"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 21/12/07

Cuidado, o teu celular te vigia


Graças à telefonia celular de última geração qualquer pessoa pode ser localizada por outra. Potencialmente todos se transformam em detetives. Do visor do celular ou da tela do computador se pode saber exatamente onde se encontra a sua mulher, os seus filhos quando saem de casa ou o trajeto de um familiar durante um passeio. A reportagem é do El País, 11-12-2007, sobre o serviço disponibilizado pela espanhola Movistar. A tradução é do Cepat.

Tudo pode estar sendo monitorado. A violência doméstica, enfermos de Alzheimer ou uma frota de veículos de uma empresa, até mesmo um mascote – tudo pode ser localizado. Poder ser localizado ou localizar, essa é a questão. Porque, se por um lado o Grande Irmão celular oferece serviços inócuos, por outro apresenta vantagens como acompanhar um enfermo de Alzheimer ou uma pessoa perdida.

O serviço Localize-me da Movistar é um sistema de localização, mas não é universal, explicam fontes da empresa, ou seja, localiza apenas quem permite ser localizado. Essa permissão é solicitada expressamente à pessoa cujo rastro pode ser seguido.

Mas a inscrição do serviço é automática desde o momento em que se realiza uma chamada do número a ser localizado, independente de quem se coloque em contato com a Movistar. A empresa não registra e nem identifica a pessoa que o ativa. Pode fazê-lo um noivo zeloso desde o celular de sua noiva; um cônjuge que suspeita de uma infidelidade ou um pai que anda desconfiado de sua filha ou filho. A empresa não pergunta o motivo do cadastro.

Nesse caso, o único conhecimento dado ao titular do celular será um SMS [mensagem] mensal da Movistar com a lista de celulares que podem ser seguidos. O dispositivo situa o celular – a pessoa – seguido num mapa que aparece no visor do celular controlador com uma margem de erro de 200 metros em uma cidade de 5 km numa área rural. Para maior salvaguarda da intimidade, insiste a companhia, o serviço pode ser desativado toda vez que se queira. Quando o celular está desligado também não funciona.

Maria utiliza o sistema de localização com seus filhos quando estes saem de passeio, assim diz ela, checa que “se estão onde dizem estar”. Teresa não deixa a sua filha de 15 anos sair de casa sem um celular com localizador A-GPS. “Me sinto mais tranqüila”, diz Teresa, “sobretudo quando a filha vai a alguma festa e retorna de madrugada”.

Os psicólogos consideram normal este comportamento na relação paterno-filial, inclusive na fase da adolescência que se caracteriza pela rebeldia e uma crescente autonomia. “Sempre de deve evitar excessos, mas os pais têm a obrigação de controlar os seus filhos, de velar por sua integridade e segurança e, podemos supor que o seu uso não será abusivo”, destaca Francisco Estupiñá, da Clinica Universitária de Psicologia de Madri.

Enrique García Huete, diretor da Quality Psicólogos, opina que “em mãos de pessoas com patologia de desconfiança, paranóia, zelo obsessivo, se torna um elemento a mais de controle. Antes se revistavam os bolsos ou a agenda ou ainda se interceptava a correspondência. Os celulares se somam a essa lógica, sem falar no e-mail e na Internet”.

O psicólogo alerta para o risco do controle do outro se tornar compulsivo. Destaca ainda que analiticamente falando é que para além de vigiar, “todos podemos ser vigiados”. García Huete afirma que “se abre um mundo de controle interpessoal em que não apenas se controla, mas em que também se é controlado”.

“A tecnologia é uma ferramenta, um meio”, tranqüiliza Ignácio Fernández Arias, da Unidade de Psicologia Clínica e de Saúde da Universidade Complutense de Madri. “Temos casos de pais e casais que utilizam o celular continuamente, chegando a um controle compulsivo. São pessoas com baixa tolerância à dúvida, mas o celular e o localizador não são em absoluto o núcleo do problema, mas sim uma ferramenta através da qual esta pode se manifestar. Estamos em uma sociedade tecnológica e também nos manifestamos através dela”, explica Fernández Arias. Ou seja, “a tecnologia não é determinante, pode influir, mas não é quem detona o problema das pessoas, a tecnologia apenas as colocam em contato com uma realidade que imaginam ou suspeitam”.

O alto custo dos sistemas mais avançados – 400 euros o Aryon ou 150 o Navento – dissuadem a muitos de o utilizarem. “Ainda é raro o acesso ao serviço individual, ainda que para muitos pais lhes resulte aceitável quando conhecem o seu funcionamento”, destaca Joaquín Gonzáles, diretor geral da Deimos Dat, empresa fabricante do Aryon, “entretanto, na área profissional os custos não são um empecilho”.

Quem utiliza o serviço é o Instituto de Idosos e Serviços Sociais (IMSERSO) que presta assistência aos casos de violência doméstica. Desde a sua implantação, em 2005, um total de 12 mil mulheres tem se servido dele, tanto do seu sinal de alarme – que mobiliza na hora as forças de segurança mais próxima -, como do modo de consulta dos psicólogos do Centro. Esta proteção custa ao Estado seis milhões de euros anuais.

Há testemunhos entusiastas do localizador. “Um dia perdi minha mochila em um vôo à Argentina que acabou na África do Sul. Depois perdi meu cachorro. Por isso me animei a utilizar o Navento. Hoje eu o levo no bolso, se me roubam ou perco, logo fico sabendo onde está. E quando viajo de avião com conexões, controlo desde o visor do celular onde está a mala através dos mapas do Google Earth”. “Saber a todo o momento onde estão as pessoas e as coisas que você gosta, é fenomenal”, diz Teresa. “O futuro de nossa vida cotidiana é o celular que já está generalizado, apenas nos falta instalar os sistemas de localização que melhoram sensivelmente a qualidade de vida”.

Os defensores do sistema argumentam utilizando o exemplo do caso Maddie que poderia ter salvado a sua vida caso pudesse ter sido encontrada depois de um acidente, uma vez que se demoraram horas para encontrá-la. E rebatem o fato de que um localizador seja intrinsecamente ruim, mas sem sombra de dúvidas, aquilo que impulsiona muitos a utilizarem, projeta-se também sobre uma intimidade cada vez mais vulnerável.

Instituto Humanitas Unisinos - 21/12/07

Os zumbis da guerra esquecidos pelos EUA. As grandes potências não têm amigos, têm somente interesses

Na selva do Laos vivem como animais acuados os ex-auxiliares pagos pela Cia nos anos 1960. Washington os abandonou à extinção com crianças e famílias. O regime comunista lhes dá caça. A reportagem é de Vittorio Zucconi e publicada pelo jornal La Repubblica, 18-12-2007.

Eis o artigo.

São o exército dos zumbis esquecidos pela história, os restos de outro naufrágio bélico, criados e depois abandonados pelos impérios que os usam e os abandonam quando não servem mais. No coração mais profundo da selva indo-chinesa, na várzea do Laos junto ao Mekong, fazendo imediatamente ‘Apocalypse Now’, sobrevive um bando de irregulares do povo Hmong que a Cia recrutou nos anos 1960 como auxiliares na guerra do Vietnã e que Washington agora ignora. Abandonou-os à extinção junto com suas crianças e à lenta e cruel caça ao homem que o governo comunista da capital Vientiane conduz para eliminar também este último vestígio de uma guerra que todos, vencedores e vencidos, gostariam de esquecer.

Seguiu-lhes o rastro um enviado do New York Times, seguindo por dias e dias as veredas que os homens da Cia haviam traçado para alcançá-los, armá-los e mobilizá-los na guerra secreta que Washington conduzia contra os comunistas do Pathet Laos, os Vietcong e os Norte-Vietnamitas que, a partir daquelas montanhas, transitavam para reabastecer a guerrilha vermelha no Sul, ao longo da Vereda de Ho Chi Minh.

Por conta da Cia, sem que o Congresso ou a nação americana soubesse de nada, os Hmong do Laos controlavam bases aéreas, articulações viárias e aldeias às ordens de um “senhor da guerra” local, o autodenominado general Van Pao, com o dinheiro e as costumeiras promessas das potências coloniais, quando necessitam de tribos locais para sustentar suas batalhas. Mas, 30 anos após a fuga americana da Indochina e a vitória dos comunistas no Vietnã e no Laos, hoje, junto com a grande China, tornados amigos e parceiros daqueles EUA que haviam em vão procurado exterminá-los, estes poucos milhares de irredutíveis, que escolheram permanecer refugiados na selva, ou não conseguiram juntar-se aos 300 mil Hmong refugiados na América, morrem a lenta morte dos soldados japoneses abandonados nas Filipinas ou na Nova Guiné, após a rendição de Tóquio.

Muitos deles, e todos aqueles que têm menos de 40 anos, jamais haviam visto um “branco”, e um americano, desde quando “Mister Tony”, como era chamado o funcionário da Cia que os controlava, os havia deixado ao voltar para casa.

Desta tribo perdida se conhecia a existência através das investigações da Anistia Internacional e dos relatórios de Médicos Sem Fronteiras, que visitavam e cuidavam daqueles que conseguiam atravessar a fronteira com a Tailândia e refugiar-se nos esquálidos acampamentos onde a ONU e o governo tailandês, agora em ótimas relações com o Laos comunista, os acolhia de má vontade.

Quando o enviado americano os alcançou, ele conta ter assistido a cenas de entusiasmo lancinante, como se ele, um simples jornalista corajoso, fosse o sinal que a ingrata mãe América retornara para resgatá-los e levá-los embora, para os “paraísos” da Califórnia, onde vive a maior parte dos prófugos Hmong. Pelo menos para fazer voltar aqueles bimotores DC3 da Air America, a linha aérea da Cia, que descarregavam sobre as pistas entre as montanhas, hoje devoradas pela selva, comida, roupas, armas e medicamentos.

Esperarão bastante, porque estes dois mil zumbis de uma guerra que ninguém mais tem interesse em ressuscitar, agora que entre os Estados Unidos, a China, o Vietnam, Laos, Camboja e Tailândia se combate a golpes de comércio de brinquedos e de calçados fabricados com salários de fome, eles são um embaraço para todos. Os Hmong emigrados para a Califórnia, onde fatigosamente procuram integrar suas tradições, como os matrimônios com crianças de menor idade combinados entre famílias, que se chocam com as leis americanas, mantêm algum contato com os parentes do outro lado do Pacífico.

Um dos anciãos da aldeia, Xan Yang – os Hmong são uma população chinesa esparramada entre quatro nações vizinhas – diz que umas poucas vezes por ano consegue chegar clandestinamente a um telefone público numa aldeia e falar com a filha, que trabalha como distribuidora de correio em Fresno, na Califórnia, para solicitar-lhe que envie algum dinheiro. Coisa que a filha faz, sofrendo as chantagens e os gravames dos “muambeiros” que embolsam a metade das pequenas somas que ela envia.

São poucas centenas, estes guerreiros esquecidos sem esperança de serem jamais retirados de sua existência mantida pela caridade do arroz oferecido, com grave risco, pelas aldeias vizinhas, pelas batatas doces selvagens, pelos animaizinhos da floresta que caçam com arcos e flechas, reservando os poucos fuzis para os confrontos com o exército regular do Laos que realiza periódicas incursões, mais para atormentá-los do que para eliminá-los. Poucos dias antes da chegada do jornalista, fora sepultado um menino de cinco anos, na fossa de terra removida ainda fofa e muitas crianças trazem as cicatrizes de golpes de arma de fogo e de estilhaços, de fragmentos metálicos dos tiros de morteiro que o exército dispara ao acaso sobre seus acampamentos e suas cabanas.

Ninguém moverá um dedo para salvá-los. O governo americano prefere esquecê-los, como esqueceu os montanheses do Vietnã, os Montagnards que ainda se haviam batido contra os Vietcong com enorme vigor, e recusa reconhecer que eles foram soldados recrutados pela Cia, embora Yang e os velhos ainda recordem muito bem os códigos, as palavras de ordem, as instruções passadas por “Mister Tony”, que recitam como preces e jaculatórias a um Deus indiferente.

Para a China e o Vietnã, os dois maiores vizinhos, eles são um transtorno, mas bem menor em relação à chaga aberta pelo Tibet. E para as novas leis americanas sobre imigração, o infeliz Patriot Act votado no pânico do pós 11 de setembro, este bando de espectros extenuados e de crianças mal-nutridas são “terroristas”, porque, como adverte a lei, pegaram nas armas para combater como irregulares contra um governo reconhecido. O fato de que tivesse sido a própria América a pagar-lhes, a mobilizá-los e a armá-los contra um governo reconhecido, e por conseguinte, a fazer deles terroristas, não perturba Washington. As grandes potências, ensina a história, não têm amigos, têm somente interesses.

Instituto Humanitas Unisinos - 21/12/07

As lições dos enxames. O que as formigas e os gafanhotos têm a nos ensinar


Estudos do biólogo inglês Iain D. Couzin com enxames de diversas espécies revela que animais relativamente simples formam um cérebro coletivo capaz de tomar decisões e de se moverem com um único organismo. A matéria é do jornal El País, 12-12-2007. A tradução é do Cepat.

Se alguma vez você observou as formigas entrando e saindo de um formigueiro, talvez lembre uma rodovia engarrafada. Para Iain D. Couzin esta comparação é um cruel insulto... para as formigas. A população dos países desenvolvidos [nós também – NT do tradutor] passam muitas horas por ano presos no trânsito, mas nós nunca vemos as formigas em uma engarrafamento.

As formigas soldado, às que Couzin observou durante muito tempo no Panamá, movem-se muito bem especialmente em grandes concentrações. Se precisam atravessar a uma depressão do terreno, constroem pontes para poder avançar o mais rápido possível.

“Constroem as pontes com os seus corpos vivos”, explica Couzin, biólogo matemático da Universidade de Oxford. “Constroem quando necessitam e desfazem quando não utilizam mais”. Com o estudo das formigas soldado – assim como de pássaros, peixes, gafanhotos e outros animais gregários -, Couzin e seus colaboradores estão começando a descobrir normas simples que permitem aos formigueiros funcionar muito bem. Essas normas permitem a milhares de animais relativamente simples formar um cérebro coletivo capaz de tomar decisões e de se moverem com um único organismo.

Entretanto, decifrar essas normas supõe todo um desafio, porque o comportamento dos enxames surge de forma imprevisível. “Por mais que observemos apenas uma formiga soldado”, destaca Couzin, “nunca compreenderemos que quando se colocam milhões juntas formas estas pontes e colunas. Não se pode saber”.

Para compreender os formigueiros, Couzin cria modelos no computador de formigueiros virtuais. Cada modelo contém milhares de agentes individuais que ele pode programar para que sigam umas quantas normas simples. Para decidir quais devem ser essas normas, ele e seus colaboradores se enfiam nas selvas, nos desertos e nos oceanos para observar animais em ação.

Daniel Grunbaum, biólogo matemático da Universidade de Washington, explica que o seu campo está cheio de grandes avanços graças à observação da natureza, na qual se soma o trabalho de Couzin e de tantos outros. “Nos próximos 10 anos acontecerá muito progresso”, Explica que Couzin tem tido um papel importante na hora de relacionar os diferentes tipos de ciência necessários para compreender o comportamento dos animais em grupo. “Tem sido um verdadeiro líder que consegue reunir muitas idéias”, opina Grunbaum.

No caso dos exércitos de formigas, intrigava a Couzin as suas autopistas. O que Couzin queria saber era porque as formigas soldado não entram e saem da colônia em uma massa desorganizada. Para descobrir criou um modelo no computador baseado na biologia básica das formigas.

Para provar este modelo, Couzin e Nigel Franks, especialista em formigas da Universidade de Bristol, Inglaterra, seguiram com uma câmera o rastro de algumas formigas soldado no Panamá. Ao regressar à Inglaterra, repassaram o filme fotograma por fotograma, analisando os movimentos de 226 formigas. “Tudo o que acontece no mundo das formigas acontece em ritmo tão rápido que é muito difícil observar”, comenta Couzin.

Ao final descobriram que as formigas se moviam de modo que permita que todo o formigueiro avance com a maior rapidez possível. Couzin tem ampliado este modelo de formigas a outros animais que se movem em multidões gigantescas, como peixes e pássaros. E no lugar de dedicar-se ele a seguir os animais, criou programas que permitem aos computadores que façam este trabalho.

Os enxames animais podem mudar bruscamente devido a algumas regras simples. Couzin descobriu algumas dessas regras com os gafanhotos quando começam a formar suas devastadoras ‘nuvens’. Os insetos se movem habitualmente de um lado para outro sozinhos, mas às vezes os gafanhotos jovens se unem a enormes ‘nuvens’ que devastam territórios devorando tudo que encontram no caminho. “Por quê de repente a situação se descontrola e esses gafanhotos formam ‘nuvens’ e destroem colheitas?”, pergunta Couzin.

Couzin viajou a zonas remotas da Mauritânia para estudar o comportamento das ‘nuvens de gafanhotos’. De volta à Oxford, ele e seus colaboradores construíram um caminho circular no qual os gafanhotos podiam circular. “Podíamos rastrear o movimento de todos esses insetos cinco vezes por segundo durante oito horas ao dia”, lembra.

Os cientistas descobriram que quando a densidade de gafanhotos chegava a um determinado ponto, os insetos de repente começavam a movimentar-se juntos. Cada gafanhoto procurava ajustar os seus movimentos ao do vizinho. Entretanto, quando os gafanhotos estavam muito separados, esta regra não lhes afetava. Apenas quando tinham ‘vizinhos’ suficientes formavam espontaneamente enormes ‘nuvens’. “Demonstramos que não precisamos ter muitíssimas informações sobre os insetos pra predizer como irão se comportar em um grupo”, disse Couzin em estudo publicado em junho de 2006 na Science.

Porém, entender como os animais se reúnem em grupos e porque o fazem são duas coisas distintas. Em algumas espécies, os animais podem reunir-se para que todo o grupo desfrute de alguma vantagem evolutiva. Todas as formigas soldado de uma coluna, por exemplo, pertencem a uma mesma família. Portanto, se os indivíduos cooperam, seus genes compartilhados e associados em grupo se desenvolverão melhor.

Mas nos desertos de Utah, Couzin e os seus colaboradores descobriram que as colônias gigantescas podem estar compostas por muitos indivíduos egoístas. Às vezes os grilos se reúnem em milhares e avançam em bandos de quase 10 quilômetros. A razão é que quando não encontram sal e proteínas suficientes, se tornam canibais. “Cada grilo é em si uma fonte nutritiva perfeitamente equilibrada”, diz Couzin. “Por isso os grilos tentam atacar os outros indivíduos a cada 17 segundos. Aquele que não se coloca em movimento provavelmente será comido”. Esse movimento coletivo faz que os grilos formem enormes enxames. “Todos esses grilos se vêem obrigados a avançar”, explica Couzin. “Tentam atacar os grilos que estão na frente e evitar ser comidos pelos que estão atrás”.

Instituto Humanitas Unisinos - 20/12/07

Remessa de lucro e dividendos triplica este ano

O déficit em conta corrente chegou a US$ 1,344 bilhão em novembro, o que representa uma virada em relação ao superávit de US$ 1,394 bilhão observado no mesmo mês de 2006.

O principal fator por trás do resultado negativo foram as fortes remessas de lucros e dividendos ao exterior. A reportagem é do jornal Valor, 20-12-2007.

Em novembro, as empresas estrangeiras mandaram US$ 2,131 bilhões às matrizes, quase o triplo dos US$ 763 milhões de novembro de 2006.

A queda no saldo da balança comercial também contribuiu para o desempenho negativo em conta corrente - o superávit caiu de US$ 3,240 bilhões para US$ 2,027 bilhões entre um período e outro.

Outro item com peso significativo no déficit são as viagens internacionais. O déficit na conta de turismo subiu de US$ 114 milhões para US$ 369 milhões, sempre na comparação entre novembro de 2006 e de 2007.

O Banco Central espera que o resultado negativo em conta corrente se repita em dezembro. Sua projeção é um déficit de US$ 1,850 bilhão.

O déficit em conta corrente de novembro foi amplamente financiado pelos ingressos de capitais no mês, que somaram US$ 7,867 bilhões.

Ainda houve espaço para que o BC absorvesse US$ 5,698 bilhões nas suas intervenções no mercado de câmbio.

Em novembro, houve ingresso expressivo de investimentos estrangeiros diretos, que somaram US$ 2,530 bilhões. Mas também foi registrado um forte fluxo de investimentos brasileiros no exterior - chegaram a US$ 2,439 bilhões, incluindo a aquisição da da siderúrgica americana MacSteel pela Gerdau.

Os dados parciais de dezembro indicam um superávit de US$ 6,865 bilhões no mercado de câmbio, nos números coletados até o dia 18.

O principal destaque são os ingressos de investimentos no mercado acionário, que somam US$ 8,190 bilhões, puxados pelas operações de abertura de capital na Bolsa de Valores.

Os investimentos estrangeiros diretos somam US$ 500 milhões no período, e a expectativa do BC é que cheguem a US$ 1,3 bilhão até o fim do mês. As empresas estão rolando 89% dos empréstimos diretos e títulos vencidos em dezembro.

Os bancos ficaram com a maior parte do superávit do mercado de câmbio, absorvendo US$ 5,323 bilhões. A posição comprada em câmbio das instituições financeiras aumentou de US$ 3,804 bilhões para US$ 9,127 bilhões. O BC comprou cerca de US$ 1,5 bilhão em suas intervenções no mercado de câmbio.

Instituto Humanitas Unisinos - 20/12/07

Sete milhões de jovens estão excluídos de tudo


Os jovens brasileiros, na sua maioria, estudam e trabalham. Ganham mal, mas a maioria possui renda própria. No entanto, uma parcela significativa - praticamente 20% - não consegue trabalho ou escola e estão presos em um círculo vicioso. A reportagem é de Lisandra Paraguassú e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-12-2007.

São aqueles que têm a pior renda e também menos anos de estudo. Quase 7 milhões de jovens que estão excluídos de tudo.

“São os totalmente excluídos, aqueles que entram em um círculo vicioso de não conseguir trabalho porque têm pouca escolaridade e não continuam estudando porque não têm renda”, analisou o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz.

A renda familiar per capita desses jovens completamente à margem não chega a R$ 260. Em média, têm 7,8 anos de estudo. Já os jovens brasileiros que trabalham e estudam têm a melhor renda - R$ 528,18 - e mais anos de estudo, 9,2.

O IDJ mostra, ainda, que caiu a renda média das famílias brasileiras que têm jovens de 15 a 24 anos. Entre 2003 e 2006, houve uma redução de 6%. Desde 2001, 15,7%.

Essa queda, no entanto, não afeta a população mais pobre. Nos 10% mais pobres da população, ao contrário, a renda subiu 78% desde 2003 - 109% desde 2001. “Isso marca uma diminuição na concentração de renda, um fato extremamente positivo para o País”, comemorou Waiselfisz.

Entre os jovens que possuem renda própria, no entanto, não houve grandes mudanças nesse período. Praticamente a metade deles tinha algum tipo de renda.

MAIS ESTUDO, MENOS RENDA

Mas as diferenças de gênero, que não existem mais na educação, aparecem com força nos salários. Entre os homens jovens, o salário médio era de R$ 442,10, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2006), utilizada pelo IDJ.

Entre as mulheres, o salário médio é de R$ 370,10. No entanto, elas têm, em média, 9,5 anos de estudo - um a mais do que os homens.