"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, agosto 02, 2010

Revolução Constitucionalista

Apesar de ser referida em vários meios como um movimento restrito à São Paulo, publiquei anteriormente um artigo do Cel Hiram sobre a força do movimento no Mato Grosso do Sul, que durou bem mais do que o movimento no próprio estado de São Paulo.
Agora encontrei esse artigo sobre como o movimento atingiu a cidade de Fortaleza no estado do Ceará escrito por Raimundo Helio Lopes intitulado
"A cidade e a guerra: a campanha de mobilização e o cotidiano de Fortaleza durante a Guerra de 1932". O resumo do artigo está logo abaixo, assim como o link para o texto integral.

Resumo:
Este artigo procura analisar as ações de mobilização na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, durante a Guerra de 1932. Nos dias de conflito, nesta cidade houve uma forte campanha de mobilização para estimular a participação da população na guerra. Esta campanha teve diversos articuladores, como a Interventoria local, Igreja Católica cearense, setores significativos da imprensa, vários cidadãos sensibilizados com a defesa do Governo Vargas, além de diversos grupos civis, militares e políticos. Destacaram-se, como estratégias significativas presentes em Fortaleza, meetings, passeatas, campanhas de arrecadação de dinheiro para os soldados, intensa campanha nos jornais fortalezenses e desfiles públicos.

http://cpdoc.fgv.br/mosaico/?q=artigo/cidade-e-guerra-campanha-de-mobiliza%C3%A7%C3%A3o-e-o-cotidiano-de-fortaleza-durante-guerra-de-1932

São Sumé, um andarilho na Amazônia

Por Cel Hiram Reis e silva, Porto alegre, RS, 09 de julho de 2.010.

"É na tradição, nas antigas narrativas, nesses arquivos universais chamados erroneamente de lendas, é nos velhos contos que o homem poderá encontrar a sua verdadeira identidade mágica". (Mario Mercier)


São muitas as lendas e mistérios que povoam o imaginário popular amazônico, mas, talvez, nenhuma delas seja mais intrigante do que a passagem do Apóstolo São Tomé pela região. O mito Sumé é um enigma que abrange todo Continente Americano. Possui muitos nomes: Sumé, Xumé, Pai Abara entre nossos índios, Quetzalcoatl na América do Norte, Sommay entre os Caríbas; no Haiti era Zemi, na América Central era Zamima, e muitos outros, mas a figura é sempre a mesma, homem branco, longa barba, portando uma ‘borduna trovejante’, saía das águas para catequizar e mostrar aos nativos como construir casas, a se organizar, a cultivar frutas, verduras e legumes e outras técnicas.


A lenda indígena caia como uma luva para os missionários europeus. As suas atitudes e vestimentas faziam com que os nativos associassem a eles a imagem de São Tomé levando-os a crer que os religiosos estavam dando prosseguimento à obra do apóstolo.


Em São Gabriel da Cachoeira, AM, no Morro da Fortaleza, existe uma ‘pegada’, em baixo relevo que alguns atribuem a São Gabriel e outros ao Santo Apóstolo Tomé.


Pegada de Sumé no Morro da Fortaleza


- No alto dessa colina, o chão é de pura pedra. Ali estão gravadas umas figuras que o povo diz serem as partes do boi (ou anta). Também tem a marca de uma pegada na pedra, onde as pessoas deixam flores, velas e fazem preces. O povo diz que é a pegada de um anjo.


- Ora, acho que isso deve ser algo relacionado com as famosas pegadas de Sumé ou Pai Tomé! Exclamei admirado”. (MAUSO)


O Profeta Andarilho


“Vi com meus próprios olhos, quatro pisadas muito significativas com seus dedos, as quais algumas vezes cobre o Rio quando enche”. (Manuel da Nóbrega)


Sumé, por sua vez, aparece citado pelo Padre Manuel da Nóbrega em suas Cartas do Brasil (1549). É uma figura misteriosa, que surgiu ‘antes do Descobrimento - informa o mestre Câmara Cascudo - e ensinou aos índios o cultivo da terra e as regras morais’. Uma curiosidade especifica de Sumé é ele ser um branco e ter desaparecido ‘caminhando sobre as águas do mar’, em direção à Índia. As características apontam para um pajé de raça branca. A tradição tupi-guarani fala de um homem sábio e milagreiro que veio até eles há muito tempo: um provável precursor dos missionários, a quem chamou Sumé (tupi) ou Pay Zumé (guarani). É possível que seja uma corruptela de Tomé, o apóstolo incrédulo. Tomé foi designado para levar o Evangelho de Cristo aos gentios, aos selvagens”. (PEREIRA)


“Eles têm lembrança de São Tomé (...) Queriam mostrar aos portugueses pegadas de São Tomé no interior do país. Quando falam de São Tomé chamam-no de pequeno deus, mas dizem que havia outro deus maior (...)”. (anônimo europeu - 1514)


O Pastor calvinista Jean de Léry pregou para os Tupinambás nas cercanias do Rio de Janeiro na década de 1550. Um velho agradeceu a Léry as explicações que ele dera sobre as maravilhas do cristianismo, mas disse: ‘Seu sermão me fez recordar aquilo que ouvimos tantas vezes nossos avós relatar, isto é, há muito tempo - há tantas luas que já não conseguimos mais contá-las - um ‘mair’ (que significa forasteiro) vestido e barbudo como alguns de sua gente veio a esta terra. Ele esperava conduzir nossos ancestrais à obediência de seu Deus e dirigiu-se a eles na mesma língua que vocês empregam conosco hoje. No entanto, conforme ouvimos dizer de pai para filho, eles se recusaram a acreditar. Chegou, então, outro homem que, como sinal de maldição, deu-lhes de presente uma espada. Como resultado, desde aquela época sempre nos matamos uns aos outros (...) a tal ponto que (...) se agora abandonássemos esse costume e desistíssemos, todas as tribos vizinhas zombariam de nós”. (HEMMING)


“Também da vinda do Apóstolo São Tomé à América e que os ensinara o modo de cultivar as suas sementeiras, que todas se cifram na mandioca e farinha-de-pau, e poucas outras”. (DANIEL)


“(...) ‘o antigo’, cabeleira ruiva e estatura maior que a dos outros homens, anda à tona nas águas ou sobre as nuvens. Essa criatura portentosa ensinou os homens a servirem-se da natureza, ‘inventou’ o bodoque e as danças e fere com flecha invisível, o coração dos inimigos”. (RAMOS)


“(...) disseram que, de acordo com a informação que possuíam, era um homem alto com roupa branca que chegava até seus pés, e que sua veste tinha um cinturão, e trazia o cabelo curto com uma tonsura na cabeça, à maneira de um Padre, e que carregava na mão uma certa coisa que parecia lembrar o breviário que os Padres trazem nas mãos”. (BETANZOZ)


O profeta andarilho era estimado por todos, até que resolveu estabelecer normas moralizadoras, condenando a antropofagia e a poligamia, provocando a ira dos indígenas. Tentaram matá-lo por diversas vezes, mas Sumé sempre conseguia escapar ileso. Por fim, cansado de ser atacado traiçoeiramente por eles retirou-se andando sobre as águas de onde havia surgido. Prometeu que voltaria para cumprir a missão que recebera.


“Misterioso personagem que veio do mar (...) e nessa direção desapareceu depois que, molestado por alguns, se desgostou e deu por terminada a sua missão de legislador e mestre de todos eles”. (STADEN)


“(...) pregou-lhe a palavra do bem e censurou sua imoralidade. Furiosos por verem seus excessos censurados, os camponeses se apoderaram de Tonapa, flagelaram-no e amarraram-no a três pesadas pedras. Subitamente, três magníficas águias desceram dos céus; com o bico serrado, cortaram as amarras e libertaram o prisioneiro. Tornou à praia, estendeu seu manto sobre as ondas e, vagando nele, como num barco, rumou para a praia...” (HUBER)


Foram vistas por Nóbrega, Montoya e muitos outros, pegadas em rochas, que dariam o testemunho da passagem e das viagens do apóstolo São Tomé pelas Américas. Estas pedras gravadas em baixo relevo e sobrepintadas identificam pontos importantes do caminho pré-histórico. Inscrições no mesmo estilo são encontradas na Bolívia e Peru, atestando a presença do herói mítico, que teria partido do Brasil em direção aos Andes.


Relato do Padre João Daniel


“O haver tradição de ter evangelizado a Fé na América o Apóstolo São Tomé é já hoje, sem controvérsia de dúvida, porque além de outros muitos fundamentos, de que cremos vendo pelo discurso desta obra alguns, há e se conserva em alguns tapuias esta tradição; pois perguntados por alguns outros fundamentos quem lhos ensinou, respondem que um homem chamado Sumé, cuja resposta com os mais fundamentos claramente convence desta verdade. Chamaram-lhe Sumé, e não Tomé é pequena corrupção do vocábulo, que nos índios é muito desculpável pela falta de livros, e memórias, que não têm, porque criados à lei da natureza, sem aprenderem a ler, e escrever; e também os desculpa o longo tempo de tantos séculos. Por isso se não deve estranhar em gente tão rude a pequena mudança do ‘T’ para o ‘S’, especialmente ficando tão semelhante o som das duas palavras ‘Tomé’ e ‘Sumé’; quando nos mesmos europeus, e nos mais literatos homens se estão achando a cada passo estas corrupções de vocábulos, como se vê na palavra ‘Portugal’, que antes era ‘Portus Calis’, Setuval - ‘Coetus Tubalis’, Santarém - ‘Santa Iria’, e em milhares de outras palavras. Acresce mais para confirmação de que os índios na palavra ‘Sumé’ querem dizer ‘Tomé’, a pronúncia do ‘T’ ou ‘Taf’ dos hebreus, a que estes lhe dão o distinto som de ‘T’, como nós os portugueses, mas uma pronúncia muito semelhante a ‘S’, ou mais propriamente entre ‘T’ e ‘S’. De sorte que, com serem os caracteres os mesmos em todas as nações, nem em todas as línguas têm o mesmo som; seja prova, além de outras, a pronúncia do mesmo ‘T’ na linguagem inglesa, porque não o proferem os seus naturais com o som de ‘T’, mas de ‘D’; ou um meio entre ‘T’ e ‘D’, mais parecido a D; e o mesmo sucede a outros caracteres. Da mesma sorte na língua hebraica tem o ‘Taf’ uma pronúncia, como média entre ‘T’ e ‘S’, antes mais semelhante, e parecida a ‘S’; e como São Tomé, de quem o ouviram era hebreu, lhe daria a sua própria pronúncia muito semelhante a ‘S’; e por isso na tradição dos índios ficou perpetuada como Sumé.


É certo que há ainda outros muitos fundamentos desta verdade, e não é pequeno a imagem da Virgem Senhora Nossa com o Santo Menino Jesus nos braços, que se achou no império do México, por certo que naquele império não consta que entrasse alguém, como em toda a mais América primeiro que os castelhanos e portugueses; logo não há fundamento para atribuir a outrem o levar àquela tão distante região a notícia, e conhecimento da Senhora senão a algum Santo Apóstolo, porque - ‘In omnem terram exivit sonus eorum, et in fines orbis terrae verba eorum’ (Por toda a Terra espalhou-se o som de sua voz, e sua palavra pelos confins do Orbe). Que os espanhóis fossem os primeiros intrusos na América também parece ser evidente, porquanto nas histórias não se acha notícia alguma de todo aquele Novo Mundo, antes deles; razão por que alguns cuidaram ser ele a Ilha Atlântica, de que falam as histórias. E se alguém repara o como podia São Tomé correr tanto mundo em tão distantes regiões, como são Partos, Medos, Persas, Hircanos, Índios e Chinas; e depois vir a evangelizar outro Novo Mundo na América, quando só para o correr apenas chega a vida do homem, segundo a grande distância que vai do México ao Brasil. Respondo que assim é naturalmente; mas por virtude divina, não só podia correr todas as sobreditas províncias, mas todo o mundo uma, e muitas vezes. Que isto não só era factível ‘virtute ex alto’ (por virtude do alto), mas que na verdade assim sucedeu aos Santos Apóstolos, consta das histórias eclesiásticas e ainda das Divinas Escrituras; e do mesmo glorioso São Tomé o contam os índios na sua tradição, dizendo que lhes apareceu aquele varão santo; e pregou, mas vendo que eles o não queriam acreditar, nem ouvir, se apartou deles caminhando a pé enxuto pelo mar, como, além de outros, refere o grande Padre Vieira, escrevendo esta tradição dos índios do Brasil. Mas para que se veja quão grandes, e muitos são os fundamentos que ‘solidam’ (confirmam) esta verdade, continuarei em apontar outros, que ainda existem, talvez para memória dos vindouros, e para abono dos índios.


Seja o primeiro a Capela do Bom Jesus no Rio São Francisco. Entre as cousas mais notáveis que acharam os portugueses naquele Rio, foi uma Capela cavada, e lavrada em um rochedo nas margens do Rio; descobriu-se por ocasião de um ermitão, que saindo do povoado para buscar algum deserto, onde fazendo rigorosa penitência de seus pecados, cuidasse só na sua salvação eterna, deu com uma paragem, que lhe pareceu bem acomodada ao seu intento, e chegando a ela, viu um côncavo por modo de Capela, ou Templo, entrou dentro, e indo a pôr uma imagem do crucifixo no altar, achou feito nele um buraco, como se tivera sido aberto de propósito para o intento. Divulgou-se o caso, e principiando a concorrer já romeiros, e já moradores, se começou a povoar, e desde então está servindo de Igreja, e cuido que também de freguesia, porém ainda no distrito do mesmo Amazonas temos mais templos.


Deságua no mesmo Rio Xingu o Rio Jaracu da banda de Oeste, e por ele dentro cousa de 15 dias de viagem, já pelo Rio, e já por terra nas terras, e sítios dos índios Averãs, se admira outro templo, que segundo algumas circunstâncias, não é obra da natureza, mas artifício, ou natural, ou sobrenatural, porque afirmam aqueles índios que tem valvas de pedra com suas dobradiças, como os nossos portais, e que sempre estão fechadas. Perguntados pelo que tem dentro, respondem que nem sabem, nem podem saber; porque assim que alguém intenta abrir aquelas portas, sai ou vem de dentro um grande ‘resplandor’ (resplendor - claridade intensa) tão respeitoso, que obriga a fechar não só os olhos, mas também as portas; por esta razão carecemos de saber as suas miudezas, e que respeitoso resplendor seja aquele, donde sai, ou de que se origina. Nem posso deixar de estranhar aos missionários daquele Rio o descuido de não procurarem averiguar pessoalmente as circunstâncias, e miudezas daquele templo; e talvez que aquele resplandor seja misterioso, e para se manifestar, só espere algum ministro evangélico, que com a sua pregação faça idôneos, e capazes aqueles miseráveis selvagens de que Deus lhes manifeste os seus mistérios, e o misterioso daquele resplandor.


No Rio Coroa está uma grande concavidade por modo de templo, e igreja; tem um grande portal bizarreado com seus frisos, e por cima arquitetado com seus ‘arquitraves’ (parte da trave que repousa sobre os capitéis), que representam um frontispício. Fora da porta de um, e outro lado tem uma grande pedra, e ambas rematam com uma cabeça alguma cousa toscas de modo, e feitio de cabeças de pretos, e representam duas estátuas das quais só permanece uma, porque uns índios mansos, que costumavam ir àquele Rio ao provimento do cravo, degolaram a outra; mas nem eles, nem os brancos que iam por cabos tiveram a curiosidade de o medirem, segundo as suas proporções, e mais miudezas, ou ao menos de o delinearem com algum rascunho.


Mais curiosos foram os que mediram outra semelhante no Rio Tapajós, que com grande ‘cabedal’ (caudal) deságua acima do rio Coroa. Entre os mais Rios, e Ribeiras, que recolhe o Tapajós é um o Rio Cuparis, a pouca mais distância de três dias, e meio de viagem da banda de Leste no alegre sítio chamado Santa Cruz; é célebre este Rio, mais que pelas suas riquezas, de muito cravo, por uma grande lapa feita, e talhada por modo de uma grande Igreja, ou Templo, que bem mostra foi obra de arte, ou prodígio da natureza. É grande de cento e tantos palmos no comprimento; e todas as mais medidas de largura, e altura são proporcionadas segundo as regras da arte, como informou um missionário jesuíta, dos que missionavam no Rio Tapajós, que teve a curiosidade de lhe mandar tomar bem as medidas. Tem seu portal, corpo de Igreja, Capela-mor com seu arco; e de cada parte do arco uma grande pedra por modo de dois Altares colaterais, como hoje se costuma em muitas Igrejas; dentro do arco, e Capela-mor tem uma porta para um lado, para serventia da sacristia. O missionário que aí quiser fundar missão, já tem bom ‘adjutório’ (auxílio) na Igreja, e não o desmerece o lugar, que é muito alegre. Bem pode ser que nos mais Rios e Distrito do Amazonas, e seus colaterais haja algumas outras Igrejas, ou Capelas; nestes três Rios Tapajós, Coroa e Xingu se descobriram estas, por serem mais frequentados.


Mas quando não haja outros sinais, bastam estes para se inferir ser moralmente certa a pregação de São Tomé na América. Nem é pequena conjectura, e congruência a fruta das bananas, chamada na Ásia figos, e na América pacovas de São Tomé, como também a mandioca, ou farinha-de-pau, que é o pão usual de todos os americanos, nos quais se conserva alguma tradição, de que também da vinda do Apóstolo São Tomé à América e que os ensinara o uso dela, talvez porque antes só comiam frutas do mato, à maneira de feras, como ainda hoje fazem muitos”. (DANIEL)


Fontes:


BATANZOS, Juan de. Narrative of the Incas - USA - Texas, 1996. Ed. Dana Buchanan - University of Texas Press.


DANIEL, Padre João. Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas - Brasil - Rio de Janeiro, 2004. Contraponto Editora Ltda.


HEMMING, John - Ouro Vermelho - A Conquista dos Índios Brasileiros - Brasil, São Paulo, 2007 - Editora da Universidade de São Paulo.


HUBER, Siggfried - Au Royaume des Incas – França, Paris, 1958 - Monde entier.


MAUSO, Pablo Villarrubia - Mistérios do Brasil: 20.000 Quilômetros Através de uma Geografia Oculta - Brasil - São Paulo, 1997 - Editora Mercuryo.


PEREIRA, Franz Kreuther. Painel de Lendas & Mitos da Amazônia - Brasil - Belém, 2001. Editora Academia Paraense de Letras.


RAMOS, Arthur - Introdução à Antropologia Brasileira - Brasil, Rio de Janeiro, 1943/1947. Casa do Estudante do Brasil.


STADEN, Hans - Duas Viagens ao Brasil - Brasil - Belo Horizonte, 1974 - Editora Itatiaia.



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

domingo, agosto 01, 2010

Anti-americano Não, Contra o seu Intervencionismo, Sim!

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 30 de julho de 2010.

“A pura raça Anglo-americana está destinada a estender-se por todo o mundo com a força de um tufão. A raça Hispano-mourisca será abatida".(New Orleans Creole Courier, 27.01.1855 )

Alguns leitores ficaram indignados ao ler meus dois últimos artigos, onde relato o vazamento de documentos secretos americanos, pelo site Wikileaks, sobre a Guerra do Afeganistão onde expus dois dos inúmeros “Crimes de Guerra” cometidos pelas tropas do “Tio Sam”, no Iraque. Não sou, absolutamente, contra qualquer povo, norte-americano ou não, mas tenho total aversão a qualquer tipo de intervenção. (http://wikileaks.org/wiki/Afghan_War_Diary,_2004-2010)

- Paladinos “Pero no Mucho”

Analisando as intervenções armadas ou não na história da humanidade observamos que o interesse geopolítico ou geoeconômico foi e continuará sendo o agente catalisador de cada uma delas. As justificativas apresentadas aos incautos como defesa da democracia, manutenção dos direitos humanos e tantos outros têm, na verdade, a finalidade pura e simples de garantir o acesso das potências hegemônicas aos recursos naturais ou assegurar sua influência política em Estados que se tornaram ou pretendam se tornar independentes.
Não há interesse, por parte das nações poderosas, de que surjam novas e fortes economias alterando sua posição de domínio no mundo. A permanência do “status quo” justifica quaisquer tipos de retaliações, intervenções, massacres mascarados pela mídia através de termos simpáticos. É interessante observar que o tratamento dispensado aos seus “aliados”, mesmo que estejam infligindo as mesmas regras, não estão sujeitos a este tipo de retaliação, senão, como explicar a sua omissão quando ocorreu o extermínio de milhares de curdos pela Turquia ou seu apoio explícito ao governo Saudita que tem mostrado o mais profundo desprezo pelos direitos humanos.
Quando seus interesses geoeconômicos não estão em jogo os “paladinos da justiça” permitem o extermínio de milhões de pessoas como na guerra pela independência de Biafra e na guerra do Sudão.

- GUERRA HISPANO-AMERICANA (1898)

Em 1898, o encouraçado “USS Maine”, ancorado em Havana, foi explodido pelos próprios americanos para ser usado como pretexto para desencadear uma Guerra contra a Espanha.

Filipinas

Os nacionalistas, liderados por Emilio Aguinaldo, iniciaram uma rebelião em 1896. Em 1898, a Espanha perdeu a guerra contra os EUA e cedeu as Filipinas em troca do pagamento de 20 milhões de dólares. Os nacionalistas foram esmagados pelas tropas norte-americanas. A cobrança de pesados impostos desencadeou o primeiro conflito dos americanos contra os muçulmanos filipinos. Os americanos não atenderam às reivindicações do Sultão de Sulu que exigia que os americanos agissem como os espanhóis, no passado, e os deixassem em paz, isentando seu povo de qualquer taxação. Os civis americanos começaram a ser hostilizados e os fuzileiros foram sistematicamente atacados e mortos pelos “Amuks”. A presença americana nas ilhas desencadeou a “Jihad”, a guerra santa contra o invasor e os americanos responderam com “Operações de Extermínio”. O General Jake Smith determinou a seus fuzileiros “Kill and burn!” (Matem e queimem!), ordenando também que “Kill every one over tem” (Matassem todos acima dos dez anos de idade). Na ilha de Jolo, os “Moros” refugiaram-se no alto da cratera de um vulcão extinto, o Bud Dajo e os “Paladinos as Justiça”, em março de 1906, apoiados pelo navio Pampanga, cercaram e mataram mil homens, mulheres e crianças. No Bud Bagsak, em junho de 1913, 2.000 rebeldes, incluindo 196 mulheres e 340 crianças, armados de facas e lanças, foram aniquilados.
Os americanos não sabem, ainda, porque os muçulmanos os odeiam!

- PANAMÁ (1903)

Fomentado pelos americanos, eclodiu em 3 de novembro de 1903, um movimento separatista que culminou com a independência do Panamá em relação à Colômbia. Imediatamente, os Norte-americanos reconheceram novo país e enviaram suas Forças Navais para impedir a chegada de tropas colombianas. Logo em seguida, foi firmado o Tratado “Hay-Bunau-Varilla”, que concedia aos Estados Unidos o uso, controle e ocupação perpétua da Zona do Canal, uma faixa de 16 km de largura através do istmo.

- IRÃ (1953)

A CIA e o M-16 (serviço secreto inglês) arquitetaram um golpe de Estado no Irã, Operação Ajax (TP AJAX), em 1953, cujo objetivo era derrubar o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, que estatizara as empresas petrolíferas estrangeiras. Os serviços secretos ocidentais aliciaram o general iraniano Fazlullah Zahedi que deveria derrubar o governo nacionalista de Mossadegh. Fazlullah organizou uma passeata que “representava a vontade popular” para usar como pretexto “atender aos anseios do povo” afastando, no dia 19 de agosto de 1953, o Primeiro-ministro Mossadegh e trazendo de volta o Xá Reza Pahlevi. Em agosto de 1953, o Xá Reza Pahlevi recuperou seus poderes, assumindo o papel de fantoche dos interesses anglo-americanos no Irã, que formaram um consórcio para continuar explorando o petróleo iraniano. A Anglo-Iranian ficou com 40% e as empresas norte-americanas com o restante. Os nacionalistas iranianos haviam se refugiado nas mesquitas e seus líderes religiosos lideraram a Revolução Xiita, de 1979, que causou mais estragos aos interesses anglo-americanos do que o nacionalismo secular de Mossadegh.
Sem a intervenção o Irã teria hoje um regime secular no poder e, provavelmente, integrado na globalização e não dominado pelos fundamentalistas.

- VIETNAM (1965/1973)

O envolvimento militar americano que teve início, na década de 1950, com o envio de equipamentos e observadores militares para apoiar os franceses, aumentou, significativamente, a partir de 1960. Em 1965, o presidente americano Lyndon Johnson ordenou uma operação sistemática de bombardeio aéreo do Vietnam do Norte. Um mês depois, os primeiros combatentes americanos desembarcam no Vietnam.

My Lai

Fonte: www.dwelle.de
“O sol despontava sobre o Mar do Sul da China, quando helicópteros das Forças Armadas norte-americanas sobrevoaram a aldeia de My Lai, no Vietnã, à procura de guerrilheiros em março de 1968. Soldados da ‘Companhia Charlie’ da Infantaria do Exército dos EUA cercaram o povoado e, em três horas, LIQUIDARAM SEUS 500 HABITANTES. O fotógrafo militar Ron Haeberle acompanhou os soldados comandados pelo tenente William Calley, de 25 anos, e documentou toda a brutalidade da chacina. Suas fotos do massacre de adultos e crianças, da matança de animais, do envenenamento de poços e incêndio de casas e depósitos ajudaram, mais tarde, a esclarecer o ‘Crime de Guerra’. As autoridades militares dos EUA, sob a administração de Richard Nixon, conseguiram esconder o massacre por mais de um ano. Somente em novembro de 1969, as primeiras reportagens sobre o caso foram publicadas na imprensa norte-americana, sobretudo no jornal New York Times. Soldados norte-americanos, SUPOSTAMENTE DEFENSORES DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA na luta contra o comunismo, foram desmascarados como um bando de assassinos. Vários integrantes da ‘Companhia Charlie’ admitiram publicamente tratar-se de um ‘CRIME IMPERDOÁVEL’. Enquanto isso, o tenente William Calley não via absolutamente nada de anormal. Admitiu apenas que uma das maiores tragédias de sua vida foi executar operações cujo sentido desconhecia”.
(http://www.amazoniaenossaselva.com.br/Pal2.asp?Cod=6&Sld=38)

Tranh Phong

Fonte: Howard Kurtz - The Washington Post
“Rompendo um silêncio de 32 anos, o ex-senador e ex-tenente da Marinha, Bob Kerrey, revelou ter tido um papel importante na matança de mais de uma dúzia de civis durante a Guerra do Vietnã. ‘Fiquei tão envergonhado que queria morrer’, disse Kerrey, condecorado com a Medalha de Honra, a The Wall Street Journal, referindo-se a um artigo que será publicado no domingo. ‘Isso está me matando. Estou cansado de ver as pessoas me descreverem como herói e ficar escondendo isso dentro de mim’, disse o ex-senador. Kerrey afirmou que sua unidade de elite da Marinha (Seal), matou os civis inadvertidamente, depois de acreditar que havia sido atacada por vietcongues na vila de Tranh Phong, em 25 de fevereiro de 1969”.

Agente Laranja

“As consequências dos produtos químicos americanos continuam sendo extremamente graves, e continuarão persistindo até meados do século 21 no Vietnã”, prevê o professor Câu. Somente na província de Quang Tri (centro do país), onde se encontrava a zona desmilitarizada que separava o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul durante o conflito, foram registradas mais de 15.000 vítimas do agente laranja no censo organizado em 1998.

Studies and Observations Group (MAC SOG)

Fonte: ISTOÉ - Edição 1498 - 17 de Junho de 1.998
“Unida a um grupo de mercenários, uma unidade de elite do Exército invade uma aldeia num território neutro, joga Sarin (um gás que atua sobre o sistema nervoso) e mata pelo menos 100 pessoas, a maioria mulheres e crianças. A missão principal dessa unidade era eliminar soldados de seu país que haviam desertado e viviam entre os aldeões. Depois do massacre, a unidade é cercada por tropas inimigas e pede apoio aéreo, que vem em forma de bombardeio de gás sobre as tropas inimigas. Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, esse episódio não foi obra das tropas iraquianas de Saddam Hussein durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), quando o ditador não hesitou em usar armas químicas contra o próprio povo”.

- GRANADA (1983)

Uma aliança de esquerda liderada, em 1979, por Maurice Bishop, derruba o primeiro-ministro, Eric Gaury, e instala um governo que estreita relações com Cuba, despertando apreensão nos Estados Unidos. Durante quatro anos Reagan impôs sanções econômicas a Granada e ao final deste período fomentou o golpe militar que culminou com o assassinato do 1º Min Maurice Bishop. Em seguida, promoveu a invasão da pequena ilha com tropas norte-americanas e um pequeno contingente de militares caribenhos. O presidente Reagan justificou a ação sob a alegação de que a medida de força fora solicitada pelos países do Caribe, e que o aeroporto em construção destinava-se a uma base soviética. O aeroporto fazia parte dos planos do governo para incentivar o turismo no país (sua principal fonte de renda ainda hoje). Jornalistas verificaram que os americanos haviam bombardeado um hospital psiquiátrico matando 47 doentes e destruído diversas instalações civis.

- NICARÁGUA - Escândalo 'Irã-Contras’ (1986)

O procurador-geral dos EUA, Edwin Meese, confirmou em 25 de novembro de 1986, que milhões de dólares provenientes das vendas de armas ao Irã foram enviados secretamente aos “Contras”, os rebeldes nicaraguenses que lutavam, com apoio norte americano, para derrubar o governo da Nicarágua. A notícia foi particularmente penosa para os congressistas que em 1984 haviam aprovado a emenda Boland, que proibia ajuda militar direta ou indireta dos EUA aos “Contras”. Nos primeiros meses de 1987, novos detalhes foram surgindo e o caso foi ganhando apelidos - escândalo das armas “Irã-contras”, “Irãnágua”, “Irãgate”.

- IRAQUE

Operation Desert Fox (1998)
A Câmara dos Representantes dos EUA estava a menos de 24 horas da votação que muito provavelmente resultaria no início do processo de ‘impeachment’ presidencial quando as sirenes de alerta de ataque soaram do outro lado do mundo, em Bagdá. Bill Clinton havia desencadeado o mais violento ataque ao Iraque desde a Guerra do Golfo, adiando a discussão do ‘impeachment’.
Operation Iraq Freedom (2003)

Powell e as Fotos dos Armazéns
Fonte: Folha Online - 05 de fevereiro de 2003
“O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, mostrou hoje fotos que, segundo os Estados Unidos, comprovam que o Iraque mantém armas de destruição em massa. Durante sessão no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, para apresentar evidências de que o Iraque violou a resolução da ONU (Organização das Nações Unidas), Powell acusou o Iraque de ‘limpar’ armazéns que abrigavam supostas armas de destruição de massa. Powell mostrou fotos realizadas por satélites de três instalações no Iraque”.
As instalações mostradas nas fotografias de Powell já tinham sido destruídas na “Operation Desert Storm”, mas isso é um mero detalhe.

Falso Resgate da Recruta Lynch

Fonte: BBC - 15 de maio, 2003.
A recruta Jessica Lynch se tornou um ícone da Guerra no Iraque, e a história de sua captura por iraquianos e seu resgate por forças especiais dos Estados Unidos se tornou um dos grandes momentos patrióticos do conflito. Mas, a história dela é um dos mais impressionantes casos de manipulação de informação já concebidos”.

Dossiê Blair

Fonte: Dominic Evans - RTP.PT - 06 de Junho de 2003
“O primeiro-ministro Tony Blair foi acusado na sexta-feira de recorrer aos mesmos métodos de propaganda de Saddam Hussein, por causa descoberta de que trechos de um dossiê do governo sobre o Iraque foram plagiados de trabalhos acadêmicos. O dossiê foi publicado nesta semana em uma página do governo na internet e dizia que o Iraque montou uma intensa campanha para enganar e intimidar os inspetores de armas da ONU. (...) O documento dizia ter recolhido informações ‘de várias fontes, inclusive de material de inteligência (do serviço secreto)’. Na sexta-feira, porém, as autoridades admitiram, constrangidas, que pedaços inteiros do texto foram copiados - erros gramaticais inclusive - de uma tese acadêmica. Reservadamente, alguns ministros admitem que é difícil recolher informações sigilosas sobre o Iraque”.

Tortura no Iraque

Fonte: Deutsche Welle - 04 de maio de 2004
“Imprensa e especialistas em conflitos da Alemanha são unânimes: a responsabilidade sobre os abusos contra presos no Iraque é fruto da política equivocada de Washington. As fotos do presídio de Abu Ghraib, nas vizinhanças de Bagdá, correram mundo, causando indignação. Elas mostram soldados norte-americanos torturando, abusando sexualmente e humilhando civis e militares iraquianos, justamente nos locais de tortura e execução tradicionais de Saddam Hussein. No sábado (01/05), nova revelação: soldados britânicos também estariam envolvidos em práticas semelhantes. O ministério da Defesa do Reino Unido promete investigar a autenticidade das denúncias contra suas tropas. Verdadeiras ou não, uma coisa é certa: a imagem do ‘bom ocupador’ caiu definitivamente por terra”.

- AFEGANISTÃO

Operation Enduring Freedom (2001)
As tropas americanas estão literalmente sendo trucidadas no Afeganistão, sem solução à vista. Obama está atolado numa terra em que a cada primavera os bulbos de papoula eclodem fortalecendo e multiplicando os combatentes Talibãs num ciclo que se repete há dez anos e, certamente, não será interrompido a curto ou médio prazo. Se o governo americano tivesse investido na reconstrução da economia rural afegã, teriam proporcionado aos agricultores uma alternativa real para que eles se libertassem do jugo Talibã. Certamente, não é uma solução que agrade aos acionistas da indústria bélica americana, portanto, o sangue americano assim como os inúmeros casos de “danos colaterais” continuarão servindo de adubo para as papoulas que fortalecem e multiplicam as hordas Talibãs.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Fazendas lá, ambientalistas aqui

O Globo – Opinião 19/07/2010

Denis Lerrer Rosenfield

Solicitado por vários leitores a voltar ao tema das ONGs, mostrarei a vinculação entre os "fazendeiros" americanos e a atuação de ONGs ambientalistas no Brasil. Trata-se de uma curiosa conjunção entre o agronegócio americano, ONGs ambientalistas (aqui, evidentemente), grandes empresas, governos e "movimentos sociais" no País.
A National Farmers Union (União Nacional dos Fazendeiros) e a Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado), dos EUA, encomendaram um estudo, assinado por Shari Friedman, da David Gardiner & Associates, publicado em 2010, para analisar a relação entre o desmatamento tropical e a competitividade americana na agricultura e na indústria da madeira. O seu título é altamente eloquente: Fazendas aqui, florestas lá.
O diagnóstico do estudo é que o desmatamento tropical na agricultura, pecuária e de florestas conduziu a uma "dramática expansão da produção de commodities que compete diretamente com os produtos americanos". Ou seja, é a competitividade do agronegócio brasileiro que deve ser diminuída para tornar mais competitivos os produtos americanos. O estudo é tão detalhado que chega a mostrar quanto ganhariam os Estados americanos e o país como um todo. E calcula que o ganho americano seria de US$ 190 bilhões a US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030.
As campanhas pela conservação das florestas tropicais e seu reflorestamento não seriam, nessa perspectiva, uma luta pela "humanidade". Elas respondem a interesses que não têm nada de ambientalistas. Ao contrário, o estudo chega a afirmar que os compromissos ambientalistas nos EUA poderiam até ser flexibilizados segundo as regras atuais, que não prevêem nenhum reflorestamento de florestas nativas, do tipo "reserva legal", só existente em nosso país. Também denomina isso de "compensação", que poderia ser enunciada da seguinte maneira: mais preservação lá (no Brasil), menos preservação aqui (nos EUA).
Cito: "Eliminando o desmatamento por volta de 2030, limitar-se-iam os ganhos da expansão agrícola e da indústria da madeira nos países tropicais, produzindo um campo mais favorável para os produtos americanos no mercado global das commodities." Eles têm, pelo menos, o mérito da clareza, enquanto seus adeptos mascaram suas atividades.Esse estudo reconhece o seu débito com a ONG Conservation International e com Barbara Bramble, da National Wildlife Federation, seção americana da WWF, igualmente presente em nosso país.
A Conservation International é citada duas vezes na página de agradecimentos, suponho que não por suas divergências. Mas ela publica em seu site um artigo dizendo-se contrária ao estudo. A impressão que se tem é a de que se trata de um artifício retórico para se desresponsabilizar das repercussões negativas desse estudo em nosso país e, em particular, na Câmara dos Deputados. Logicamente falando, sua posição não se sustenta, pois ao refutar as conclusões do artigo não deixa de compartilhar suas premissas. A rigor, não segue o princípio de não-contradição, condição de todo pensamento racional.
Por que não defende a "reserva legal" nos EUA e na Europa, segundo os mesmos princípios defendidos aqui? Seria porque contrariaria os interesses dos fazendeiros e agroindustriais de lá? Entre seus apoiadores se destacam Wall Mart, McDonald"s, Bank of America, Shell, Cargill, Kraft Foods Inc., Rio Tinto, Ford Motor Company, Volkswagen, WWF e Usaid. Os dados foram extraídos de seu site internacional.
Barbara Bramble é consultora sênior da National Wildlife Federation, a WWF americana. Sua seção brasileira segue os mesmos princípios e modos de atuação, tendo o mesmo nome. Se fosse coerente, deveria lutar para que os 20% de "reserva legal", a ser criada nos EUA e na Europa, fossem dedicados à wildlife, a "vida selvagem". Entre seus apoiadores e financiadores (dados extraídos de sua prestação de contas de 2009), destacam-se o Banco HSBC, Amex, Ibope, Natura, Wall Mart, Conservation Internacional, Embaixada dos Países Baixos, Greenpeace e Instituto Socioambiental (ISA). A lista não é exaustiva. Observe-se que a ONG Conservation International reaparece como parceira da WWF.
Ora, essa mesma consultora é sócia-fundadora do ISA, ONG ambientalista e indigenista. A atuação dessa ONG nacional está centrada na luta dita pelo meio ambiente e pelos "povos da floresta". Advoga claramente pela constituição de "nações indígenas" no Brasil, defendendo para elas uma clara autonomia, etapa preliminar de sua independência posterior, nos termos da Declaração dos Povos Indígenas da ONU.
Ela, junto com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), possui o mais completo mapeamento dos povos indígenas do Brasil. Sua posição é evidentemente contrária à revisão do Código Florestal. Dentre seus apoiadores e financiadores, destacam-se a Icco (Organização Intereclesiástica de Cooperação para o Desenvolvimento), a NCA (Ajuda da Igreja da Noruega), as Embaixadas da Noruega, Britânica, da Finlândia, do Canadá, a União Europeia, a Funai, a Natura e a Fundação Ford (dados foram extraídos de seu site).
O ISA compartilha as mesmas posições do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Ora, esses "movimentos sociais", verdadeiras organizações políticas de esquerda radical, por sua vez, seguem os princípios da Teologia da Libertação, advogando pelo fim do agronegócio brasileiro e da economia de mercado, contra a construção de hidrelétricas e impondo severas restrições à mineração. Junto com as demais ONGs, lutam por uma substancial redução da soberania nacional.
Dedico este artigo aos 13 deputados, de diferentes partidos, e às suas equipes de assessores que tão dignamente souberam defender os interesses do Brasil, algo nada fácil nos dias de hoje.
Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na UFRGS; e-mail:
denisrosenfield@terra.com.br

Grupa Mocarta W Operze

Fugindo um pouco da temática geral do blog, resolvi postar "Eine Kleine Welt Musik" do grupo alemão Mocarta W Operze. É uma delícia (mesmo para quem não é chegado à ouvir violinos e violoncelos) pela mudança de ritmos usando o humor e bela técnica instrumental. O título para quem não sabe alemão seria: Um Pequena Música do Mundo ou Mundial.


Governo do PT na Bahia

Jaques Wagner, que deve ser reeleito governador na Bahia, também não deve saber de nada. E o traficante, bom, esse sabe tudo e nem fica intrigado.