"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Últimos resultados do Latin NCAP: a Toyota e a Mitsubishi atingiram as cinco estrelas. A Nissan melhorou modelos e junto com a VW e a Hyundai ganharam quatro estrelas

Latin CAP - 15.12.2015

Os últimos resultados do Programa de Avaliação de Veículos Novos para América Latina e o Caribe (Latin NCAP), continuam a mostrar avanços importantes em segurança veicular na América Latina. O Latin NCAP impulsiona a melhoria dos níveis de proteção dos ocupantes adultos e crianças, os quais em muitos países ainda estão abaixo dos padrões mínimos de segurança das Nações Unidas. Os últimos resultados são, também, os últimos modelos testados com o atual protocolo de avaliação, que será ampliado a partir de 2016.
Três modelos, Mitsubishi Montero Sport, Toyota Rav4 e Toyota Hilux atingiram as cinco estrelas para a proteção do ocupante adulto e bons resultados para a proteção infantil. Quatro modelos, o Hyundai Creta, VW Fox, Nissan Versa e o Nissan March ganharam quatro estrelas para o ocupante adulto e resultados díspares para a proteção do ocupante infantil.
Hyundai Creta, fabricada na Índia, atingiu as quatro estrelas para a proteção do ocupante adulto e três estrelas para a proteção infantil. Este é um dos últimos modelos do fabricante que acabou de ser lançado no mercado da América Latina como uma plataforma global. A falta de equipamento padrão como freios ABS, lembrete de cinto de segurança para o passageiro e o fato de o fabricante não ter patrocinado o teste de impacto lateral limitou a qualificação. A configuração do equipamento foi feita pela matriz do fabricante. A falta deste equipamento padrão como versão básica neste modelo decepciona o Latin NCAP, considerando que são importantes para a segurança dos passageiros, junto com o controle eletrônico de estabilidade (ESC) que sua concorrência incluiu, como o Jeep Renegade e o Honda H-RV.
O VW Fox,fabricado no Brasil, recentemente atualizado com um facelift, conseguiu as quatro estrelas em relação à proteção do ocupante adulto e duas estrelas para a proteção infantil. O veículo oferece boa proteção para a cabeça de ambos os passageiros dianteiros. Proporciona, também, boa proteção para o peito do acompanhante e proteção marginal para o peito do motorista. Esse modelo costumava ser produzido no Brasil e era exportado para a Europa. A versão para os mercados da América Latina do Fox não conta com ancoragens ISOFIX, ESC, airbags laterais para a proteção lateral, enquanto a versão que era exportada para Europa contava com esses itens como equipamento opcional. As duas estrelas para o ocupante infantil se devem, em parte, à falta de ancoragens ISOFIX, à falta de cintos de segurança de três pontos em todas as posições e não se poder desconectar o airbag do acompanhante caso seja colocado um Sistema de Retenção Infantil (SRI) voltado para trás.
Mitsubishi Montero Sport, fabricada na Tailândia, recentemente lançada no mercado da América Latina, atingiu as cinco estrelas para o ocupante adulto e três estrelas para o ocupante infantil. O veículo oferece três airbags como equipamento básico que, junto com os cintos de segurança e pretensores, proporcionaram boa proteção aos passageiros. A criança de 18 meses recebeu boa proteção, mas a cabeça da criança de três anos entrou em contato com o banco do motorista
causando uma perda de pontos. O encosto do banco traseiro, por trás do dummy de três anos, se soltou no teste. O veículo oferece ancoragens ISOFIX na segunda fila de bancos e cintos de segurança de três pontos em todas as posições.
O Nissan March, fabricado no Brasil, conseguiu as quatro estrelas no tocante à proteção do ocupante adulto e uma estrela para o ocupante infantil. O modelo está equipado com duplo airbags e pretensores desde a recente mudança de produção. As cabeças dos ocupantes adultos receberam boa proteção e os peitos receberam proteção marginal adequada. A baixa pontuação atingida para a proteção infantil se deve à falta de cintos de três pontos em todas as posições, à falta de possibilidade de desconectar o airbag do acompanhante, à má sinalização de advertência de quando se coloca um sistema de retenção infantil voltado para trás e à falta de ancoragens ISOFIX. A Nissan tinha patrocinado o teste do March em 2011. Nesse momento, o Latin NCAP tinha ressaltado a estrutura instável do March em comparação com a versão europeia chamada Micra, testada pelo Euro NCAP em 2010. O Latin NCAP destaca agora as melhorias que a Nissan fez neste modelo. Como um claro sinal da alteração estratégica que a Nissan está realizando para tornar os veículos mais seguros, depois de melhorar o Tiida Sedã em 2015, a Nissan aperfeiçoou as estruturas do March e Versa e seu equipamento de segurança, bem como seu desempenho. Ambos os modelos foram testados pelo Latin NCAP.
Nissan Versa, fabricado no Brasil, conseguiu as quatro estrelas para a proteção do ocupante adulto e duas estrelas para o ocupante infantil. Este modelo está agora equipado, em todas as versões, com duplo airbags e pretensores. As cabeças foram bem protegidas pelos airbags e os peitos receberam proteção adequada. A baixa pontuação a respeito do ocupante infantil se deve à falta de cintos de segurança de três pontos em todas as posições, à má sinalização de advertência, além de não contar com a possibilidade de desconectar o airbag do acompanhante quando se instala um SRI voltado para trás, e à falta de ancoragens ISOFIX.
A Toyota Hilux, fabricada na Argentina, atingiu as cinco estrelas para a proteção do ocupante adulto e cinco estrelas para o ocupante infantil. A estrutura do veículo é forte e os três airbags como equipamento básico, junto com os cintos de segurança, oferecem boa proteção no impacto frontal. O carro, também, proporciona boa proteção no impacto lateral. A Hilux conta em seu equipamento básico com três airbags frontais (cabeça e peito do motorista, joelhos do motorista e cabeça e peito do acompanhante), freios ABS em quatro canais, lembrete de cinto de segurança para ambos os passageiros dianteiros. O bom resultado obtido para a proteção infantil se deve aos cintos de segurança de três pontos em todas as posições, ancoragens ISOFIX, possibilidade de desconexão do airbag do acompanhante, e boa sinalização para os consumidores.
O Latin NCAP testou o mesmo modelo fabricado na Tailândia em setembro de 2015. A melhor qualificação para o ocupante infantil ocorreu porque o fabricante decidiu testar a versão fabricada na Argentina com SRI, que não estavam disponíveis no mercado no primeiro teste. Os SRI utilizados para ambos os dummies, neste teste, foram os Takata MIDI 2. Estes SRI oferecem a possibilidade de colocar o dummy de três anos olhando para trás, demonstrando benefícios em relação à proteção.
A Toyota Rav 4, fabricada no Japão, conseguiu as cinco estrelas no tocante à proteção do ocupante adulto e quatro estrelas para a proteção infantil. A estrutura do veículo é forte e os três airbags e cintos de segurança protegem bem os ocupantes no impacto frontal. O carro oferece boa proteção no impacto lateral. A Rav4 conta com três airbags frontais (cabeça e peito do motorista, joelhos do
motorista e a cabeça e peito do acompanhante), freios ABS em quatro canais e lembrete de cinto de segurança para passageiros da frente, como padrão em todas suas versões.
A Hilux e Rav 4 são os primeiros modelos testados pelo Latin NCAP a utilizar a nova geração de SRI, chamada i-Size, que mostram importantes benefícios para a proteção de ambas ocupantes crianças.
María Fernanda Rodríguez, Presidente da Diretoria do Latin NCAP, disse: "Foi observado o processo atravessado pelos fabricantes nos cinco anos de vida do Latin NCAP, posso visualizar com tranquilidade que tipo de carros teremos nos próximos cinco anos. Igualmente me preocupa muito que os esforços deixem em segundo plano as crianças, sendo elas o futuro e os motoristas do amanhã”.
“Acho que os governos têm provas suficientes para confiar em que os fabricantes contam com os elementos necessários para nos oferecer o mesmo nível de segurança proporcionado em outros mercados. Apenas com regulações técnicas é que se democratiza a segurança, gerando uma concorrência justa entre as empresas, e o mais importante protegendo a população. Espero que a GM se some a este processo, já que é uma empresa muito importante, reconhecida e que construiu, por anos, uma imagem muito sólida”.
“Para terminar de forma positiva, parabenizo a Honda, Jeep, Seat, Toyota, Volkswagen, Ford e Mitsubishi por seu esforço, por sua consideração aos consumidores latino-americanos e por trabalhar junto conosco na redução das mortes e lesões graves em veículos, respeitando nossa independência.”
Alejandro Furas, Secretário Geral do Latin NCAP, disse: “Temos o prazer de encerrar este ano com a maioria dos principais fabricantes de veículos mostrando estratégias para conseguir veículos mais seguros, que levam em conta os resultados do Latin NCAP e escutam a voz dos consumidores”.
“A Nissan e a Fiat mostraram uma mudança positiva em 2015. Gostaríamos de ver o Tsuru ser removido da produção, visando ter a confirmação de que a Nissan está comprometida com a estratégia de veículos mais seguros. Infelizmente, a GM ainda não respondeu aos pedidos do Latin NCAP e do Global NCAP, nem modificou sua estratégia depois da publicação do Aveo em novembro”.
“A proteção do ocupante infantil está melhorando muito mais lentamente do que a proteção do ocupante adulto, o Latin NCAP alenta todos os fabricantes e os governos a melhorarem velozmente a segurança infantil na América Latina e no Caribe”.
“Depois de assistir à segunda Conferência de Alto Nível sobre a Segurança Viária em Brasília, o Latin NCAP está muito preocupado pela escassa participação dos governos da América Latina, bem como sua reação ainda mais lenta para entregar veículos mais seguros a todos os cidadãos; a segurança dos veículos deve ser democratizada em nossa região o mais rápido possível.”
O Latin NCAP encerra 2015 com um número recorde de veículos testados (23). O Latin NCAP recebe o apoio da Iniciativa Mundial de Segurança Viária Bloomberg Philanthropies, Global NCAP, Fundação FIA, International Consumers Research & Testing (ICRT) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e seu Fundo Coreano para a Redução da Pobreza.
Acerca do Latin NCAP
O Programa de Avaliação de Carros Novos para América e o Caribe (Latin NCAP) foi lançado em 2010 para desenvolver um sistema regional independente de testes de batida de carros e de qualificação de segurança na região. O Latin NCAP responde a programas de testes de consumidores similares desenvolvidos nos últimos trinta anos na América do Norte, na Europa, na Ásia e na Austrália que demonstraram ser muito eficazes na melhora da segurança dos veículos. Desde 2010, o Latin NCAP vem publicando os resultados de mais de 60 veículos em seis fases de teste.
O Latin NCAP é um membro associado do Global NCAP e apoia o Decênio de Ação das Nações Unidas para a Segurança Viária 2011-2020, especialmente o pilar referido ao veículo do Plano Mundial e a iniciativa Stop the Crash.

Veja aqui todos os resultados.

sexta-feira, outubro 30, 2015

Divulgação de Livro

Livro Descendo o Rio Negro

Este livro reúne fragmentos de diversas observações ou vivências pessoais minhas e de autores hodiernos ou pretéritos ao longo da calha do Rio Negro, os capítulos são apresentados à medida que se desenrola nossa náutica jornada.
 A história, desde antes da criação da Capitania de São José do Rio Negro, o emprego ritual de “alucinógenos”, o comportamento de personagens polêmicos contemporâneos e pretéritos, lendas, teorias inovadoras esboçadas por visionários pesquisadores e as catastróficas demarcações de terras que geram insegurança a todos os brasileiros são abordadas sem a preocupação de ser “politicamente correto” mas com o intuito de apresentá-las dentro de um contexto científico, apontando seus erros e acertos.
 Convidamos o leitor a se juntar a nós nesta magnífica descida pelas águas de um dos mais belos Rios criados pelo Grande Arquiteto do Universo e nos acompanhe, remada a remada, pelas águas escuras do Negro Caudal. Que se encante com nossa narrativa e os relatos, esmaecidos pelo tempo, de desbravadores, muito mais audazes, que tanto lutaram para estender nossas fronteiras tão cobiçadas ontem e que, hoje, graças aos desmandos dos últimos governos, estão se tornando cada vez mais frágeis.
 
² O livro está a venda por R$ 80,00:

– Em Caxias do Sul, na “Livraria do Maneco”, Rua Marechal Floriano, 879 - Centro;

– Em Porto Alegre, no Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), Avenida José Bonifácio, 363 - Parque Farroupilha, a partir de 28.09.2015. Os livros serão comercializados na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea – AACV ou na Barbearia do Tatu;

– Em Bagé contatar a Rosângela através do telefone (053 9952 6452).

² Pelo Correio cada livro custa R$ 100,00 (despesas de correio incluídas):

– Neste caso o amigo devera fazer contato pelo e-mail hiramrsilva@gmail.com informando que o depósito já foi realizado e o seu endereço residencial.

– Conta Bancária de Hiram Reis e Silva
– Banco do Brasil (001) – Agência: 4848 - 8
– Conta Corrente: 117 889 - X          (X ou 0)
                        – CPF: 415 408 917 - 04





















quinta-feira, outubro 29, 2015

UMA EXPEDIÇÃO DE CAIAQUE PELA LAGOA MIRIM

Hélio Riche Bandeira, Porto Alegre, RS, 31 de maio de 2015.



                                                                                                                                                    A natureza é o único livro
                                                                                                                                                    que oferece um conteúdo valioso
                                                                                                                                                    em todas as suas folhas. 
                                                                                                                                                 (Johann Goethe, pensador alemão)


Conhecer e aventurar-se num local desconhecido, onde a natureza ainda se apresenta soberana e a mão do homem não impera, é algo que qualquer amante da ecologia e de um mundo sustentável e mais harmonioso deseja participar.

Eu e o Cel. Hiram Reis e Silva já havíamos percorrido mais de uma vez a Laguna dos Patos, a maior laguna do Brasil, navegando tanto pela margem leste como pela margem oeste, restava agora conhecer a maior lagoa do Brasil, a Lagoa Mirim. Esta seria uma expedição inédita, desceríamos pela margem oeste, percorrendo as margens no Brasil e no Uruguai e subiríamos pela margem leste, que fica inteiramente em território brasileiro.

A Lagoa Mirim (do tupi mi’ri = pequena) fica separada do mar por uma faixa de terra baixa arenosa e em parte alagada que tem entre 10 e 30 milhas de largura; une-se à Lagoa dos Patos pelo Canal de São Gonçalo. Possui uma área aproximada de 4.500 km², quando se encontra em seu nível médio (1,70 m) acima do nível do mar. 75% dessa área situada em território brasileiro e o restante pertencente à República Oriental do Uruguai. Tem o comprimento aproximado de 108 milhas marítimas (200 km) e sua largura máxima é de 19 milhas (35 km). A profundidade é muito variável, girando a média ao redor de 4 m ao norte e 7 m ao sul da lagoa. A oscilação média de níveis situa-se entre 0,80 m nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril e 2,15 m nos meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro. A Lagoa está localizada entre as latitudes sul de 32°11’00’’ e 33°38’00’’e as longitudes oeste de 52°36’00’’ e 53°39’00’’. (EMYGDIO, 1997, p. 8)
 

Para realização de tamanha jornada o caiaque oceânico se apresenta como o meio ideal de transporte, visto que permite atingir com facilidade todos os pontos preteridos possibilitando um maior envolvimento com a natureza, não causa nenhum impacto ambiental, sua capacidade de carga nos compartimentos estanques é bastante grande, possui boa estabilidade, leme direcional e possibilita a navegação com qualquer tempo dentro de certos limites.
A canoagem não busca só o lazer ou a prática esportiva, mas o meio ideal de locomoção, integração e contemplação da natureza. Navegar por rios, lagos ou águas costeiras sem deixar rastros, sem compactar trilhas e sem causar erosão, mostra que a atividade é de baixíssimo impacto. Desta forma, podemos nos aventurar em busca do desconhecido com a consciência mais tranquila. Aliando atividade física ao ambiente natural, nada melhor do que poder entendê-lo, para ajudar a preservá-lo às gerações futuras. É aí que entra em cena a conscientização ecológica. (HILSDORF, 1997, p. 30)

Nessa viagem teríamos o apoio de uma equipe no veleiro Zilda III, de propriedade do Sr. Reynaldo Di Benedetti, auxiliado pelo Cel. Sérgio Pastl e Sr. Norberto Weiberg, experientes navegadores e parceiros nas travessias da Laguna dos Patos, além da alegre companhia de Pedro Sérgio Londero Pastl e Brian Pastl Wechenfelder, netos do Cel. Pastl.
No dia 26 de dezembro, acompanhado do Sr. Norberto, partimos de carro de Porto Alegre para o Clube Veleiro Saldanha da Gama em Pelotas, local de encontro com os demais companheiros. Chegando ao clube acomodamos nossas bagagens e os caiaques no veleiro Zilda III, em razão de que no deslocamento pelo Canal São Gonçalo até o Sangradouro da Lagoa Mirim, local de início da grande remada, iríamos rebocados. Após jantamos e fomos dormir.
Na manhã do dia seguinte, às seis horas, partimos pelo canal São Gonçalo, passando pelos antigos prédios do porto de Pelotas, pela ponte férrea que tem no centro uma parte móvel que sobe apoiada em duas torres para os barcos passarem, na qual tivemos de aguardar por um bom tempo para sua elevação, pelas pontes da BR116 e seguimos rumo à eclusa. O canal, mesmo próximo da cidade, é caracterizado por barrancas baixas cercado de banhados em ambas as margens onde predomina o junco, santa-fé e sarandis e uma rica fauna de aves.
Um pouco antes das nove horas chegamos à barragem que tem a sua eclusa aberta nessa hora. A barragem do São Gonçalo faz parte do projeto binacional Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim, que tem como principal finalidade, segundo Emygdio (1997, p. 22), controlar os extremos de níveis da lagoa e seus afluentes, ou seja, as cheias no inverno, que inundam grandes áreas produtivas, e os períodos de estiagem no verão, que dificultam e encarecem o recalque d’água para a irrigação das lavouras de arroz, também controlando a salinização, e favorecendo a navegação.
Após a transposição da barragem seguimos viagem passando pela Ilha das Moças, pela foz do Rio Piratini, que é o maior afluente do São Gonçalo e chegamos à belíssima Ilha Grande com sua vegetação exuberante composta de algumas figueiras centenárias, coronilhas, corticeiras e aguapés floridos, muita capivara nadando ou descansando nas margens e as mais diversas aves como garça, garça-moura, jaçanã, tachã, maçarico, gavião-caramujeiro, martim-pescador, colhereiro, joão-grande, bem-te-vi, biguá, gaivota, quero-quero, trinta-réis, dentre outras.
As aves do Rio Grande do Sul são extremamente variadas e coloridas. Muitos gaúchos acreditam que se alguém quiser observar aves exóticas deverá viajar ao Amazonas ou a alguma outra região remota. Isto provém da falta de conhecimento do que temos no Estado. As 573 espécies de aves que já foram registradas para o Rio Grande do Sul somam a mais de um terço de todas as espécies conhecidas no Brasil. (BELTON, 1993, p. 12)
Fotografamos esse lindo local e seguimos, passando pela Ilha Pequena, indo até a antiga Vila de Santa Izabel do Sul, pequeno distrito de pescadores de Arroio Grande, onde paramos para pegar suprimentos e visitar sua histórica igreja e algumas outras ruínas do século XIX que alojaram o imperador Dom Pedro II numa de suas visitas ao Rio Grande do Sul.
Abastecidos, continuamos nossa viagem até o Arroio Sangradouro, local de pernoite e limite entre a Lagoa Mirim e o Canal São Gonçalo. Desembarcamos os caiaques numa praia na margem oposta ao arroio, montamos a barraca, jantamos no veleiro e fomos dormir cedo, pois no dia seguinte começaria de fato a jornada de caiaque.
 

                Do Arroio Sangradouro ao Farol da Ponta Alegre
1ª ETAPA: ARROIO SANGRADOURO – FAROL DA PONTA ALEGRE
28/12/2014
Local
Distâncias (Km)
Paradas
Arroio Sangradouro (prainha em frente) (32°08’44’’S 52°37’27’’W)
0,00


Ponta com praia (32°09’48’’S 52°40’21’’W)
5,15
5,15

Ponta Luís dos Pobres (32°13’13’’S 52°44’23’’W)
9,34
14,49

Mata próximo Arroio Chasqueiro (32°14’29’’S 52°46’44’’W)
4,33
18,82
Arroio Chasqueiro (32°16’05’’S 52°47’05’’W)
3,16
21,98

Pontal da Praia do Pontal (32°20’05’’S 52°48’03’’W)
7,60
29,58

Arroio Grande (32°20’43’’S 52°47’22’’W)
1,66
31,24
Ponta Alegre (32°22’23’’S 52°43’23’’W)
7,12
38,36
Farol da Ponta Alegre (32°24’59’’S 52°45’20’’W)
6,39
44,75
 


 Na manhã do dia 28 de dezembro às seis horas e trinta minutos, com o sol começando a raiar no horizonte, nos encontrávamos prontos para iniciar a grande travessia. Tivemos que fazer uma saída apressada, sem tomar café nem arrumar direito as coisas de viagem para conseguir fugir dos mosquitos, que nesta região são terríveis, e até falamos brincando que esse local se denominava “Sangradouro” em decorrênciado sangue que os mosquitos nos tiravam e não por ser o único ponto que a Lagoa Mirim sangra em direção a Laguna dos Patos.

O vento estava fraco a moderado e vindo do quadrante oeste, ou seja, teríamos de remar contra. Despedimo-nos da equipe do veleiro que faria uma rota diferente da nossa e partimos rumo à Ponta Luís dos Pobres, local formado por uma área de banhado com predomínio de sarandis submersos e sem praias para desembarque, fato constatado talvez pelo nível da lagoa se encontrar muito alto para essa época do ano. Seguimos então para uma mata próxima ao Arroio Chasqueiro composta por uma belíssima vegetação nativa, onde se destacavam figueiras, grandes cactos e muita bromélia. Neste local fizemos nossa primeira parada para descanso e lanche.
Após fotografar este refúgio silvestre partimos em direção ao Arroio Grande, local de encontro com o veleiro. O vento havia aumentado vindo agora do quadrante sul tornando nossa remada mais lenta e penosa. Seguíamos próximos da margem, uma grande capivara mergulhou na frente de nossos caiaques, cruzamos o Arroio Chasqueiro, o Pontal da Praia do Pontal e entramos na foz do Arroio Grande, que de acordo com Emygdio (1997, p. 93) nasce na serra de São João do Herval, próximo da cidade, a uma altitude aproximada de 280 metros e depois de percorrer 36,7 milhas deságua nesse ponto onde o veleiro já nos aguardava com uma deliciosa refeição servida pelo Cel. Pastl.
Bem alimentados e agora sem o vento para atrapalhar seguimos viagem passando por diversas ilhas de sarandis submersos e, após um pouco mais de sete quilômetros, alcançamos a Ponta Alegre numa praia de areia fina e clara, local da terceira parada do dia. Na ponta, onde um pirupiru passeava e um martim-pescador descansava em um galho, se visualizava a margem leste do outro lado da Lagoa Mirim. Após contornar a Ponta Alegre rumamos direção sudoeste, sempre próximo da margem, passando por diversos bandos de talha-mares, biguás, gaivotas e trinta-réis até chegarmos ao Farol da Ponta Alegre, local de pernoite.
O belo, imponente e histórico Farol, construído na primeira década do século XX e que orientou a navegação noturna até por volta dos anos cinquenta é, conforme Emygdio (1997, p. 98), o “símbolo” da Lagoa Mirim, pois mesmo desativado serve como ponto de referência, principalmente para os barcos que navegam do sul para o norte, que o avistam a uma distância de oito milhas.
Desembarcamos em frente ao farol e fomos conhecê-lo de perto. Subimos sua centenária escadaria para admirar o belo visual panorâmico lá de cima, de onde avistamos umas emas percorrendo os campos. A ema, segundo Belton (1993, p. 22), também conhecida por nhandu ou, impropriamente, avestruz, é a maior ave do continente americano e sua plumagem é cinzenta no dorso, esbranquiçada no ventre e negra na base do pescoço. Depois montamos acampamento em um local protegido por capim santa-fé e pequenos cômoros de areia por onde passeava um graxaim, lanchamos e fomos dormir.



                    Do Farol da Ponta Alegre ao Rio Jaguarão
2ª ETAPA: FAROL DA PONTA ALEGRE – RIO JAGUARÃO
29/12/2014
Local
Distâncias (Km)
Paradas
Farol da Ponta Alegre (32°24’59’’S 52°45’20’’W)
0,00


Canal de irrigação (32°27’08’’S 52°49’47’’W)
8,26
8,26

Canal de irrigação (32°27’31’’S 52°52’44’’W)
4,77
13,03
Canal de irrigação (32°28’00’’S 52°55’02’’W)
3,73
16,76

Arroio Bretanha (32°29’17’’S 52°58’08’’W)
5,47
22,23
Arroio Arrombados (32°32’27’’S 52°59’57’’W)
6,64
28,87
Ponta Negra (canal de irrigação) (32°36’11’’S 53°00’45’’W)
7,61
36,48
Arroio Juncal (32°38’32’’S 53°05’13’’W)
8,36
44,84
Ponta do Juncal (32°39’07’’S 53°05’16’’W)
1,35
46,19

Rio Jaguarão (foz) (32°39’13’’S 53°10’38’’W)
8,62
54,81
Casa de bombas em canal de irrigação (32°38’15’’S 53°11’51’’W)
2,70
57,51

Canal errado (32°37’19’’S 53°13’30’’W)
3,24
60,75
Casa de bombas em canal de irrigação (32°38’15’’S 53°11’51’’W)
3,22
63,97
 
 

No dia 29 acordamos cedo, o céu apresentava algumas nuvens e o vento estava fraco, perfeito para uma boa remada, desmontamos a barraca, arrumamos as tralhas, fizemos um lanche e às seis horas começamos nossa viagem.
O primeiro trecho a ser percorrido era uma costa quase reta, composta por uma praia interminável formada por pequenas dunas de areia e gramíneas, tornando a paisagem um tanto monótona. A distração ficava por conta da observação de grandes bandos de aves, principalmente trinta-réis, pirupirus, gaivotas, irerês e outras marrecas, batuíras e biguás concentrados principalmente nas entradas de canais. Assim remamos por treze quilômetros até um canal de irrigação próximo de uma pequena mata de eucaliptos, onde paramos para um breve descanso.
Após comermos umas barras de cereal e nos hidratarmos seguimos em direção ao Arroio Bretanha, o qual segundo Emygdio (1997, p. 133), nasce num lugar denominado Porteiras, percorre um trajeto de aproximadamente vinte e oito milhas e divide os municípios de Jaguarão e Arroio Grande. Um pouco antes da sua foz avistamos uma camionete com duas pessoas pescando na praia, que por curiosidade eram os primeiros seres humanos avistados em dois dias de remada.
Chegando à boca do Arroio Bretanha, que tem como ponto de referência uma grande casa branca de alvenaria localizada na margem sul e que funciona como estação de recalque d’água, fizemos nossa segunda parada. Fotografamos o local e prosseguimos a jornada passando por uma mata de eucaliptos e, aproximadamente um quilometro após, por uma plantação de pinus. O pinus conforme já havíamos descrito em nossas viagens anteriores é um vilão que não obedece aos limites de matas e cercas, se prolifera através do vento e invade os santuários ecológicos juntos das lagoas, modificando assim sua bela flora e fauna.
Um pouco tristes pela constatação da invasora vegetal prosseguimos até o Arroio Arrombados, onde paramos para nos refrescar, pois o calor havia aumentado bastante. Na margem sul do arroio havia uma pequena mata nativa, formada principalmente por grandes salsos, onde um carcará descansava à sombra de uma árvore e junto da foz de água límpida, diversas aves nadavam tranquilamente. Após um breve descanso neste belo local continuamos nossa jornada em direção à Ponta Negra.

 

Bem sobre a Ponta Negra tem um vasto bosque de eucaliptos, formado por uma espécie que tem a folha mais escura. Então quem passa navegando longe, enxerga um grande bosque preto que imagina a Ponta ser Negra devido a esse bosque. Acontece que o eucalipto (Eucalyptus Robusta) ainda não havia saído da Austrália, seu país de origem, e esta ponta já tinha o nome de Negra, devido as grandes ondas que aqui se formam. (EMYGDIO, 1997, p. 130)



Junto à ponta paramos próximos a um canal de irrigação para novamente nos refrescarmos nas águas da lagoa e assim suavizar o intenso calor. Nesta praia, a areia branca e fina contrastava com diversos blocos de sedimentos negros e, de um ponto mais elevado, podia se avistar ao longe os altos cômoros de areia da Ponta do Juncal, localizada um pouco mais de um quilômetro do arroio de mesmo nome.
O céu continuava apenas com algumas nuvens a leste no horizonte e o vento fraco deixava a lagoa quase sem ondas, não dificultando o desempenho da remada. Assim rumamos para sudoeste por mais de oito quilômetros até a foz do Arroio Juncal, local da quinta parada do dia.
A grande boca do arroio medindo aproximadamente trezentos metros, com água bastante transparente, e a Ponta do Juncal com suas altas dunas de areia branca, entrecortadas por mata nativa, formam um belo cenário. Em terra, caminhamos e fotografamos esse encantador local e depois partimos contornando a ponta e seguindo rumo oeste, numa linha reta de um pouco menos de nove quilômetros, em direção à foz do Rio Jaguarão.
O calor continuava como sendo o único contratempo do dia. Prosseguimos a remada numa velocidade de sete quilômetros e meio por hora e, na boca do Rio Jaguarão, passamos por um centenário marco de fronteira desembarcando a seguir, numa praia de areia na margem leste.



O Rio Jaguarão nasce na Coxilha da Arvorezinha ou Arbolito, como se referiam os antigos, a 5,3 milhas ao norte da pequena localidade do Seival, situada na RS 89, que liga Bagé a Pinheiro Machado. Percorre uma distância de 107 milhas, aproximadamente, até a sua desembocadura na Lagoa Mirim. Próximo do Seival, na cabeceira do Arroio Candiota, afluente da margem esquerda, deu-se o memorável combate do Seival, a 10 de setembro de 1836, onde 430 republicanos, comandados por Antônio de Souza Neto, derrotaram 560 imperiais. (EMYGDIO, 1997, p. 138/139)

 

Caminhando próximo dos marcos históricos que dividem o Brasil do Uruguai, recebemos a notícia que teríamos que subir pelo rio até a cidade de Jaguarão para nos reencontrar com o grupo do veleiro. O combinado inicial era de esperarmos nossos amigos na foz, para seguir na manhã do dia seguinte pela Lagoa Mirim, mas devido a um contratempo o veleiro teve que permanecer em Jaguarão por mais um dia. Assim resolvemos adiantar viagem e procurar local para acampamento alguns quilômetros rio acima. Passamos por uma casa de bombas abandonada e prosseguimos sem perceber que havíamos entrado em um canal errado. Remamos por mais de três quilômetros quando a passagem desse canal ficou bloqueada por uma densa vegetação aquática e percebemos o nosso erro. Como já era tarde e estávamos cansados, retornamos até a casa de bombas e lá montamos acampamento após ter percorrido aproximadamente sessenta e quatro quilômetros nesse quente dia.



Referências Bibliográficas
BELTON, William. Aves silvestres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, 1993.
EMYGDIO, Décio Vaz. Lagoa Mirim – um paraíso ecológico. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 1997.
HILSDORF, Luis Vitor. Canoagem, aventura e ecologia, fluindo com a natureza. São Paulo: EPIL, 1997.
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E MONITORAMENTO AMBIENTAL – NEMA. Taim, banhado de vida. Rio Grande: NEMA, 2004.
RUAS, Tabajara e ACHUTTI, Luiz Eduardo. Uma aventura no sul do Brasil. Porto Alegre: Grupo Ipiranga, 2000.