"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, abril 02, 2011

Atriz Morre de Amor

Este é o titulo de capa de uma revista, que agora não lembro qual era. Eu estava no caixa do supermercado quando vi na gôndola a tal revista. 
Perguntei para minha esposa quem era a tal atriz, ela me respondeu quem era e me fez um resumo da estória.
Pelo que entendi em minhas pesquisas na internet a atriz que teria caído (me parece pouco provável pelo corte na tela da janela da qual ela teria "caído") do 7º andar da sua residência, coincidentemente caiu da mesma janela que seu namorado havia se suicidado a pouco tempo.
Uma coisa que me chamou atenção na estória e por estou postando ela aqui ,é o fato de que sua filha com o ex-marido mora com esse, e o filho, que, é anterior ao seu casamento também não, por sinal, moram os dois com o ex-marido que cria o enteado como seu filho até hoje (mesmo tendo outra família já constituída).
A impressão que tive ao ler o titulo da capa era de que havia algo de romântico na estória, mas ao ir mais fundo e sabendo dessa condição da atriz em relação aos filhos, imagino que havia na realidade uma condição de desequilíbrio pessoal da atriz.
Mais uma vez, certos setores da mídia que ganham com a venda de estórias "bonitinhas" e criam herois (como aqueles do BBB), levam os desavisados a crerem em ficção, quando a realidade deve ser bem mais negra do que parece.
Realmente precisamos urgente de um órgão que controle o setor de mídia do Brasil.

Pais fazem inseminação artificial e rejeitam um dos bebês, diz médico

01/04/2011 13h03 - Atualizado em 01/04/2011 19h15

Pais fizeram tratamento para o nascimento de dois bebês; nasceram três.
Após o nascimento, pai rejeitou 1 dos bebês; os três foram levados para abrigo.
 

Do G1 PR, com informações da RPC TV

Três meninas que nasceram por inseminação artificial foram levadas pelo Conselho Tutelar para um abrigo, em Curitiba, depois de serem rejeitadas pelo pai após o nascimento.

De acordo com o geneticista que implantou os embriões na paciente, Dr.Karan Abou Saad, o pai teria rejeitado uma das meninas porque esperava que o tratamento resultasse no nascimento de no máximo dois bebês. As crianças nasceram no dia 24 de janeiro deste ano. A maternidade não quis comentar o assunto.
O médico explicou que nos primeiros exames de gravidez os pais já sabiam que seriam três bebês, mas quando eles nasceram o pai se recusou a levar para casa a terceira criança. Ele foi impedido pelo hospital de levar somente duas crianças. A maternidade acionou o Ministério Público e uma liminar determinou que as três crianças fossem levadas para o Conselho Tutelar. O caso segue em segredo de justiça.
Em entrevista ao G1, Dr. Karan disse também que em 36 anos de profissão nunca tinha visto uma situação destas. "Pra mim é uma novidade, nunca vi um casal rejeitar um filho após um tratamento para engravidar", afirmou.
A advogada da família informou que os pais não querem comentar sobre o assunto porque o caso está em segredo de justiça.

Assistam o video
http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/04/pais-fazem-inseminacao-artificial-e-rejeitam-um-dos-bebes-diz-medico.html


Acho que os pais deveriam ser presos, pois considero um absurdo querer deixar uma das filhas e levar as outras duas. Na reportagem não fica claro, mas nunca ouvi falar de um caso de inseminação em que o médico não tenha alertado para a possibilidade de gestação múltipla. Então, se o casal é de classe média alta, não se justifica em nenhuma hipótese a idéia de abandono de uma das crianças, a não ser que (e aí eu considero uma forte possibilidade), os dois não apresentem nenhuma condição psicológica de se tornarem pais. 
Nesse caso, deve sim o Ministério Público retirar a guarda das crianças e promover a ação penal contra os dois criminosos que consideram crianças como mercadoria, pela qual se paga, e escolhe qual quer levar.

sexta-feira, abril 01, 2011

Tiririca

Estava ainda a pouco ouvindo a Band News, e Diego Casagrande fez um comentário a respeito de Tiririca que ao meu ver pode ser visto por dois ângulos diferentes.
O primeiro é o defendido por Diego, em que, Tiririca na condição de semi-analfabeto estar na Comissão de Educação e Cultura seria um verdadeiro descalabro. 
A segunda, que pode ser possível, não necessariamente factível, é a de que pela sua própria estória de vida, ele poderia auxiliar como parte conhecedora das deficiências e necessidades que grande parte da população do país tem em relação aos assuntos da educação e cultura. Sua vivência e experiência da ausência de possibilidades educacionais formais e de acesso à cultura mais elitizada (uma vez que seu trabalho é uma forma de representação cultural), podem mostrar ou indicar o caminho das deficiências que estudiosos não perceberam exatamente por não as terem vivenciado.
Qual caminho será trilhado por Tiririca só o tempo nos dirá.

Novo FEBEAPÁ

Quero entender toda a celeuma gerada pelas recentes palavras do Deputado Bolsonaro.
Não consegui ver o tal comportamento homofóbico e incitação racista pelo qual ele está sendo processado.
Pelo que eu saiba vivemos em país dito "democrático" e em que cada um (a não ser que o cerne de tal "democracia" não seja esse) tem direito a opinião e expressá-la (não é isso que defendem os democratas?). 
Para mim foi exatamente o que fez o Deputado Bolsonaro, expressou sua opinião. Não vi incitação ao comportamento homofóbico (que deve sim, ser severamente punido), mas sim uma opinião pessoal, que ele, como cada um dos brasileiros tem o direito a ter. Se ele não gosta de homossexuais, é direito dele. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, deve-se é claro tratar cada um com o respeito que merece. 
O mesmo acontece em relação à questão racista que ele pretensamente teria incitado, o que ocorreu no mesmo caso foi apenas a expressão de sua opinião. É claro que como a mídia necessita de escândalos para promover audiência e venda de material impresso, a coisa está superexplorada e com uma dimensão que não se justifica.
Lembro que os defensores de Dilma durante a campanha em que ela expressou sua opinião em relação ao aborto (que diferia do que estava  no programa de campanha) alegaram exatamente isso, que a opinião pessoal é direito pétreo de cada um.
Então, está na hora de se encerrar esse assunto besta e deixar que cada um que tenha se sentido ofendido busque seus direitos na justiça.

quinta-feira, março 31, 2011

NOVA IMAGEM DA TERRA

quinta-feira, 31 de março de 2011

Europeus fornecem a mais exata imagem da  gravidade na Terra

Modelo da gravidade na Terra fornecerá dados oceanográficos e da estrutura interna do planeta




Dados enviados por satélite à ESA (Agência Espacial Europeia), durante dois anos, possibilitaram o estudo preciso da gravidade do planeta Terra de uma forma inédita.
Os cientistas agora detêm um dos mais exatos modelos geoide (forma mais aproximada do nosso planeta, visto que ele não é totalmente redondo) do lugar onde vivemos. 
A imagem foi divulgada nesta quarta-feira durante uma conferência em Munique (Alemanha) --para ver uma versão animada, acesse aqui.
No estudo apresentado pela ESA se considerou a gravidade do geoide sem a ação de marés e de correntes oceânicas.
O modelo serve como referência para medir a movimentação dos oceanos, a mudança do nível do mar e a dinâmica do gelo, o que pode abrir precedente para entender com maior profundidade as mudanças climáticas.
Além desses dados oceanográficos, também servirá para o estudo da estrutura interna do planeta --como os processos que levam à formação de terremotos de grande magnitude e que podem provocar danos devastadores, como aconteceu com o Japão no sismo de 11 de março.
Do espaço, é praticamente impossível para os satélites observarem a dinâmica dos tremores, visto que o movimento das placas tectônicas ocorre abaixo do nível dos oceanos.
Contudo, explica a ESA em seu site, os tremores costumam deixar um "rastro" na gravidade do planeta, o que pode ajudar a entender o mecanismo de um terremoto e, quem sabe, antecipar sua ocorrência. 
 
21/03/2011


 Referência

http://www.esa.int/esaCP/SEM1AK6UPLG_index_0.html
(para ver a Terra com sua nova forma girando)

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/896402-europeus-fornecem-a-mais-exata-imagem-da-gravidade-na-terra.shtml

terça-feira, março 29, 2011

O endividamento recorde no exterior


Da Folha
Setor privado aproveita custo barato de empréstimos para captar recursos.
Aperto de crédito no mercado doméstico e anúncio de novas medidas cambiais aceleram movimento
ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Empresas brasileiras e filiais de multinacionais que operam no país contraíram dívidas no exterior em volume recorde no primeiro bimestre do ano.
Com juros baixos nos países ricos e os investidores estrangeiros acreditando que o risco de levar um calote no Brasil é baixo, não tem faltado opção de financiamento para o país no exterior.
Empresas e bancos têm aproveitado a oportunidade para tomar recursos no exterior a um custo mais barato do que o encontrado no mercado doméstico.
"É natural que o setor privado nacional queira aumentar seu nível de endividamento no exterior porque o momento é muito favorável", diz o economista Darwin Dib, do Itaú Unibanco.
Para cada US$ 100 de dívidas que venceram e foram quitadas no primeiro bimestre do ano, o setor privado tomou US$ 860 emprestados no exterior, segundo o Banco Central.
No jargão financeiro, isso significa que a taxa de rolagem da dívida externa privada atingiu 860% em janeiro e fevereiro, nível mais elevado alcançado desde que o BC começou a produzir a estatística, em 2001.
Segundo analistas, ações tomadas pelo Banco Central para frear a expansão do crédito no Brasil contribuíram para acelerar esse processo.
Medidas anunciadas no fim de 2010 tornaram as fontes de financiamento domésticas dos bancos mais escassas e caras.
Como a demanda de consumidores por crédito continuou forte, os bancos estão aproveitando linhas de empréstimo baratas no exterior.
"Os bancos estão buscando recursos lá fora para emprestar aqui", diz Bruno Lavieri, analista da Tendências.
O crescente endividamento de empresas e bancos no exterior inunda o mercado doméstico com doláres, o que cria pressões de valorização sobre o real.
Isso preocupa o governo, que estuda medidas para aumentar os impostos sobre empréstimos externos.
Rumores sobre essas medidas circulam desde fevereiro e fizeram a demanda por financiamento no exterior ganhar ímpeto. Bancos e empresas começaram a se antecipar às medidas do BC.
O resultado tem sido o ritmo recorde de envidamento do setor privado lá fora.
Parte dos recursos foram obtidos com q emissão de títulos no mercado externo. Outra parcela vem de empréstimos dos bancos.
Até filiais de multinacionais que atuam no Brasil aproveitaram essa onda. Entre janeiro e fevereiro deste ano, matrizes no exterior já emprestaram US$ 4,7 bilhões para suas filiais brasileiras.
O número é mais do que dobro do verificado no mesmo período de 2010 e o mais alto já registrado para um primeiro bimestre do ano.

A última vez em que ouvi falar desse tipo de corrida foi durante o "Milagre Brasileiro", e acabou com o Estado assumindo a divida privada e gerando sua falência que derivou na "Década Perdida" (por sinal até hoje alguns culpam os militares por isso, sem fazer uma análise mais profunda nesse tipo de acontecimento). 
O risco de isso acontecer novamente não é pequeno. O Japão que terá que promover sua reconstrução pode necessitar vender os titulos da dívida americana, e os EUA (que quem realmente vê, ainda corre sérios problemas devido a crise) podem mergulhar novamente numa espiral de problemas econômicos.

EUA e aliados cometem crimes monstruosos na Líbia

resistir info - 28 mar 2011

por Miguel Urbano Rodrigues 


Os EUA e os seus aliados repetem na Líbia crimes contra a humanidade similares aos cometidos no Iraque e no Afeganistão.

A agressão ao povo líbio difere das outras apenas porque o discurso que pretende justificá-la excede o imaginável no tocante à hipocrisia.

A encenação prévia, pela mentira e perfídia, traz à memória as concebidas por Hitler na preparação da anexação da Áustria e das campanhas que precederam a invasão da Checoslováquia e da Polónia.

Michel Chossudovsky, James Petras e outros escritores progressistas revelaram em sucessivos artigos – citando fontes credíveis – que a rebelião de Benghazi foi concebida com grande antecedência e minúcia e alertaram para o papel decisivo nela desempenhado pelos serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido.

A suposta hesitação dos EUA em apoiar a Resolução do Conselho de Segurança da ONU que criou a chamada zona de "Exclusão Aérea", e posteriormente, em assumir a "coordenação das operações militares" foi também uma grosseira mentira. Farsa idêntica caracterizou o debate em torno da transferência para a NATO do comando da operação dita "Amanhecer de Odisseia", titulo que ofende o nome e a epopeia do herói de Homero.

O Pentágono tinha elaborado planos de intervenção militar na Líbia muito antes das primeiras manifestações em Benghazi, quando ali apareceram as bandeiras da monarquia fantoche inventada pelos ingleses após a expulsão dos italianos. Tudo isso se acha descrito em documentos (alguns constantes de correspondência diplomática divulgada pela Wikileaks) que principiam agora a ser tornados públicos por webs alternativos.

OS CRIMES ENCOBERTOS

Os discursos dos responsáveis pela agressão ao povo líbio e a torrencial e massacrante campanha de desinformação montada pelos grandes media ocidentais, empenhados na defesa e apologia da intervenção militar, são diariamente desmentidos pela tragédia que se abateu sobre a Tripolitania, ou seja o ocidente do país controlado pelo Governo.

Hoje não é mais possível desmentir que o texto da Resolução do CS – que não teria sido aprovado sem a abstenção cúmplice da Rússia e da China – foi desafiadoramente violado pelos Estados agressores.

Os ataques aéreos não estavam previstos. Mas foram imediatamente desencadeados pela força aérea francesa e pelos navios de guerra dos EUA e do Reino Unido que dispararam em tempo mínimo mais de uma centena de mísseis de cruzeiro Tomahwac sobre alvos muito diferenciados.

Têm afirmado repetidamente os governantes dos EUA do Reino Unido, da França, da Itália que a "intervenção é humanitária" para proteger as populações e que "os danos colaterais" por ela provocados são mínimos.

Mentem consciente e descaradamente.

As "bombas inteligentes" não são cegas. Têm atingido, com grande precisão, depósitos de combustíveis e de produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais eléctricas, sedes de televisões e jornais. Reduziram a escombros a residência principal de Muamar Khadafi.

Um objectivo transparente foi a destruição da infra-estrutura produtiva da Líbia e da sua rede de comunicações.

Outro objectivo prioritário foi semear o terror entre a população civil das áreas bombardeadas.

Afirmaram repetidas vezes o secretário da Defesa Robert Gates e o secretário do Foreign Ofice, William Haggue que as forças daquilo a que chamam a «coligação» mandatada pelo Conselho de Segurança, não se desviaram das metas humanitárias de "Odisseia". Garantem que o número de vítimas civis tem sido mínimo e, na maioria dos bombardeamentos cirúrgicos, inexistente.

Não é o que informam os correspondentes de alguns influentes media ocidentais e árabes.

Segundo a Al Jazeera e jornalistas italianos, o "bombardeamento humanitário" de Adhjedabya foi na realidade uma matança sanguinária, executada com requintes de crueldade.

Outros repórteres utilizam a palavra tragédia para definir os quadros dantescos que presenciaram em bairros residenciais de Tripoli.

Generais e almirantes norte-americanos e britânicos insistem em negar que instalações não militares ou afins tenham sido atingidas. É outra mentira. As ruínas de um hospital de Tripoli e de duas clínicas de Ain Zara, apontadas ao céu azul do deserto líbio, expressam melhor do que quaisquer palavras a praxis dos "bombardeamentos humanitários". Jornalistas que as contemplaram e falaram com sobreviventes do massacre, afirmam que em Ain Zara não havia um só militar nem blindados, sequer armas.

Numa tirada de humor negro, no primeiro dia da agressão, um oficial dos EUA declarou que a artilharia anti aérea líbia ao abrir fogo contra os aviões aliados que bombardeavam Tripoli estava a "violar o cessar-fogo" declarado por Khadafi.

Cito o episódio por ser expressivo do desvario, do farisaísmo, do primarismo dos executantes da abjecta agressão ao povo líbio, definida como "nova cruzada" por Berlusconi, o clown neofascista da coligação ocidental.

Khadafi é o sucessor de Ben Laden como inimigo número um dos EUA e dos governantes que há poucos meses o abraçavam ainda fraternalmente.

O dirigente líbio não me inspira hoje respeito. Acredito que muitos dos seus compatriotas que participam na rebelião da Cirenaica e exigem o fim do seu regime despótico actuam movidos por objectivos louváveis.

Mas invocar a personalidade e os desmandos de Muamar Khadafi no esforço para apresentar como exigência de princípios e valores da humanidade a criminosa agressão ao povo de um país soberano é o desfecho repugnante de uma ambiciosa estratégia imperialista.

O subsolo líbio encerra as maiores reservas de petróleo (o dobro das norte-americanas) e de gás da África. Tomar posse delas é o objectivo inconfessado da falsa intervenção humanitária.

É dever de todas as forças progressistas que lutam contra a barbárie imperialista desmascarar a engrenagem que mundo afora qualifica de salvadora e democrática a monstruosa agressão à Líbia.

A Síria pode ser o próximo alvo. Isso quando não há uma palavra de crítica às monarquias teocráticas da Arábia Saudita, do Bahrein, dos Emirados.

Uma nota pessoal a terminar. Os líderes da direita europeia, de Sarkozy e Cameron à chanceler Merkel, cultivam nestes dias – repito – o discurso da hipocrisia. Nenhum, porém, consegue igualar na mentira e na desfaçatez a oratória de Barack Obama, que, pelos seus actos, responderá perante a História pela criminosa política externa do seu país, cujo povo merecia outro presidente.

Vila Nova de Gaia, 26/Março/2011
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2022

Serguei Lavrov considera apoio militar aos insurgentes líbios ingerência nos assuntos internos da Líbia

darussia.blogspot.com - Segunda-feira, Março 28, 2011

 Serguei Lavrov, Ministro dos Negócios estrangeiros da Rússia, considerou hoje que o apoio militar concedido pela coligação ocidental aos insurgentes líbios é, de fato, uma “ingerência” nos assuntos internos da Líbia.

“Consideramos que a ingerência da coligação numa guerra que, no fundo, é interna, civil, não foi sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU”, que previa o recurso à força para prioteger os civis contra a repressão do regime do coronel Muammar Kadhafi, declarou ele numa conferência de imprensa na capital russa.
“A defesa da população civil continua a ser a nossa prioridade”, disse, mas acrescentou: “há uma diferença sensível entre ataques aéreos contra os meios de defesa anti-aéreos líbios e contra colunas de tropas” fiéis ao dirigente da Líbia.
Serguei Lavrov reconheceu a legitimidade da entrega do comando à NATO da operação que está a ser realizada na Líbia, mas voltou a sublinhar que as operações militares devem exclusivamente visar a proteção da população civil.
“Essa decisão corresponde aos parâmetros previstos na resolução 1973. Nela está escrito que podem resolver as tarefas previstas no documento tanto países como organizações internacionais e regionais que se disponham para isso. A NATO é uma delas e, por isso, todos os processos foram observados”, precisou.
“Processos são processos, mas os poderes previstos na resolução podem ser utilizados apenas com o objetivo da população civil”, sublinhou.

As declarações de Lavrov são a primeira declaração dura de dirigentes oficiais russos na direção da coligação internacional depois do duelo verbal entre o primeiro-ministro Vladimir Putin e o Presidente Dmitri Medvedev,
Na semana passada, Putin comparou a resolução da ONU a um apelo às cruzadas medievais e condenou a “ingerência” nos assuntos de Estados soberanos como a Líbia. Medvedev saiu em defesa dessa resolução e conmsiderou incorreta a comparação feita por Putin.
É difícil compreender a posição da diplomacia da Rússia. A resolução 1973 do CS da ONU, que foi aprovada também graças à abstenção de Moscovo, visa proteger a população civil dos ataques das tropas fiéis a Kadhafi. Ora, para realizar esse objetivo, a coligação internacional fechou o espaço aéreo líbio e tenta enfraquecer ao máximo o poderio militar do ditador líbio. Se a coligação não deve recorrer a meios militares, como pode ajudar de outra forma a população civil, leia-se a oposição ao regime de Kadhafi?
E que medidas propõe Moscovo para defender a população civil? Um cessar de fogo. Mas se a oportunidade de se conseguir isso, se é que existiu alguma vez, passou, como conseguir agora o fim dos confrontos?
Por vezes, a política externa russa faz lembrar a política externa soviética de Andrei Gromiko, que passou à história com o cognome de "senhor niet" (senhor não). Os princípios seguidos na guerra fria continuam a ser fielmente seguidos.
Mas, às vezes, as posições da política externa russa parecem completamente cínicas, tentando garantir uma boa posição independentemente do desfecho dos conflitos. Se Kadhafi for afastado do poder, Lavrov poderá dizer que a Rússia contribuiu para isso ao não vetar a resolução do CS da ONU, mas se conseguir manter-se no poder, ele poderá dizer ao coronel que sempre nos manifestámos contra a ingerência externa, etc., etc.
Sublinho que, quanto ao cinismo na política externa, a Rússia não está sozinha, bem pelo contrário, está bem acompanhada pelas grandes potências
No entanto, também não se pode pôr de lado a possibilidade de Lavrov ser o porta-voz de Putin na política externa russa, desobedecendo às ordens do Presidente Medvedev.
Seja como for, vamos ver o resultado de semelhante política. A Rússia tem fortes interesses económicos e militares na Líbia, resta saber se os conseguirá conservar.
 
Jose Milhazes em outra postagem no seu blog afirma que "Vladimir Tchamov, ex-embaixador russo em Tripoli, que foi afastado do cargo na véspera da votação de sanções contra a Líbia no Conselho de Segurança da ONU, acusou o Presidente Dmitri Medvedev de ter traído os interesses da Rússia ao deixar passar as sanções".
 

Cercando a Rússia e a China com a mão do gato

Site do Azenha - 29 de março de 2011 às 0:44

Cercar a Rússia, visar a China: O verdadeiro papel da NATO na grande estratégia dos EUA

Diana Johnstone*, em 02.12.10, no Diario.info, sugestão do pessoal da Vila Vudu, ajustado para o brasileiro
Embora escrito antes da Cúpula da OTAN em Lisboa, este texto de Diana Johnstone mantém toda a atualidade. Depois de desmascarar os objetivos da OTAN, a autora conclui: “Os governos euro-atlânticos proclamam a sua «democracia» como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os «direitos humanos são necessários para a paz», proclamam o seu direito de fazer a guerra. Uma questão crucial é se a «democracia ocidental» ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais:
Nos dias 19 e 20 de Novembro, reúnem-se em Lisboa dirigentes da OTAN numa cúpula chamada de “Conceito Estratégico da OTAN”. Entre os tópicos para discussão encontra-se uma série de “ameaças” assustadoras, desde a guerra cibernética até à alteração climática, assim como belas coisas protetoras como armas nucleares e uma inútil Linha Maginot de alta tecnologia destinada a fazer parar os mísseis inimigos em pleno vôo. Os dirigentes da OTAN não conseguirão evitar falar da guerra no Afeganistão, essa cruzada interminável que une o mundo civilizado contra o esquivo Velho da Montanha, Hassan i Sabah, chefe dos Assassinos do século onze na sua mais recente encarnação como Osama bin Laden. Sem dúvida vai haver muita conversa sobre os “nossos valores comuns”.
A maior parte do que vai ser discutido é ficção com uma etiqueta de preço.
A única coisa que falta na agenda da cúpula Conceito Estratégico é uma discussão a sério sobre estratégia.
Isto, em parte, resulta de a OTAN, enquanto tal, não ter qualquer estratégia, e não poder ter a sua própria estratégia. A OTAN é na verdade um instrumento da estratégia dos Estados Unidos. O seu único Conceito Estratégico operacional é o que é posto em prática pelos Estados Unidos. Mas até esse é um fantasma esquivo. Segundo parece, os dirigentes americanos preferem posições impressionantes, “soluções espetaculares”, em vez de definirem estratégias.
Um dos que pretendem definir uma estratégia é Zbigniew Brzezinski, padrinho dos mujahidin afegãos quando estes podiam ser utilizados para destruir a União Soviética. Brzezinski não evitou declarar abertamente o objetivo estratégico da política dos Estados Unidos no seu livro de 1993, O Grande Tabuleiro de Xadrez: “A supremacia americana”.
Quanto à OTAN, descreveu-a como uma das instituições que servem para perpetuar a hegemonia americana, “fazendo dos Estados Unidos um participante-chave até nos assuntos intra-europeus”. Na sua “rede global de instituições especializadas”, que obviamente incluem a NATO, os Estados Unidos exercem o seu poder através de uma “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal, apesar de o poder ser sempre proveniente duma única fonte, nomeadamente, Washington, D.C.”
Esta descrição cai como uma luva na conferência “Conceito Estratégico” de Lisboa. Na semana passada, o secretário-geral dinamarquês da NATO, Anders Fogh Rasmussen, anunciou que “estamos muito perto de um consenso”. E este consenso, de acordo com o New York Times, “seguirá provavelmente a formulação do presidente Barack Obama: trabalhar para um mundo não nuclear mantendo, apesar disso, um dissuasor nuclear”.
Esperem aí, será que isto faz sentido? Não, mas é o tipo de consenso da OTAN. A paz através da guerra, o desarmamento nuclear através do armamento nuclear, e acima de tudo, a defesa dos estados membros enviando forças expedicionárias para enfurecer os nativos de países distantes.
Uma estratégia não é um consenso escrito por comissões.
O método americano de “permanente negociação, diálogo, difusão e procura de um consenso formal” neutraliza qualquer resistência que possa aparecer ocasionalmente. Assim, a Alemanha e a França resistiram inicialmente à entrada da Geórgia na OTAN, assim como ao célebre “escudo anti-míssil”, considerados ambos como provocações abertas capazes de provocar uma nova corrida às armas com a Rússia e de prejudicar as frutuosas relações da Alemanha e da França com Moscou, sem qualquer resultado útil. Mas os Estados Unidos não aceitam um não como resposta, e continuam a repetir os seus imperativos até esmorecer a resistência. A única exceção recente foi a recusa da França em aderir à invasão do Iraque, mas a reação irritada dos Estados Unidos assustou a classe política conservadora francesa, o que levou ao apoio de Nicolas Sarkozy, pró-americano.
À procura de “ameaças” e “desafios”
O verdadeiro conteúdo do que passa por um “conceito estratégico” foi declarado pela primeira vez e posto em ação na primavera de 1999, quando a OTAN desafiou a lei internacional, as Nações Unidas e a sua própria carta inicial entrando numa guerra agressiva, fora do seu perímetro de defesa, contra a Iugoslávia. Esse passo transformou a OTAN de uma aliança defensiva para uma aliança ofensiva. Dez anos depois, a madrinha dessa guerra, Madeleine Albright, foi escolhida para presidir o “grupo de especialistas” que passou vários meses realizando seminários, consultas e reuniões para preparação da agenda de Lisboa.
Entre os mais importantes nesses encontros estavam Lord Peter Levene, presidente do Lloyd’s de Londres, a gigantesca seguradora, e o antigo diretor executivo da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer. Estas figuras da classe dirigente não são propriamente estrategistas militares, mas a sua participação serve para garantir à comunidade internacional de negócios que vão ser levados em consideração os seus interesses a nível mundial.
É bem verdade que o rol de ameaças enumeradas por Rasmussen num discurso do ano passado dava a entender que a OTAN trabalhava para a indústria dos seguros. Disse ser necessário que a OTAN tratasse do combate à pirataria, da segurança cibernética, da alteração climática, de incidentes radicais do clima tais como tempestades e inundações catastróficas, da elevação dos níveis do mar, da movimentação em grande escala de populações para áreas desabitadas, por vezes atravessando fronteiras, da escassez de água, secas, da diminuição da produção de alimentos, do aquecimento global, das emissões de CO2, do recuo dos gelos do Ártico, que revelam recursos até agora inacessíveis, da eficiência de combustíveis, da dependência de recursos externos, etc.
A maior parte das ameaças apresentadas nem mesmo de longe podem ser interpretadas como exigindo soluções militares. Obviamente, não são os “estados vilões” nem os “bastiões de tirania” nem os “terroristas internacionais” que são responsáveis pela alteração climática, no entanto Rasmussen apresenta-os como desafios para a OTAN.
Por outro lado, alguns dos resultados destes cenários, como os movimentos de populações provocados pela elevação dos níveis do mar ou pela seca, podem de fato ser considerados como potenciais causas de crises. O aspecto sinistro desta enumeração é precisamente que esses problemas são avidamente agarrados pela OTAN como exigindo soluções militares.
A maior ameaça para a OTAN é ficar obsoleta. E a procura de um “conceito estratégico” é a procura de pretextos para se manter em ação.
A ameaça da OTAN para o mundo
Embora ande à procura de ameaças, é a própria OTAN que constitui uma ameaça crescente para o mundo. A ameaça básica é a sua contribuição para o reforço da tendência liderada pelos Estados Unidos para abandonar a diplomacia e as negociações em favor da força militar. Isto percebe-se claramente quando Rasmussen inclui os fenômenos climáticos na sua lista de ameaças para a OTAN, quando eles deviam ser, pelo contrário, problemas para a diplomacia e negociações internacionais. O perigo crescente é que a diplomacia ocidental está moribunda. Os Estados Unidos deram o tom: nós somos virtuosos, nós temos o poder, o resto do mundo tem que obedecer, senão…
A diplomacia é desprezada como sendo uma fraqueza. O Departamento de Estado há muito que deixou de estar no centro da política externa dos Estados Unidos. Com a sua ampla rede de bases militares em todo o mundo, assim como adidos militares em embaixadas e inúmeras missões em países clientes, o Pentágono é incomparavelmente mais poderoso e influente no mundo que o Departamento de Estado.
Os últimos secretários de Estado, longe de procurarem alternativas diplomáticas à guerra, desempenharam de fato um papel preponderante na defesa da guerra em vez da diplomacia, desde Madeleine Albright nos Balcãs ou Colin Powell acenando com falsos tubos de ensaio no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A política é definida pelo Conselheiro de Segurança Nacional, por diversos grupos de opinião financiados por privados e pelo Pentágono, com a intervenção de um Congresso que, por sua vez, é formado por políticos ansiosos em obter contratos militares para as suas clientelas.
A OTAN está arrastando os aliados europeus de Washington pelo mesmo caminho. Tal como o Pentágono substituiu o Departamento de Estado, a OTAN está a ser utilizada pelos Estados Unidos como um potencial substituto para as Nações Unidas. A “guerra do Kosovo” de 1999 foi um primeiro passo importante nessa direção. A França de Sarkozy, depois de ter entrado no comando conjunto da OTAN, está  destruindo os serviços de diplomacia franceses, tradicionalmente competentes, reduzindo a sua representação civil em todo o mundo. Os serviços de relações externas da União Europeia que estão sendo criados por Lady Ashton não vão ter nem política nem autoridade próprias.
Inércia burocrática
Por detrás dos seus apelos aos “valores comuns”, a OTAN é impulsionada sobretudo pela sua inércia burocrática. A própria aliança é uma excrescência do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Há sessenta anos que as aquisições militares e os contratos do Pentágono têm sido uma fonte essencial da investigação industrial, dos seus lucros, de empregos, de carreiras no Congresso e até mesmo de financiamentos universitários. A interação destes diversos interesses converge para determinar uma estratégia implícita dos Estados Unidos de conquista do mundo.
Uma rede global sempre em expansão, de 800 a mil bases militares em solo estrangeiro.
Acordos militares bilaterais com estados-clientes que oferecem formação em troca da compra obrigatória de armas fabricadas nos Estados Unidos e da reestruturação das suas forças armadas, trocando a defesa nacional pela segurança interna (ou seja, repressão) e a possível integração nas guerras de agressão lideradas pelos Estados Unidos.
Utilização dessas relações estreitas com as forças armadas locais para influenciar a política interna de estados mais fracos.
Exercícios militares permanentes com estados clientes, que fornecem ao Pentágono um conhecimento perfeito sobre o potencial militar dos estados clientes, os integram na máquina militar dos Estados Unidos e alimentam uma mentalidade de “prontos para a guerra”.
Posicionamento estratégico da sua rede de bases, exercícios com “aliados” e militares de forma a cercar, isolar, intimidar e acabar por provocar importantes nações consideradas potenciais rivais, nomeadamente a Rússia e a China.
A estratégia implícita dos Estados Unidos, tal como as suas ações dão a entender, é uma conquista militar gradual para garantir o domínio do mundo. Uma característica original deste projeto de conquista do mundo é que, embora extremamente ativo, dia após dia, é praticamente ignorado pela grande maioria da população da nação conquistadora, assim como pelos seus aliados mais estreitamente dominados, ou seja, pelos estados da OTAN.
A propaganda infindável acerca das “ameaças terroristas” (as pulgas do elefante) e outras diversões mantêm a maioria dos americanos totalmente inconscientes quanto ao que está acontecendo, tanto mais facilmente quanto os americanos praticamente desconhecem o o resto do mundo e portanto não se interessam minimamente. Os Estados Unidos podem varrer do mapa um país antes que a grande maioria dos americanos saiba onde é que ele se encontra.
A tarefa principal dos estrategistas dos Estados Unidos, cujas carreiras passam pelos grupos de opinião, conselhos de diretores, firmas de consultoria e governo, é muito mais justificar este gigantesco mecanismo do que tentar dirigí-lo. Em grande medida, ele dirige-se a si mesmo.
Desde o colapso da “ameaça soviética”, que os políticos andam à procura de ameaças invisíveis ou potenciais. A doutrina militar dos Estados Unidos tem como objetivo atuar preventivamente contra qualquer rival potencial para a hegemonia mundial dos Estados Unidos. Desde o colapso da União Soviética, é a Rússia que mantém o maior arsenal bélico para além dos Estados Unidos e a China está crescendo rapidamente em poder económico. Nenhum deles ameaça os Estados Unidos ou a Europa ocidental. Pelo contrário, ambos estão dispostos e desejosos de se concentrarem em negócios pacíficos.
Mas encontram-se cada vez mais alarmados com o cerco militar e com os exercícios militares provocatórios realizados pelos Estados Unidos mesmo à sua porta. A implícita estratégia agressiva pode ser obscura para a maioria dos americanos, mas é certeza absoluta que os dirigentes dos países visados percebem o que está acontecendo.
O Triângulo Rússia-Irã-Israel
Actualmente, o principal “inimigo” explícito é o Irã.
Washington afirma que o “escudo anti-míssil”, que  tenta impor aos seus aliados europeus, se destina a defender o ocidente do Irã. Mas os russos vêem muito claramente que o escudo anti-míssil está virado contra eles. Primeiro de tudo, sabem perfeitamente bem que o Irã não tem mísseis desses nem nenhum motivo para os usar contra o ocidente. É perfeitamente óbvio para todos os analistas bem informados que, mesmo que o Irã desenvolvesse armas nucleares e mísseis, seriam destinados a funcionar como dissuasor contra Israel, a superpotência nuclear regional que tem mãos livres para atacar os países vizinhos. Israel não quer perder essa liberdade de atacar, e naturalmente opõe-se ao dissuasor iraniano.
Os propagandistas israelenses clamam em voz alta contra a ameaça do Irã, e têm trabalhado incansavelmente para infectar a OTAN com a sua paranóia.
Israel até já foi descrita como o “29º membro da OTAN global”. Os funcionários israelenses têm trabalhado assiduamente junto de uma Madeleine Albright receptiva para se assegurarem de que os interesses israelenses são incluídos no “Conceito Estratégico”. Nos últimos cinco anos, Israel e a OTAN tomaram parte em exercícios navais conjuntos no Mar Vermelho e no Mediterrâneo, assim como em exercícios terrestres conjuntos desde Bruxelas até à Ucrânia. Em 16 de outubro de 2006, Israel tornou-se no primeiro país não europeu a fazer um acordo chamado “Programa de Cooperação Individual” com a OTAN para cooperação em 27 áreas diferentes.
Vale a pena notar que Israel é o único país fora da Europa que os Estados Unidos incluem na área da responsabilidade de seu Comando Europeu (em vez do Comando Central que cobre o resto do Médio Oriente).
Num seminário de Relações OTAN-Israel em Herzliya em 24 de Outubro de 2006, a ministra de relações exteriores israelense de então, Tzipi Livni, declarou que “a aliança entre a OTAN e Israel é uma coisa natural… Israel e a OTAN partilham uma visão estratégica comum. Sob muitos aspectos, Israel é a linha da frente que defende o nosso estilo de vida comum”.
Nem toda a gente nos países europeus considera que os colonatos israelenses na Palestina ocupada refletem “o nosso estilo de vida comum”.
Esta é sem dúvida uma das razões pelas quais o aprofundamento da união entre a OTAN e Israel não assumiu a forma aberta de dar a Israel uma vaga na OTAN. Principalmente depois do selvagem ataque a Gaza, uma decisão dessas iria levantar objeções nos países europeus. No entanto, Israel continua a fazer-se convidado da OTAN, apoiado ardentemente, claro, pelos seus fieis seguidores no Congresso dos Estados Unidos.
A causa principal desta crescente simbiose Israel-OTAN foi identificada por Mearsheimer e Walt: é o vigoroso e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos. [1]
Os lobbies israelenses também são fortes na França, na Grã-Bretanha e no Reino Unido. Têm desenvolvido com entusiasmo o tema de Israel como a “linha da frente” na defesa dos “valores ocidentais” contra o islã militante. O facto de o islã militante ser principalmente um produto dessa “linha da frente” cria um círculo vicioso perfeito.
A atitude agressiva de Israel para com os seus vizinhos regionais seria uma responsabilidade grave para a OTAN, capaz de ser arrastada para guerras do interesse de Israel que não interessam mesmo nada à Europa.
Mas há uma sutil vantagem estratégica na conexão israelense que, segundo parece, está sendo usado pelos Estados Unidos… contra a Rússia.
Subscrevendo a histérica teoria da “ameaça iraniana”, os Estados Unidos podem continuar a afirmar, sem corar, que o planjado escudo anti-míssil é dirigido contra o Irã, e não contra a Rússia. Não é que esperem convencer os russos. Mas pode ser utilizado para fazer com que os protestos deles pareçam “paranóicos” – pelo menos aos ouvidos dos ingênuos ocidentais. Meu caro, de que é que eles se queixam, se nós “restabelecemos” as nossas relações com Moscou e convidamos o presidente russo para a nossa alegre assembleia de “Conceito Estratégico?
No entanto, os russos sabem muito bem que:
O escudo anti-míssil vai ser construído em volta da Rússia, que tem mísseis, que mantem como dissuasores.
Neutralizando os mísseis russos, os Estados Unidos ficam de mãos livres para atacar a Rússia, sabendo que a Rússia não pode retaliar.
Portanto, digam o que disserem, o escudo anti-míssil, se funcionar, servirá para facilitar uma eventual agressão contra a Rússia.
O cerco em volta da Rússia
O cerco em volta da Rússia continua no Mar Vermelho, no Báltico e no círculo Ártico.
Funcionários dos Estados Unidos continuam a afirmar que a Ucrânia deve integrar a OTAN.
Ainda esta semana, numa coluna do New York Times, Ian J. Brzezinski, filho de Zbigniew, avisou Obama quanto ao perigo do abandono da “visão” de uma Europa “unida, livre e segura” incluindo “a inclusão da Geórgia e da Ucrânia na OTAN e na União Europeia”. O fato de a grande maioria da população da Ucrânia ser contra a entrada na OTAN não foi levada em consideração.
Para o atual rebento da nobre dinastia Brzezinski é a minoria que conta. Abandonar a visão “isola os que, na Geórgia e na Ucrânia, vêem o seu futuro na Europa. Reforça as aspirações do Kremlin a uma esfera de influência…”
A noção de que “o Kremlin” aspira a uma “esfera de influência” na Ucrânia é absurda, considerando os laços históricos extremamente fortes entre a Rússia e a Ucrânia, cuja capital Kiev foi o berço do estado russo. Mas a família Brzezinski é proveniente da Galícia, a parte da Ucrânia ocidental que pertenceu outrora à Polônia, e que é o centro da minoria anti-russa. A política externa dos Estados Unidos é frequentemente influenciada por essas rivalidades estrangeiras que a grande maioria dos americanos ignora completamente.
Os Estados Unidos continuam com a sua insistência incansável em absorver a Ucrânia, apesar de isso implicar a expulsão da frota russa do Mar Negro da sua base na península da Crimeia, onde a população local é esmagadoramente de língua russa e pró-russa. Isto é a receita para uma guerra com a Rússia, se alguma vez ocorrer.
E entretanto os funcionários americanos continuam a declarar o seu apoio à Geórgia, cujo presidente treinado pelos americanos espera abertamente levar a OTAN a apoiar a sua próxima guerra contra a Rússia.
Para além das manobras navais provocatórias no Mar Negro, os Estados Unidos, a OTAN e a Suécia e a Finlândia que não são (ainda) membros da OTAN, realizam regularmente importantes exercícios militares no Mar Báltico, praticamente à vista das cidades russas de São Petersburgo e Kaliningrado. Estes exercícios envolvem milhares de efetivos terrestres, centenas de aeronaves, incluindo os caças a jato F-15, aviões AWACS, assim como forças navais que incluem o U.S. Carrier Strike Group 12, barcos de desembarque e navios de guerra de uma dúzia de países.
Talvez o mais sinistro disto tudo, os Estados Unidos têm envolvido persistentemente, na região do Ártico, o Canadá e os estados escandinavos (incluindo a Dinamarca através da Gronelândia) num posicionamento estratégico militar abertamente dirigido contra a Rússia. O objetivo deste posicionamento no Ártico foi afirmado por Fogh Rasmussen quando referiu, entre as “ameaças” que a OTAN tem que enfrentar, o fato de que o “gelo do Ártico está recuando, libertando recursos que até agora têm estado cobertos pelos gelos”.
Ora bem, podíamos pensar que esta descoberta de recursos seria uma oportunidade para a cooperação na sua exploração. Mas não é essa a disposição oficial dos Estados Unidos.
Em outubro passado, o almirante americano James G. Stavridis, comandante supremo da OTAN na Europa, disse que o aquecimento global e a corrida aos recursos podia levar a um conflito no Ártico. O almirante Christopher C. Colvin, da Guarda Costeira, responsável pela linha costeira do Alasca, disse que a atividade mercante marítima russa no Oceano Ártico constituía uma “preocupação especial” para os Estados Unidos e pediu mais recursos militares na região.
O Serviço Geológico dos EUA crê que o Ártico contém um quarto dos depósitos mundiais inexplorados de petróleo e de gás. Sob a Convenção da Lei dos Mares das Nações Unidas, de 1982, um estado costeiro tem direito a uma EEZ [Zona Económica Exclusiva] de 200 milhas náuticas e pode reclamar mais 150 milhas se provar que o fundo do mar é a continuação da sua plataforma continental.
A Rússia está requerendo isso.
Depois de pressionar o resto do mundo a adoptar a Convenção, o Senado dos Estados Unidos ainda não ratificou o Tratado.
Em janeiro de 2009, a OTAN declarou que o “Alto Norte” era de “interesse estratégico para a Aliança” e, desde então, a OTAN tem realizado vários importantes jogos de guerra nitidamente em preparação de um eventual conflito com a Rússia sobre os recursos do Ártico.
A Rússia desmantelou fortemente as suas defesas no Ártico depois do colapso da União Soviética e tem apelado para a negociação de compromissos quanto ao controle de recursos.
Em setembro passado, o primeiro-ministro Vladimir Putin apelou por esforços conjuntos para proteger o frágil ecossistema, atrair o investimento estrangeiro, promover tecnologias amigáveis ao ambiente e tentar solucionar as disputas através da lei internacional.
Mas os Estados Unidos, como de costume, preferem resolver as questões pela força. Isso pode levar a uma nova corrida armamentista no Ártico e até mesmo a confrontos armados.
Apesar de todas estas movimentações provocatórias, é muito pouco provável que os Estados Unidos procurem uma guerra com a Rússia, embora não se possam excluir confrontos e incidentes aqui e além.
Segundo parece, a política dos Estados Unidos é cercar e intimidar a Rússia de tal modo que ela aceite um estatuto de semi-satélite que a neutralize no futuro conflito previsível com a China.
O alvo China
A única razão para ter a China na mira é a mesma da razão proverbial para escalar a montanha: ela está ali. É grande. E os Estados Unidos têm que estar no topo de tudo.
A estratégia para dominar a China é a mesma seguida para com a Rússia. É a guerra clássica: cerco, assédio, apoio mais ou menos clandestino a questões internas.
Como exemplos desta estratégia:
Os Estados Unidos estão reforçando de forma provocativa a sua presença militar ao longo das costas chinesas do Pacífico, oferecendo “proteção contra a China” a países asiáticos do leste.
Durante a guerra fria, quando a Índia recebia o seu armamento da União Soviética e assumia uma postura não alinhada, os Estados Unidos armaram o Paquistão como seu principal aliado regional. Agora os Estados Unidos estão desviando os seus favores para a Índia, a fim de manter a Índia fora da órbita da Organização de Cooperação Xangai e de a utilizar como um contrapeso à China.
Os Estados Unidos e seus aliados apoiam qualquer dissidência interna que possa enfraquecer a China, seja o Dalai Lama, os Uighurs, ou Liu Xiaobo, o dissidente preso.
O Prêmio Nobel da Paz foi atribuído a Liu Xiaobo por uma comissão de legisladores noruegueses chefiados por Thorbjorn Jagland, o eco de Tony Blair na Noruega, que foi primeiro-ministro e ministro das relações exteriores da Noruega, e tem sido um dos principais defensores da OTAN em seu país.
Numa conferência patrocinada pela OTAN de parlamentares europeus no ano passado, Jagland declarou: “Quando somos incapazes de impedir a tirania, começa a guerra. É por isso que a OTAN é indispensável. A OTAN é a única organização militar multilateral com raízes na lei internacional. É uma organização que a ONU pode usar quando necessário – para impedir a tirania, tal como fizemos nos Balcãs”. Isto é uma espantosa adulteração dos fatos, considerando que a OTAN desafiou abertamente a lei internacional e as Nações Unidas quando declarou guerra nos Balcãs – onde na realidade havia conflitos étnicos mas não havia “tirania” alguma.
Ao anunciar a escolha de Liu, a comissão norueguesa do Nobel, chefiada por Jagland, declarou que “há muito que considerava que há uma estreita ligação entre os direitos humanos e a paz”. A “estreita ligação”, para seguir a lógica das próprias afirmações de Jagland, é que, se um estado estrangeiro não respeita os direitos humanos segundo as interpretações ocidentais, pode ser bombardeado, tal como a OTAN bombardeou a Iugoslávia. De fato, os mesmos poderes que mais barulho fizeram sobre os “direitos humanos”, nomeadamente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, são os que mais guerras fazem em todo o mundo. As afirmações do norueguês tornam claro que a atribuição do Prêmio Nobel da Paz a Liu (que passou algum tempo na Noruega quando jovem) correspondia na realidade a uma confirmação da OTAN.
“Democracias” para substituir as Nações Unidas
Os membros europeus da OTAN pouco acrescentam ao poder militar dos Estados Unidos. A sua contribuição é acima de tudo política. A sua presença mantém a ilusão duma “Comunidade Internacional”. A conquista do mundo que está sendo tentada pela inércia burocrática do Pentágono pode ser apresentada como a cruzada das “democracias” do mundo para espalhar a sua ordem política esclarecida pelo resto de um mundo recalcitrante.
Os governos euro-atlânticos proclamam a sua “democracia” como prova do seu direito absoluto de intervir nos assuntos do resto do mundo. Com base na falácia de que os “direitos humanos são necessários para a paz”, proclamam o seu direito a fazer a guerra.
Uma questão crucial é se a “democracia ocidental” ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra antes que seja tarde demais.
* Diana Johnstone é analista de política internacional especializada em assuntos militares
[1] No seu livro “The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy” (2007), descrevem este lobby como uma “coligação informal de indivíduos e organizações que trabalham ativamente para guiar a política externa dos Estados Unidos numa direcção pró-Israel”. O livro “concentra-se principalmente na influência do lobby sobre a política externa dos Estados Unidos e nos seus efeitos negativos para os interesses americanos” (N.T.)
Tradução de Margarida Ferreira
PS do Viomundo: Brilhantes analistas descobriram virtudes no texto do voto brasileiro que aprovou o envio de um investigador dos Direitos Humanos ao Irã. Teria sido um tapa com luva de pelica nos Estados Unidos. [Pausa para a gargalhada]. Podem esperar sentados por uma articulação internacional que resulte numa investigação de Guantánamo. [Pausa para nova gargalhada]. O que interessa a Washington é isolar o Irã politicamente para facilitar a troca de regime. O resto é delírio tropical.

Os falcões querem a cabeça de Mantega

site do Azenha - 29 de março de 2011 às 2:32

O ministro no alvo
da CartaCapital, em 27/03/2011, reproduzido no site da Copel
Dispostos a liquidar a continuidade da política econômica e restabelecer a ortodoxia, os mercados fiam-se em Palocci para investir contra Mantega

GUIDO MANTEGA considerava que o pior havia passado. A entrevista da presidenta Dilma Rousseff ao jornal Valor e as sucessivas mensagens do Palácio do Planalto de apoio à política econômica fizeram brotar no ministro da Fazenda a sensação de que a campanha do mercado financeiro a favor de sua demissão pode até ser estimulada, senão tramada, entre as divisórias do espaçoso gabinete do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, mas de lá nunca passou. As pressões, de fato, haviam diminuído consideravelmente.
Mas eis que um lance fortuito recolocou Mantega na linha de tiro. Na segunda-feira 21, uma reunião do ministro com o presidente do conselho do Bradesco, Lázaro Brandão, vazou à imprensa. No encontro, Mantega teria solicitado a substituição de Roger Agnelli na presidência da Vale, empresa de capital misto, mas que tem entre seus principais acionistas o BNDESpar e os fundos de pensão de estatais. Ainda que até os homens-sanduíches prostrados nas imediações da Bolsa de Valores de São Paulo conheçam a insatisfação do governo com a gestão de Agnelli, o vazamento deu nova munição aos críticos de Mantega e à oposição ávida por temas para confrontar o Palácio.
Líderes oposicionistas como Aécio Neves e José Serra criticaram o intervencionismo estatal na mineradora privatizada em 1997. Duas comissões do Congresso, a de Fiscalização e Controle da Câmara e a de Assuntos Econômicos do Senado, querem convocar o ministro a dar explicações. Um movimento de defesa da permanência de Agnelli, cuja espontaneidade não está totalmente clara, ganhou corpo na Vale. Além de um abaixo-assinado, funcionários da empresa anunciavam a intenção de trabalhar com roupas pretas numa espécie de luto pelo afastamento do executivo que comanda a mineradora há uma década. E falou-se na possibilidade de um pedido de demissão conjunta da diretoria.
Ao longo da semana, circularam diversas versões sobre o encontro entre Mantega e Brandão. Em círculos petistas, vigorava a tese de que o ministro te ria tratado com a pessoa errada no Bradesco. Brandão apoiaria Agnelli, que não contaria com a simpatia do presidente do banco, Antonio Carlos Trabuco. Por esse motivo, o teor da reunião teria chegado aos ouvidos de aliados do executivo da Vale e em seguida aos jornais.
Gente ligada à Fazenda contava outra história. Quem teria solicitado a conversa teria sido Brandão, ansioso por uma definição rápida de um assunto que desgasta a imagem da companhia há meses. Instruído pelo Planalto, Mantega recebeu o banqueiro em seu escritório em São Paulo e iniciou as negociações. Um acordo teria sido selado com o Bradesco: o substituto seria alguém da própria mi neradora. Na quinta 24, após a especulação de ao menos meia dúzia de sucessores, todos executivos com passagens por grandes empresas e sem ligação com o governo, ventilava-se o nome de Tito Botelho, atual diretor-presidente da Inco, subsidiária da Vale no Canadá.
A série de queixas do governo, acumuladas desde o tempo em que Dilma comandava a Casa Civil e os principais investimentos públicos, é conhecida. Apesar de ter negociado os reajustes de preços do minério que possibilitaram lucros recordes nos últimos anos, Agnelli, na visão de Brasília, é personalista em excesso, usa as estruturas mais para promover a si mesmo do que à companhia, e não compartilha a ideia de que a Vale, por sua dimensão e papel estratégico, não pode pensar apenas em maximizar o lucro dos acionistas. Integrantes da Esplanada sempre citam a opção do executivo por encomendar navios na Ásia em vez de compra-los de estaleiros brasileiros.
A recuperação da indústria naval, agonizante na era FHC, é um dos grandes orgulhos de Lula. Agnelli justificou com o argumento de que o setor nacional, ainda em reconstrução e abarrotado por encomendas da Petrobras, não estava preparado para atender à demanda da mineradora no prazo exigido e a preços competitivos. O presidente da Vale tem dito a interlocutores esperar uma decisão rápida, mas gostaria de negociar uma transição mais lenta, de forma a não atrapalhar os atuais planos da empresa.
Não se sabe por quanto tempo o assunto interessará à oposição, que tem sido estimulada pelo próprio Agnelli, mais próximo do PSDB desde o início da disputa pessoal com os petistas. Mas os piores adversários de Mantega não se encontram no Congresso. Embora as expressões públicas de beatitude de Antonio Palocci – e seu silêncio jesuíta possam comover até o papa Bento XVI, um manancial de intrigas parece jorrar sistematicamente da Casa Civil. Palocci, sabe-se, é uma espécie de ouvidor das butiques bancárias. O problema é que, em vez de acalmar os aflitos, ele semeia dúvidas e ceva os preconceitos. E tem o hábito de se apresentar como cgr de uma estabilidade que não depende dele. Suas movimentações nada discretas acabaram por chamar a atenção do Planalto. Na terça 22, em entrevista ao portal IG, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não poderia ter sido mais explícito: “O Palocci é suficientemente inteligente para não entrar em nenhuma disputa. Ele sabe que, cada vez que entrarem uma disputa, perde autoridade”.
É uma situação peculiar. Economista, professor da Fundação Getulio Vargas, Mantega sofre resistências nas finanças pelo simples fato de pensar de forma autônoma e em sentido contrário. Hoje é chamado de “gastador”, em decorrência das medidas anticíclicas que possibilitaram à economia brasileira recuperar em tempo recorde as perdas do estouro da bolha norte-americana no fim de 2008, início de 2009. Trata-se do mesmo ministro que manteve os superávits primários nos dois anos anteriores e que agora comanda o ajuste necessário das contas públicas. O mercado, “técnico”, preferiria ver na Fazenda o médico sanitarista que exibe um fervor ortodoxo típico dos neófitos, dos recém convertidos. Cabeças mais inteligentes do setor financeiro talvez pudessem se perguntar se, após o desastre de 2008, não teria ficado claro que meros fantoches acabam por se tornar um risco ao próprio sistema e a seus lucros.
Fontes do Palácio garantem que Dilma Rousseff tem sido sincera ao defender o ministro da Fazenda e está convicta de que a guerra das expectativas em torno da inflação será vencida quando os índices começarem a mostrar claramente o recuo na alta de preços, o que deve ocorrera partir do meio do ano. A presidenta, não se pode esquecer, integra a ala desenvolvimentista que dominou o segundo mandato de Lula e que hoje predomina no governo. Para esse grupo, o Brasil só conseguiu crescer e gerar empregos e renda após a inflexão “desenvolvimentista” a partir de 2006. A mudança de rumo coincide justamente com a queda de Palocci na esteira do escândalo da quebra do sigilo do caseiro Francenildo e a nomeação de Mantega. A mesma turma vê com ressalvas o novo ciclo de aperto monetário e alta dos juros, atribuída ao retorno de Palocci.
O apoio ao ministro da Fazenda não significa que Dilma o isente de críticas. A presidenta teria ficado especialmente irritada quando Mantega, durante a entrevista coletiva na qual foi anuncia do o corte de 50 bilhões de reais, decla. rou que a inflação não preocupava o governo. A entrevista ao Valor, entre outros motivos, visava corrigir esse erro Dilma acha ainda, segundo um assessor próximo, que o ministro não compreendeu seu estilo de decidir, baseado na preferência por encontros individuais e objetivos com subordinados em vez de extensas reuniões coletivas, convocadas apenas para dirimir divergências extremas. Na área econômica, seus principais interlocutores, além do titular da Fazenda, são o secretário Nelson Barbosa, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e, claro, Palocci. Segundo uma fonte do Planalto, Mantega se incomoda quando os encontros não o envolvem.
O mercado alimenta-se e retroalimenta dessas intrigas. Dispostos a garantir a supremacia dos “falcões” sobre. os “pombos” da política monetária, departamentos de economia dos bancos e analistas influentes reforçam o pessimismo quanto ao futuro. Mesmo assim, ante um cenário nebuloso, não existe um consenso monolítico. Na verdade, as análises do setor financeiro nunca aparentaram tantas divergências. No boletim Focus, levantamento do Banco Central que reúne as projeções de economistas de bancos, as mais recentes expectativas de crescimento do PIB vão de 3% a mais de 6%, diferença que aumentou desde o fim do ano passado. Quanto à inflação, o intervalo entre as apostas é um pouco menor: de 5″/o a quase 7%.
Isso não significa que Brasília deva ignorar os riscos de descontrole dos preços em favor da expansão da economia. “Se eu estivesse no governo, estaria preocupado, porque a inflação ficou acima do centro da meta no ano passado, e repetir isso acende o sinal amarelo”, diz o coordenador do IPC-Fipe, Evaldo Comune. “Não adianta, segurar a inflação exige segurar o crescimento. Mas acredito que uma alta de 4% no PIB em 2011 seria de bom tamanho para conter os preços e garantir investimentos que não há como deixar de fazer, como a reforma da infraestrutura e as obras para os grandes eventos esportivos.”
Segundo Comune, o índice da Fipe, medido na cidade de São Paulo, fechou em 6,4% em 2010, acima, portanto, do IPCA, indicador adotado oficialmente pelo governo federal, que registrou 5,91%. O especialista lembra, porém, que o índice foi influenciado por fatores locais, entre eles o reajuste acumulado das passagens de ônibus e do IPTU. Excluídos tais aumentos, tanto o IPC quanto o IPCA tiveram comportamento bastante próximo, e influenciado pelas altas de alimentos (só a carne subiu 34% no ano) e os combustíveis (em especial, o etanol).
Com relação a 2011, o coordenador do IPC alerta para o risco de as estiagens prejudicarem novamente a produção de itens agrícolas e de o choque internacional das commodities afetar, finalmente, o preço da gasolina, contido por uma política de não repasse da Petrobras. “Se o barril do petróleo ultrapassar os 130 dólares, será difícil segurar a alta dos derivados.” Preços administrados, como as tarifas de energia elétrica, prossegue o especialista, tiveram repasses represados nos últimos anos, o que pode representar surpresas negativas neste ano. Comune lembra ainda os custos de habitação, com a alta de preços dos imóveis no último ano e a indexação dos contratos de aluguel ao IGPM, índice forte mente ligado ao atacado e que acumulou aumento de 11,32% em 2010.
O setor de serviços, por sua vez, depois de pressionar a média da inflação não deverá mais ser uma fonte de preocupação, segundo o pesquisador. “Se a renda e o emprego estão em alta, o prestador de serviços tende a repassar, arredondando para cima as elevações de preço que percebe no supermercado. Mas o reajuste do salário mínimo neste ano (sem ganho real) já deu o recado de que o espaço para isso será reduzido.” Feitas as ponderações, o coordenador do IPC-Fipe prevê que a inflação em São Paulo vai ficar entre, 5% e 6% até o fim de 2011.
A análise de Comune é semelhante à de Paulo Pichetti, coordenador do IPC-S (índice de Preços ao Consumidor Semanal, medido pela Fundação Getulio Vargas). “A alta de preços não deverá ser tão grande quanto o mercado prevê. Mas isso não chega a servir de consolo se o nível já está elevado.” O especialista da FGV diverge, no entanto, ao se referir ao risco de propagação da inflação no setor de serviços. “A demanda continua elevada e há uma percepção de que a inflação voltou a ser um problema, o que torna os preços mais suscetíveis aos choques de oferta. Os prestadores de serviços começam a tentar repassar até mesmo oscilações normais, como a dos preços de hortaliças e legumes.”
Pichetti acredita que o mercado tem encontrado dificuldades para fazer suas projeções diante de uma conjuntura internacional indefinida, o que leva a reações exageradas aos sinais de curto prazo. “Nem o mercado nem o BC têm hoje motivos confiáveis para apostar se é necessário elevar demais os juros ou se é possível controlar a inflação apenas com medidas macroprudenciais. Não acho que seja necessário derrubar a atividade econômica. Mas não dá para ignorar os sinais de aquecimento excessivo.”
As divergências de expectativas não ocorrem apenas no mundo financeiro. A Federação do Comercio de São Paulo revisou suas projeções para níveis próximos das previsões mais sombrias do mercado financeiro. “Alertamos os empresários para que não se criem expectativas de que 2011 será igual ou melhor do que 2010″, afirma o diretor-executivo da Fecomercio-SP, Antônio Carlos Borges. A entidade trabalha com um cenário de apenas 3% de expansão do PIB e inflação entre 6% e 7%. O pessimismo tem entre suas bases a pesquisa de intenção de consumo, que pelo terceiro mês consecutivo indica menor propensão às compras. “Temos uma resistência à queda de preços que se deve também a pressões externas, o que torna extremamente difícil trazer o índice de volta à meta.”
Na área industrial, medir a temperatura dos negócios é ainda mais difícil, segundo o gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. “O ritmo é bem mais moderado do que no ano passado, numa mudança de ciclo que percebemos já no segundo semestre”, afirma. “Há um descaramento entre o consumo doméstico e a produção industrial, por conta das importações, usadas para suprir o crescimento da demanda.”
Castelo Branco explica que as pressões por repasses de preços ocorrem apenas nos segmentos que sofrem menos com a concorrência externa, como alimentos, bebidas, farmacêuticos e, até certo ponto, materiais de construção. “A elevação na taxa de juros tem efeito negativo tanto para quem eleva preços quanto para os setores desaquecidos, ou que têm dificuldade para brigar com as importações.”
A CNI ainda não concluiu a última revisão de.suas previsões econômicas. A expectativa de crescimento do PIB, que havia caído de 5% para 4,5%, provavelmente ficará ainda menor. Quanto à inflação, Castelo Branco acredita em uma queda dos níveis atuais até o fim do ano, mas à custa de uma boa dose de desaceleração da atividade econômica. “Como a inflação espraiou-se para os custos domésticos e os salários, o cenário de queda pode não ser tão rápido. E quanto mais tempo a inflação permanecer em patamares elevados, pior será o ajuste.”
O grupo desenvolvimentista do governo, Mantega à frente, acredita que, passados os choques do primeiro semes tre, os preços tendem a refluir. Em meados do ano, os índices acumulados em 12 meses ainda serão altos, num efeito meramente estatístico por conta dos níveis próximos a zero registrados no ano passado. Mas os reajustes correntes terão perdido o fôlego, Além disso, grande parte da alta é atribuída aos problemas da economia mundial, que não podem ser combatidos adequadamente com o aumento dos juros domésticos. O argumento é justificado com o fato de que a maioria dos países que adotaram o regime de dietas de inflação tem convivido nos últimos meses com índices fora da curva. O Brasil, nessa plêiade de nações, tem, até apresentado oscilações de preços mais suaves.
0 que preocupa essa turma é outro ponto, a valorização do real. Desde a ano passado, a moeda brasileira valorizou 32% em relação ao dólar e 28% na comparação com uma cesta de 15 outras. A capacidade de competição da indústria e das exportações está cada vez mais comprometida, embora o aumento dos preços de produtos básicos como minério e soja no mercado internacional mascare os efeitos nocivos do câmbio. Projeta-se um déficit nas contas externas de 64 bilhões de dólares neste ano, ante 47,5 bilhões em 2010.
Uma política ortodoxa baseada em fortes aumentos dos juros e excesso de medidas para segurar a economia pode até aumentar a popularidade de chefe da Casa Civil nas tesourarias dos bancos, mas é extremamente nociva em um prazo mais longo. Cabe a Dilma mediar as tensões. E será mais difícil para ela do que para Lula. No primeiro mandato, premido pela especulação contra sua eleição, o presidente viu-se obrigado a render-se à ortodoxia. No segundo, livre de certas amarras (e de certos indivíduos), deu a guinada que guiou o País ao caminho do cresci mento e elevou seus índices de aprovação a níveis nunca antes alcançados na história republicana.
A presidenta herdou uma economia bem encaminhada, mas dependente de ajustes inadiáveis. Começa um governe sob a esperança de equilibrar fiscalistas e desenvolvimentistas. Falcões e pombos. A história tem demonstrado que uma hora ou outra, um dos lados sai der rotado. Dilma aparenta preferir os pombos. Mas os falcões nunca descansam.

Não sou economista e pouco entendo do assunto, mas não engulo todo esse medinho do mercado financeiro, que por sinal, é uma das piores invenções humanas. Não serve pra nada e só atrapalha a distribuição de renda.