"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, março 26, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/08

Um terço dos estudantes de 4ª série sabe o equivalente a um aluno da 1ª

Um terço das crianças brasileiras matriculadas na 4ª série do ensino fundamental não sabe nem sequer o que deveriam ter aprendido ao final do 1º ano de escola. A conclusão, desta vez, é oficial, e parte de um estudo ainda inédito preparado pelo Instituto de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, e obtido com exclusividade pelo Estado. Pela primeira vez, o ministério criou parâmetros para dizer objetivamente o que um aluno deve saber em cada nível de escolaridade. A conclusão é que as crianças vão à escola, mas isso está longe de significar que estão aprendendo. A reportagem é de Lisandra Paraguassú para o jornal O Estado de S. Paulo, 23-03-2008.

A base do estudo são os resultados da chamada Provinha Brasil, a primeira avaliação de alfabetização feita no País, que começa a ser repassada para os Estados neste mês. Para poder dizer a cada Secretaria de Educação se seus alunos sabem o que deveriam saber ao final da alfabetização, foi criada uma escala com cinco níveis.

O quarto nível, em que um estudante deve ser capaz de ler textos curtos com vocabulário comum na escola, foi considerado pelo Inep como o ideal para um menino de, normalmente, 8 anos que esteja terminando a 1ª série primária - ou o 2º ano, na nova metodologia do ensino fundamental de nove anos.

A comparação dessa escala com a do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) - a avaliação da 4ª e 8ª séries do fundamental e 3º ano do ensino médio, feita a cada dois anos - mostra que esse quarto nível corresponde de forma muito aproximada à pontuação de 125 a 150.

Porém, na 4ª série (ou, agora, o 5º ano do fundamental), um terço dos estudantes brasileiros avaliados em 2005 não passou desse nível. Se forem consideradas apenas as escolas públicas - descontadas as federais, que costumam puxar as notas para cima -, esse índice ainda fica um pouco pior: 33,3%. Nas redes municipais chega a 35%.

São crianças terminando a 4ª série, prestes a entrar em um mundo escolar ainda mais complexo, e que não conseguem entender o enunciado de uma questão ou mesmo uma historinha mais longa. E essa realidade fica ainda pior quando se olham as diferenças regionais.

Mesmo com melhorias recentes, o Nordeste ainda mantém os piores indicadores: metade das crianças de 4ª série tem nível de 1ª. No Rio Grande do Norte, quase 60% estão nessa situação. Mesmo em São Paulo, o Estado mais rico do País, são 28,7% dos estudantes.

A escala preparada pelo Inep ainda permite calcular qual seria a pontuação ideal de um estudante da 4ª série/5º ano do fundamental: entre 200 e 210 pontos, seguindo a progressão natural do aprendizado.

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/08

Condições degradantes de trabalho em confecções. Grifes falam em romper contrato

Empresas de confecções no interior de São Paulo que produzem para grandes grifes são acusadas pelo Ministério Público do Trabalho de condições degradantes no trabalho. A reportagem é da Folha de S. Paulo, 21-03-2008.

O Ministério Público do Trabalho encontrou irregularidades na contratação de operários e nas condições de trabalho em fábricas da indústria da moda em Macatuba (317 km de SP), fornecedoras de grandes marcas do setor. Segundo o MPT, a fiscalização aponta a existência de trabalho com condições degradantes.

Localizada na região de Bauru e com 16.173 habitantes, Macatuba é cercada por plantações de cana-de-açúcar e investe no setor de moda como uma alternativa de diversificação econômica.

Na cidade, já estão instaladas duas indústrias da moda, que produzem ou já produziram roupas para marcas como Cavalera, Yachtsman, C&A, Marisa, Calvin Klein, M.Officer, Forum, Vila Romana, Renner, Marisa e para os supermercados Wal-Mart. As indústrias são a Nova Jeans e a Marsiniuk, fiscalizadas pelo MPT.

A maior é a Nova Jeans, especializada na produção de calças jeans. De acordo com a direção da empresa, ela gera 700 empregos e funciona em um terreno de 12 mil metros quadrados doado pela prefeitura local.

No local, os funcionários trabalham o dia todo em pé, o que pode acarretar dores na coluna e outras doenças ocupacionais, segundo os procuradores Marcus Vinícius Gonçalves e Luís Henrique Rafael, que realizaram a inspeção. Os dois querem que a empresa tome providências para que os trabalhadores tenham horários garantidos de descanso, nos quais possam sentar.

A Folha esteve na fábrica e observou que o trabalho em pé existe no corte dos tecidos a serem enviados para as "facções" (oficinas em que a roupa é costurada antes de passar pelas etapas finais de produção) e nos setores em que as calças jeans passam por lavagens e processos que conferem manchas, riscas, furos e outros detalhes ao produto. No local, a reportagem viu peças já com as etiquetas de algumas das grandes marcas.

O MPT cobra adaptações, como instalação de mais bebedouros e colocação de papel higiênico nos banheiros, colocação de proteção em correias e máquinas, reforma do piso para impedir acidentes e desobstrução do acesso a extintores de incêndio. O órgão exige ainda que os trabalhadores usem equipamentos de proteção individual. Segundo o Ministério Público do Trabalho, os funcionários não usam luvas e máscaras no setor de lavandeira, onde há manejo de produtos químicos.

A Folha presenciou, na visita, um empregado alimentando uma caldeira com lenha só com as luvas. A máscara e a capa de proteção estavam pendurados ao lado. A Nova Jeans afirma que toma providências para melhorar a condição dos trabalhadores, mas que está aberta para as sugestões dos procuradores. Na outra empresa visitada, a Marsiniuk, os procuradores afirmam que há irregularidades na condição dos operários. Mas o principal problema, apontam, é a falta de trabalho registrado em carteira, situação pela qual passam parte dos cerca de 70 empregados.

Com isso, de acordo com os procurador Marcus Vinícius Gonçalves, a empresa não concede os direitos aos funcionários e não recolhe os tributos do setor trabalhista. A Folha esteve na sede da confecção na terça e foi informada de que só poderia conhecer as instalações com a autorização da proprietária, que não estava no local. No dia seguinte, a reportagem entrou em contato e foi informada de que ela não estava e não tinha como ser contatada até segunda.

O procurador Luís Henrique Rafael afirma que o MPT deverá estabelecer TACs (Termos de Ajustamento de Conduta) com prazos para melhorias nas instalações e regularização do quadro de funcionários. Ações serão ajuizadas caso a Nova Jeans e a Marsiniuk não aceitem as recomendações.

Grifes falam em romper contrato

Segundo a reportagem do jornal grifes afirmam que podem romper contrato se as confecções não respeitarem os direitos dos trabalhadores. O Wal-Mart disse, após ser procurado pela Folha, que notificou a Nova Jeans para que ela preste explicações em cinco dias. Segundo a assessoria de imprensa, o contrato pode ser suspenso.

A Renner disse o mesmo. O contrato pode ser rescindido caso se constate o não-cumprimento das cláusulas. A Cavalera e a Vila Romana, segundo as assessorias de imprensa, disseram que tomarão as mesmas atitudes. Caso as irregularidades sejam comprovadas, a Vila Romana disse que suspenderá as compras. A M.Officer afirmou que "não mantém e nunca manteve relação com a Nova Jeans", apesar de ser citada pela empresa como cliente.

Já a Yachtsman, por meio da assessoria, disse que possuiu contrato com a Kazzo (proprietária da Nova Jeans) por dois meses. O contrato, de acordo com a marca, foi rompido há dois anos. Outras marcas foram contatadas (C&A, Marisa, Calvin Klein e Forum), mas não se pronunciaram. Os procuradores disseram que encontraram etiquetas da Forum na fábrica Marsiniuk. Na Nova Jeans, foram vistos pela Folha produtos da C&A e da Marisa. A direção da empresa disse que a Calvin Klein já realizou auditorias no local.

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/08

Vem aí um período ‘nefasto’ para os EUA, afirma a OCDE


Um período "nefasto" é o prognóstico da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para a economia americana nos próximos meses. Mas, pelo menos a princípio, a Europa e os países emergentes devem sofrer um abalo menor. Historicamente os primeiros a serem atingidos por abalos na economia americana, desta vez os países emergentes parecem estar menos vulneráveis, apesar de não estarem imunes. A reportagem é da Folha de S. Paulo, 21-03-2008.

"O desenvolvimento das economias dos emergentes, especialmente Brasil, China, África do Sul e Índia, permitirá que eles tenham um caminho mais independente", disse à Folha Colm Foy, do Centro de Desenvolvimento da OCDE.

O economista destaca dois pontos fortes: "O crescimento econômico e a alta dos preços das commodities servem como um colchão. Isso não deve salvar essas economias, mas ajuda a protegê-las dos impactos negativos de problemas das economias dos países da OCDE, especialmente os EUA".

Apesar do revés da disparada do preço do barril de petróleo, para muitos países em desenvolvimento, é justamente a renda das exportações do produto que têm assegurado uma certa blindagem dessas economias. Segundo Foy, quando investidores miram o cenário de longo prazo, as economias emergentes parecem bastante atraentes. Por isso, é possível esperar que investimentos continuem apesar dos altos preços dos petróleo.

"Hoje, há fonte variada de investimentos. A América Latina já foi extremamente dependente dos EUA. Nos anos 90, passou a ser mais dependente da Europa. Hoje, há novos "players", como Índia e China, que investem nesses países. Ao mesmo tempo, vemos latino-americanos diversificarem seus mercados de exportação”.

No rol de fatores que contribuem para uma certa proteção dos emergentes, está a atuação dos fundos soberanos - os SWFs (Sovereign Wealth Funds), administrados por organismos estatais.

Os SFWs eram utilizados, principalmente, por países exportadores de petróleo com reservas internacionais excedentes. Nos últimos anos, porém, houve uma expansão do mercado de SFWs, que, estima-se, movimentem US$ 2,5 trilhões.

Além do aumento da atuação desses fundos, também cresceu o apetite pelo risco. Na carteira de investimentos dos fundos soberanos, cresce a importância de títulos de dívidas de empresas, ações e de imóveis.

"Eles [fundos soberanos] ainda preferem investir nas economias desenvolvidas, mas também investem nos emergentes e devem aumentar a exposição ao risco, porque o retorno é mais alto e porque é mais fácil aplicar nos países emergentes que nos da OCDE", pondera Foy.

Segundo o relatório preliminar sobre a saúde econômica dos países ricos divulgado ontem em Paris, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA deve crescer 1,4% neste ano, contra 2% projetados anteriormente.

Para o primeiro e o segundo trimestres deste ano, a taxa deve ficar "em torno de zero, mas não sabemos ainda se será positiva ou negativa", disse Jürgen Elmeskov, economista-chefe interino da OCDE.

A organização tem evitado usar a palavra recessão para caracterizar a crise dos EUA. Em passagem pela sede da OCDE nesta semana, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, disse que o "ambiente econômico está se deteriorando", mas enfatizou que não é hora de falar em recessão.

Os indicadores, porém, são bastante ruins. O recuo do mercado imobiliário corrói um ponto percentual do PIB americano e o estrago pode ser ainda maior, alerta a OCDE. O nível do consumo doméstico, a locomotiva da economia dos EUA, também esta em queda.

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/08

Crise financeira faz Brasil perder oportunidade histórica de crescimento acelerado e sustentado por longo prazo


Com a crise financeira americana, tudo indica que perderemos uma oportunidade histórica de transitar para crescimento acelerado e sustentado por longo prazo. A análise é do economista Yoshiaki Nakano, em artigo na Folha de S. Paulo, 23-03-2008. Nakano é diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).

Eis o artigo.

Nos próximos meses a economia brasileira atingirá o auge do ciclo de recuperação. Tudo indica que perderemos uma oportunidade histórica de transitar para crescimento acelerado e sustentado por longo prazo. Vários indicadores e eventos internacionais sinalizam que uma economia dependente de fatores externos para crescer, como a nossa, está chegando ao auge do crescimento. Da mesma forma, a recuperação do mercado interno está também chegando a seu limite com as restrições impostas pela política macroeconômica.

Com a crise financeira americana, o crescimento da economia mundial previsto pelo FMI em 5,2% foi revisto para 4,8%, depois para 4,1%, e nova revisão para baixo será anunciada. A economia americana deverá crescer menos de 1%, e a européia também desacelerará. A China, com a taxa de inflação atingindo 8,7% em fevereiro, fará esforços para desacelerar o crescimento. Eles anunciaram a meta de crescimento de 8% para este ano e, para atingi-la, será necessário desacelerar o crescimento em 3,4 pontos percentuais em relação ao ano passado.

Os mercados de commodities já dão sinais de estar atingindo o pico - a queda dos preços vem ocorrendo pela recessão e pela saída dos afetados pela crise financeira. Estamos assistindo, simultaneamente, a desaceleração da economia global e o esfriamento dos preços de commodities com óbvios impactos sobre nossas exportações e nosso crescimento.

A metástase da crise financeira norte americana vem se mostrando com uma extensão maior e mais profunda do que se imaginava, podendo provocar uma reviravolta no fluxo de capitais, levando à depreciação do real e com impacto imediato sobre a taxa de inflação. Enquanto isso, a política de taxa de juros elevadas do Banco Central e a forte apreciação da taxa de cambial, desde 2004, vêm manifestando seus efeitos defasados, acelerando o aumento de importações, mês a mês, de forma que, em fevereiro passado, comparado com o mesmo mês do ano anterior, elas crescessem à taxa de 64,8%! Isso é insustentável, pois já no final do ano teremos um megadéficit nas transações correntes -e o desfecho desse quadro é bastante conhecido. Com a taxa de câmbio tão apreciada, não é à toa que o consumo doméstico cresça a 9% enquanto a produção doméstica cresça pouco mais de 5%. Obviamente, só uma explosão nas importações fecha as contas.

As condições das experiências bem-sucedidas de transição para crescimento acelerado por longo prazo são conhecidas: maior abertura da economia, ampliando de forma sustentável o fluxo de comércio externo, evitando para isso que a taxa de câmbio se aprecie; ampliação da taxa de investimento produtivo - no nosso caso, em pelo menos 5% em relação ao PIB, para que este possa crescer sustentadamente 5% ao ano; redução relativa do consumo do governo, para abrir espaço para a ampliação da taxa de investimento; e fazer as reformas institucionais necessárias no prazo de até cinco anos depois de iniciada a aceleração. Infelizmente, fizemos importantes avanços em algumas áreas, mas nem de longe construímos as condições acima.

Instituto Humanitas Unisinos - 23/03/08

Estamos farreando como se fosse 1929’. As lições esquecidas

O economista Paul Krugman, colunista do New York Times e professor na Universidade Princeton (EUA) em artigo reproduzido pelos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, 22-03-2008, comenta que a crise financeira em curso revela que esquecemo-nos das lições dos anos 30. Segundo ele, a crise bancária dos anos 30 mostrou que mercados financeiros não regulados, não fiscalizados, podem facilmente sofrer colapsos catastróficos. Com o passar das décadas, porém, essa lição foi esquecida e agora a estamos reaprendendo da forma mais difícil, diz ele. Para Paul Krugman, o problema é que ninguém controla Wall Street e é necessário colocar o sistema financeiro sob controle.

Eis o artigo.

Se Ben Bernanke conseguir salvar o sistema financeiro do colapso, ele será - merecidamente - elogiado por seus esforços heróicos.

Mas o que deveríamos perguntar é: Como chegamos a esse ponto? Por que o sistema financeiro precisa ser salvo? Por que economistas amáveis precisam se tornar super-heróis? A resposta, fundamentalmente, é que estamos pagando o preço de uma amnésia deliberada. Escolhemos esquecer do que aconteceu nos anos 30 - e ao nos recusarmos a aprender com a história, a estamos repetindo.

Ao contrário da crença popular, o crash do mercado acionário de 1929 não foi o momento definidor da Grande Depressão. O que transformou uma recessão comum numa catástrofe que colocou em risco a civilização foi a corrida aos bancos, uma onda que varreu os Estados Unidos em 1930 e 1931.

Essa crise bancária dos anos 30 mostrou que mercados financeiros não regulados, não fiscalizados, podem facilmente sofrer colapsos catastróficos. Com o passar das décadas, porém, essa lição foi esquecida e agora a estamos reaprendendo da forma mais difícil. Para entender o problema, é preciso compreender o que os bancos fazem.

Bancos existem porque ajudam a conciliar os desejos conflitantes de poupadores e tomadores de empréstimos. Os poupadores querem liberdade: acesso a seu dinheiro a qualquer momento. Os tomadores querem compromisso: eles não querem se arriscar a enfrentar cobranças súbitas de sua dívida.

Normalmente, os bancos satisfazem a ambos os desejos: os depositantes têm acesso a seus bens sempre que quiserem, mas a maior parte do dinheiro colocado aos cuidados de um banco é usada para fazer empréstimos de longo prazo. A razão porque isso funciona é que as retiradas são em geral mais ou menos equivalentes aos novos depósitos, de modo que um banco só precisa ter uma reserva de caixa modesta para cumprir suas obrigações.

Às vezes, porém - freqüentemente por causa de nada mais que um rumor -, os bancos enfrentam corridas em que muitas pessoas tentam retirar seu dinheiro ao mesmo tempo. E um banco que enfrenta uma corrida de depositantes e não tem o dinheiro para atender a suas demandas pode quebrar mesmo que o rumor seja falso.

Pior ainda, as corridas a bancos podem ser contagiosas. Se depositantes de um banco perdem seu dinheiro, depositantes de outros bancos ficarão nervosos também, provocando uma reação em cadeia. E pode haver efeitos econômicos mais amplos: como os bancos sobreviventes tentam levantar dinheiro cobrando empréstimos, pode haver um círculo vicioso em que corridas a bancos causam aperto de crédito, que leva a novas quebras, que conduz a mais problemas financeiros nos bancos, e assim por diante.

Foi isso, em suma, o que aconteceu em 1930-1931, fazendo da Grande Depressão o desastre que foi. Por isso o Congresso tentou assegurar que aquilo nunca mais aconteceria, criando um sistema de regulamentos e garantias que ofereceram uma rede de segurança ao sistema financeiro.

E todos vivemos felizes por algum tempo - mas não para todo o sempre.

Wall Street se irritou com regulamentos que limitavam o risco, mas limitavam também os lucros potenciais. E, pouco a pouco, desvencilhou-se. Em parte persuadindo políticos a relaxar as regras, mas, sobretudo, criando um “sistema bancário paralelo”, que se apoiava em acordos financeiros complexos para contornar regulamentos criados para a segurança da atividade bancária.

Por exemplo, no sistema antigo, os poupadores tinham depósitos garantidos pelo governo federal em bancos de poupança estritamente regulados, e os bancos usavam esse dinheiro para fazer empréstimos hipotecários. Com o tempo, porém, isso foi parcialmente substituído por um sistema em que os poupadores colocam seu dinheiro em fundos que compraram commercial papers lastreados em ativos de veículos de investimentos especiais, que compraram obrigações de dívida colateralizada criadas a partir de hipotecas securitizadas - sem nenhum regulador à vista.

Com o passar dos anos, o sistema bancário paralelo assumiu uma parcela crescente do negócio bancário porque os operadores não regulados desse sistema pareciam oferecer negócios melhores que os bancos convencionais. Ao mesmo tempo, os que se preocupavam com o fato de que nesse admirável mundo novo das finanças não havia uma rede de segurança, eram menosprezados como inapelavelmente antiquados.

A verdade é que nós estávamos farreando como se fosse 1929 - e 1930, enfim, chegou.

A crise financeira em curso é basicamente uma versão atualizada da onda que varreu a nação há três gerações. As pessoas não estão tirando dinheiro de bancos para colocar embaixo do colchão, fazem o equivalente moderno disso: tiram o dinheiro do sistema bancário paralelo para aplicar em letras do Tesouro. O resultado, tanto agora como então, é um círculo vicioso de contração financeira.

Bernanke e seus colegas do Fed (o banco central americano) estão fazendo tudo que podem para acabar com esse círculo vicioso. Só podemos torcer para que eles tenham sucesso. Caso contrário, os próximos anos serão muito desagradáveis - não uma outra Grande Depressão, mas, com certeza, a pior recessão que vimos em décadas.

Mesmo que Bernanke consiga, porém, não é essa a maneira de conduzir uma economia. Já é tempo de reaprendermos as lições dos anos 30 e colocarmos o sistema financeiro sob controle novamente.