutas morais que então o deviam absorver: “Continuo a desenhar mapas antigos... Até quando? Às vezes penso que foi uma fatalidade o ter caído, como um satélite, na órbita maravilhosa de um Imortal. Submeto-me. Mas ainda não sei se romperei a curva fechada dessa gravitação”. Não o satisfaz o emprego seguro do Estado. O pão quotidiano, assegurado por um grande ministro, sabe-lhe à ração de calceta. (...)
Em 1905 escrevia-nos ele de Manaus, às dez e meia da noite de 20 de março: “A nossa partida está próxima. Chegaram ontem as instruções - e desde que se realize a reunião dos comissários iremos rumo feito para o desconhecido. A minha frota: duas lanchas (uma ainda problemática), um batelão e seis canoas - flutua triunfalmente no extremo do igarapé de São Raimundo -, e teve ontem o batismo de uma tempestade. Nunca imaginei que este rio morto escondesse, traiçoeiramente, ondas tão desabridas. Uma rajada viva de sudoeste imprime-lhe as crispações ensofregadas de um mar - e que mar! Um mar entre barrancos em que as vagas desencadeadas se desatam em corredeiras impetuosas de torrentes... Felizmente resistiram galhardamente os meus navios. É que dentro deles está a 'fortuna de César'. Realmente, creio tanto no meu destino de bandeirante que levo esta carta de prego para o desconhecido com o coração ligeiro. Tenho a crença largamente metafísica de que a nossa vida é sempre garantida por um ideal, uma aspiração superior a realizar-se. E eu tenho tanto que escrever ainda...” São palavras ardentes, mas de outro tom, pois que, embebidas de esperança, cantam vitória, fumegam e roncam nas linhas de batalha.
Euclides da Cunha enviou-as quando se aprestava a inquirir com os delegados da Bolívia sobre a fonte do Purus, e, por ordem do barão do Rio Branco, ia prendê-la no elipsóide terrestre às coordenadas necessárias. A missão que reclamava a arte do geodesista, e as resistências de um vaqueiro nortista, exigia saber e coragem aliados à perseverança de um antigo capitão de bandeira. Nada mais próprio do alvo e mortificações com que costumava sonhar a sua alma: entrar pelo sertão adentro e cravar os olhos no céu medindo os âmbitos escancarados do firmamento e do sertão. (...)
Aos 22 anos, Euclides lançava, em caderno escolar, o programa de itinerário futuro pelo meio das dissensões de sua alma com o Universo, com esta observação digna do frontão de um templo: “A marcha de um homem verdadeiramente bom é feita através de reações contínuas”. (...)
O homem é tanto mais forte, quanto mais só; o conceito ibseniano perde a névoa de contradição, ligando-se-o ao feitio sobranceiro e incomutável de Euclides. Não se lhe conheceram preferências de qualidade suspeita, não se deixou cegar pelo dinheiro, não cheirava a Influência, nem se genuflexava ante o Poder. A independência agiganta - é a tradução verdadeira daquele apótema do norueguês. E seria por isso que, quem via pela primeira vez a pessoa do escritor, se desconcertava, esperando infalivelmente uma estatura maior.
O físico de Euclides da Cunha tinha a vulgaridade mamaluca da nossa humilde e boa caipiragem. Porque não praticava nenhuma lei de Brummel, mas lhe aparecia a insignificância do caboclo magrizela de fonte escampa e arcadas zigomáticas saltadas, onde os olhos brilhavam com reverberos de incêndio à beira-d’água e à noite. (...)
“Misto de celta, de tapuio e grego”, disse ele, retratando-se num decassílabo. Foi mais longe. Definiu-se, reconhecendo a miscelânea da própria combinação étnica com as raças da transmigração e da autoctonia e ainda mais a dos helenos, na componente ideal que lhe exprimisse a devoradora e saborosa tortura de beleza e de perfeição...
Em São José do Rio Pardo, no casebre ao lado de um dos pegões da ponte de ferro, construída sob seus olhos, Euclides escreveu muitas páginas de Os sertões. Era ermo o lugar e a habitação modestíssima, uma guarita de cantoneiro, um taperi de caçador goiano. No interior, nem o divã do sibarita, nem as excitações de alcaloides raros, nem os cômodos uma boa lâmpada; antes o grabato do anacoreta, o pote com a água do riachão e a vela na garrafa do estudante pobre.
Devia lavrar a desordem na cabana do engenheiro. Em tais indivíduos o método cifra-se num puro exercício mental, deixada a execução do arranjo e conformidade às mãos previdentes das senhoras donas de casa. Os esquadros e compassos perder-se-iam na confusão dos papéis quadriculados e das tiras estilizadas do seu futuro livro. Nas cotas dos perfis entremear-se-ia a frase estuosa do repente feliz. No cálculo do momento de flexão da grandeza do empuxo relampejaria a decisão flagrante do verbo, o resumo fiel do qualificativo, a censura harmônica da conjunção.
Euclides da Cunha tinha na verdade o culto da linguagem e não a idiota paixão do vocábulo, em que se sacrifica a raridade à impropriedade, na tessitura de preciosismos fáceis. O joalheiro ama a joia para dar-lhe destino e não como o avaro, pelo fulgor seco e o estúpido valor dos fogos diamantinos. O artista adora a palavra para os fins da expressão. Não ser ela de uso corrente pode ser defeito; menos se calhar à ideia o termo sonoro e estranho que for preciso, que for belo e que for lúcido. Tudo está na escolha e cabimento. É maneira de remoçar ideias e despertar a atenção em torno delas, vesti-las bem e com certo rebuscamento. Nem todos o poderão fazer... A pobreza de um léxico é melhor, contudo, que a pilhagem irracional dos glossários. Insuportável, porém, a pretensão de legisladores e policiais, na república das letras, de impor uma tara à carregação verbal do escritor. Para o pregoeiro da hasta pública toda mesa é sólida, todo piano harmonioso. A crítica nacional tem obtido êxitos antinefelibáticos, aconselhando adjetivos de leiloeiro e podando nos canteiros de estreantes as flores raras da estufa glótica. Tem sido um serviço sensato o dos guardas do cordão gramatical, plasmando a mania contagiosa dos cavadores de dicionário, que sendo afinal de contas um instrumento de utilidade pública e de uso diretamente proporcional à ignorância de cada um, servirá um dia para alguma cousa. Ousadia foi que esses puritanos e contrativos do Verbo se alertassem na ronda à pena dos “Contrastes e confrontos”. (...)
A realidade na obra de Euclides da Cunha acusa o impressivo das visões alucinatórias. O homem parece sonhar acordado. É um parente de Dickens, um sectário de Carlyle, um cultor de Ezequiel. A sua imaginação lancinante e explosiva tinha no entanto o dom de adivinhar. Combinando-se, ele e alguns amigos, para a descrição do estouro das boiadas, apresentou-se Euclides, que era o único, dentre todos, que nunca tinha visto semelhante espetáculo, com a sua lauda cheia. Fizeram-no ler em primeiro lugar. Conheceis o trecho. Está incluso em Os sertões. São linhas inesquecíveis, e honrariam a melhor das antologias. Os concorrentes escutaram o arranco detonante da tropeada, o desconchavo elétrico do rebanho, a manada louca escarvando e atroando na dispersão convulsa pelos tabuleiros, lombas e baixadas... Não se leu mais cousa alguma. Incompletas e pálidas pareceram as impressões que cada um trazia. Aquele, que idealizara, vira melhor que os outros... (...)
Espalhou-se, em recurso de rabularia, que Euclides, cujo coração lia pela cartilha de Terêncio e cujo apego à família recebia os reflexos da vibração permanente do campeiro aferrado a seus pagos, deixava morrer na cinza da indiferença as brasas do seu lar, que o cerebral intensivo, absorto na meditação e no esmero da frase cinzelada, esquecia os deveres de carinho esponsal. Em protesto violento e comprovado, leiamos estas palavras do escritor e as quais se repassam da delicada preocupação do chefe de família, presto nos afagos, através da distância e indo a ponto de designar-lhes ao transporte o intermediário fraterno: “Um favor, mas favor sacratíssimo de irmão: na rua do Cosme Velho, 91 (atual rua Francisco Otaviano), Laranjeiras, moram as minhas quatro enormes Saudades - a minha mulher e os meus três pequenos. Peço-te que os procures e que lhes dês noticias minhas”. Essa ordem fiaria da meiguice de um Barba Azul. “As minhas quatro enormes Saudades.” Como é singelo e diz tanto! Shakespeare não trepidaria em pôr essa frase na boca de uma personagem de amor. “As minhas quatro enormes Saudades”! Euclides transfundia os objetos no sentimento, por uma operação maravilhosa de que seria somente capaz a ternura imensa desse delicado e ultrassensível, compondo o evangelho das adorações para seu uso...
Certa vez, Euclides da Cunha comandava uma trincheira na luta furiosa de setembro de 1893. A fraqueza de uns, o desfibramento completo de outros, imprensados na resolução e desespero mútuo de alguns, faziam fervilhar dos arrabaldes às linhas de defesa no litoral boatos de sublevação geral, qualquer cousa cósmica em que se subvertesse a legalidade, sob as colunas de sua própria cúpula. Na baixa atmosférica do pânico havia enregelados. O medo criava inventores de escapadas, Ciranos de escorrego, heróis invertidos da retaguarda, sonhadores de projetos homéricos de fuga, serra-filas da indenidade, na legião da covardia e do comprometimento. A cidade, vindo a noite, soprava as luzes da beira-mar. Não queria ser vista, tremendo e armada até os dentes! O susto, em que todos se espojavam, despertou em Euclides o sentimento da responsabilidade. Ergueu-se no agacho geral, e por mais ingênuo que nos pareça o seu ato, revela as energias da consciência desdobrada no sentido contrário às ignávias da massa. Sacou do bolso da farda um maço de cartões com o nome dele e o espalhou por sobre os materiais do posto de combate. Semeava o soldado impávido o compromisso de solidariedade aos rumores do terror, aos abalos truculentos num receio coletivo. Era essa a fibra do autor dos Sertões, o seu privilégio adamantino; nem a mentira, nem o medo eram de molde a assombrá-lo. A sua timidez, que seria a atenção da defesa na sociabilidade obrigada dos pataratas e dos servis, dos alarves e dos tratantes, perdia as faixas do mimetismo volitivo. O cavaleiro toava um olifante, saindo a campo raso... Estaria fora de seu tempo o Quixote da própria dignidade e reputação melindrosíssimas. (...)
Se encontrássemos Euclides da Cunha nessa manhã do desastre, vê-lo-iamos assim, descarnado e todo ânsia... Levaria o coração sangrando e bem alto, no esforço de o furtar às crueldades das contaminações morais e disgregativas que o ofendiam...
Frequentava o insigne homem de letras, em Manaus, uma casinhola, que sobranceava o mar de frondes e o algodoal de névoas matutinais de sua molduragem. Em longas horas de vigília, ele escutava o gemer do vento a que seus sentimentos de ausente emprestavam o lancinante dos soluços das Oréadas. Às vezes, a lua comparecia à presença do assombrado, que dizia versos à celicola. Fébe ouvia com encantada doçura o arpejar de Orfeu. Debruçava-se depois Euclides nas suas notas miúdas, lançadas ora numa página, ora noutra de grande livro em branco. Preocupava-se também em mandar aos amigos notícias, carícias e gritos de espanto, no vestíbulo da natureza nova, cujo vigor, mistério e contradições o espasmavam.
Para não contar absurdos e apenas diminuir os rigores da tristura ingênita, ele ia tocando a rebate as rimas, para enfileirar as estrofes na esplanada dos postais. Depois destacava pelo Correio, uma a uma, as patrulhas sentimentais e de pés certos. A poesia embalara-lhe sempre os pensamentos. Poemas da mocidade musicaram-se-lhe nas primeiras ideias. Depois alterou e repartiu os ritmos e sonoridades, variou a métrica e foram ainda epopeias o que nos legou a sua arte. (...)
Por esse tempo notava-se que Euclides pouco dormia. A mariposa decorava Heine. O noitibó relia Michelet. Sentava-se a escrever, pedindo ao café e ao tabaco os venenos das essências excitantes. Uma a uma as horas levantavam a antífona do Silêncio e da noite, dando o tom ao coro das pererecas e dos grilos. Que passaria pela cabeça de Euclides alagada nos clarões da insônia? Nunca a cena que o prostrou na Imortalidade e no pó de estrada suburbana, fuzilado e acertado por quatro balas. (...)
No túmulo de Euclides da Cunha dever-se-á mandar esculpir a flor da passiflora, traspassada da mata para o ornato e o proveito de nossos vergéis e a qual tem no cálice roxo ou vermelho os símbolos do mais celebrizado dos sofrimentos humanos. Caber-lhe-ia a frase semelhante à do jazigo da criança: “Assim eras tu...” sob a corola de mágoa e glória da Paixão: uma flor de martírio, com os seus espinhos e os seus cravos cobertos de um pólen fecundante em poemas!


Fonte: Alberto Rangel - Rumos e Perspectivas (1934)
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história

retirado do site http://www.ted.com/ no dia 12 set 10

Algumas falas de Chimamanda Adichie me lembram a única história que é contada sobre os anos dos Governos Militares. Cliquem na caixa de subtitles para terem acesso às várias legendas.