"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 19, 2010

As riquezas do Irão em gás natural: EUA miram a principal energia do mundo futuro

resistir info - 19 mar 10


por Finian Cunningham [*]

Gasoduto Ir�o-�ndia-China. O arranque programado para este mês dos furos da China National Petroleum Company (CNPC) do campo de gás de South Pars, no Irão, poderia ser tanto um arauto como uma explicação de desenvolvimentos geopolíticos muito mais vastos.

Antes de mais nada, o projecto de US$5 mil milhões – assinado no ano passado após anos de arrastamento da parte dos gigantes da energia ocidental Total e Shell sob a sombra das sanções dos EUA – revela o principal sistema arterial da futura oferta e procura mundial de energia.

Muitos críticos há muito suspeitavam que a razão real para o envolvimento militar dos EUA e de outros países ocidentais no Iraque e no Afeganistão é controlar o corredor energético da Ásia Central. Até agora, o foco parecia ser principalmente o petróleo. Há por exemplo afirmações que um planeado pipeline do Mar Cáspio para o Mar Arábico através do Afeganistão e do Paquistão é o prémio principal por trás campanha militar aparentemente fútil dos EUA naqueles países.

Mas o que mostra o partenariado CNPC-Irão é que o gás natural é prémio principal que será essencial para a economia do mundo, e especificamente o fluxo de duas vias deste combustível para o Leste e Oeste da Ásia Central rumo à Europa e à China.

Michael Economides, editor do Energy Tribune de Huston é um dos numerosos observadores da indústria que está convencido de que o gás natural ultrapassará o petróleo como a principal fonte primária de energia, não apenas nas próximas décadas como ao longo dos próximos vários séculos.

Ele destaca a recente previsão da International Energy Agency (IEA), com sede em Paris, que reviu dramaticamente em 100 por cento as suas estimativas das reservas globais de gás natural. Economides atribui este enorme aumento a rápidas melhorias tecnológicas em extrair de campos de gás até agora inacessíveis. Afirma que a IEA estima quantidades de gás natural para 300 anos de abastecimento da actual procura mundial. "Se alguém simplesmente fantasiar quaisquer contribuições futuras de ordens de grandeza dos maiores recursos na forma de hidratos de gás, é fácil ver como é quase certo que o gás natural evolua até ser o primeiro combustível da economia mundial", acrescenta.

A importância crescente do gás natural como fonte de energia tem sido firme e inexorável desde há muitos anos. Entre 1973 e 2007, a contribuição do petróleo para a oferta mundial de energia caiu de 46,1 por cento par 34,0 por cento, com o aumento da utilização de gás natural a colmatar aquele declínio, segundo a IEA. Outras fontes, tais como a Energy Information Administration (IEA), com sede nos EUA, prevêem que o consumo de gás natural triplicará entre 1980 e 2030, data em que mais provavelmente tornar-se-á a fonte de energia primária preferencial para as necessidades industriais e públicas.

Há razões sólidas para o gás natural (metano) estar a tornar-se o rei dos combustíveis fósseis. Em primeiro lugar, tem um poder calorífico muito maior do que o petróleo ou o carvão. Ou seja, mais calor produzido por unidade de combustível. Em segundo lugar, é o combustível mais limpo, pois emite 30 por cento menos dióxido de carbono [NT] em comparação com o petróleo em comparação com o petróleo e 45 por cento menos em comparação com o carvão. Em terceiro lugar, o gás é mais eficiente para o transporte, tanto como matéria primária forma comprimida ao longo de pipelines enterrados como combustível para veículos.

Todas as agências de energia reconhecem que as primeiras fontes do gás natural do futuro estão no Médio Oriente e na Eurásia, incluindo a Rússia. A EIA com sede nos EUA coloca as reservas de gás natural nestas regiões como nove a sete maiores do que aquelas no total da América do Norte – as quais são uma das principais fontes deste combustível.

Dentro do Médio Oriente, o Irão é sem dúvida o principal possuidor de reservas de gás. O seu campo de South Pars é o maior do mundo. Se convertido em barris de petróleo equivalentes, o South Pars do Irão tornaria diminutas as reservas do campo petrolífero de Ghawar, na Arábia Saudita. Este é o maior campo de petróleo do mundo e, desde que entrou em operação em 1948, Ghawar tem sido efectivamente o coração pulsante do mundo para o abastecimento de energia primária. Na era que se aproxima de domínio do gás natural sobre o petróleo, o Irão retirará à Arábia Saudita da condição de principal fornecedor de energia do mundo.

Tanto a Europa como a China posicionam-se para serem rotas tronco para o gás iraniano e da generalidade da Ásia Central. A infraestrutura já está a moldar-se para reflectir isto. O pipeline Nabucco está planeado para fornecer gás do Irão (e do Azerbaijão) via Turquia e Bulgária transportando-o para a Europa Ocidental (assinalando um fim ao domínio russo). O Irão também exporta gás via pipelines separados para a Turquia e a Arménia e também está a procurar negócios de exportação com outros países do Golfo, incluindo os Emirados Árabes Unidos e Oman. Outra rota principal é o chamado pipeline da paz, do Irão para o Paquistão e a Índia, através do qual o Irão exportará este combustível para dois dos mais populosos países da região. Mas talvez a perspectiva mais irresistível para o Irão seja o pipeline de 1.865 quilómetros que fornece gás natural do Turquemenistão através do Uzbequistão e do Cazaquistão para a China e que deve operar a plena capacidade em 2012. O Sul do Turquemenistão tem uma fronteira de 300 km com o Irão e já tem um acordo de exportação de gás com Teerão. Se o desenvolvimento do campo gasista iraniano-chinês de South Pars puder ser incorporado nos pipelines transnacionais acima mencionados, isso confirmaria o Irão como o coração pulsante da economia mundial na qual o gás é a fonte de energia primária. Isto é potenciado ainda mais pela procura de gás da China, em crescimento rápido, a qual a EIA prevê que podia estar dependente de importações em mais de um terço do seu consumo de gás natural em 2030.

Neste contexto de um grande realinhamento da economia energética mundial – no qual haverá uma diminuição contínua do papel dos EUA – a retórica tronitroante de Washington acerca de democracia e paz e guerra ao terror ou alegadas armas nucleares iranianas pode ser vista como uma tentativa desesperada para esconder o seu medo de que esteja destinado a ser um grande perdedor. Cercar o Irão com guerras e ameaçar o fornecimento de gás para o provável maior futuro consumidor de gás – a China – é o assunto real. As acções estado-unidenses são vistas mais exactamente como o encostar de uma faca nas artérias energéticas de uma economia mundial que os EUA não são mais capazes de dominar.

Um novo aspecto desta história é a posição da Rússia. Com as suas próprias vastas reservas de gás natural, ela pode ser vista como um competidor do Irão. Comprovadamente menos bem posicionada do que o Irão para o fornecimento tanto à Europa como à China, a Rússia é no entanto um grande acto e tem estado insistentemente a cortejar a China com um acordo de exportação desde 2006. Contudo, como observa Economides, "as negociações entre os dois países tem sido intermitentes e, especialmente, a construção do pipeline tem sido penosamente lenta".

Mas as ambições da Rússia em expandir as suas exportações de gás natural podem explicar porque ela tem mostrado ser um aliado caprichoso do Irão. A posição ambivalente de Moscovo em relação a sanções estado-unidenses contra o Irão sugere que a Rússia tem a sua própria agenda destinada a embaraçar a república islâmica como um rival regional na energia.

18/Março/2010

[*] Finian.cunningham@gmail.com

[NT] O dióxido de carbono não é um poluente. Assim, não é por causa do CO2 que o gás natural é mais limpo.

The CRG grants permission to cross-post original Global Research articles on community internet sites as long as the text & title are not modified. The source and the author's copyright must be displayed. For publication of Global Research articles in print or other forms including commercial internet sites, contact: crgeditor@yahoo.com

O original encontra-se em http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=18176

As cinco sequências da fase de deslocamento geopolítico global

resistir info - 19 mar 10
por GEAB [*]

Neste fim do primeiro trimestre de 2010, no momento em que nas frentes monetárias, financeiras, comerciais e estratégicas os sinais de confrontações multiplicam-se a nível internacional, enquanto a violência do choque social da crise se confirma no seio dos grandes países e conjuntos regionais, o LEAP/E2020 está em condições de fornecer a primeira sequenciação antecipativa do desenrolar desta fase de deslocamento geopolítico mundial.

Figura 1. Recordamos que esta fase não pode ser um prelúdio para uma reorganização perene do sistema internacional senão se, daqui até o meio desta década, as consequências do ruir da ordem mundial herdada da Segunda Guerra Mundial e da queda da Cortina de Ferro, forem plenamente extraídas. Esta evolução implica nomeadamente uma remodelação completa do sistema monetário internacional a fim de substituir o sistema actual fundamentado no dólar americano por um sistema baseado numa divisa internacional cujo valor derive de um cabaz das principais moedas mundiais ponderadas pelo peso respectivo das suas economias.

Ao publicar no ano passado nesta mesma época uma mensagem neste sentido numa página inteira do Financial Times, na véspera da cimeira do G20 em Londres, havíamos indicado que a "janela de tiro" ideal para uma tal reforma radical situava-se entre a Primavera e o Verão de 2009, sem o que no fim de 2009 o mundo entraria na fase de deslocamento geopolítico global [1] .

O fracaso da cimeira de Copenhaga em Dezembro de 2009, que pôs fim a cerca de duas décadas de cooperação internacional dinâmica sobre este assunto, num fundo de conflitos crescentes entre americanos e chineses, e de divisão ocidental sobre a questão [2] , é assim um indicador pertinente que confirma esta antecipação dos nossos investigadores. As relações internacionais degradam-se no sentido de uma multiplicação das tensões (zonas e personagens) enquanto a capacidade dos Estados Unidos para desempenhar o seu papel de condutor [3] , ou mesmo muito simplesmente de "patrão" dos seus próprios clientes, esfuma-se a cada mês um pouco mais [4] .

Figura 2. Neste fim do primeiro trimestre de 2010 pode-se nomeadamente sublinhar:

  • a degradação regular das relações sino-americanas (Formosa, Tibete, Irão, paridade dólar-yuan [5] , baixa das compras de Títulos do Tesouro dos EUA, conflitos comerciais múltiplos, ...]
  • as dissensões transatlânticas crescentes (Afeganistão [6] , NATO [7] , contratos de fornecimento da US Air Force [8] , clima, crise grega, ...)
  • a paralisia decisional de Washington [9]
  • a instabilidade incessante no Médio Oriente [10] e o agravamento das crises potenciais Israel-Palestina e Israel-Irão.
  • o reforço da lógicas do blocos regionais (Ásia, América Latina [11] e Europa em particular)
  • a volatilidade monetária [12] e financeira [13] mundial agravada
  • a inquietação reforçada acerca dos riscos soberanos
  • a crítica crescente do papel dos bancos estado-unidenses associada a uma regulamentação visando regionalizar os mercados financeiros [1]
  • etc.

Paralelamente, num fundo de ausência de retomada económica [15] , as confrontações sociais multiplicam-se na Europa enquanto nos Estados Unidos o tecido social é pura e simplesmente desmantelado [16] . Se o primeiro fenómeno é mais visível que o segundo, é contudo o segundo o mais radical. O domínio da ferramenta de comunicação internacional por parte dos Estados Unidos permite-lhe mascarar as consequências sociais desta destruição dos serviços públicos e sociais americanos num fundo de pauperização acelerada da classe média do país [17] . E esta dissimulação é tanto mais facilitada porque, ao contrário da Europa, o tecido social americano é atomizado [18] : sindicalização fraca, sindicatos muito sectorizados sem reivindicação social geral, identificação histórica da reivindicação social com atitudes "anti-americanas" [19] , ... É verdade que, dos dois lados do Atlântico (e no Japão), os serviços públicos (transportes em comum, polícia, bombeiros, ...) e sociais (saúde, educação, aposentadoria, ...) estão em vias de desmantelamento, quando não o são pura e simplesmente encerrados; que as manifestações [20] , por vezes violentas, se multiplicam na Europa enquanto as acções de terrorismo interno ou de radicalização política [21] são cada vez mais numerosas nos Estados Unidos.

Na China, o controle crescente da Internet e dos media é sobretudo um indicador fiável do nervosismo agravado dos dirigentes de Pequim no que se refere ao estado da sua opinião pública. As manifestações sobre as questões de desemprego e de pobreza continuam a multiplicar-se, contradizendo o discurso optimista dos líderes chineses sobre o estado da sua economia.

Na África, a frequência dos golpes de Estado acelera-se desde o ano passado.

Na América Latina, apesar dos números macroeconómicos bastante positivos, a insatisfação social alimenta riscos de mudanças de rumos políticos radicais, como se viu no Chile.

Figura 3. O conjunto destas tendências está em vias de constituir muito rapidamente um "coquetel sócio-político explosivo" que conduz directamente a conflitos entre componentes da mesma entidade geopolítica (conflitos estados federados/estado federal nos Estados Unidos, tensões entre Estados membros na UE, entre repúblicas e federação na Rússia, entre províncias e governo central na China), entre grupos étnicos (ascensão dos sentimentos anti-imigrados um pouco por toda a parte) e recurso ao nacionalismo nacional ou regional [23] para canalizar estas tensões destrutivas. O conjunto desenrola-se num fundo de pauperização das classes médias no Estados Unidos, no Japão e na Europa (em particular no Reino Unidos e nos países europeus e asiáticos [24] onde as famílias e as colectividades estão cada vez mais endividadas).

Neste contexto, o LEAP/E2020 considera que a fase de deslocamento geopolítico mundial se vai desenrolar de acordo com cinco sequências temporais, que são desenvolvidas neste GEAB Nº 43, a saber:

0. Iniciação da fase de deslocamento geopolítico mundial – 4º trim. 2009 / 2º trim. 2010
1. Sequência 1: Conflitos monetários e choques financeiros
2. Sequência 2: Conflitos comerciais
3. Sequência 3: Crises soberanas
4. Sequência 4: Crises sócio-políticas
5. Sequência 5: Crises estratégicas

Neste número do GEAB, nossa equipe apresenta igualmente os oito países que lhe parecem mais perigosos do que a Grécia em matéria de dívida soberana, ao mesmo tempo que apresenta a sua análise da evolução pós-crise da economia financeira em relação à economia real. Finalmente, o LEAP/E2020 apresenta as suas recomendações mensais (divisas, activos, ...), inclusive com certos critérios para uma leitura mais fiável das informações no contexto particular da fase de deslocamento geopolítico mundial.

Notas:

(1) Joseph Stiglitz e Simon Johnson não dizem outra coisa quando consideram que a crise está em vias de se tornar uma oportunidade falhada de reforma do sistema financeiro mundial que vai levar rapidamente a novos choques. Fonte: USAToday , 12/03/2010

(2) Americanos e europeus têm posições diametralmente opostas sobre este assunto e a chegada ao poder de Barack Obama não fez senão tornar mais complicado o posicionamento público dos europeus (uma vez que eles se afirmaram à partida como "obamófilos") sem mudança dos dados de fundo.

(3) Mesmo no domínio da investigação, o lugar dos Estados Unidos recua muito rapidamente. Assim, a classificação mundial das melhores instituições de investigação não conta com mais de seis instituições americanas entre as quinze primeiras, contra quatro europeias e duas chinesas; e nenhuma nos três primeiros lugares. Fonte: Scimago Institutions Rankings 2009 , 03/2009

(4) Como é ilustrado pela atitude de Israel que a partir daqui age de modo quase insultuoso em relação a Washington. É um indicador importante pois ninguém melhor que os aliados mais próximos está em condições de perceber o grau de impotência de um império. Os inimigos ou os aliados recentes ou afastados são incapazes de uma tal percepção pois não têm um acesso tão íntimo ao poder central, nem um recuo histórico suficiente para poder detectar uma tal evolução. O editorial de Thomas Friedman no New York Times de 13/03/2010 ilustra bem o desconcerto das elites americanas face à atitude cada vez mais desenvolta dos seu aliado israelense, e igualmente a incapacidade da administração americana para reagir com firmeza a esta desenvoltura.

(5) O tom sobe consideravelmente sobre esta questão, que se torna um jogo de poder tanto simbólico como económico para Pequim, assim como para Washington. Fontes: China Daily , 14/03/2010; Washington Post , 14/03/2010.

(6) A provável retirada de um grande número de tropas da NATO para fora do Afeganistão em 2011 leva assim a Rússia e Índia a desenvolverem uma estratégia comum, nomeadamente com o Irão, para prevenir um retorno dos talibans aos poder! Fonte: Times of India , 12/03/2010

(7) Além da queda do governo holandês sobre a questão do Afeganistão, é agora da Alemanha que vem a ideia de integrar a Rússia na NATO, uma boa velha ideia russa, com o pretexto de que a NATO não é mais pertinente na sua forma actual. Fonte: Spiegel , 08/03/2010

(8) Os europeus estão muito exasperados após a decisão de Washington de eliminar de facto a oferta europeia do grande contrato de renovação dos fornecedores da US Air Force. Esta decisão provavelmente marca o fim do mito (em voga na Europa) de um mercado transatlântico dos armamentos. Washington não deixará outras companhias além das suas ganharem estes grandes contratos. Os europeus vão portanto ter de encarar seriamente abastecerem-se essencialmente junto à sua indústria de defesa. Fonte: Financial Times , 09/03/2010

(9) Mesmo o Los Angeles Times de 28/02/2010 reflectia as inquietações do historiador britânico Niall Ferguson , o qual considera que o "império americano" a partir de agora pode afundar-se do dia para a noite como foi o caso da URSS.

(10) E o facto de o conjunto do mundo árabe estar doravante fortemente afectado pela crise económica mundial vai acrescentar-se à instabilidade regional crónica. Fonte: Awid/Pnud , 19/02/2010

(11) A Venezuela equipa-se assim com aviões de caça chineses. Uma situaçáo de cenário de ficção política há apenas cinco anos. Fonte: YahooNews , 14/03/2010

(12) Como havíamos antecipado nos GEAB anteriores, quando se dissipar a "crise grega" retorna-se às realidades das tendências pesadas da crise e, como por acaso, desde há alguns dias começa-se a ver novamente análises que põem em perspectiva a perda pelos Estados Unidos da sua classificação AAA referente à sua dívida; e ao fim do estatuto de moeda de reserva do dólar. Fontes: BusinessInsider/Standard & Poor's , 12/03/2010

(13) O gráfico abaixo ilustra a volatilidade cada vez mais forte que caracteriza as praças financeiras e que, segundo LEAP/E2020, é um indício de grande risco sistémico. Se se examina a rentabilidade do New York Stock Exchange ao longo de mais de 180 anos, constata-se que os anos da década passada (2000-2008 e poder-se-ia certamente acrescentar 2009) figuram nos extremos dos melhores e dos piores resultados. É um resultado estatisticamente improvável a não ser que os mercados financeiros, e as tendências que os animam, tenham entrado numa fase de incerteza radical, destacadas da economia real e da sua inércia. A dimensão das ordens dadas nos mercados financeiros mundiais reduziu-se assim 50% em cinco anos, sob o efeito da automatização e dos métodos de "alta frequência" , aumentando portanto a sua volatilidade potencial. Fonte: Financial Times , 21/02/2010

(14) A recente advertência do secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Thimoty Geithner, respeitante aos riscos de deriva transatlântica em matéria de regulamentação financeira não é senão o último indício desta evolução. Fonte: Financial Times , 10/03/2010

(15) Último exemplo até à data: a Suécia que pensava ter atravessado a crise encontra-se novamente mergulhada na recessão diante dos muito maus resultados do 4º trimestre de 2009. Fonte: SeekingAlpha , 02/03/2010

(16) A taxa de desemprego nos EUA doravante está em torno dos 20%, com picos de 40% a 50% para as classes sociais desfavorecidas. Para evitar enfrentar esta realidade, as autoridades americanas praticam em muito grande escala uma manipulação dos números da população activa e da população em busca de emprego. O artigo de Steven Hansen publicado em 21/02/2010 no SeekingAlpha e intitulado "Which economic world are we in?" apresenta uma perspectiva interessante a respeito.

(17) Uma análise certamente radical mas muito bem documentada e bastante pertinente desta situação é desenvolvida por David DeGraw no Alternet de 15/02/2010.

(18) Fonte (inclusive os comentários): MarketWatch , 25/02/2010

(19) É a suspeição do "Vermelho", que dormiria em cada sindicalista ou manifestante por causas sociais.

(20) Mesmo nos Estados Unidos onde os estudantes manifestam-se contra os aumentos dos direitos de matrícula e onde a população inquieta-se com o encerramento da metade das escolas públicas numa cidade como Kansas City, ao passo que em Nova York são 62 as brigadas de bombeiros que vão ser suprimidas. Fontes: New York Times , 04/03/2010; USAToday , 12/03/2010; Fire Engineering , 11/03/2010

(21) De Joe Stack aos Tea Parties , a classe média americana tende a radicalizar-se muito rapidamente desde meados de 2009.

(22) A despesa nominal é o valor total das despesas numa economia não corrigida da inflação. É de facto o valor da procura total. Constata-se neste gráfico que a crise assinala um colapso da procura.

(23) O termo regional é utilizado aqui no sentido geopolítico, de conjunto regional (UE, Asean, ...).

(24) Assim, na Coreia do Sul, o endividamento das famílias continua a agravar-se com a crise enquanto as empresas acumulam reservas de liquidez ao invés de investir pois não crêem na retomada. Fonte: Korea Herald , 03/03/2010
15/Março/2010

[*] Global Europe Anticipation Bulletin

O original encontra-se em www.leap2020.eu

VAMOS EXPORTAR GOVERNOS?

aijesus.blogspot.com - 18 mar 10

Soube-se que o regime norte-coreano executou o ex-director de Finanças do Partido dos Trabalhadores, Park Nam-gi, pelo fracasso da reforma monetária de Novembro. Fuzilado!, nem mais nem menos, por "ter arruinado a economia do país de forma planeada".

Atendendo aos resultados ruinosos das políticas económico-financeiras, em Portugal
[e não só. Mas o que nos interessa são as nossas],
...e se lhes enviássemos o ministro das Finanças deste País, acompanhado pelo respectivo chefe Trocas-te e demais acólitos?

O Muro de Berlim caiu, mas a desconfiança continua

darussia.blogspot.com - Quinta-feira, Março 18, 2010




Não obstante o Muro de Berlim ter caído há mais de vinte anos e a Administração de Barack Obama ter proclamado o “recarregamento” das relações com a Rússia, os políticos russos continuam a olhar com desconfiança para com a política norte-americana face ao seu país.

Uma das principais razões da irritação dos políticos russos consiste em que Washington deixou de olhar para Moscovo como para um parceiro igual na arena internacional.

“A direção russa não tem uma conceção do mundo estratégica. Ela enerva-se pelo facto de a Rússia ser ignorada, ser considerada “antiga superpotência””, defende Nikita Zagladin, analista do Instituto de Economia e Relações Internacionais de Moscovo.

Segundo uma fonte diplomática da Lusa na capital russa, “face à “política de desigualdade”, Moscovo tenta conservar a sua influência, mesmo que à custa de alianças com regimes como o venezuelano ou iraniano”.

“Isso leva a que a Rússia responda com o “não” a quase todas as propostas norte-americanas, nomeadamente no que diz respeito à segurança europeia, às sanções contra o Irão”, sublinha a mesma fonte.

Além disso, Moscovo exige que a comunidade mundial reconheça o antigo espaço soviético como “zona de especiais interesses”, recebendo com irritação declarações como a que Hillary Clinton, Secretária de Estado norte-america, fez à revista russa The New Times: “Para nós é inaceitável a posição sobre esferas especiais de influência, isso são ideias do séc. XIX. Apoiamos completamente a decisão da NATO de realizar uma política de portas abertas para com a Geórgia e a Ucrânia.

“No fundo, apenas a cooperação bilateral com vista à normalização da situação no Afeganistão avança, mas, mesmo assim, com alguns atritos”, sublinha a fonte diplomática.

As relações económicas entre os dois países são uma das provas mais evidentes dos problemas e divergências existentes. A quota dos Estados Unidos no comércio externo russo é inferior a 04 por cento, enquanto que a da Rússia em igual sector norte-americano é ainda menor: menos de 01 por cento.

Moscovo queixa-se de as relações económicas serem travadas pela existência de reminiscências da “guerra fria” como a emenda Jackson-Vanik, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1974, que limitava o comércio com os países do “bloco socialista” que impediam a emigração dos judeus para Israel.

“Há muito que não existe a URSS, ninguém dificulta a liberdade de emigração e de crença. Não obstante, essa emenda obsoleta, absurda, continua em vigor e, no fundo, é um instrumento político”, refere Ruslan Kondratov, deputado da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo.

Segundo ele, esse é um dos obstáculos à adesão da Rússia à Organização Mundial de Comércio.

“Claro que estamos prontos a cooperar e desenvolver as nossas relações com os Estados Unidos, mas essa cooperação não deve ser unilateral. A Rússia quer ser ouvida, e o mais importante, que sejam levados em conta os seus interesses”, conclui Kondratov.

No que respeita aos russos comuns, a sua atitude face aos Estados Unidos melhorou muito depois da eleição de Barack Obama para o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Segundo um estudo do Instituto de Sociologia Levada, realizado em Janeiro passado, 54 por cento dos russos “olham muito bem e bem” para os Estados Unidos; 31 por cento “olham mal e muito mal” e 15 por cento “de forma indiferente”.

No final da guerra entre a Geórgia e a Rússia, em Agosto de 2008, 55 por cento dos russos olhavam “mal e muito mal” para os EUA; 31 por cento “bem e muito bem” e o número de “indiferentes” era o mesmo.

O asfalto poroso contra as enchentes

Blog do Luis Nassif - 19/03/2010 - 14:36

Por Fernando Augusto – RJ

Da Agência USP

Asfalto poroso absorve água e reduz riscos de enchentes

Por Ana Carolina Athanásio – ana.carolina.santos@usp.br

Pavimentos porosos desenvolvidos pela Escola Politécnica (Poli) da USP são capazes de absorver com facilidade e rapidez a água da chuva e podem ajudar a reduzir os impactos das enchentes. Segundo o professor e coordenador da pesquisa José Rodolfo Scarati Martins, “os pavimentos funcionam como se fossem areia da praia e permitem que as águas cheguem aos rios e córregos com a metade da velocidade”.

Um experimento da pesquisa contendo os dois tipos de pavimento – um feito com placas de concreto e outro com asfalto comum misturado a aditivos – foi desenvolvido em um dos estacionamentos da Poli e conseguiu reter praticamente 100% das águas das chuvas dos meses de janeiro e fevereiro deste ano. O diferencial dos pavimentos porosos desenvolvidos pela Poli em relação aos já existentes deve-se ao fato de possuir uma base de pedras de 35 centímetros, a qual é responsável por reter a água por algumas horas e diminuir a probabilidade de enchentes no local.

“A impermeabilidade do asfalto comum é uma das grandes vilãs do meio ambiente urbano, pois não permite que a água seja absorvida pela terra e ajuda a causar as enchentes. Os pavimentos que desenvolvemos são diferentes, pois são capazes de devolver parte da permeabilidade ao solo e consegue absorver a água com muita rapidez”, explica Martins.

A diferença entre os dois tipos de pavimentos está na superfície – um é feito com concreto e outro com asfalto comum. “Mesmo com pequenas diferenças entre eles, ambos retém porcentagem grande de água se comparados ao asfalto convencional e funcionam de maneira muito eficaz”, salienta o pesquisador.

Um dos pavimentos porosos desenvolvido na Poli é uma mistura entre o concreto asfáltico comum e vários aditivos que permitem que sejam mantidos espaços, como poros, na superfície. Dessa maneira, a água proveniente das chuvas é absorvida por esses poros e acabam sendo retidas, por algumas horas, entre as pedras que constituem a base.

Como parte do experimento, há ao lado do estacionamento feito com o asfalto poroso um espaço, como se fosse uma caixa d’água, que recebe toda a água retida na base de pedras. “Toda a água absorvida pelo asfalto tem como destino esse local. Com isso, podemos monitorar desde a quantidade de chuva até a capacidade de retenção do pavimento”, explica.

Segundo Martins, o pavimento poroso custa 20% a mais do que o asfalto convencional , mas com sua implantação em larga escala esse preço diminuiria. “O valor que temos relaciona-se ao experimento. Quando pensamos no uso do asfalto poroso em cidades grandes como São Paulo o custo cai muito, pois seria produzido em quantidade muito maior e, consequentemente, baratearia a produção e a manutenção”, diz.

Projetos futuros

Desenvolvida com o apoio da USP e da Prefeitura Municipal de São Paulo, a pesquisa teve início em 2006 e pretende ampliar o experimento para fora do campus. “Hoje sabemos que o pavimento funciona muito bem em estacionamentos e já poderia ser implantado em shoppings e locais semelhantes. Futuramente, pretendemos fazer o mesmo tipo de experimento em ruas de tráfego leve em áreas residenciais para observarmos se o asfalto poroso funcionará da mesma forma”, diz o pesquisador.

Além disso, o grupo de pesquisa coordenado pelo professor pretende avaliar o tempo de desgaste do asfalto e a qualidade da água retida na base de pedras do pavimento. “É importante sabermos como é essa água, se ela contém algum contaminante e se pode ser infiltrada no terreno. Caso não haja nenhum aspecto negativo em relação aos contaminantes, é possível que, além de ajudar a cidade a combater as enchentes, possamos reutilizar a água da chuva para limpeza de vias públicas, por exemplo”, enfatiza Martins.

Pouco importa se o custo do alfalto poroso é maior. Garanto que os tais 20% saem bem mais barato que os custos sociais das enchentes, ou o custo ambiental provocado pela impermeabilização do solo.

Serra nega ter declarado candidatura

Blog do Luis Nassif - 19/03/2010 - 16:53

Por Vanda

Nassif, o SERRA acabou de DIZER que não DISSE que é candidato……..ou, ou, ou…..será que ele é?

Ser ou não ser, eis a questão……por favor SEJA!!!!!!

Do Terra

Serra nega que tenha dito que é candidato: foi o Datena

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), negou, após evento público, negou que tenha se declarado candidato à Presidência da República em um programa da TV Bandeirantes. “O Datena (José Luiz Datena, apresentador do programa) é quem falou isso”, disse Serra.

A assessoria de imprensa confirmou, em um primeiro momento, que Serra falou como candidato durante a entrevista, mas depois negou que o governador confirmou a candidatura.

“Agora há pouco, o Serra numa entrevista exclusiva para mim no Palácio dos Bandeirantes confirmou que é candidato à Presidência da República”, disse Datena. Pouco depois o apresentador amenizou o anúncio: “ele praticamente confirmou… dá pra entender na entrevista, uma entrevista longa inclusive”.

Segundo a assessoria do governador, na entrevista ele teria dito que “iremos disputar nossas biografias”, referindo-se à pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

O PSDB espera há meses a manifestação pública de Serra sobre a disputa presidencial. Nas últimas semanas, líderes tucanos têm reclamado publicamente pelo fato de o governador não ter se lançado ainda pré-candidato à Presidência.

O governador deve deixar o cargo até os próximos dias para poder disputar a Presidência. O PT lançou em fevereiro a pré-candidatura de Dilma. As candidaturas às eleições de outubro serão formalizadas apenas em junho, quando os partidos realizam convenções específicas para isso.

FIAT contrata mil funcionários para produzir mais. Bye-bye Serra 2010

Conversa Afiada - 19/março/2010 19:53

É a maior contratação de empregados por uma empresa automotiva, este ano

É a maior contratação de empregados por uma empresa automotiva, este ano

O Conversa Afiada reproduz o comentário do amigo navegante Prudencio de Araújo:

Enviado em 19/03/2010 às 19:28

PHA,

Deu no jornal Estado de Minas:

RETOMADA

Pode entrar. Tem vaga
Fiat anuncia a contratação de 1 mil funcionários para aumentar a produção de veículos

A menos de duas semanas do fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a montadora Fiat fechou acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas para aumento de 6,5% na produção da fábrica de Betim, na Grande BH. O acordo inclui a contratação imediata de 1 mil funcionários para o quadro permanente da montadora e da FPT (Fiat Powertrain). O volume de admissões é considerado o maior para uma empresa do setor automotivo feito no país este ano e elevará o quadro de trabalhadores da Fiat para cerca de 15,2 mil, mesmo patamar de 2007. Com as contratações, que devem ser finalizadas até maio, a empresa estima produzir diariamente 190 veículos a mais, alcançando 3.110 mil unidades/dia. “Isso mostra nossa confiança no consumidor e no mercado”, afirma o diretor de Relações Industriais da empresa, Adauto Duarte

Quem paga os advogados com que Heráclito me processa ?

Conversa Afiada - 19/março/2010 12:18

Diga quem te processa e te direi quem és

Diga quem te processa e te direi quem és

O Senador do DEMO do Piauí Heráclito Fortes me processa dia sim, o outro também.

Faz parte daquela turma que quer me calar pelo bolso.

Como o amigo dele, o passador de bola apanhado no ato de passar bola, o Daniel Dantas.

Numa das múltiplas ações judiciais, o senador já perdeu: “Klouri ajuda Paulo Henrique a derrotar Heráclito na Justiça de Brasília”.

Recentemente, publiquei aqui a pergunta: quem paga os advogados de Heráclito ?

Encaminhei a pergunta ao presidente do Senado, José Sarney.

E até agora, nada.

Encaminhei também ao Ministro da Corregedoria Geral da União, Dr Jorge Hage, embora seu campo de atuação seja o Executivo.

Mas, ele prometeu me dar uma resposta.

Preocupado com a demora, hoje de manhã tomei duas providências.

Fiz a pergunta ao gabinete do Corregedor do Senado, senador Romeu Tuma: quem paga os advogados com que o Senador Heráclito me processa – ele mesmo ou eu, como contribuinte ?

De pronto, liguei para o gabinete do próprio senador Heráclito.

Travamos um diálogo à altura dos padrões do Senador: elevado, edificante, educativo.

A certa altura ele me perguntou quem pagava os meus.

Respondi que eu mesmo pagava.

O Senador também demonstrou interessante curiosidade: quis saber como comprei o meu apartamento de Nova York.

Expliquei que tinha comprado com o salário que recebi da Globo e da Bandeirantes (que ainda me deve dinheiro).

Percebi que ele não acreditou.

Na verdade, eu poderia ter acrescentado que são DOIS e não um apartamento.

Eles ficam na rua 87, entre a Madison e a Quinta, a dois quarteirões do Guggenheim.

Sorry, Senador.

A certa altura, num contexto não exatamente compreensível, o nobre Senador associou o meu nome ao substantivo “prostituta”.

Sugeri que ele dissesse isso em público.

Parece que ele não concordou, assim, de imediato.

Uma pena: eu teria bons motivos para processá-lo judicialmente, com a ajuda de advogados que pago com o MEU dinheiro.

Felizmente, os telefonemas do e para o Senado são gravados.

Espero que o nobre Senador, em nome da transparência, divulgue o teor desse augusto colóquio.

Paulo Henrique Amorim

Serra, sobre a greve dos professores: “Trololó”

19 de março de 2010 às 14:40

deu no Estadão

por Clarissa Oliveira, Silvia Amorim, Paulo Saldaña e Carolina Stanisci

No mesmo dia em que o governador de São Paulo, José Serra, descreveu as sucessivas manifestações de professores do Estado como um “trololó”, a Justiça negou o pedido do Ministério Público Estadual (MPE) de proibir a segunda assembleia dos docentes, que ocorrerá hoje, na Avenida Paulista, a partir das 14 horas. O MPE entrou com recurso.

Insinuando que os protestos têm objetivo eleitoral, o governador disse que nem sequer há um movimento grevista. “Não tem greve. Só tem marketing para a imprensa noticiar”, declarou Serra, virtual candidato à Presidência da República pelo PSDB, sem disfarçar a irritação com o assunto. Questionado sobre quem estaria por trás do movimento, Serra retrucou: “Vocês sabem. São suficientemente inteligentes e observadores.”

Uma parcela dos professores está em greve desde o dia 8. Segundo o governo, apenas 1% da categoria aderiu à paralisação. De acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), mais de 60% dos docentes estão parados.

Serra cancelou ontem, de última hora, sua participação em uma inauguração onde professores em greve fariam um protesto. O evento, na capital paulista, que teve a presença do prefeito Gilberto Kassab (DEM), virou palco de bate-boca entre autoridades e manifestantes.

O governador disse que não teve “tempo” de comparecer ao evento. De acordo com os assessores, a presença de Serra não estava sequer confirmada, embora um aviso da Secretaria de Comunicação indicasse o evento como o primeiro compromisso público da agenda do governador.

Com apitos, vaias e faixas, cerca de 30 manifestantes tumultuaram a inauguração do segundo viaduto do Complexo Viário Jaraguá, na zona oeste. Em alguns momentos foi difícil ouvir os discursos das autoridades. Ontem, pela segunda vez consecutiva, professores da rede estadual foram a compromissos públicos de Serra para protestar.

Passeata. Na semana passada, cerca de 12 mil docentes se reuniram no vão livre do Masp e foram em passeata até a Praça da República, prejudicando o trânsito no centro.

Ontem, o MPE tentou proibir o ato agendado para hoje, mas o juiz da 20.ª Vara Cível, Flávio Abramovich, extinguiu o processo porque o pedido não teria sido feito de modo adequado. Na sentença, o juiz diz que a Polícia Militar e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) devem tomar providências para evitar transtornos à população.

O autor da ação, promotor José Carlos de Freitas, rebateu os argumentos. “A PM e a CET solicitaram que o MP interviesse desta vez e em 2008, pois os professores estão extrapolando o direito de se manifestar.”

A GREVE

Reivindicações
Os professores querem reajuste salarial de 34% para compensar perdas relativas à inflação e o fim das provas dos temporários e do programa de promoção.

Quem lidera a classe
Apeoesp, Centro do Professorado Paulista (CPP), Sindicato dos Especialistas do Magistério Oficial de SP (Udemo).

Crack impulsiona crimes

Instituto Humanitas Unisinos - 19 mar 10

O noticiário das últimas semanas dá a impressão de que um surto de loucura se apoderou de criminosos – tal o nível de violência gratuita em que eles estão engolfados. Não basta roubar. Muitos assaltantes humilham, espancam, torturam ou matam a vítima, ante o menor gesto que essa faça. Ou, o que é pior, sem qualquer esboço de resistência por parte de quem é assaltado.

A reportagem é de Humberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 19-03-2010.

São gestos gratuitos e impulsivos, que pegam desprevenidos os cidadãos, atormentam as autoridades e rasgam manuais de planejamento de segurança pública. Um fenômeno perceptível tanto no Estado quanto em outras partes do Brasil e que tem as drogas, como o crack, como fio condutor.

Em Espumoso, no domingo, um padre foi esbofeteado e levou coronhadas de dois ladrões que entraram na casa paroquial para levar o dinheiro da missa. Em Porto Alegre, quarta-feira, um motoqueiro foi assaltado duas vezes em 10 minutos e presenciou um terceiro assalto no qual uma mulher foi baleada sem ter reagido. Em Novo Hamburgo, no mesmo dia, uma advogada foi morta ao tentar arrancar o carro, durante assalto. Em Estrela, uma criança de cinco anos foi torturada com fogo e espancada por um adolescente de 15 anos, viciado em crack, que exigia dinheiro.

Quando religiosos são espancados e crianças torturadas, alguma coisa está muito errada, pondera o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Jones Calixtrato dos Santos. Padrões mínimos de ética, aqueles aprendidos nos primeiros anos de vida, são rompidos sem pudor, dando mostras de uma sociedade profundamente enferma, comenta o militar.

– Não tenho dúvidas de que o nível de violência dos criminosos está aumentando. Mesmo que as estatísticas mostrem certo declínio no número de assaltos, eles estão mais violentos. E a culpa disso é o crack, a mais perversa dentre um monte de drogas perversas. Ele está por trás do roubo de veículos, dos homicídios, dos assaltos e, óbvio, do tráfico – analisa Jones.

O promotor Eugênio Amorim, há duas décadas atuando em varas do júri, assina embaixo das afirmativas do coronel e acrescenta outros fatores. Ele acha que, à ascensão do crack como droga preferencial, deve-se acrescentar as causas da violência e a impunidade de que gozam os criminosos.

– Sabemos que até 70% dos crimes são cometidos por presidiários do semiaberto ou em liberdade condicional. Fora de esquadro em função das drogas, fora de enquadramento em função da impunidade, estão livres, leves e soltos para roubar. E, o que é pior, para matar – diz Amorim.

O exemplo clássico, segundo Amorim, está no caso da advogada Viviane Rieck dos Santos, morta quarta-feira em Novo Hamburgo por dois ex-presidiários viciados em crack. Ele considera que a droga complica todos os planos de segurança pública, já prejudicados por leis que beneficiam mais os criminosos do que as suas vítimas.

A droga está por trás inclusive de crimes bárbaros que não envolvem roubo. É o caso do assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas, praticado por um conhecido dele, ao que tudo indica em meio a um surto psicótico impulsionado pelo uso de drogas.

Roubos sob encomenda

O diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Junior, soma um terceiro fator que contribui para mortes em assaltos, além do crack e da impunidade: a sempre pujante indústria do roubo de veículos. Em períodos de crescimento econômico como o que o país atravessa, a venda de carros aumenta – e, com ela, o número de assaltos com vistas à clonagem de automóveis ou seu desmanche para revenda de peças. Foi num desses roubos sob encomenda que morreu no final de fevereiro, ao reagir a tiros contra os ladrões, o então secretário da Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos. Foi noutro assalto do gênero que a advogada Viviane, de Novo Hamburgo, foi morta.

O curioso é que a epidemia de violência parece ter contaminado não apenas os assaltantes de ocasião, como os viciados em crack que espancam suas vítimas em troca de um carro de pouco valor ou de míseros trocados. O crime organizado, aquele planejado em minúcias e com precisão militar, também tem apelado para métodos aterrorizantes. Em pelo menos cinco ataques a estabelecimentos bancários registrados desde fevereiro no Rio Grande do Sul, os bandidos explodiram cofres e postos bancários, pouco ligando se a ação geraria mortos, feridos ou traumas na população.

O sociólogo Alex Niche Teixeira, do Grupo de Pesquisa em Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que ações bombásticas do crime organizado nada têm a ver com o surto de violência experimentado nos últimos tempos. Esse é resultado direto do crack e seu potencial de afrouxar os “freios sociais” de quem o consome.

O especialista adverte: é necessário um estudo mais profundo para verificar se estamos mesmo diante de uma curva ascendente e persistente de violência, ou se trata apenas de uma bolha sem importância estatística (mas com muitas vítimas).

– Mas o certo é que o crack e outras drogas pesadas são a novidade perversa no crime. Tanto pela desinibição para agir com violência quanto pela necessidade que ele gera de mais crimes para sustentar o hábito – conclui Teixeira.

Energia nuclear volta à tona

Instituto Humanitas Unisinos - 19 mar 10

Washington Novaes, jornalista, comenta, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 19-03-2010, a ofensiva no mundo em favor da energia nuclear.

Eis o artigo.

As questões referentes a formatos de energia, já no centro das discussões quando o tema são mudanças climáticas, também por isso alimentam algumas das mais complexas polêmicas de hoje - principalmente a da energia nuclear. E o combustível mais inflamável dessa polêmica é o mais recente livro de James Lovelock, "pai" da "Teoria Gaia", que entende o universo como um organismo vivo. Lovelock, que já foi adversário acirrado da energia nuclear, agora pensa (Gaia: Alerta Final, Editora Intrínseca, 2010) que não há tempo para esperar outro formato eficaz de redução nas emissões de poluentes, a não ser a energia nuclear. Considera pequenos os riscos de acidentes na operação (no pior desastre, Chernobyl, morreram 70 pessoas, diz). Quanto à falta de destinação para os perigosos resíduos das usinas, afirma que o lixo nuclear de uma geradora de mil MW "cabe num táxi", e terá sua radioatividade comparável à do urânio natural em 600 anos. Mas ressalva que não considera a energia nuclear a melhor opção para o Brasil, que tem feito "um bom trabalho com hidrelétricas"; só para países populosos com restrições de espaço.

Seja como for, há uma ofensiva no mundo em favor da energia nuclear. Mas também surgem estudos - até estritamente econômicos - para apontar seus problemas e sua inviabilidade. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, hoje há 53 usinas nucleares em construção no mundo, para gerar 47.223 MW até 2017. Elas se somarão às 436 em operação, com 370.304 MW, que correspondem a 17% da energia total. A elas se devem juntar mais 135 em fase de planejamento (148 mil MW), que elevarão a potência instalada em 50%. China (16 usinas), Grã-Bretanha (10), Rússia (9), Índia e Coreia do Sul (6 cada), Bulgária, Ucrânia, Eslováquia, Japão e Taiwan (2 cada) são os países com maior número de projetos (O Globo, 25/1). Mas nos EUA, com mais uma usina em construção (já tem 104, ou 19% da energia total), o presidente Barack Obama anunciou em fevereiro medidas que estimularão esse setor. Ao todo, US$ 54,5 bilhões para várias usinas - embora haja muitas controvérsias internas, já que não há destinação final para resíduos, que continuam armazenados em "piscinas" nas próprias geradoras (o depósito "final" em implantação sob a Serra Nevada continua embargado pela Justiça). Os Emirados Árabes Unidos tocam seu projeto, assim como a Argentina, a Finlândia, a França, o Irã, a Indonésia. Na Itália, que renunciou à energia nuclear em 1987, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi está oferecendo incentivos financeiros a municípios que aceitem novas usinas. O argumento central é o de que a Itália importa 85% da energia que consome.

Por aqui, o presidente da República e a ministra Dilma Rousseff continuam a defender novas usinas, além de Angra 3, que já teve licença prévia do Ministério do Meio Ambiente. Seu argumento principal é de que sem elas teremos problemas de abastecimento de energia, por causa das "dificuldades ambientais" no licenciamento de hidrelétricas. Só não se sabe ainda onde serão e quantas (fala-se de 4 a 8). Mas isso não elimina polêmicas. Ainda por ocasião dos mais recentes deslizamentos de terra e mortes que levaram à interdição da BR-101 perto de Angra dos Reis, o prefeito dessa cidade pediu o fechamento de Angra 1 e 2, argumentando que não haveria como evacuar a população se um deslizamento ameaçasse uma das usinas. Não foi atendido. E num recente programa Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo, o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que será o coordenador da política científica brasileira na área do clima, ao comentar números sobre a elevação do nível do mar no litoral fluminense, respondeu que se deveria ter muito cuidado no licenciamento de Angra 3, tendo em vista essa questão e os depósitos de lixo nuclear nas duas usinas já em funcionamento.

Mas a questão da segurança não é a única polêmica. Na Europa, nova discussão está em curso, após a divulgação (IPS/Envolverde, 27/2) de estudo do Citibank, sobre riscos tecnológicos e financeiros dos projetos nucleares. Diz ele - New Nuclear - the economics say no - que esses riscos são tão altos que "podem derrubar financeiramente as maiores empresas de serviços públicos. Uma usina de mil MW, afirma, pode custar US$ 7,6 bilhões e levar 20 anos para dar lucro - impraticável para empresas.

Entre nós, as notícias sobre investimentos no setor de energia ainda não contabilizam futuros projetos na área - a não ser Angra 3. Segundo o BNDES (Estado, 28/2), os novos projetos de geração, transmissão e distribuição de energia no País absorverão 33,6% dos R$ 274 bilhões que serão investidos na infraestrutura em quatro anos. Aí se incluem R$ 20 bilhões para as usinas do Rio Madeira, R$ 8 bilhões para Belo Monte e R$ 8 bilhões para usinas eólicas. Mas a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia afirma (Agência Estado, 28/2) que as tarifas no setor no Brasil só perdem para as da Alemanha; as residenciais são mais altas que as da Noruega (US$ 184 por MWh ante US$ 48), enquanto as industriais aqui chegam a US$ 138 por MWh, ante US$ 68 no Canadá.

Outra polêmica entre nós está no licenciamento e na implantação de usinas termoelétricas muito poluentes, também com o argumento de que é preciso tê-las de reserva, para a hipótese de a oferta de energia não ser ampliada. O BNDES em 2009 financiou R$ 2,6 bilhões para projetos nessa área, mais de metade do total destinado ao setor elétrico, contemplando projetos de 30 mil MW de energia térmica para serem implantados até 2030. (Folha de S.Paulo, 20/12/2009).

E tudo continuará nesse terreno da polêmica enquanto o governo federal não se dispuser a debater com a sociedade nosso modelo de energia. Uma boa oportunidade poderá ser o novo Plano Decenal de Energia, cuja discussão, em princípio, está programada para as próximas semanas.

Com apoio da Casa Civil, decreto propõe reduzir poder da CTNBio

Instituto Humanitas Unisinos - 19 mar 10

Patrocinado pela Casa Civil em aliança com o Ministério da Agricultura, um decreto com regras para plantio de transgênicos perto de unidades de conservação ameaça reduzir o poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A reportagem é de Lígia Formenti e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 19-03-2010.

A última versão do texto, em discussão na Casa Civil, suprime um artigo da norma em vigor que permite ao colegiado alterar os limites do plantio de transgênicos nessas áreas. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), ao qual a CTNBio está ligada, não foi ouvido.

"Isso é passar por cima da Lei de Biossegurança", disse o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCT, Luiz Antonio de Castro, que diz não ter recebido resposta da Casa Civil.

Ontem, Barreto afirmou ter sugerido ao titular da pasta, ministro Sérgio Rezende, que levasse o assunto ao Conselho Nacional de Biossegurança, órgão máximo sobre o assunto. "Espero que sejamos ouvidos e que isso seja alterado. A lei de biossegurança deixa claro que assuntos técnicos têm de ser resolvidos pelo colegiado. Não por um decreto", afirmou o presidente da CTNBio, Edilson Paiva.

A discussão tem como ponto de partida o decreto que estabelece limites para transgênicos em áreas próximas de unidade de conservação. Redigido em 2006, estabelece limites para a soja tolerante a herbicida e a duas espécies de algodão - os transgênicos que então estavam no mercado. Como várias liberações comerciais foram feitas, o decreto teve alcance limitado.

A briga, portanto, não é travada entre defensores e críticos dos transgênicos. O nó deve-se ao escanteio do órgão técnico no processo de decisão, no caso a CTNBio. Para setores contrários a transgênicos, a exclusão da CTNBio abre uma brecha para futuras limitações de plantio. A Casa Civil foi procurada para falar sobre o assunto, mas não se manifestou.

A Alemanha acabou de vetar a compra de soja transgênica (outro país que entra para a lista). Será que a Casa Civil realmente acha que entende de alguma coisa relacionada a essas porcarias (transgênicos) ou simplesmente não está nem aí para as consequências para a biodiversidade e dependência da cadeia produtiva em relação à empresas como a Monsanto?

Royalties do petróleo e cultura política localista e de clientela

Instituto Humanitas Unisinos - 19 mar 10

"Independente das conseqüências imediatas ou de curto prazo, entendo como relevante qualquer partilha mais eqüidistante dos recursos do país", escreve Bruno Lima Rocha, cientista político.

Bruno Lima Rocha, cientista político com doutorado e mestrado pela UFRGS, jornalista formado na UFRJ; docente de comunicação e pesquisador 1 da Unisinos; membro do Grupo Cepos e editor do portar Estratégia & Análise.

Eis o artigo.

No dia 17 do corrente mês (última 4ª feira), ano de 2010. As águas de março levam a última parcela de acanhamento dos operadores políticos profissionais. Que se vistam os personagens porque é Carnaval fora de época!

A última panacéia da política brasileira é a disputa pelos royalties do pré-sal. Ao invés de debatermos em termos estratégicos e de longo prazo, o que deixa o Senado ouriçado com a chance de poder a prova seu poder de fogo e leal devoção ao governo de turno desde que “bem atendido” nas emendas e outros recortes com o orçamento, é a possibilidade de derrubar a emenda de Ibsen Pinheiro, que acomoda minimamente, um reparto algo federativo de uma riqueza que pertence a toda a nação. Os chefes políticos do Rio de Janeiro, a começar pelo jornalista formado na Faculdade da Cidade (hoje UniverCidade) Sérgio Cabral Filho, deram vivas ao expediente de massas de manobras e fizeram uma marcha cívica pelo Centro de uma urbanização que mais se assemelha a Medellín em vários e sinistros sentidos.

A cultura política de tipo chefe-empregador, cabo eleitoral-empregado, transacionada mediante o contrato de lealdade = ações compensatórias se fez notar e sentir e foi bastante mediatizada. Repito que infelizmente me refiro a triste passeata de 150 mil ocorrida em ruas que, em outros anos, até a década de 1990, por exemplo, foi palco de memoráveis batalhas populares em defesa de sua soberania e das vontades exercidas pelo direito conquistado na rua! Assim o foi de quando dos leilões de privatização da Usiminas (1991), da CSN (1993) e da Cia. Vale do Rio Doce (1997). Um pouco mais atrás, na combativa década de 1980 – num extenso período até o Fora Collor em 1992, não passava mês sem o Centro do Rio ferver de povo em marcha. As concentrações saíam da Candelária, bem no entroncamento da Avenida Presidente Vargas com a Avenida Rio Branco. Quem vinha de longe chegava de metrô, tomado pelos cordões dos bairros (e sem ônibus pago pelo dinheiro do contribuinte) e enfrentava a repressão de peito aberto. Mas, o abandono da idéia de esquerda do Rio de Janeiro foi se aproximando do exaurir das condições de vida e da conveniência de acercar-se das práticas políticas chaguistas. Infelizmente, tais práticas políticas não são exclusivas da Cidade que vira a, a Greve Geral de 1917, Insurreição Operária de 1918e o próprio movimento O Petróleo É Nosso! Agora a moeda de troca é outra e a defesa do combustível fóssil não é para soberania e nem partilha, mas apenas para deixar o que está no seu lugar (mesmo não estando).

Para os que imaginam que o fenômeno do reboquismo é exclusivo das levas de funcionários públicos não concursados (portanto, de fato, privatizados), sinto avisar que este é um ledo engano. São os dois lados da mesma moeda viciada. Concordo e assino embaixo do reconhecimento de que a maioria dos brasileiros que assinam uma ficha de filiação tem pouca ou nenhuma noção de como funciona a estrutura a qual voluntariamente entrara. E, por vezes, essa cultura política paroquiana e clientelista de baixo alcance se manifesta no uso e abuso do funcionalismo público, em especial aqueles não concursados. Assim o foi quando do início das difusões dos vídeos gravados pelo ex-delegado de Polícia Civil do DF, Durval Barbosa, ele próprio um negociador de sua punição e homem de confiança de Joaquim Roriz, “amigo do peito, irmão e camarada” de Nenê Constatino assim como outros mui nobres valorosos e ilibados empresários planaltinos. Na ocasião, saíram as bases das cidades satélites, todos munidos de alguma forma de remuneração não-concursada e cujos honorários saíram (e seguem saindo, porque não houve expurgo em massa) do erário público.

Algo parecido se deu no Rio, pobre e rico Rio de Janeiro, herdeiro das piores tradições de Chagas Freitas, do brizolismo de final de mandato (quando ocorreram as chacinas da Candelária e de Vigário Geral) e de uma elite política que, digna de um estudo de pós-doutorado em psicanálise, sequer sabe quem são, sendo que a maioria jamais foi outra coisa do que a péssima conduta que já tem e deles é constitutiva. Se alguém imagina que exagero, ou que o texto se trata de recalque de oriundo após haver deixado a terra dos pais, convido a assistirem a TV Alerj e depois que me digam o quanto estou “errado”. Se houvesse pouca ou nenhuma participação, ou então fosse notado que as bases somente se mobilizavam no caso de ganhar algo em troca, a própria denúncia destes absurdos já teria sua relevância.

O que se viu na Cidade Maravilhosa foi o ápice de uma versão antiga de manobrar em nome de uma causa aparentemente comum e tornar-se interlocutor supostamente legítimo de um absurdo jurídico. O emprego do “kit massa de manobra”, composto por transporte gratuito, boné, camiseta, lanche e uns trocados para o cabo eleitoral que arrasta a boiada a votar em quem decorou o nome se reproduz na forma de ponto facultativo e marcha de funcionários “públicos” em defesa do Rio de Janeiro?!

Apontando conclusões após o espetáculo da anti-política

Os atuais mandatários do Rio hoje brigam contra uma emenda de partilha mais próxima dos critérios federativos, proposta por Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), mas que fora amplamente apoiada no baixo clero e seu apetite igualmente voraz. Não se trata aqui de afirmar que o simples reparto das divisas provenientes do petróleo, com base nos fundos de participação, representa garantia de execução de políticas públicas. E, tem uma parcela de razão o governo fluminense e as prefeituras afetadas pela falta de uma receita futura já prevista. Diante do rombo, que pague a União, pois é de Brasília que saiu o regramento original, e que está por cair. O fator negativo é o baixo nível político das elites políticas estaduais e municipais e seus consórcios econômico-eleitorais se comparado com os operadores em escala nacional. Mas, independente das conseqüências imediatas ou de curto prazo, entendo como relevante qualquer partilha mais eqüidistante dos recursos do país.

O ocorrido no Rio e no estado fluminense é de outra ordem, peleando entre cotoveladas e cabeçadas com o que há de pior na política brasileira. Que não se confunda um tema com outro, pois debater a partilha entre estados, produtores ou não, está anos luz de distância de tentar obter alguma justiça federativa e querer alcançar algumas metas de longo prazo. Isto porque o debate de fundo sequer foi feito com relação aos royalties e a partilha do pré-sal, do petróleo e do modelo de exploração.

Na Avenida Rio Branco a história foi outra. Quando até a Xuxa (Maria da Graça Meneguel, ex-gaúcha de Santa Rosa) vai na “marcha”, é porque não se está marchando por causa comum alguma!

Sem ética, o mercado não funciona, afirma Prêmio Nobel de Economia

Instituto Humanitas Unisinos - 19 mar 10


Publicamos aqui trechos de uma conferência proferida pelo prêmio Nobel de economia de 2001, Joseph E. Stiglitz, da Columbia University, por ocasião de um encontro sobre a globalização à luz da encíclica "Caritas in veritate", que ocorreu em Nova York na sede das Nações Unidas, organizado pela Missão do Observatório Permanente da Santa SéONU e pela Fundação Path to Peace.

O texto foi publicado no jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, 17-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Como escrevi em tom de brincadeira em um livro meu, a crise traz a etiqueta "made in USA". Exportamos a filosofia da desregulação que causou a crise e permitimos que ela se estendesse rapidamente em todo o mundo e também exportamos os nossos empréstimos hipotecários tóxicos. Sempre agradeço aos europeus por ter adquirido os nossos empréstimos tóxicos e por ter feito com que a crise norte-americana não fosse pior até do que é.

A situação é muito grave. Atualmente, um em cada seis norte-americanos que gostariam de ter um trabalho em tempo integral não o tem. A taxa de desemprego oficial está ligeiramente abaixo dos 10%, mas mascara o fato de que muitas pessoas aceitaram realizar trabalhos "part-time" na falta de outro. Muitos se retiraram da competição e, depois de ter buscado um trabalho durante um ano sem encontrá-lo, deixaram de procurá-lo. Nas estatísticas oficiais, essas pessoas não são consideradas desempregadas, mas sim "trabalhadores desencorajados". Pela primeira vez nos EUA, há um número altíssimo desses desempregados, não mais empregados há muito tempo. Cerca de 40% estão desempregados há mais de seis meses, e esse é um elemento importante, porque quanto mais tempo se está desempregado, mais se dá fundos às economias, e as capacidades diminuem.

Segundo a opinião geral, os EUA voltarão a um nível de desemprego normal na metade do século. Quando vocês ouvem dizer que perdemos só 36.000 postos de trabalho no mês passado, só 36.000, vocês devem lembrar que, em um ano normal, temos cerca de 150.000 novas contratações.

No que se refere aos proprietários de casas, no âmbito dos quais começou a crise, não fizemos quase nada. Mais de um em cada quatro norte-americanos deve pagar um empréstimo superior ao valor da sua própria casa. Isso significa que aquele bem se tornou um passivo. Isso terá efeitos profundos e a longo prazo sobre a nossa economia. Os EUA foram um dos mercados de trabalho mais dinâmicos. As pessoas se mudavam frequentemente para mudar de emprego, mas como só é possível se transferir vendendo a própria casa, não houve perdas. Assim, também por isso o mercado do trabalho está congelado.

Uma das coisas que perturba um economista é o desperdício de recursos, ou seja, o desequilíbrio entre o que a economia é capaz de produzir e o que efetivamente produz. Devemos lembrar que nenhum governo jamais desperdiçou dinheiro como o setor financeiro privado norte-americano fez ou deixou fazer, ao ter desperdiçado exatamente três trilhões de dólares. Naturalmente, em uma economia mais vasta, pode-se desperdiçar dinheiro mais facilmente, mas o que ainda perturba é que não é esse o modo em que as economias de mercado deveriam agir. E agora nos encontramos em uma situação global de enfraquecimento econômico na qual há capacidades enormes e, ao mesmo tempo, necessidades insatisfeitas.

Nos últimos 200 anos, a ideia mais importante na economia é provavelmente a teoria de Adam Smith da "mão invisível". Se fosse verdadeira, seria maravilhoso. É como se a busca do interesse próprio fosse conduzida por uma mão invisível, acima da sociedade. Essa ideia é maravilhosa porque defende que, em uma economia de mercado, na qual as empresas buscam a maximização do lucro, a busca de cada um pelo interesse próprio provoca resultados positivos. Não há necessidade do governo. O aspecto mais importante dessa teoria é que não há necessidade da ética. A única coisa não ética é não ser muito egoístas. Tudo o que se deve fazer é entender qual é o interesso próprio, persegui-lo avidamente, e tudo na sociedade irá bem. Devo admitir que gostaria que isso fosse verdade, porque a vida seria muito mais simples.

Um dos aspectos da pesquisa teórica que me levou a receber o prêmio Nobel era constituído por um conjunto de questões ligadas às imperfeições da informação tão difundidas na economia e que eu defendo como "assimetrias de informação". O que eu demonstrei com o meu colega Bruce Greenwald é que o motivo pelo qual a mão invisível muitas vezes pareceu invisível é que justamente ela não existe. Não existe. Em outras palavras, a busca pelo interesse próprio não necessariamente leva à eficiência econômica. O mais extraordinário é que ainda existem alguns seguidores de Adam Smith, alguns ainda acreditam nele. No entanto, não acho que alguém acredite verdadeiramente que a ávida busca de lucro dos banqueiros conduz ao bem-estar da nossa sociedade. Esse fracasso deve nos fazer refletir, deve demonstrar que a teoria que dominou durante 225 anos está errada.

Uma outra dimensão que eu acho que não recebeu a atenção necessária é a dimensão ética ou moral.

Ao longo dos anos, foram combatidas muitas batalhas para decidir o que era legal e o que não era, batalhas, se poderia dizer, por um comportamento ético, nas quais, porém, venceu quem teve um comportamento não ético. Algumas atitudes eticamente reprováveis são muito complexas e difíceis de explicar, outras são de imediata compreensão. Entre as coisas mais escandalosas, está o empréstimo predatório. Para quase todas as religiões, é preciso evitar a usura, porque ela representa uma assimetria de poder contratual. Se são pedidos 30%, 40% ou 50% de lucro, isso é considerado uma exploração. Pois bem, as taxas sobre os cartões de crédito totalizam 30% ao mês. Quero dizer que a taxa anual corresponde a 30% ao mês. Trata-se de uma taxa muito lucrativa e não corresponde simplesmente a um justo ressarcimento para o risco assumido. Até os limites da lei sobre a usura são superados.

Muitos sabem que, nos EUA, temos uma coisa que se chama "Rent-a-Center", em que te dizem "não cobramos juros, emprestamos móveis". Na realidade, eles mudaram o nome, mas se trata de um empréstimo com taxas de juros de 50% ou superiores. Estudei o caso de uma mulher que comprou 300 dólares em móveis, em dois ou três anos pagou 3.000 dólares, e os móveis ainda não são de sua propriedade. A questão está justamente na difusão dos empréstimos predadores. Houve uma grande batalha para dar fim a eles, mas os predadores venceram. A crise demonstra que, em um certo sentido, eles prejudicaram a si mesmos. Permaneceram vítimas das suas próprias maquinações, mas também nós somos vítimas, porque acabamos pagando por tudo isso.

Um outro aspecto importante é o relativo aos cartões de crédito, ou seja, do seu abuso. Examinando os contratos relativos, compreende-se que se tratam de abusos, perpetrados em dano de pessoas que não entenderam que, utilizando o cartão, acabarão pagando 35 dólares por uma xícara de café. Além disso, é justamente dos pobres que esse tipo de prática bancária obtém os maiores lucros. Isso nos diz algo sobre a ética com a qual é gerido esse tipo de coisas.

Um outro aspecto do qual falei em um trabalho anterior se refere à verdade. Uma das principais razões da criação de alguns dos produtos financeiros foi obscurecer o que estava acontecendo. O exemplo recente mais famoso é o da Goldman Sachs. A ideia de fundo era que fosse aceitável buscar enganar o governo e não pagar os impostos. Os bancos e as sociedades de balanço, tendo descoberto o modo para enganar o governo, decidiram utilizá-lo também para enganar os próprios investidores. Pensemos na Enron. Quem causou a crise em larga escala foi, dentre outros, a remoção de itens do orçamento. O que é interessante é que, no fim, os próprios bancos não sabiam mais qual era a sua receita. Sabiam que não podiam sabê-la e, assim, sabiam também que não podiam saber o orçamento de ninguém mais, e esse é o motivo pelo qual os mercados do crédito se congelaram. Isso contribuiu muitíssimo à queda da economia.

Depois, visto que haviam sido tão criativos ao elaborar esses produtos enganadores, buscou-se vendê-lo. Assim, a Goldman Sachs vendeu à Grécia um produto tóxico para se assegurar de que a União Europeia não pudesse verdadeiramente entender de quais números se tratava. Isso deu tão certo que não conhecemos verdadeiramente o tamanho do engano. Mas a consequência é que, uma vez que você perde a confiança, não pode mais ter confiança nem naquilo que deveria. E é justamente isso que está acontecendo no nosso sistema financeiro e na nossa sociedade. Não sabemos mais em quem acreditar. Quando uma sociedade perde a confiança, isso tem consequências sobre o modo de trabalhar.

Há uma outra questão geral que desejo levantar. Um dos motivos pelos quais a economia é tão importante é que ela ajuda a formar a sociedade, os indivíduos. Vários estudos demonstraram que quanto mais os indivíduos estudam economia, mais se tornam egoístas como os economistas lhes sugerem ser.

Não é uma visão bonita da vida, mas acho que é verdade. A consequência real disso está constituída pelas declarações de que o setor financeiro fez sobre as motivações e sobre os incentivos. No setor privado, por exemplo, foram concedidos empréstimos para a construção habitacional que custaram muito dinheiro e fizeram com que aqueles que os concediam ganhassem muitíssimo dinheiro, por meio de retribuições com incentivos pagas para desenvolver um péssimo trabalho.

Pensemos na própria noção de retribuição com incentivo. Que tipo de médico é que, bem no meio da operação cirúrgica, te diz o preço e fala: "Estou começando a ficar cansado. Estou extraindo o seu coração. Se você quer que eu preste bem atenção nesta última parte da operação, deve me dar um incentivo porque senão eu me distraio"? Acharemos isso totalmente inaceitável. Os banqueiros dizem que, se podemos lhes dar só 5 milhões de dólares, então merecemos a metade da sua atenção. Se queremos 70% da sua atenção, devemos dar 10 milhões de dólares. Se queremos 80% da atenção, devemos pagar ainda mais.

Esse é só um exemplo de como a economia está moldando a nossa sociedade e de como nós aceitamos esses comportamentos como se fossem naturais. Eu não sei se os banqueiros são estúpidos ou desonestos. Mas um elemento de desonestidade existe. Se analisamos os bônus de incentivo, descobrimos que, na realidade, são estímulos para se comprometer em empresas excessivamente de risco e em comportamentos míopes dispostos a fazer com que os administradores ganhem em dano de acionistas, de obrigacionistas e de qualquer outra pessoa da sociedade. Não existem boas estruturas para os incentivos. Se não o sabem, devemos criticá-los e lhes perguntar por que deveríamos pagar tanto por não terem entendido nem o que é uma boa estrutura de incentivo. Se o sabem, trata-se de um engano.

Tudo isso levanta muitas questões importantes sobre a organização da nossa sociedade e sobre o papel do lucro. Penso que, talvez, a única coisa positiva da nossa crise é que levou a um re-exame do modo em que a sociedade e a economia funcionam. junto à