"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, outubro 11, 2012

José Dirceu

Hoje pela manhã ouvi o Boechat comentando sobre o passado de "luta" de José Dirceu. O que fez José Dirceu para merecer esse glória? Vejam essa pequena "biografia" da vida de "luta" que José Dirceu:

Em 1968, Dirceu conseguiu namorar a única espiã da ditadura militar. Se quisesse prendê-lo, a polícia poderia dispensar-se arrombar a porta: Heloísa Helena, a “Maçã Dourada”, faria a gentileza de abri-la. Ainda convalescia do fiasco amoroso quando resolveu que o congresso clandestino da UNE, com mais de mil participantes, seria realizado em Ibiúna, com menos de 10.000 moradores. Até os cegos do lugarejo enxergaram a procissão de forasteiros.
No primeiro dia, mandou encomendar 1.200 pães por manhã ao padeiro que nunca passara dos 300 por dia. O comerciante procurou o delegado, o doutor ligou para a Polícia Militar e a turma toda acabou na cadeia. Ninguém reclamou: enquanto o congresso durou, todos haviam tentado dormir sob a chuva por falta de tetos suficientes. Incluído no grupo dos resgatados pelos sequestradores do embaixador americano, Dirceu avisou que lutaria de armas na mão contra a ditadura e foi descansar na França.
O lutador exilado empunhou taças de vinho num bistrô em Paris até trocar a Rive Gauche pelo cursinho de guerrilheiro em Cuba. Com o codinome Daniel, aprendeu a fazer barulho com fuzis de segunda mão e balas de festim, submeteu-se a uma cirurgia para deixar o nariz adunco, declarou-se pronto para derrubar a bala o regime militar e, na primeira metade dos anos 70, voltou ao Brasil. Percebeu que a coisa andava feia assim que cruzou a fronteira e, em vez de trocar chumbo no campo, foi trocar alianças na cidade.
Fantasiado de Carlos Henrique Gouveia de Mello, negociante de gado, baixou em Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, casou-se com a dona da melhor butique do lugar e entrincheirou-se balcão do Magazine do Homem, de onde só saía para dar pancadas em bolas de sinuca no bar da esquina. Em 1979, quando a anistia foi decretada, Carlos Henrique, apelidado de “Pedro Caroço” pelos parceiros de botequim, abandonou a frente de combate municipal, o filho de cinco anos e a mulher, que só então descobriu que vivera ao lado do revolucionário comunista menos belicoso de todos os tempos.
Livre de perigos, afilou o nariz com outra cirurgia plástica, ajudou a fundar o PT e não demorou a virar dirigente. Ao tornar-se presidente, escolheu Delúbio Soares para cuidar da tesouraria. Depois da campanha vitoriosa de Lula, não se contentou com a chefia da Casa Civil: promoveu-se a superministro e monitorou o preenchimento dos milhares de cargos de confiança.
 http://movimentobrasileirosunidos.blogspot.com.br/2011/08/jose-dirceu-o-guerrilheiro-de-araque.html

terça-feira, outubro 09, 2012

Dia do Nordestino

"O nordestino é,antes de tudo um forte!" (Euclides da cunha)


O Dia do “Porco Fedorento”

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 08 de outubro de 2012.

El odio como factor de lucha; el odio intransigente al enemigo, que impulsa más allá de las limitaciones naturales  del ser humano y lo convierte en una efectiva, violenta, selectiva y fría máquina de matar. Nuestros soldados  tienen que ser así; un pueblo sin odio no puede triunfar sobre un enemigo brutal. Hay que llevar la guerra hasta donde el enemigo la lleve: a su casa, a sus lugares de diversión; hacerla total. (Ernesto Guevara de la Serna)

Nas minhas idas e vindas pelo pampa gaúcho vou escutando e me emocionando com a música nativista interpretada pelos melhores cantores e compositores de minha augusta terra gaúcha. Considero como um dos melhores intérpretes latinos o cantor e compositor Dante Ramon Ledesma, tenho todos os seus CDs, mas tenho restrição a um deles que trás no seu repertório “Memorias del Che”. Logo que se iniciam os primeiros acordes sou obrigado a passar para a faixa seguinte.

Enaltecer figuras cruéis que escreveram com páginas de sangue a história de um povo violentam minha alma missioneira e prefiro ouvir outras composições do autor muito mais belas e que não foram, como esta, produzida com propósitos meramente políticos para atrair multidões acéfalas. Quando vejo jovens rebeldes “sem causa e sem propósito” ostentando em suas camisetas a carranca do “Chancho” argentino minhas entranhas revolvem-se. Conhecessem eles a força dos símbolos, sejam do bem ou do mal, livrar-se-iam imediatamente deste que só lembra o terror, a morte e a desesperança embora os teóricos de esquerda tenha feito de tudo para emprestar-lhe alguma virtude.

Memorias del Che
(Dante Ramon Ledesma)

Caia el mes de octubre, sobre tierra Boliviana.
Llorava la mañana sobre su balcón,
también llorava el hombre que
lucho junto a su vida,
por el pan de cada dia, que aquel dia le faltó.
Sonaran las metrallas, alguien grita Ernesto,
su cuerpo fue en silencio, que se apagó en la ciudad.
Cuando el débil enimigo, cortó su pulgar derecho,
pero comprobó con su muerte, al Che Guevara podrian capturar.

Adiós hermano mio,
adiós hermano Ernesto
que lloro y al pueblo, el que te ayudó a luchar!
Cuando se abren las puertas del país Americano,
seremos hermanos, con una misma libertad.

Cuando se abren las puertas del país Americano,
seremos hermanos, con una misma libertad.
libertad Libertad!

-  O Diário do “Chancho”

Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre .32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no (lobo) temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Ao tratar de retirar seus pertences, não consegui soltar o relógio. (Che Guevara)

Enaltecido pela esquerda festiva e alienada a quem a democracia só é boa enquanto atende aos seus interesses, o “Porco Fedorento” buscava inspiração nas carnificinas que patrocinava como um verdadeiro “Anjo da morte”. O Diário de Che Guevara é preciso, o decantado herói das esquerdas e dos jovens rebeldes sem causa assassinava sem piedade e roubava suas vítimas.

-  O Porco “Che Guevara”

Ernesto Guevara Lynch de la Serna, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, conhecido por Che Guevara ou El Che, nasceu em Rosário, Argentina, no dia 14 de maio de 1928, embora em sua certidão esteja registrado como 14 de junho. Em 1955, juntou-se aos revolucionários liderados por Fidel Castro, no México, onde foi adestrado nas técnicas de guerrilha. No ano seguinte, participou do contingente de revolucionários que desembarcou em Cuba. El Che chegou a Havana em 1959 já como um mito. Fidel, imediatamente, o designou para chefiar “La Cabaña”.

-  El Carnicero de La Cabaña

Jamais se saberá, exatamente, o número de execuções levadas a cabo durante o período revolucionário. María Werlau, Diretora Executiva do Arquivo Cubano, afirmou: “No lo sé, cien mil... doscientos mil ...”. Como procurador-geral, El Che comandou a “Prisão Fortaleza de San Carlos de La Cabaña”, onde, somente nos primeiros meses da revolução, ocorreram 120 fuzilamentos. Che considerava que: “As execuções são uma necessidade para o Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo”.

El Che nunca trató de ocultar su crueldad, por el contrario, entre más se le pedía compasión más él se mostraba cruel. El estaba completamente dedicado a su utopía. La revolución le exigía que hubiera muertos, él mataba; ella le pedía que mintiera, él mentía. En La Cabaña, cuando las familias iban a visitar a sus parientes, Guevara, en el colmo del sadismo, llegaba a exigirles que pasaran delante del paredón manchado de sangre fresca.
(Padre Javier Arzuaga, Ex-Capelão da Cabaña)

El Che comandava os fuzilamentos no “paredão”, sendo conhecido, por isso, pelo codinome de “el carnicero de la cabaña”. Dirigiu pessoalmente os processos contra os representantes do regime deposto, condenando à morte mais de 4.000 pessoas. Na “Cabaña”, havia inimigos políticos e inocentes, mas Che mandava executar a todos. Seu lema era: “Ante la duda, mata”, lema que chegou a aplicar, inclusive, a antigos companheiros de armas.

-  Guanahacabibes: Campo de Trabalhos Forçados

Che foi o idealizador do primeiro acampamento de trabalhos forçados, em Guanahacabibes, Cuba ocidental, em 1960. Che dizia:

à Guanahacabibes são mandadas as pessoas que não devem ir para a prisão. As pessoas que tenham cometido faltas à moral revolucionária. É um trabalho duro, não um trabalho bestial.

Guanahacabibes foi o precursor do confinamento sistemático, a partir de 1965 na província de Camagüey, de dissidentes, homossexuais, católicos, testemunhas de Jeová e outras “escórias”, como eram considerados pelos revolucionários. Os “desadaptados” eram transportados para os campos de concentração que tinham como modelo Guanahacabibes onde, via de regra, eram mortos, violentados ou mutilados.

-  As faces de CHE

Alberto Korda imortalizou em 5 de março de 1960, na sua foto mais famosa, o rosto de Che. Sua aparência, de 1956 a 1964, mudou tanto quanto seu nome. Foi conhecido como Ernestito, Teté, Pelao, Chancho, Fuser, Furibundo, Serna, Martín Fierro, Franco-atirador e outros tantos que adotou antes de chegar à Guatemala, onde o cubano Antonio Ñico López o batizou de “Che”. Fidel Castro enviou Luis García Gutiérrez “Fisín” a Praga, onde Che se encontrava, e o dentista alterou o rosto de Che fazendo uso de próteses dentárias. As mudanças fisionômicas foram tais que nem mesmo os homens que tinham lutado com Guevara em Cuba e seus filhos, então muito pequenos, o reconheceram. Che usava lentes, ligeiramente obeso, cabeça raspada, uma figura diversa do Guevara que conheciam. Os registros de seu diário de 12 de novembro de 1966 afirmam:

Meu cabelo está crescendo, apesar de muito ralo, e as mechas que se tornaram loiras, começam a desaparecer; me nasce a barba. Dentro de poucos meses, voltarei a ser eu.

-  Con su Muerte, Murió el Hombre y Nació la Farsa

Se evoca siempre su trágico final, asesinado cuando ya se había rendido, después de fracasar en un intento guerrillero que lo llevó hasta las selvas bolivianas al frente de un puñado de hombres. (Carlos Sabino)

Sob o comando de Guevara, 49 jovens inexperientes recrutas, que haviam sido mobilizados para expulsar os invasores cubanos, foram emboscados e mortos. “Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto”, gritou um guerrilheiro maltrapilho e imundo nos confins da Bolívia no dia 8 de outubro de 1967. Frase que seus admiradores e biógrafos fazem questão de esquecer, pois o covarde pedido de misericórdia não combinava com a imagem por eles forjada. Che foi executado pelos militares bolivianos em La Higuera em 9 de Outubro de 1967. A partir de sua morte, sua imagem foi lapidada apresentando-o como um mártir, idealista, cheio de virtudes, defensor dos fracos e oprimidos. Seus companheiros o chamavam de “el chancho”, o porco, porque não gostava de banho e “tinha cheiro de rim fervido”.

-  Livro do Autor

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre.

Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Comentários

Educação
Hoje pela manhã na Band News Fm, Rosely Sayão estava comentando sobre uma mensagem enviada por uma mãe a respeito da cobrança que seu filho de cinco anos estava recebendo na escola.
Rosely Sayão discorreu belamente sobre o absurdo que a escola (não essa, mas todas, e são todas mesmo - grifo meu) faz com a infância quando cobra introdução de conteúdo. 
Esse massacre com a infância, elimina o melhor da criatividade que existe nessa idade, e chegamos lá no Ensino Médio com jovens sem essa ferramenta tão importante para a sociedade e para o próprio autodesenvolvimento.
Particularmente não concordo com a chamada pré-escola. Resisti a levar meus filhos enquanto pude, mas a sociedade de consumo cobra a separação familiar. Todos devem trabalhar, para que o consumo perdure. 
Interessante é não se falar o mesmo dos cursos de inglês. Nesses os pais levam seus pequenos filhos com a noção de que devem cedo aprender a lingua universal. Ainda bem que nesses quesitos sou considerado radical por alguns pares. Não aceito a pré-escola, assim como, até o momento nenhum de meus filhos fez curso de inglês. Claro que confio plenamente no modelo adotado dentro do Sistema Colégio Militar, pois já vi resultados em alunos meus, assim como já vejo no meu filho que está no 9º Ano, que ponho a jogar no playstation comigo para que traduza o que se fala, pois de inglês eu não entendo nada. 


Saude
Os sindicatos médicos estão promovendo paralisação de atendimento a determinados planos de saude. A tempos gostaria de já ter escrito algo aqui sobre o tema "atendimento na área de saúde".
Segundo os sindicato gaucho, há médicos de sobra. Gostaria de saber onde. Pois o que se vê é uma precariedade generalizada no atendimento. O SUS, bom esse nem vou comentar, mas nos Planos de Saude há o que chamo de "susisação do atendimento". Não há como marcar um atendimento médico em qualquer plano sem que haja uma boa fila de espera, ou seja, se paga caro, mas o atendimento como diria o professor Raimundo "Ó...". 
Segundo o sindicato, os médicos recebem muito pouco por paciente atendido, o que resulta na necessidade de que esse tenha vários empregos para poder ter uma renda digna. Bom considerando que um médico recebe (quando mal pago pelo plano de saude) em torno de R$ 33,00 por consulta, ao atender 8 pacientes em 4 horas, o ganho será de R$ 264,00. Levando-se em consideração que nem todos médicos tem remuneração acrescida com sala cirúrgica (o que dá um bom ganho extra), esse mesmo médico ao trabalhar mais quatro horas no outro expediente estará ganhando por dia de trabalho R$ 528,00, totalizando R$ 10. 560,00 ao mês (levando em consideração 20 dias de trabalho, sem finais de semana ou plantões que também elevam a renda).
Apenas a titulo de comparação um professor da rede privada em Porto Alegre no Ensino Médio, recebe R$ 37,14 por hora/aula (não é por aluno, se assim fosse, como no caso dos médicos seria o paraíso) na escolar que tem o primeiro lugar no ranking de pagamento da cidade. Então, esse professor trabalhando 8 horas por dia receberia R$ 297, 12 por dia, o que resultaria em um salário de R$ 5.942,40 mensal. Só que, primeiro, nenhuma escola contrata um professor com uma carga horária cheia dessas; segundo, mesmo tendo essa carga (o que já vai reduzir o valor total, pois esse valor é realidade de uma escola), diferentemente dos médicos o professor vai ter que trabalhar pelo menos mais quatro horas por dia com a elaboração e correção de provas, elaboração de aulas e estudo de atualização. Nesse caso os R$ 297,12 por dia devem ser divididos (sendo romântico) por no mínimo 10. Então, não me venham os médicos falar de remuneração, ou que tem médico sobrando. Menos, muito menos.
O que percebo é um grande crescimento absoluto na população brasileira, sem o respectivo crescimento na área da saúde. 
Se pensarmos nas grandes cidades, como por exemplo Porto Alegre (mas creio ser o mesmo nas demais) praticamente não ocorreu expansão no número de hospitais nos últimos dez anos. Bom, se a população cresce e as vagas hospitalares não, o resultado é fila. Fila, para o paciente oriundo do SUS, dos Planos de Saude e em menor grau para o paciente particular, mas esse também não tem atendimento imediato e encara filas.
E assim me vem a cabeça novamente o mesmo questionamento: onde estão sobrando os médicos que o sindicato fala?



Justiça
Muito se tem falado na questões subjetivas da justiça atualmente devido o julgamento do mensalão.
Deve-se acrescentar a essa discussão tecnicista, o elemento social, e esse vem acompanhado da pergunta essencial: qual razão levou a humanidade a criar o sistema judicial?
Quando da existência de pequenos grupos humanos como os clãs, tudo se resolvia por liderança do patriarca. Ao se formarem tribos, o chefe tribal tinha o poder de decidir os desígnios da população de sua tribo. Já quando se formam aglomerações maiores surgem alguns problemas: 1- como fazer com que um vizinho não encare o outro que não é da sua família como inimigo e o mate? 2- como analisar quem tem razão em uma determinada disputa? Bom, só essa duas questões já dão um escelente pano de fundo para discussões, sem falar as demais que deveriam ter sido levantadas, mas, aqui vai a discussão principal que é o fato de que a justiça surge com um meio de solucionar os problemas criminais ocorridos em uma sociedade de desconhecidos. A justiça surge como um forma de proteger a sociedade do crime, dar uma solução de segurança para o meio, fazer com que a comunidade se sinta resguardada contra os que estão tentando usurpar seus direitos que nesse caso são a liberdade e o ganho.
O grande problema atual é que o juridiquês faz com que criminosos sejam soltos porquê não ocorreu deliberação judicial para a "escuta" e isso independe se o criminoso é culpado ou não, que o individuo em cargo de poder possa se utilizar disso e por ter sido pego em escutas clandestinas de um bicheiro, ser considerado o mais inocente dos homens e perseguido por aqueles que não o apoiam, é um juiz se ater ao que está escrito sem perceber o mal social que pode estar fazendo. Isso é claro, não é exclusivo do Brasil, e infelizmente somos amarrados por cortes maiores que professam a mesma idiotice, são engessadas. 
Quem se beneficia disso é o crime, e a justiça, bom, a justiça continua criando novos "juridiquês".


segunda-feira, outubro 08, 2012

Tratados de Limites

 Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 07 de outubro de 2012.

São conhecidas as aspirações da nossa estimável irmã da América do Norte, a respeito da borracha; é notório seu apreço pelo torrão maravilhoso possuído pelo Brasil nas margens amazônicas; são bem conhecidas as transações ultimamente efetuadas no estrangeiro a respeito de grandes trechos daqueles vastos e ferocíssimos territórios; e, mais cedo ou mais tarde, dentro de pouco tempo, talvez fiquemos privados daquelas zonas, as vejamos em mão estrangeiras. (Ruy Barbosa)

- Arbitragem Cristã

Naqueles tempos nada se tinha por acabado e perfeito se a religião não o consagrava; e como, além disso, a idéia de que todos os reinos da terra eram sujeitos ao Papa, que tinha sobre eles direito de soberania, os reis e conquistadores procuravam sempre assegurar nas concessões a proteção da Santa Sé à legitimidade dos seus descobrimentos e domínios. (João Francisco Lisboa)

As arbitragens sobre as terras internacionais eram, na época, decididas pelos príncipes do Vaticano. Esta tradição remonta a 1092 quando o Papa Urbano II concedeu a Ilha da Córsega ao Bispo de Pisa. A Espanha fora beneficiada, por Sisto IV, com a posse das Ilhas Canárias e Portugal, por sua vez, teve asseguradas suas posses as terras conquistadas aos “infiéis” conforme bula assinada por Eugênio IV. Nicolau V reconheceu como portuguesas todas as conquistas na África e ilhas vizinhas e, depois dele, Calisto III, em 1456, proclama que só Portugal tinha o direito de descobrir o “Caminho das Índias”.

- Mundus Novus e a Bula “Inter Coetera”

Os reis católicos da Espanha, Fernando e Isabel, aproveitam a descoberta da América, por Colombo, e que o trono da Santa Sé era ocupado por um Pontífice espanhol, Alexandre VI, para pleitear o reconhecimento de sua soberania sobre as terras recém-descobertas. O Papa espanhol expediu imediatamente uma bula doando à Espanha, em caráter perpétuo, o Novo Mundo, com o compromisso dos reis de Castela de propagarem a Fé Católica nas novas plagas.

A controvertida bula “Inter Coetera”, de 4 de maio de 1493, definia uma linha imaginária que passava a cem léguas a oeste das Ilhas dos Açores e Cabo Verde com origem no pólo Ártico e término no Pólo Antártico. As terras ao Ocidente desta Linha pertenceriam à Espanha. O rei D. João II, de Portugal, não concorda com a decisão e, sem conseguir demover Alexandre VI de sua decisão, prepara uma frota de guerra com o propósito de assegurar os direitos lusitanos sobre as regiões descobertas por Colombo no Ocidente que, de acordo com a bula promulgada por Calisto III, em 1456, e o Tratado de Alcaçovas, de 1481, pertenciam à coroa portuguesa. A beligerância teve seu fim com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, a 7 de junho de 1494, deslocando a linha para 370 léguas a partir da Ilha de Cabo Verde. Portugal assegurava, com isso, a posse de grande parte do Brasil além de desfrutar das vantagens do “Caminho da Índias”.

O Tratado de Tordesilhas nasceu caduco. Não havia, naquela época, como demarcar com exatidão essa linha, pois o processo de cálculo que permitiria sua definição só viria a ser dominado no final do século XVII.

(...) não concordando os Históricos, faltos de fundamentos, nem acertando os Geógrafos as suas medidas, não é possível assentar ponto fixo para esta demarcação, porque de premissas ou prováveis e duvidosas, não se pode deduzir ilação infalível.
(Engenheiro Militar e Cartógrafo genovês Francesco Tosi Colombina)

O Tratado de Tordesilhas foi o embrião da questão Acreana. A disputa pelas nações ibéricas do continente americano manteve-se acesa em cada país Sul-americano que herdou daquelas importantes civilizações europeias não só sua cultura, tradições e costumes, mas também suas mal resolvidas questões de fronteira.

- Coroa Ibérica

D. Sebastião, o desejado, rei de Portugal e o último da dinastia dos Avis, cresceu com a plena convicção de que era um predestinado. Ao enfrentar os mouros, em número significativamente superior, na batalha de Alcácer Quibir, evidenciou nas suas ações achar que o “Milagre de Ourique” repetir-se-ia, afinal a Batalha de Ourique foi um episódio simbólico para a monarquia portuguesa, graças a ela D. Afonso Henriques foi aclamado rei de Portugal, em 25 de julho de 1139.

Para desespero de D. Sebastião e de seus combatentes, o milagre não se repetiu e a sua morte precipitou uma série de acontecimentos que culminaram com a unificação das coroas de Espanha e Portugal sob a autoridade da Espanha ficando, o período, conhecido como União Ibérica. O período, que durou 60 anos (1580-1640), permitiu que os espanhóis estendessem seus domínios no Pacífico em regiões reconhecidamente portuguesas e nas regiões platinas da América. O desinteresse pelas possessões amazônicas era embasado, seguramente, em dois fatores fundamentais: o econômico e o fisiográfico. O primeiro em virtude da desilusão da missão de Gonzalo Pizarro na busca do País da Canela e do El Dorado que redundara em um retumbante fracasso. O segundo, talvez a “vera causa”, a Cordilheira dos Andes que impedia ou pelo menos dificultava a colonização espanhola da terra das Amazonas. A Cordilheira, segundo Euclides da Cunha foi “um cordão sanitário ou ao menos um desmedido aparelho seletivo”.

Os portugueses, por sua vez, ampliaram sua área de influência na América e a Amazônia foi sendo conquistada pelos lusos nos seus mais longínquos rincões, graças à instalação de fortificações e criação de pequenos povoados. O rei D. João V, com o ouro da “terra brasilis”, pagou cientistas que elaboraram os fundamentos cartográficos do Tratado de Madri, construiu fortes diminuindo a vulnerabilidade da colônia brasileira e negociou com o Papa Benedito XIV a bula “Candor Lucis” em 1745 que estabelecia as prelazias de Goiás e Cuiabá. O Vaticano, através da “Candor Lucis”, reconhecia publicamente o avanço português sobre a linha de Tordesilhas antes mesmo do Tratado de Madri.

Quando da assinatura do Tratado de Madri, em 1750, os espanhóis, acatando os argumentos de Alexandre de Gusmão, que defendia o princípio do “Uti Possidetis”, reconheceram a soberania portuguesa sobre a região.

- A Histórica Má-fé Boliviana

A partir de 1833, as discordâncias entre o Império do Brasil e a Bolívia, no que se refere ao estabelecimento dos limites se tornam cada vez mais patentes. Uma série de crises se sucedeu sem que se chegasse a um acordo. O Governo de La Paz havia concedido sesmarias, a cidadãos bolivianos, em território brasileiro; pretendia exercer domínio total sobre o Rio Madeira e ainda tinha a intenção de permitir aos Estados Unidos da América a livre navegação nos Rios da Bacia Amazônica, que entendiam serem caminhos livres, “abertos pela natureza ao comércio de todas as nações”.

Em 1834, procurando equacionar as contestadas questões de fronteira com o Brasil, a Bolívia encarrega da missão o General Mariano Armaza. O General apresentou uma proposta amparada no Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, entre Espanha e Portugal que tinha como premissa: “que a linha divisória começasse aos 22°, na margem direita do Paraguai, até a embocadura do Jauru, daí seguisse pelas águas desse Rio e pelas do Aguapeí até encontrar na serra do mesmo nome as cabeceiras do Rio Alegre e daí baixasse até o Guaporé”. A sugestão foi rechaçada pelo Governo brasileiro.

Diversas tentativas se sucederam, mas nenhuma chegou a bom termo. Antônio Pereira Pinto afirma nos seus “Estudos sobre algumas questões internacionais” que os estadistas de La Paz não eram capazes de negociar de boa fé já que “as tradições adversas ao Brasil passavam em seu Governo de geração em geração”.

Os bolivianos teimavam em evocar, equivocada e tendenciosamente, os Tratados de Madrid, (1750), e o de Santo Ildefonso, (1777), sem considerar que os mesmos haviam sido anulados e tornados sem efeito. O de Madrid pelo tratado de El Pardo, de 12 de fevereiro de 1761 e que culminou com a assinatura do Tratado de Paris, 10 de fevereiro de 1763; o de Santo Idelfonso quando pactuado, em Badajoz, o tratado de 6 de junho de 1801. Os bolivianos não queriam considerar como único princípio correto, que deveria ser seguido nas relações de domínio territorial no Continente, o do “Uti-possidetis”: “Ita-possideatis”, do Direito Romano incorporado ao Direito Internacional.

- Tratado de Ayacucho

Em 1867, em plena campanha contra Solano Lopez, a Bolívia insiste na definição da questão e nomeia, como seu representante, o Chanceler Dr. Mariano Donato Muñoz e o Brasil o Dr. Felipe Lopes Neto, com a finalidade de elaborar uma proposta que resolva definitivamente a questão.

As negociações são concluídas com a assinatura, na cidade de La Paz de Ayacucho, do Tratado de Ayacucho, em 27 de março de 1867. A reconhecida habilidade de Lopes Neto se torna patente ao fazer com que os estadistas bolivianos aceitem o princípio do Uti-possidetis, até então recusado peremptoriamente. O diplomata brasileiro, infelizmente, não conseguiu que o artigo 2° do Tratado, no parágrafo que se refere à linha divisória no território cortado pelo Rio Aquiri ou Acre, mantivesse a formatação original dos artigos respectivos dos Tratados de 1750 e de 1777.

    O artigo VIII do “Tratado de Madrid”, de 1750, estipulava que:

Baixará pelo álveo destes dois Rios, já unidos, até a paragem situada em igual distância do dito Rio das Amazonas, ou Marañon, e da Boca do dito Mamoré; e desde aquela paragem continuará por uma linha Leste-Oeste até encontrar com a margem Oriental do Javari que entra no Rio das Amazonas pela sua Margem Austral; e baixando pelo álveo do Javari até onde desemboca no Rio das Amazonas ou Marañon, prosseguirá por este Rio abaixo até boco mais ocidental do Japurá, que deságua nele pela margem setentrional.

    O artigo XI do “Tratado de Santo Ildefonso”, de 1777, em consonância com a letra do Tratado de 1750, por sua vez:

Baixará a Linha pelas águas destes dois Rios Guaporé, e Mamoré, já unidos com o nome da Madeira, até á paragem situada em igual distância do Rio Maranhão, ou Amazonas, e da Boca do dito Mamoré, e desde aquela paragem continuará por uma Linha Leste-Oeste até encontrar com a Margem Oriental do Rio Javari, que entra no Maranhão (Amazonas) pela sua margem Austral; e baixando pelo álveo do mesmo Javari até onde desemboca no Maranhão, ou Amazonas, prosseguirá águas abaixo deste Rio, a que os espanhóis costumam chamar Orellana, e os Índios Guiena, até a Boca mais Ocidental do Japurá, que deságua nele pela margem Setentrional.

    O artigo II do “Tratado de Ayacucho”, a fronteira é especificada com maior detalhamento, em virtude do conhecimento, que se tinha, do Madeira para o Sul:

Sua Majestade o Imperador do Brasil e a Republica de Bolívia concordam em reconhecer, como base para a determinação da fronteira entre os seus respectivos territórios, o “Uti Possidetis”, e, de conformidade com este princípio, declaram e definem a mesma fronteira do modo seguinte:

(...) baixará por este Rio até a sua confluência com o Guaporé e pelo meio deste e do Mamoré até ao Beni, onde principia o Rio Madeira. Deste Rio para o Oeste, seguirá a fronteira por uma paralela, tirada da sua margem esquerda na Latitude Sul de 10°20’, até encontrar o Rio Javari. Se o Javari tiver as suas nascentes ao Norte daquela linha Leste-Oeste, seguirá a fronteira, desde a mesma Latitude (10°20’), por uma reta, a buscar a origem principal do dito Javari.

Na época, se ignorava o traçado e as nascentes do Rio Javari. No Brasil, supunha-se que o Rio tivesse suas nascentes paralelas ao Madeira, provavelmente, a 10°20’ de Latitude Sul. A condicionante colocada no Tratado foi um artifício sutil empregado por Mariano Muñoz com o qual concordou Lopes Neto. Naquela época, os bolivianos já suspeitavam que o Javari não nascia na altura do Paralelo 10°20’, mas mais ao Norte.

- Livro do Autor

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:


Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
 

Comissões Mistas de Limites

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 07 de outubro de 2012.

Como conceito geral, “fronteira” é a zona periférica do território de um Estado que termina onde começa o do vizinho; e “limite” é a linha periférica do território de um Estado que se superpõe à do vizinho, ou seja, o termo fronteira é mais abrangente e se refere a uma região, enquanto limite está ligado a uma concepção precisa, linear e perfeitamente definida no terreno. (Ministério das Relações Exteriores - MRE)

Logo após a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, e a do Peru em 28 de julho de 1824, estas nações buscaram encontrar alternativas consensuais para equacionar seus problemas de limites. A solução encontrada deveria levar em conta o princípio do “Utti Possidetis”.

Utti Possidetis ou uti possidetis juris: princípio do direito internacional segundo o qual os que de fato ocupam um território possuem direito sobre este.

-  Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1866

No dia 23 de outubro de 1851, foi assinado, em Lima, por Duarte de Ponte Ribeiro, encarregado de Negócios do Brasil, e Bartolomé Herrera, Ministro Interino das Relações Exteriores do Peru, o Tratado de Comércio, Navegação, Limites e Extradição. O Tratado reconhecia como limite a povoação de Tabatinga, na confluência do Marañon (Solimões) com o Javari, e daí para o Norte uma linha reta a encontrar o Rio Japurá, defronte da Foz do Apapóris e, de Tabatinga para Oeste e para o Sul, o Rio Javari, desde a sua confluência com o Solimões.

O Tratado, no seu artigo IV, estabelecia que:

Para prevenir dúvidas a respeito da fronteira aludida nas estipulações da presente convenção, concordaram as Altas Partes Contratantes em que os limites do Império do Brasil com a República do Peru sejam regulados em conformidade do princípio “uti possidetis”; por conseguinte reconhecem, respectivamente, como fronteira, a povoação de Tabatinga, e daí para o Norte em linha reta a encontrar o Rio Japurá defronte da Foz do Apaporis; e de Tabatinga para o Sul o Rio Javari, desde a sua confluência com o Amazonas.

Uma Comissão Mista nomeada por ambos os Governos reconhecerá, conforme o princípio “uti possidetis”, a fronteira, e proporá a troca dos territórios que julgarem a propósito para fixar os limites que sejam mais naturais e convenientes a uma e outra nação.

Embora as Instruções tenham sido emitidas para a Demarcação das Fronteiras do Brasil com o Peru, no dia 22 de outubro de 1861, baseadas no Tratado de 23 de outubro 1851, os trabalhos tiveram início somente em 1866, depois de seis conferências, realizadas na cidade de Belém, Pará, no desde o final do ano de 1865 até os primeiros meses de 1866, entre os representantes de ambos os países. O Comissário brasileiro continuava sendo o Capitão-Tenente José da Costa Azevedo enquanto por parte do Peru tinha sido nomeado o Capitão-de-Mar-e-Guerra Dom Francisco Carrasco.

No dia 28 de julho de 1866, iniciaram-se os trabalhos demarcatórios, com a colocação de dois Marcos na Foz da quebrada de Santo Antônio, um na margem brasileira e outro na peruana. No dia 5 de agosto de 1866, subiram o Javari, partindo de Tabatinga, a Comissão exploradora era formada pelo Secretário brasileiro, Capitão de Corveta João Soares Pinto e do Secretário peruano Manuel Ronaud y Paz Soldan.

No dia 7 de agosto de 1866, aportaram na aldeia São José do Javari (hoje Benjamim Constant), onde contrataram como guia o Tuxaua Ticuna Juan Pablo. A 23 de agosto, chegaram na Boca do Curuçá e, no dia 28, na confluência do Javari-Mirim e Jaquirana (5°10’). Optaram por subir o Jaquirana, considerando que este deveria ser a nascente do Javari por apresentar um maior volume das águas.

Chegaram a, 8 de setembro, a mais uma confluência, optando, novamente, pela da direita, mais volumosa. A menor foi denominada pelo Comissário peruano de Rio Galvez. Nos primeiros dias de outubro alcançaram o ponto onde o Javari recebe outro que foi batizado com o nome de Paissandu. Continuaram pelo Javari quando na manhã do dia 10 de outubro, foram atacados por selvagens, sendo ferindo um dos remadores.

Como já fossem escassos os víveres e meios de defesa, resolveram baixar até o lugar em que tinha ficado o Tenente Martinez, mas, ao regressar, pouco depois, os índios, em número superior a cem, os emboscaram da margem do Rio, matando a flechadas o Tenente Soares Pinto e ferindo Paz Soldan com 4 flechadas.

Quatro dias depois chegaram ao lugar em que estava estacionado o Tenente Martinez, aportando em Tabatinga a 26 de outubro. A Comissão verificou que a nascente do Javari estava um pouco além de 7° e não a 11° conforme mostravam as cartas anteriores estimando-se o seu curso até o lugar do ataque em 900 milhas. (COSTA)

-  Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1874

A Comissão chefiada pelo Barão de Tefé e Guillermo Blake entrou na Foz do Javari, no dia 17 de janeiro de 1874, com um efetivo de 82 membros, atingindo as proximidades das nascentes do Javari no dia 14 de março de 1874. A Comissão estimou as coordenadas do Javari como 07°01’17,5” de Latitude Sul e 74°08’27,7” de Longitude Oeste. A Expedição retornou ao Solimões com 55 sobreviventes, 27 haviam sucumbido à febre, à fome, ou às flechas dos Mayorunas.

Os círculos científicos receberam com muita reserva os cálculos astronômicos realizados, em virtude das condições adversas que a Comissão tinha enfrentado e por terem seus membros utilizado, não raras vezes, métodos expeditos adotados mais por práticos regionais do que especialistas em astronomia. (TEFFÉ)

-  Comissão de 1895

O Protocolo, de 10 de maio de 1895, redigido pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos de Carvalho, e pelo Ministro Plenipotenciário da Bolívia Federico de Medina, instruía a Comissão Mista a traçar uma linha geodésica entre os Rios Madeira e Javari, passando pelo Rio Acre e avançando preferencialmente por terra.

Não havia referência à necessidade de verificar a posição da nascente principal do Javari já que os governos do Brasil e da Bolívia tinham aceitado a localização da nascente do Javari calculadas pelo Barão de Tefé e Blake. O Protocolo considerava que “fica entendido que a dita Linha deve partir da Latitude 10°20’ Sul marcada no Tratado de Limites e nesta conformidade procederá a Comissão Mista à demarcação dos Limites e colocação dos Marcos destinados a indiciar os pontos de intersecção”.

O Protocolo compunha-se de apenas 2 artigos. O primeiro nomeava os Comissários e o segundo fixava a nascente do Javari na posição que lhe atribuíram Tefé e Blake, em 1874 (07°01’17,5”S / 74°08’27,7”O).

Os comissários bolivianos nomeados foram o Coronel Juan Manoel Pando e o Engenheiro Carlos Satchell e do Brasil o Tenente-Coronel Gregório Thaumaturgo de Azevedo e o Capitão-Tenente Augusto da Cunha Gomes. Thaumaturgo chefiou, portanto, uma Comissão cujo objetivo era muito vago e que permitia diversas interpretações sobre o traçado da Linha Geodésica. Seu nome será sempre lembrado por ter contestado corajosamente a interpretação do Ministro das Relações Exteriores, em relação ao Tratado de 1867, e ter manifestado esta discórdia na imprensa.

A Comissão Thaumaturgo produziu nove caixas de amostras, arquivadas hoje no Arquivo do Museu Nacional, onde existem exemplares da fauna, flora e material etnográfico. O acervo coletado atendia a uma solicitação do Ministério dos Negócios Interiores ao Ministério das Relações Exteriores tendo em vista que a Comissão iria percorrer uma região pouco conhecida. O Ministro da Guerra, Bernardo Vasques, solicitou, também, que a Comissão determinasse os locais mais adequados ao “estabelecimento de Postos Militares” na fronteira, que atendessem aos aspectos estratégicos.

Thaumaturgo não redigiu um relatório final de sua exploração tendo em vista ter solicitado seu desligamento da Comissão Mista. Este relatório foi concluído pela Comissão de 1898. (AZEVEDO, 1901, 1953)

-  Comissão de 1898

O Telegrama n° 539, de 23 de maio de 1898, do Ministro das Relações Exteriores, General Dyonizio Evangelista de Castro Cerqueira endereçado ao Capitão-Tenente Augusto da Cunha Gomes nomeia-o Chefe da Comissão de Limites determinando-lhe que determine a nascente do Rio Javari. Cunha Gomes recebeu, somente no dia 8 de Abril, o telegrama do Ministro pelas mãos do Governador do Pará.

As embarcações da Comissão eram o aviso Tocantins, comandado pelo Capitão-Tenente Raimundo José Ferreira Vale, a lancha Taruman, cedida, sem tripulação, pelo Dr. Governador do Estado, um batelão que já pertencia à Comissão e seis canoas adquiridas para esta missão.

O relatório de “Re-exploração do Javari” é considerado o texto final da Comissão de Thaumaturgo e por isso alguns historiadores consideram as duas viagens (Thaumaturgo e Cunha Gomes), como uma única Comissão.

Cunha Gomes mostrou um Javari muito povoado, rico em madeiras nobres e seringais e navegado com regularidade até Remate de Males. Em relação à navegação relatou que “a viagem se tornava extremamente afanosa depois confluência com o Galvez”. Para a determinação da temperatura média anual, que leva em consideração a Latitude do local, utilizou a fórmula de Emmanuel Liais, antigo Diretor do Imperial Observatório, nos anos de 1880. Considerou a região por demais insalubre tendo encontrado diversos casos fatais fruto de endemias tropicais. A Comissão foi assistida pelo Dr. Bulcão Viana cuja atuação competente permitiu que se registrasse apenas uma morte, a do marinheiro Aleixo, por beribéri.

Do ponto de vista etnográfico afirmou que os silvícolas sempre foram ferozes e bravios, sendo responsáveis pela morte do astrônomo Soares Pinto, da Comissão Brasileira de 1874, e pela do geógrafo peruano Paz Soldan, de 1866. Cunha Gomes informou, porém, que na sua Expedição, encontrou um número reduzido de índios, provavelmente em decorrência dos conflitos com os caucheiros peruanos. Cunha Gomes faz uma descrição mais pormenorizada dos Capananas tendo em vista terem estes ferozes canibais acompanhado a Expedição do Rio Galvez até o Javari.

Apresenta uma fauna exuberante onde descreve diversos tipos de macacos, onças e várias espécies de pássaros. O Relatório afirma ainda que não foi encontrado nenhum fóssil na Bacia do Javari embora considere que a Comissão não teve tempo de se dedicar a este tipo de pesquisa.

Cunha Gomes afirma ter corrigido as coordenadas do Barão de Tefé verificando uma diferença de quase quatro segundos. Determinou que o Rio Javari era um prolongamento do Jaquirana e não do Galvez, como suspeitava Thaumaturgo, e rebate uma a uma as ásperas contestações do Barão de Tefé ao seu trabalho publicando na imprensa suas observações astronômicas e divulgando a técnica empregada. (GOMES)

-  Comissão Mista Brasileiro-Peruana (1901)

Pode-se, grosso modo, calcular a Longitude levando em consideração que cada hora representa 15°, ou seja, no caso do Rio de Janeiro em relação a Greenwich, temos 3 horas a menos de diferença, o que significa que estamos a 45° de Longitude Oeste. (CRULS)

O Ministro das Relações Exteriores, Olyntho de Magalhães, em 1901, repassou a Cruls as Instruções para subir o Rio Javari até as nascentes e determinar sua verdadeira posição geográfica.

Cruls, além de determinar a nascente do Rio Javari deveria traçar a Linha Geodésica entre este Rio e o Madeira. Para esta segunda etapa, deveria retornar a Manaus e aguardar Instruções. O Ministro considerava que os trabalhos de demarcação poderiam gerar conflitos e que os membros da Comissão poderiam correr risco de morte. Afirmava o Ministro Olyntho de Magalhães nas suas Instruções:

Portanto, sou obrigado a determinar ao Comissário Brasileiro que, feita a verificação relativa à nascente do Javari e firmada a Ata respectiva, regresse a Manaus para aí receber as minhas últimas ordens.

A Comissão Desembarcou em Belém, em 21 de janeiro de 1901, e Cruls montou o seu observatório no interior do Forte do Castelo, onde a iluminação elétrica não interferia na observação astronômica.

Cruls tinha consigo as coordenadas de Belém determinadas pelo “Telegraphic Measurement of Differences of Longitude”, da Marinha norte-americana, em 1879, verificando que esses cálculos estavam incorretos. Cruls informou ao “Navy Department”, que concordou com as correções de Cruls. O “Jornal do Brasil” publicou, no dia 4 de abril de 1901, em reportagem de primeira página:

O Departamento Naval de Washington verificou os cálculos, e deu razão à Comissão Brasileira.

No dia 13 de maio, o “Jornal do Commercio”, comentou que estas coordenadas:

serão necessárias para o início dos trabalhos da Comissão de Limites com a Bolívia, conforme determinam os protocolos.

Com a chegada dos comissários bolivianos à Belém procedeu-se à comparação dos cronômetros, “sendo em ambos os casos as diferenças encontradas inferiores a seis décimos de segundo”. Luiz Cruls faz o seguinte comentário a respeito:

As observações feitas pelas Comissões brasileiras e bolivianas foram de modo absolutamente independente, com instrumentos e por processos distintos, e dos resultados, comunicados somente na ocasião das conferências, foram tomadas as médias, logo que as diferenças entre os resultados obtidos por ambas as Comissões não excediam os limites dos erros toleráveis, o que foi sempre o caso, tanto nos trabalhos executados no Pará e em Tabatinga, como no Galvez, na confluência do Rumyaco com o Jaquirana, e nas nascentes principais do Jaquirana. (CRULS, 1902)

No dia 28 de agosto de 1901, a Comissão Mista ergueu um marco nas coordenadas 7°6’ de Latitude e 73°47’ de Longitude na nascente principal do Rio Javari cumprindo, assim, o primeiro de seus objetivos. Segundo o relatório, de 1902, faltava ainda proceder à demarcação da fronteira, como constava na primeira Ata de reunião da Comissão Mista. O Comissário boliviano, o inglês C. Satchell, insistia para que o “Protocolo de 1900 fosse cumprido e que se deveria partir imediatamente para a demarcação. Cruls, rebatia, que estava aguardando novas ordens do Governo Brasileiro, e que havia, ainda, certas discrepâncias técnicas com a Comissão Boliviana para que se pudesse dar início aos trabalhos de demarcação da Linha Geodésica.

O Relatório Cruls, publicado em 1902, embora tivesse um caráter extremamente técnico, expõe problemas enfrentados durante a viagem com as embarcações, doenças e, sobretudo com os comissários peruanos.

Cruls ao detalhar minuciosamente os processos utilizados nas suas observações astronômicas demonstra uma grande preocupação em se defender de futuras contestações. Seus cálculos astronômicos também sofreram críticas, como era de praxe. Um dos seus maiores críticos foi o astrônomo Manuel Pereira Reis, que os considerou “incompletos e duvidosos”, defendendo os cálculos de Cunha Gomes e aconselhando o Governo a extinguir a Comissão de 1901. Segundo o “Jornal do Commercio”, as medições de Cruls significavam a perda de 100 léguas de território brasileiro para a Bolívia.

Parte da memória desta viagem foi relatada pelo Major Adir Guimarães, em 1939, na Escola de Geógrafos do Exército, Rio de Janeiro, RJ, em conferência realizada, no dia 25 de agosto, sob o título “Beaurepaire Rohan, Niemeyer, Bellegarde, Cruls” e publicada, em 1940, pela mesma Escola. (CRULS, 1902, 2003)

Já velho e infectado pelo terrível mal daquelas regiões, não houve fadiga que o abatesse. Sabe-se que na última jornada foi conduzido por quatro homens em uma cadeira improvisada por não poder se manter de pé. (GUIMARÃES)

-  Conclusão

Com este pequeno resumo da ação de algumas Comissões de Limites que labutaram na fronteira peruana procuramos homenagear a todos estes heróis demarcadores que enfrentando dificuldades de toda ordem definiram os limites de nossa soberania. Ao concluir suas missões seus cálculos e comentários eram objeto de críticas por parte de outros astrônomos instalados comodamente nas suas confortáveis instalações e estampados na mídia sensacionalista.

Fonte:

AZEVEDO, Gregório Thaumaturgo. Limites Entre o Brasil e a Bolívia – Brasil – Rio de Janeiro – Oficinas Gráficas da D.S.G., 1953.

AZEVEDO, Gregório Thaumaturgo. O Acre: Limites com a Bolívia – Brasil – Rio de Janeiro – Typ. do “Jornal do Commercio” de Rodrigues & Comp., 1901.

COSTA, Craveiro. A Conquista Ocidental do Deserto Ocidental – Brasil – São Paulo – Companhia Editora Nacional, 1940.

CRULS, Luiz. Limites entre Brasil e Bolívia. Relatório apresentado ao Dr. Olytho de Magalhães – Brasil – Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.

CRULS, Luiz, 1848-1905. Relatório Cruls: Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil – Brasil – Brasília – Senado Federal, 2003.

GOMES, Augusto da Cunha. Comissão de Limites Entre o Brazil e a Bolivia – Re–Exploração do Rio Javari – Brasil – Rio de Janeiro – Typographia Leuzinger, 1899.

GUIMARÃES, Adir. Conferência Realizada, em 1939, na sede da Escola de Geógrafos do Exército, no dia do soldado – Brasil – Rio de Janeiro: Escola de Geógrafos do Exército, 1940.

TEFFÉ, Tetrá de. Barão de Tefé, Militar e Cientista, Biografia do Almirante Antônio Luís von Hoonholtz – Brasil – Rio de Janeiro – Centro de Documentação da Marinha, 1977.

- Livro do Autor

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.