viomundo - publicado em 3 de julho de 2013 às 9:41
Internacional| 03/07/2013 | Copyleft
A covardia europeia contra o presidente Evo Morales
Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de
Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca
estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião
presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se
incomode com eles. Um rumor infundado sobre a presença no avião
presidencial boliviano do ex-espião estadunidense Edward Snowden,
conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia,
França, Portugal e Espanha.
Paris – Os europeus são incorrigíveis. Para não ficar mal com o
império norteamericano são capazes de violar todos os princípios que
defendem nos fóruns internacionais. O presidente boliviano Evo Morales
foi o último a experimentar as consequências dessa política de palavras
solidárias e gestos mesquinhos.
Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano
do ex-membro da Agência Nacional de Segurança (NSA) norteamericana, o
estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático
aeronáutico entre Bolívia, França, Portugal e Espanha.
Voltando de Moscou, onde havia participado da segunda cúpula de
países exportadores de gás, realizada na capital russa, Morales se viu
forçado a aterrissar no aeroporto de Viena depois que França, Portugal e
Espanha negaram permissão para que seu avião fizesse uma escala técnica
ou sobrevoasse seus espaços aéreos.
Os “amigos” do governo norteamericano avisaram os europeus que
Morales trazia no avião Edward Snowden, o homem que revelou como
Washington, por meio de vários sistemas sofisticados e ilegais,
espionava as conversações telefônicas e as mensagens de internet da
maioria do planeta, inclusive da ONU e da União Europeia.
O certo é que Edward Snowden não estava no avião de Evo Morales. No
entanto, ante a negativa dos países citados em autorizar o sobrevoo do
avião presidencial, Morales fez uma escala forçada na Áustria. As
capitais europeias coordenaram muito bem suas ações conjuntas para
cortar a rota de Evo Morales.
Surpreende a eficácia e a rapidez com que atuaram, tão diferente das
demoradas medidas que tomam quando se trata de perseguir mafiosos,
traficantes de ouro, financistas corruptos ou ladrões do sistema
financeiro internacional.
Segundo a informação da chancelaria boliviana, o avião havia obtido a
permissão da Espanha para fazer uma escala técnica nas Ilhas Canárias.
Essa autorização também foi cancelada e, finalmente, o avião teve que
aterrissar no aeroporto de Viena.
Segundo declarou em La Paz o chanceler boliviano David Choquehuanca,
“colocou-se em risco a vida do presidente que estava em pleno voo”.
“Quando faltava menos de uma hora para o avião ingressar no território
francês nos comunicam que tinha sido cancelada a autorização de
sobrevoo”.
O ministro pediu uma explicação tanto da França quanto de Portugal,
país que tomou a mesma decisão que a França.
“Queremos nos amedrontar. É
uma discriminação contra o presidente”, disse Choquehuanca.
Em complemento a esta informação, o portal de Wikileaks também acusou
a Itália de não permitir a aterrisagem do avião presidencial boliviano.
Em Paris, o conselheiro permanente dos serviços do primeiro-ministro
Jean-Marc Ayrault disse que não tinha nenhuma informação sobre esse
assunto. Por sua vez, a chancelaria francesa disse que não estava em
condições de comentar ocaso.
Bocas fechadas, mas atos concretos.
Ao que parece, todo esse enredo se armou em torno da presença de
Snowden no aeroporto de Moscou. Alguém fez circular a informação de que
Snowden estava no aeroporto da capital russa com a intenção de subir no
avião de um dos países latino-americanos dispostos a lhe oferecer asilo
político. Snowden é procurado por Washington depois de revelar a maneira
pela qual o império filtrava as conversações no mundo.
O chanceler boliviano qualificou como uma “injustiça” baseada em
“suspeitas infundadas sobre o manejo de informação mal intencionada” o
cancelamento das permissões de voo para o avião de Evo Morales.
“Não sabemos quem inventou essa soberana mentira; querem prejudicar nosso país”, disse Choquehuanca.
“Não podemos mentir à comunidade internacional e não podemos levar
passageiros fantasmas”, advertiu o responsável pela diplomacia
boliviana.
Em La Paz, as autoridades adiantaram que não receberam nenhum pedido de asilo por parte de Edward Snowden.
Evo Morales havia evocado a possibilidade de conceder asilo a
Snowden, mas só isso. O mesmo ocorreu com outra vítima da informação e
da perseguição norteamericana, o fundador do Wikileaks, Julian Assange.
O mundo ficou pequeno para Edward Snowden.
Assange está refugiado
na embaixada do Equador em Londres e Snowden encontra-se há dez dias na
zona de trânsito do aeroporto de Sheremétievo, em Moscou. Segundo Dmitri
Peskov, o secretário de imprensa do presidente Vladimir Putin, o
norteamericano havia solicitado asilo a Rússia, mas depois “renunciou a
suas intenções e a sua solicitação”.
Peskov esclareceu, porém, que o governo russo não entregaria o
fugitivo para a administração norte-americana: “o próprio Snowden por
sincera convicção ou qualquer outra causa se considera um defensor dos
direitos humanos, um lutador pelos ideais da democracia e da liberdade
pessoal. Isso é reconhecido pelos ativistas e organizações de direitos
humanos da Rússia e também por seus colegas de outros países. Por isso é
impossível a entrega de Snowden por parte de quem quer que seja a um
país como os EUA, onde se aplica a pena de morte.
Quando se referiu ao caso de Snowden em Moscou, Evo Morales assinalou
que “o império estadunidense conspira contra nós de forma permanente e
quando alguém desmascara os espiões, devemos nos organizar e nos
preparar melhor para rechaçar qualquer agressão política, militar ou
cultural”.
Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de
Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca
estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião
presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se
incomode com eles.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer